O álbum fotográfico de Albano Costa Pereira, Angola (1972 – 1974)

O álbum fotográfico de Albano Costa Pereira, Angola (1972 – 1974) Existem diferentes potenciais camadas testemunhais e mnemónicas implicadas no álbum passíveis de serem exploradas em futuras pesquisas históricas. Uma primeira camada prende-se com a legibilidade atribuída a cada fotografia isolada; uma segunda prende-se com a relação entre essa legibilidade, as legendas das imagens atribuídas por Albano e o seu testemunho da participação na guerra; uma terceira camada consiste ou consistiria numa análise comparativa dos elementos das outras camadas com outros documentos e fontes da guerra ou, simplesmente, com outros álbuns de fotografia.

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16.09.2020 | por Ana Gandum

Introdução a "O Passado, Modos de Usar", de Enzo Traverso

Introdução a "O Passado, Modos de Usar", de Enzo Traverso Esse rumor, que nos leva de uma pequena cidade ucraniana em que se destruiu uma estátua de Lenine a uma grande metrópole americana em que Colombo se retira do pedestal, murmura que as fronteiras que os historiadores traçam para demarcar o presente do passado são bem mais frágeis do que se supunha. Trata-se, então, de discutir os modos de usar o passado, mas também que país é esse que dizemos passado.

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16.09.2020 | por José Neves

“sou esparsa, e a liquidez maciça”: Gestos de Liberdade, ciclo BUALA no maat

“sou esparsa, e a liquidez maciça”: Gestos de Liberdade, ciclo BUALA no maat Numa sociedade ainda marcada por profundas desigualdades de género, entendemos a emancipação e liberdade como processos assentes em contínuas e escorregadias disputas no quotidiano. Nestes dias, partilhamos abordagens de cineastas, artistas, curadoras, investigadoras para avançarmos com perspectivas de mundo onde as práticas de liberdade se inscrevem em cada gesto ou situação propostos.

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15.09.2020 | por Marta Lança

Aurora Negra

Aurora Negra É o ano em que todas as máscaras se tornam visíveis. Em palco, há uma que nos acompanha o tempo todo. Vemos através dela. A pandemia não nos permite tirar as nossas. As do racismo vão caindo. As pretas ocupam a casa. Irrompem caixa preta adentro. Falam com os seu fantasmas e os nossos, confrontam-nos. Confrontam-nos a nós, público. Aqui, o público é parte do problema e da solução. Não se iludam: Aurora Negra diz e faz o óbvio, o que é esperado, o que é desejado. O que foi solicitado. Por quem? Para quem?

Palcos

12.09.2020 | por Gisela Casimiro

Apocalipse Now e os “Soldados Perdidos” da guerra colonial portuguesa na Guiné

Apocalipse Now e os “Soldados Perdidos” da guerra colonial portuguesa na Guiné O cheiro a selva, a pólvora, a carne estropiada, a napalm (como o autor testemunha, apesar do desmentido oficial), a cerveja, a humidade tropical, o whisky. O próprio livro cheira a whisky, sobretudo ao whisky velho da marinha portuguesa, não fosse este nosso alferes ter uma trupe de fuzileiros junto do seu quartel improvisado junto ao rio Cumbijã. Com eles havia de fazer ski aquático no meio da fauna de crocodilos ali existentes, ou pescar com granadas para afastar esses crocodilos e garantir a próxima refeição fresca.

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11.09.2020 | por Ricardo Seiça Salgado

Na Rua do Loreto

Na Rua do Loreto Está nua, a barriga dobra-se sobre o púbis. Eleva os braços, espreguiça-se, como um orangotango fêmea cansado. Deixa-se estar ali, lambendo os braços, levando ao nariz o cheiro dos sovacos, acarinhando um bebé que ninguém vê, dando-lhe de mamar com um desvelo maternal. Dessa vez, não a vi. Contaram-me que abriu as pernas, cheirou-se e sentindo-se, quem sabe, terrivelmente desamparada, começou a chorar de desespero. Alguém chamou a Polícia Municipal.

Cidade

08.09.2020 | por Djaimilia Pereira de Almeida

Discutir o Brasil Contemporâneo

Discutir o Brasil Contemporâneo As urgências desafiam o entendimento de uma conjuntura complexa, permeada por falsificações, manipulações em massa, culturas de ódio, intolerância, interesses geopolíticos, conexões entre grupos políticos e económicos de alcance transnacional: Trump, Cambridge Analytica, Steve Bannon, não são nomes alheios ao cenário brasileiro. Há quem considere nesse caldo um rol de cortinas de fumo que a todo momento roubam a atenção, a energia, a sensibilidade. Há quem argumente que esse fumo também mata: por homofobia, por racismo, por misoginia.

