Centros de Gravidade

Numa Europa que deixou de ser o centro de gravidade do mundo, mas que permanece infraestrutural na globalização de regimes de poder neoliberal, patriarcal e (neo)colonial, e que condiciona não só geopolíticas epistemológicas e ontológicas, como a própria sustentabilidade do planeta, convocamos outras forças de gravidade para um olhar crítico sobre algumas estruturas que perpetuam estes mesmos regimes.


> DESIGN: ASSIMETRIAS NEOLIBERAIS, COLONIAIS E DE GÉNERO 

Quarta-feira, 13 Novembro, 18:30

Rita Cortes Valente, O designer como facilitador

Nuno Coelho, Pó Colonial, Nostalgia e Amnésia

Ece Canli, No Cruzamento entre Queerness, Descolonização e Materialidade

Conversa moderada por Alexandra Balona

> DESCOLONIALIDADES E GEOPOLÍTICAS DO CONHECIMENTO 

Quarta-feira, 20 Novembro, 18:30

Ana Cristina Pereira, Um estudo de receção de cinema pós-colonial

Antônio Cláudio, Consciências 

Dori Nigro e Paulo Pinto, Alva Escura (Performance, co-curadoria Rita Xavier Monteiro)

Conversa moderada por Alexandra Balona

Programa paralelo

Terça-feira, 19 Novembro, 14:30

Oficina 1º ciclo Osmope: “Lápis cor-de-pele”, com Mónica Faria e Dori Nigro.

> INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: DESAFIOS ÉTICOS E BIOPOLÍTICOS

Terça-feira, 26 Novembro, 18:30

Pedro Saleiro, Discriminação, Big Data e Inteligência Artificial

Manuel Bogalheiro, A inteligência artificial como alteridade: tópicos para uma crítica da excepcionalidade humana

Conversa moderada por Alexandra Balona

https://www.facebook.com/events/450774538903338/

Alexandra Balona é investigadora e curadora independente. Doutoranda em Estudos de Cultura na European Graduate School & Lisbon Consortium, licenciada em Arquitetura (FAUP), é curadora na Rampa e co-fundadora com Sofia Lemos de Prospections for Art, Education and Knowledge Production. Investiga e publica em teoria crítica e artes performativas.

Agradecimentos: Melissa Rodrigues, Mónica Faria e Rita Xavier Monteiro.

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DESIGN: ASSIMETRIAS NEOLIBERAIS, COLONIAIS E DE GÉNERO

Quarta-feira, 13 de Novembro, 18:30

Rita Cortes Valente, O designer como facilitador

Pensar o design como uma ferramenta poderosa de impacto social e inovação sustentável - business as usual - já não é o futuro dos negócios. A emergência de um consumo mais sustentável cria uma oportunidade para os designers fazerem a diferença: podendo ser responsáveis pela definição dos standards sociais e ambientais dos produtos e serviços, cria-se uma oportunidade de contrariar a tendência de produção e consumo meramente economicista. Assumir o design enquanto mecanismo de utilidade social - na forma como cria respostas que valorizem tanto a experiência como o processo (produtivo), oportunidades de melhoria e inovação.

Rita Cortes Valente é designer de produto, e tem vindo a explorar o potencial transformador do design - uma interseção com o artesanato tradicional e a sustentabilidade ambiental e social. Já passou pela produção artesanal como designer maker, já juntou marcas sustentáveis numa plataforma online - desenvolvendo os critérios de sustentabilidade e curadoria - e agora trabalha em colaboração com os fornecedores para garantir uma cadeia de produção transparente e justa. O objetivo é conseguir que mais marcas melhorem o seu impacto através de consultoria para manutenção de ofícios, produção ética e negócios sustentáveis (www.ritacortes.pt). 

Nuno Coelho, Pó Colonial, Nostalgia e Amnésia

Mais de quatro décadas depois da Revolução de Abril e da independência das suas antigas colónias, Portugal continua pulverizado de imagens no seu espaço público (monumentos, museus, toponímia, produtos comerciais, entre outras) que indiciam uma nostalgia imperial, com fortes implicações nos discursos produzidos atualmente sobre a identidade portuguesa. Nesta perspetiva, será que podemos falar de uma sociedade verdadeiramente “pós-colonial”? O que fazer com essas imagens? Como produzir um novo léxico visual? Num momento em que a relação de Portugal com o seu passado recente encontra-se presentemente em debate e tendo como perspetiva a disciplina do design, esta apresentação pretende questionar a presença dessas imagens no nosso quotidiano, assim como a ausência de outras que permitiriam um olhar mais crítico sobre o nosso passado – e presente. 

