EU SOU ÁFRICA - 8º episódio CAMILO DE SOUSA - MOÇAMBIQUE

sabado, dia 26 de março, às 19h na RTP2

 

CAMILO DE SOUSA, cineasta, nasceu na antiga Lourenço Marques (Maputo), em 1953, e cresceu na Mafalala, bairro de Craveirinha e Eusébio, no início da periferia de Maputo. Sobrinho da poetisa Noémia de Sousa, aprendeu em casa a construir uma consciência política e na rua que a cidade se demarcava consoante a cor da pele e a posição social. Guerrilheiro na luta pela Independência de Moçambique, militante da FRELIMO, marcou-o profundamente o que veio depois da guerra e que o leva a abandonar o partido. Com o projecto de cinema móvel - que cobre todo o território moçambicano - e o jornal de actualidades Kuxakanema, com o trabalho no Instituto Nacional de Cinema (onde encontra JL Godard, Jean Rouch e nasce toda a geração dos que hão-de fazer cinema em Moçambique), e mais tarde com a Ébano, a produtora onde continua a praticar o seu “cinema de resistência”, Camilo de Sousa reencontrou no cinema o caminho da luta por uma sociedade mais justa. É membro fundador e vice-presidente da Associação Moçambicana de Cineastas, criada em 2003. 

maputo visto de catembemaputo visto de catembe

Camilo de Sousa tem um ritmo só dele, maneira de contador de histórias (e tem sempre uma na manga). Acompanhado pela filha Camila, leva-nos a conhecer o bairro da Mafalala, habitado por macuas, rongas e changanas, pessoas das ilhas do Índico e muitos outros. Foi nessa mistura de gente, na fronteira da cidade de cimento com o subúrbio, que Camilo cresceu e logo percebeu que Maputo tinha dois mundos bem distintos, consoante a cor da pele e a posição social. Fala-nos do tempo colonial, da militância na FRELIMO e da formação de guerrilha em Cabo Delgado, a norte. Da guerra, marcou-o o que veio depois, e questiona o que fica das revoluções no funcionamento normal das sociedades. “Nem todos estávamos de acordo com o que se implementou depois da independência”, tempo de clivagens e aspectos mais nebulosos, desilusão que culmina nos dias de hoje, em que “os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos mais ricos”. Lembra as originais expressões de Samora Machel, que já denunciava “é preciso matar o crocodilo quando ainda está no ovo.” Leva-nos de visita ao Instituto Nacional de Cinema, criado após a Independência, “onde nasceram todos os que fazem cinema em Moçambique”. Ali reside em formato de película a memória do país e o muito que foi registado da sua história. Fala-nos do projecto de cinema móvel, do jornal de actualidades Kuxakanema, e leva-nos à Ébano, a produtora onde, com muitos companheiros de jornada, de Isabel Noronha a Licínio de Azevedo e ao filho, Karl Sousa, continua a praticar o seu “cinema de resistência”.

 

 

23.03.2011 | por martalanca | camilo de sousa, Cinema Moçambicano