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08.09.2020 | por vários

As culpas da história

As culpas da história Mas depois do século XX, a estrutura da culpa muda profundamente: o abismo sem retorno de Auschwitz, o horror criado por uma racionalidade iluminada como foi o colonialismo moderno, impedem a reprodução da culpa trágica, mudando de fato as relações de força da ética contemporânea, no conflito abissal entre a inocência subjetiva e a culpa objetiva.

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05.09.2020 | por Roberto Vecchi

"Percurso que fizemos em conjunto", conversa com as curadoras de 'Earthkeeping / Earthshaking: arte, feminismos e ecologia'

"Percurso que fizemos em conjunto", conversa com as curadoras de 'Earthkeeping / Earthshaking: arte, feminismos e ecologia' A questão da ecologia a partir de práticas artísticas dos anos 60. A revista "Heresies" (revista feminista, cujo número #13 é dedicado a ecologia) foi uma referência que nos fez entender que estava a haver, nos últimos anos, um renovado interesse, tanto do ponto de vista da reflexão sobre os feminismos, como sobre questões ecológicas em âmbito expositivo.

Cara a cara

03.09.2020 | por Hugo Dinis

Para lá da metáfora. Violência sexual e (pós-)colonialismo no romance Os Pretos de Pousaflores de Aida Gomes

Para lá da metáfora. Violência sexual e (pós-)colonialismo no romance Os Pretos de Pousaflores de Aida Gomes A crítica feminista tem vindo a apontar as implicações problemáticas da transfiguração do corpo feminino violentado em símbolo de um processo histórico, alertando para os códigos de género tradicionais que sustentam a metáfora: conotações de fragilidade e necessidade de proteção atribuídas ao feminino e estigmas de vergonha e culpa associados à violência sexual. Sara Suleri: a violação enquanto imagem do imperialismo é uma figura cuja obsolescência a tornou insuficiente para uma leitura sustentada das valências do trauma implicadas no simbolismo sexual do colonialismo.

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02.09.2020 | por Júlia Garraio

ARQUIVO BUALA: vários narradores de uma história interminável - 26/8 a 13/9 Espelho d'Agua

ARQUIVO BUALA: vários narradores de uma história interminável - 26/8 a 13/9 Espelho d'Agua Podemos sentar para ativar o arquivo das séries de Mauro Pinto, Ihosvanny, Tchalé Figueira, Carlos Correia, Maíra Zenun, Lana Almeida, Jordi Burch, Nuno Awouters, Patrícia Lino, René Tavares, Lubanzadyo Mpemba, Andrea Paz, Ismail Aydin, Délio Jasse, Andrew Esiebo, Pascale Marthine Tayou, Djaimilia Pereira de Almeida, Albano Costa Pereira, Ruy Duarte de Carvalho, Reinata Sadimba, Marta Lança, Zanele Muholi, Rui Sérgio Afonso, John Liebenberg, Silvana Rezende, Mourad Charrach, Uche James-Uroha e Inês Gonçalves.

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24.08.2020 | por Marta Lança

Os enigmas das monjas

Os enigmas das monjas No século XVII, freiras portuguesas amantes da literatura criaram uma relação especial com uma religiosa erudita do México colonial, Sor Juana Inés de la Cruz. Com poesia e enigmas de amor, defenderam o direito das mulheres ao conhecimento. Os escritos das religiosas ganharam pó por 300 anos na Biblioteca Nacional, em Lisboa. Até que um investigador tropeçou nas folhas soltas.

Corpo

21.08.2020 | por Pedro Cardoso

TIMÓTEO SABA M'BUNDE: uma análise de dentro da política externa

TIMÓTEO SABA M'BUNDE: uma análise de dentro da política externa Como se configuram as políticas externas brasileira e chinesa para a Guiné-Bissau? Quais as motivações e suas variantes? Porque que razão a China optou por uma política externa bilateral, em contraposição ao multilateralismo brasileiro? Qual a percepção da elite governamental e da sociedade civil sobre as políticas externas brasileira e chinesa?

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20.08.2020 | por Ricardino Jacinto Dumas Teixeira

A Cruz que Fala

A Cruz que Fala Cruzam-me duas linhas ou duas ordens: a LGBT e a Igreja Católica. E a triangular educação académica feminista que tanto me motivou a ter voz e até por uns anos câmara. Foram as ondas que me tranquilizaram o espírito e me trouxeram esta imagem. Boa praia, diria. O mar enrola na areia, ninguém sabe o que ele diz, enrola na areia e desmaia porque se sente feliz. É verdade que bate devagarinho uma felicidade na praia, que vai rompendo amarras ao stress e de repente zás, sentimo-nos felizes, pelo menos contentes e depois vêm aqueles pensamentos mais leves e mais pacíficos, a clareza do "ai é isto." Penso eu? Pensa o mar? Penso eu e o mar, diria. Será que estou a voltar a casa, finalmente, dos meus anos de errância?

