Vinhos da África do Sul

Em Angola consome-se principalmente vinho de três proveniências: Portugal, América do Sul e África do Sul. Vamos falar deste grande país em África que produz vinho há mais de 350 anos. Não tem o controlo e regulamentações da vitivinicultura da Europa em que se determinam as castas a cultivar, o número de vinhas por hectare, o rendimento da colheita. O extremo controlo vai ao ponto de interferir-se na maneira como são podadas as vinhas, vindimadas as uvas ou fazer-se os vinhos. A maior flexibilidade da África do Sul parece boa para esta actividade, mas o reverso da medalha é que tudo depende da comercialização, não havendo nenhum apoio financeiro estável no caso das vendas correrem mal ou subsídio para destilação ou para qualquer outra fase do processo.

O fim do apartheid há 18 anos acabou, consequentemente, com o boicote económico ao país por razões políticas, e a indústria do vinho recomeçou e retomou o contacto com o mundo exterior assegurando lugar na corrida aos bons vinhos. Com novas regiões vinícolas que advêm de uma capacidade de risco ao plantar-se vinhas a ver o que dá, a África do Sul tenta consolidar-se no mercado e leva vantagem ao explorar terrenos africanos que, além da Argélia, Marrocos e Tunísia, não têm muito mais concorrentes no mundo do vinho. 

Um aspecto positivo é fazerem uso do conhecimento, estudando o potencial de cada casa em cada lugar. Depois, a aplicação de tecnologia moderna para os resultados pretendidos: mapas de satélites das áreas com potencial para cultivar vinhas, marcação a laser das plantações de talhões de vinhas e na irrigação.

O mapa das regiões vinícolas sul-africanas está em construção e há uma liberalização e incentivo para que qualquer produtor arrisque plantar o que quiser onde quiser. Uma vez a escolha aprovada pelo Comité para a Demarcação dos Vinhos de Origem da África do Sul poderá ser atribuído o estatuto de Wine of Origin (WO) àquela área. Nos últimos oito anos, 19 novos “wards” (um “ward” é aproximadamente o equivalente a um concelho) ganharam esse novo estatuto. Essa flexibilidade de regras tem dado bons resultados.

Há uma tradição secular do cultivo de uvas brancas Chenin Blanc, Riesling e Muscat na África do Sul. Umas foram transformadas em vinho branco seco (Chenin), outras em brancos doces. Destas castas ainda existem alguns bons vinhos brancos que ultimamente têm sido substituídos pelos brancos modernos de Chardonnay, Sauvignon Blanc e Viognier. A casta Chardonnay chegou à África do Sul nos anos 70 e a Viognier é muito recente, o que não deu ainda margem para experiências. Mas há vinhos excelentes resultantes de vinhas plantadas há poucos anos.

Para todas as castas tem de se encontrar o clima mais favorável. Chardonnay prefere frescos e Viognier quentes sem ser excessivo. As Sauvignon pedem climas mais frios e ventosos. Por exemplo Elim, perto do ponto mais a sul do continente africano, o Cabo Agulhas que converge o oceano Índico com o Atlântico, está a produzir Sauvignons que rivalizam com bons vinhos franceses ou da Nova Zelândia e as primeiras vinhas foram plantadas apenas há 11 anos.

Já os tintos de Cabernet e Shiraz também estão com bons ventos. A sul da Cidade do Cabo, Constantia é conhecida há mais tempo pelos seus Sauvignons mas também aí se cultivava Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, Riesling e Pinotage. Ou seja, a estratégia era cultivar quase tudo, para ter uma grande variedade de oferta para os consumidores. E agora os produtores de Constantia perceberam que a região afinal era mais apropriada para Sauvignone não para Cabernet. Assim como Elgin, na costa sul do Cabo, também desenvolve uma especialidade em Sauvignon, e uns tintos Shiraz de clima frio.

Os bons vinhos brancos sul-africanos não são todos de climas frios. Em Swartland, uma região quente no Norte, historicamente ligada aos tintos secos com taninos, as uvas brancas do Sul de França dão-se bem. Castas como Grenache Blanc, Roussane, Viognier e Clairette podem produzir vinhos brancos muito gostosos, apropriados ao clima quente africano, obviamente se tiverem tratamento rigoroso.

Está a acontecer um fenómeno de recuperação das velhas vinhas Chenin que eram rejeitadas por darem colheitas pouco rentáveis. Agora, as pequenas colheitas destas uvas saborosas são metodicamente tratadas e a fermentação em barril é usada no processo da produção do vinho. Os vinhos brancos daí resultantes assemelham-se à moderna geração de vinhos brancos produzidos no Douro. Também fizeram isso com os tintos sul-africanos que pecavam por um sabor pouco maduro e por um elevado nível de álcool. Ultimamente tem-se mais cuidado e aperfeiçoa-se a escolha de plantar que castas, as uvas roxas e maturação mais lenta são levadas para regiões onde amadurecem melhor.

O critério dos produtores agora já não é tanto o da abundância mas da qualidade e elegância dos vinhos numa viticultura.

 

BOEKENHOUTSKLOOF The Journeyman Franschhoek 2005

Boekenhoutskloof, apesar de tão bizarro é nome de produtor antigo (desde 1776) e de excelência. O nome deriva de uma árvore da Cidade do Cabo que se utiliza para fazer móveis no Vale de Franschhoek. A crítica não lhe poupa elogios: aroma de baunilha e paladar de chocolate e carvalho. Corpo denso e muito perfumado. Produto com base na Cabernet Franc, atingiu 94 pontos na WS (Wine Spectater, onde muitos experts se baseiam para avaliar os bons vinhos).. O mesmo que produz Wolftrap.

De Trafford Elevation 393 Stellenbosch 2005

A Trafford fundou a vinícola em 1976 mas somente após 18 anos conseguiu permissão para a agricultura comercial de uvas. Em 1996 começou a produzir vinhos de altíssima qualidade. Descrito como um vinho impressionante, de taninos poderosos e complexa estrutura. Aromas de especiarias e sabor com forte presença de fruta. Atingiu 94 pontos na WS.

Sadie Columella Swartland 2006

Este vinho da Família Sadie é feito a partir das uvas de sete vinhas diferentes, é uma mistura de Syrah e Mourvèdre de vários tipos de solo. Tem cor rubi intensa e aroma doce de frutas. O paladar é bastante tânico, um pouco apimentado com frutas vermelhas e um rico sabor de chocolate.

 

por Buala
A ler | 26 Novembro 2012 | Africa do Sul, vinho