Nuno Coelho é designer de comunicação, professor dos cursos em Design e Multimédia da Universidade de Coimbra (UC) e investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20). Licenciado em Design de Comunicação pela FBAUP e doutorado em Arte Contemporânea pela UC, desenvolve projetos autorais na intersecção entre o design e a arte, levantando questões, na sua maioria, sobre temáticas sociais e políticas. No seu trabalho tem explorado questões de identidade e memória através da exploração de arquivos de marcas históricas portuguesas e de instituições. Enquanto investigador em design, interessa-se por história, cultura material, semiótica visual e representação. Organizou exposições enquanto curador e é autor de dois livros. www.nunocoelho.net

Ece Canli, No Cruzamento entre Queerness, Descolonização e Materialidade 

Se nas últimas décadas a crítica queer e feminista da materialidade tem aberto espaço para entender como o design de objetos provoca a segregação corporal e discriminação identitária na sociedade, a profundidade e a historicidade do problema ainda necessitam de uma investigação mais profunda. Esta apresentação visa não apenas contribuir para esse propósito e desdobrar como certas práticas materiais direta ou indiretamente perpetuam e reproduzem as condições da colonialidade ainda existente e inscrita nos corpos, mas também problematizar a apropriação e a mercantilização dos discursos de igualdade e diversidade de género. 

Ece Canlı (Ph.D) é investigadora de design, artista e música, nascida na Turquia e sediada no Porto desde 2013. A sua investigação centra-se na intersecção entre epistemologias queer feministas descoloniais, regimes materiais e políticas corporais; mais especificamente, constituições sócio-espaciais-materiais de género, sexualidade, raça e outras categorias de identidade. Ela é membro fundadora do coletivo de pesquisa Decolonising Design Group e atualmente compõe e executa no NOOTIO, um projeto em dupla com a harpista Angélica V. Salvi; em VOICE FOLDS, um trio de performance vocal com Cléila Colonna e Catarina Miranda; e em seu projeto de som solo VOX FLORA, VOX FAUNA (www.ececanli.com).

> DESCOLONIALIDADES E GEOPOLÍTICAS DO CONHECIMENTO 

Quarta-feira, 20 de Novembro, 18:30

Ana Cristina Pereira, Um estudo de receção de cinema pós-colonial

Apresento um estudo de receção de seis filmes, portugueses e moçambicanos, que teve como objetivo principal perceber a forma como dialogam públicos, não especializados em cinema, com as representações identitárias veiculadas pelas obras. Os filmes foram mostrados e discutidos em Portugal e em Moçambique, em contextos socioculturais distintos e procurando abranger um leque etário alargado. Analiso alguns contributos de participantes nas discussões, que revelam além de um profundo desconhecimento mútuo, diferentes perspetivas do passado histórico, a persistência de estereótipos identitários e a prevalência de discursos herdados do colonialismo.

Ana Cristina Pereira é membro do NARP e doutorada em Estudos Culturais com a tese Alteridade e identidade na ficção cinematográfica em Portugal e em Moçambique, pela Universidade do Minho. Tem como principais interesses de investigação: racismo, identidade social, representações sociais e memória cultural no cinema pós-colonial, sobre os quais tem editados vários artigos científicos em publicações nacionais e internacionais. 

Antônio Cláudio, Consciências 

No atual contexto global ter consciências e ser conscientes é uma exigência para garantir a sobrevivência humana e planetária. Ter consciências e ser conscientes não são necessariamente a mesma coisa. Os povos indígenas com sua diversidade cultural tem em comum o fato conceberem a natureza não como uma abstração além do humano, mas como uma realidade concreta e espiritual da qual são parte integrante. Os seus territórios  garantem 85% da biodiversidade do planeta, logo, a demarcação das terras indígenas deve ser compreendida numa perspectiva anticapitalista comprometida com a preservação da vida. Falar de consciência indígena é falar de consciência global, já que é responsabilidade de todos nós abraçarmos a luta pelos direitos indígenas, e por uma alternativa económica e ambiental mais sustentável.

Antônio Cláudio Moreira Costa é Doutor em Educação e pós doutorando em Ciências da Educação na Universidade do Porto. Professor da Universidade Federal de Uberlândia, atuando na Faculdade de Educação na disciplina política e gestão da educação. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Comunicação. Linha de pesquisa Educação e Movimentos Sociais (Sem Terras, Negros e Quilombolas).