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20.08.2020 | por Adin Manuel

Devotos em cisma: a Igreja Universal do Reino de Deus em Angola

Devotos em cisma: a Igreja Universal do Reino de Deus em Angola O conflito entre a “direção brasileira” e o “movimento de reforma angolano” veio à tona em 28 de novembro de 2019, com a publicação de um “Manifesto Pastoral” assinado por mais de 300 pastores e bispos angolanos e encaminhado ao bispo Honorilton Gonçalves. Nele, exigiam que os líderes brasileiros deixassem o país e que a liderança da Igreja passasse aos homônimos angolanos, num movimento de “angolanização”. As acusações foram graves: prática de nepotismo, racismo, concessão de privilégio a religiosos brasileiros na atribuição de responsabilidades eclesiásticas e administrativas, tratamento discriminatório com os pastores angolanos, evasão de divisas para o exterior.

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19.08.2020 | por Pedro Feitoza e Jéssica da Silva Höring

O ar em suspenso, sobre o filme 'Ar Condicionado'

O ar em suspenso, sobre o filme 'Ar Condicionado' Os ares condicionados estão caindo, estão podres. Um calor que não se aguenta - pelo menos os ricos não aguentam pois que aos demais só resta a resiliência. A ideia de que eles despencam sem aviso prévio e são, ao mesmo tempo que salvadores, armas perigosas, colocam lado a lado vida e morte. Mas novamente Matacedo parece imune ao medo de morrer atingido por um resfriador sintético na cabeça. Caminha e olha pouco para cima. Na verdade, caminha olhando para baixo, como que indiferente também aos prédios que são construídos pelos homens e depois abandonados, ou aos mandos e desmandos de um patrão rico ou mesmo de sua empregada doméstica, numa cadeia hierárquica perene e quase imutável. Este contexto todo, cenário decadente, desafio impossível, perigo iminente e personagens que levam a vida a pensar em si próprios, é o caldo que se perpetua pelo filme e vai descortinando camadas sociais. O filme é um constante descamar de subtilezas. Não espere por um momento catártico em termos de roteiro porque ele não vem. Mas as nuances estão todas naquilo que não é dito.

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17.08.2020 | por Fernanda Polacow

0°20’7”Norte 6°43’5”Este

0°20’7”Norte 6°43’5”Este O Paulo, actor e performer, registou-as com a sua câmara, guardando os sons das vozes e os silêncios ruidosos da natureza. A Joana, artista visual, percorreu-a em busca dos lugares que o seu pai Carlos tinha fotografado durante os anos noventa, em película colorida, procurando também sabores da fruta que, nessa mesma época, o seu pai lhe trouxe numa pequena cesta. Memórias que nunca esqueceu. A Ana, também artista visual, foi à descoberta das memórias de Portugal nesta ilha, que são património de São Tomé e Príncipe.

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14.08.2020 | por Inês Valle

A cidade-fantasma de Ihosvanny

A cidade-fantasma de Ihosvanny Nesta permanente reconfiguração, estaleiro de obras ora aqui ora acolá, requalificações seriadas, corrida às cidades sustentáveis, mais ou menos cidadãs friendly, não dispensam camadas de demolições, entulho, lixo. Um dos seus problema de fundo é lógica de acumulação, é isso que lhes dá sentido existencial. As cidades tudo engolem e tudo regorgitam, lidando mal com os resíduos, sejam eles matéria ou pessoas.

Cidade

13.08.2020 | por Marta Lança

Carta Aberta: O Silêncio é Cúmplice

Carta Aberta: O Silêncio é Cúmplice Em frente à sede do SOS Racismo, houve parada de um grupo neonazi, de rosto tapado e tochas.(...) Perante esta escalada dos ataques, que é antecedida e acompanhada por um constante regime de ameaça e insulto a dirigentes do SOS Racismo, assim como a outros activistas antirracistas e antifascistas, não houve qualquer demonstração institucional pública de repúdio. Perante o assassinato brutal de Bruno Candé às mãos de um ex-combatente da guerra colonial que durante dias o perseguiu, o insultou e baleou até à morte, não houve uma declaração institucional de pesar e comprometida com o antirracismo. As condolências e suporte institucionais nunca chegaram à família.

Mukanda

13.08.2020 | por vários

Quando o vírus é o sistema: propostas ecossocialistas para não voltar ao normal.

Quando o vírus é o sistema: propostas ecossocialistas para não voltar ao normal. É preciso agir com as lutas de todxs xs trabalhadorxs, mesmo daquelxs que até agora não eram visíveis nos trabalhos reprodutivos e dos cuidados, e principalmente das mulheres, em conjunto com as demais lutas de setores e movimentos indígenas, racializados e das comunidades locais e de mulheres rurais, em alianças urbanas e rurais, desde os níveis mais locais e de vizinhança até os espaços regionais, transfronteiriços e internacionais. Articular as práticas que nos permitem sobreviver, transformar o sistema, e superar os impactos das mudanças climáticas e ambientais.

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10.08.2020 | por Oficina de Ecologia e Sociedade