Direito da Nacionalidade

O Direito da Nacionalidade será o tema do próximo Curso Breve On-line a
realizar pela A.P.M.J.. Serão abordados vários aspetos de natureza substantiva e adjetiva, com
recurso a exemplos práticos, nos 4 Módulos do Programa, disponível em www.apmj.pt

O Curso é destinado a profissionais do foro, solicitadoras/es e funcionárias/os da Conservatórias do Registo Civil. Visa dar uma perspetiva geral e prática das questões mais relevantes no âmbito do Direito da Nacionalidade, com particular ênfase das atinentes à atribuição e aquisição da nacionalidade, de forma a melhor habilitar e potenciar a respetiva intervenção forense. Será ministrado através da Plataforma Zoom, em horário pós-laboral de 23.06.2025 a 02.07.2025. As inscrições são feitas em www.apmj.pt

Todas as Sessões incluirão a possibilidade de debate com as /os oradoras/es convidadas/os.

15.06.2025 | by martalanca | nacionalidade

Complô, realizado por João Miller Guerra

O filme Complô, realizado por João Miller Guerra, terá a sua estreia mundial na 36.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Marselha (FIDMarseille), que decorre entre os dias 8 e 13 de Julho de 2025, em França.

Produzido pela Uma Pedra No Sapato e distribuído em Portugal e internacionalmente pela MagentaComplô traça o retrato íntimo de Bruno, conhecido como “Ghoya” — órfão de um país onde nasceu, órfão do Estado. Encarcerado metade da sua vida, sempre livre. “Ghoya” é rapper crioulo e activista político. Este filme, um espaço de encontro num momento da luta e da vida.

Com argumento do próprio realizador, o filme conta com edição de Pedro Cabeleiradireção de som de Rafael Gonçalves Cardoso e produção de Filipa Reis.

A seleção de Complô para o FIDMarseille — um dos mais prestigiados festivais internacionais dedicados ao cinema de autor — assinala mais uma forte presença do cinema português no circuito internacional, reconhecendo a força de uma obra profundamente pessoal, política e cinematográfica.
SOBRE O FILME 
Complô é um filme sobre a experiência de vida de um afrodescendente português, submetido à lei da nacionalidade baseada no “jus sanguinis”, que ditou que os filhos de imigrantes fossem tão imigrantes quanto os seus pais. Ghoya viu assim negado à nascença o direito de ser e se sentir português. A urgência de documentar esta experiência surge ainda em 2009 quando o conheci brevemente, estava “a monte”. Senti a força de um protagonista, abandonado pelo Estado português, que já relatava a sua história, usando a sua própria voz, muito antes deste filme começar. Essa é a vida de um MC de Rap Crioulo. A falta de integração do rap crioulo na nossa sociedade relaciona-se ainda hoje com a sua vida, alguém que viveu em bairros que foram sendo consecutivamente demolidos, fruto de “programas especiais de requalificação”. Com um longo passado em estabelecimentos prisionais, Ghoya sabe que a prisão começa no bairro onde se nasce. Este filme e a falta de outros é prova disso. É sobre tudo isto que cria as suas rimas.
Obrigado, Bruno.” 

João Miller Guerra 

 

 

FICHA TÉCNICA

Título: Complô
Realizador: João Miller Guerra
Argumento e Diálogos: João Miller Guerra
Guião: João Miller Guerra
Produtora: Uma Pedra No Sapato
Produtor: Filipa Reis

Fotografia: Vasco Viana
Montagem: Pedro Cabeleira
Diretor de Som: Rafael Gonçalves Cardoso
Criação Gráfica: Márcio Matos

Actores: Bruno “Ghoya” Furtado
Música: Ghoya

Ano de Produção: 2025

 

INFORMAÇÃO TÉCNICA

Género: Documentário
Duração: 1h 25min 57s
Formato de imagem: 1.78
Resolução: 2K DCI
Cor / P&B: Cor
Som: 5.1 Surround
Formato de captação: Digital
Formato de projeção: DCP

05.06.2025 | by martalanca | Complô, nacionalidade, rap

Não é portuguesa o suficente

A artista de banda desenhada, Amanda Baeza, não foi considerada “portuguesa o suficiente” para poder participar na criação de cartazes comemorativos do 25 de Abril deste ano na Amadora.Convidada pela organização do AmadoraBD para participar num grupo de artistas na criação de cartazes comemorativos do 25 de Abril naquele município, Amanda Baeza foi depois “desconvidada” com um argumento insustentável.