Dori Nigro e Paulo Pinto, Alva Escura 

Do mundo que o português criou aos anúncios de escravos nos jornais brasileiros do século XIX, representados pelas relações sociais entre a casa grande e a senzala, ecoam em nosso corpo/mente as vozes silenciadas dos que, como mercadoria, foram arrancados de sua terra natal e negociados nos pregões dos mercados, fazendo girar a economia da mais próspera (ex)colônia portuguesa. Como “doce” herança do açúcar colonial o racismo persiste até hoje em suas mais variadas facetas. “Alva escura” aponta as contradições das receitas antigas (atuais) aprendidas e ensinadas sobre civilização. Confrontando passado e presente desenhamos diálogos de alteridade, onde a palavra é notícia, oração e sabor, revelando a canção imagética de nossas memórias pessoais e ancestrais.

Dori Nigro é performer brasileiro. Vive e trabalha no Porto. Doutorando em Arte Contemporânea, é mestre em Práticas Artísticas Contemporâneas, bacharel em Comunicação Social/Fotografia. Licenciado em Pedagogia. Membro do Núcleo Anti-Racista do Porto (NARP). Cocriador no coletivo Tuia de Artifícios.

Paulo Pinto é Performer, Poeta, Ator, Arte/Educador, Arte/terapeuta; Criador e provocador do/no Coletivo Tuia de Artifícios; Tem como mote de suas investigações híbridas a auto/biografia, a imagem, cultura popular, a família e variações (tradições, afetos, religião, interditos, preconceitos, violências, morte…); Professor Universitário com formação em Psicologia e Artes Plásticas; Especialista na área de Artes Cênicas, Educação, Arteterapia e Terapia Familiar/Grupo; Mestre em Psicologia, Doutor em Educação Artística pela FBAUP, investigador no Pós-Doutoramento em Arte Contemporânea no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. 

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: DESAFIOS ÉTICOS E BIOPOLÍTICOS

Pedro Saleiro, Discriminação, Big Data e Inteligência Artificial

Vivemos numa era de automatização crescente onde tecnologias como Big Data e Inteligência Artificial estão a ser aplicadas para complementar ou até mesmo substituir decisores humanos em áreas como a saúde, educação, trabalho, administração interna ou até mesmo justiça. No entanto, algumas notícias recentes, sobretudo nos EUA, alertam para o risco da utilização de sistemas inteligentes que discriminam cidadãos devido ao seu gênero ou raça. É portanto fundamental que a sociedade perceba como funcionam estes sistemas inteligentes, como “aprendem” comportamentos históricos e como podem ser utilizados para promover igualdade e não o contrário.

Pedro Saleiro é Data Science Manager na Feedzai, e lidera um novo grupo de investigação que trabalha em FATE (Fairness, Accountability, Transparency and Ethics in AI). Anteriormente, trabalhou com Rayid Ghani como postdoc na Universidade de Chicago, desenvolvendo novos métodos e ferramentas open source, como o Aequitas toolkit para detetar discriminação em IA, e fazendo projetos de data science com parceiros governamentais e sem fins lucrativos. É doutorado em Engenharia Informática (Machine Learning) e Mestre em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

Manuel Bogalheiro, A inteligência artificial como alteridade: tópicos para uma crítica da excepcionalidade humana

Em vez de se posicionar a Inteligência Artificial do lado da ameaça, pretende-se questioná-la enquanto oportunidade para pensar o humano. Depois de uma longa história da tecnologia de pendor antropomórfico, a chamada “aprendizagem das máquinas” parece pôr em jogo uma inteligência que já não “mimetiza” a humana. A partir da revisitação de alguns pioneiros da relação homem-máquina, como Turing, Wiener ou Simondon, das figuras do fantasma da máquina, ou ainda do conceito de máquina abstracta (Deleuze), enquanto agenciamento que excede a apreensão humana, procura-se pensar a IA como uma alteridade que desafia os pressupostos modernos da excepcionalidade humana. 

Manuel Bogalheiro é Professor na Faculdade de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação da Universidade Lusófona do Porto, onde é diretor do doutoramento em Media Arts. É doutorado em Ciências da Comunicação - Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias (FCSH-UNL), com uma tese intitulada Materialidade e Tecnicidade: Sobre a Objetualidade Técnica. É investigador e publica nos campos da filosofia da técnica, teoria de media e cultura.

por Alexandra Balona
Vou lá visitar | 12 Novembro 2019 | apresentações, cinema, Europa, pos-colonial, seminários