Pedro Moura, colaborador esporádico do Buala, e investigador dedicado à banda desenhada, escreveu um artigo no site da especialidade Bandas Desenhadas, no qual expõe toda a situação. Sendo um tema muito caro à missão do Buala, divulgamos aqui o mesmo.

Ler aqui 

 Amanda Baeza Amanda Baeza

04.04.2023 | by martalanca | Amanda Baeza, banda desenhada, nacionalidade, Pedro Moura, Portugalidade, xenofobia

Origem angolana - António Tomás

No mês passado, escreveu-me uma amiga brasileira, a dizer que tinha estado na FLIP (Feira Literária de Paraty) e que tinha ouvido um escritor angolano, cuja apresentação tinha sido a grande sensação do evento. Grande surpresa para mim foi quando ela me disse que o angolano era Valter Hugo Mãe. Lembro-me que comecei a ouvir falar em Valter Hugo Mãe em finais dos anos 90, quando fiz um estágio no Jornal de Letras, em Lisboa, mas que em nenhum momento me tinha percebido que era meu conterrâneo. Esta descoberta fez-me pensar no que é ser angolano, ou que é identidade angolana. Reflectir sobre esta questão, parece-me, coloca-nos em posição privilegiada para questionar o legado cultural do colonialismo.
Minha preocupação não é dizer quem é ou quem não é angolano. Em Angola, como em qualquer outra sociedade moderna, o ser angolano é definido pela lei da nacionalidade. Não fui ver a lei para escrever esse texto, mas a ideia que tenho é que a nossa lei é muito mais generosa que a lei portuguesa que permite (ou pelo menos permitia) que pessoas que tenham nascido em Angola no contexto colonial possam requerer a nacionalidade. Portugal começou por nacionalizar todos os naturais das colónias durante a guerra colonial (de que outro modo se podia justificar que Angola era província ultramarina?). Desnacionalizá-los foi um dos primeiros actos políticos do governo saído da revolução de Abril. Ninguém escreveu com mais eloquência sobre a desnacionalização dos africanos que António de Almeida Santos (Quase Memórias, Vol. 1, pp. 275-284). Os fundamentos para a definição de quem é português roçam o mais puro racismo (“Era um negro bom. Bons, são em regra os negros”, Vol. 1, p. 13). Almeida Santos não se coíbe mesmo de citar Salazar: “o próprio Salazar admitiu, às tantas, que os africanos não faziam parte da Nação portuguesa. Como, assim, podiam ter direito à nacionalidade de uma Nação de que não faziam parte?” (p. 278).
Assim ficou desfeito o mito. Portugal pluricontinental nunca existiu. Foi puro oportunismo para a manutenção do sistema colonial. Porque os portugueses não distinguem “nação” portuguesa de nacionalidade portuguesa. O que é interessante, no entanto, notar, é que em muitos meios portugueses, os mesmos que tornam as teses de Almeida Santos possíveis, Angola não é “nação”, tampouco nacionalidade, mas simplesmente “território”, ou origem. E a referência a esta origem opera de dois modos: por um lado expulsa da “nação” portuguesa aqueles que não são culturalmente portugueses (os negros, por exemplo), mas por outro permite que aqueles que são culturalmente portugueses possam fazer referência à sua origem em território outro que Portugal (Almeida Santos é angolano).

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13.08.2011 | by martalanca | nacionalidade, Valter Hugo Mãe