'Os Sons da Nação', História Política e Social da Música Urbana de Luanda: 1945-2002 - excerto

'Os Sons da Nação', História Política e Social da Música Urbana de Luanda: 1945-2002 - excerto Eu defendo que é na e pela música popular urbana, produzida esmagadoramente nos musseques de Luanda, que os homens e mulheres angolanos forjaram a Nação e articularam expectativas sobre o nacionalismo e sobre a soberania política, económica e cultural. Fizeram-no pelas relações sociais que se desenvolveram em torno da produção e do consumo de música. O conteúdo lírico e o som musical importavam, mas o público e os músicos davam-lhes um significado dentro do contexto. Por outras palavras, a música, no fim da Angola colonial, moveu as pessoas para uma Nação e de encontro ao nacionalismo, porque as aproximou de novos espaços urbanos, de novas maneiras, através de linhas de classe e etnia, através da política íntima e pública do género.

Palcos

13.07.2023 | por Marissa Moorman

Cabral desimpediu a estrada da independência, só nos restava pavimentá-la!, entrevista a Sana na N’hada

Cabral desimpediu a estrada da independência, só nos restava pavimentá-la!, entrevista a Sana na N’hada Realizador guineense da geração de Flora Gomes, estudou cinema em Cuba, filmou a guerrilha do PAIGC, foi director no Instituto Nacional de Cinema e Audiovisual da Guiné-Bissau, e tem-se esforçado por resgatar e arquivar as imagens da luta de libertação, nos últimos 13 anos com a artista Filipa César com quem colabora em projectos artísticos e de intervenção. Fez de tudo para filmar, quase sempre em baixo orçamento, e caminhando quilómetros para ir buscar e mandar revelar película. Conta-nos a importante missão que Amílcar Cabral lhes delegou e como foi, a meio do processo, saber a esmagadora notícia do seu assassinato. Calhou-lhe como primeiro trabalho filmar Amílcar Cabral numa exposição em Conacri, em 1972, e depois a transladação do seu corpo para Bissau, capturando a comoção dos guineenses pela morte do melhor pensador e líder da resistência anticolonial. No encontro essencial com Chris Marker e Sarah Maldoror e, mais recente, com Filipa César, percebe que é possível trabalhar mais autonomamente.

Cara a cara

01.03.2023 | por Marta Lança

O caso Amílcar Cabral. Apontamentos críticos a propósito do princípio e do projecto da unidade Guiné-Cabo Verde. PARTE 2

O caso Amílcar Cabral. Apontamentos críticos a propósito do princípio e do projecto da unidade Guiné-Cabo Verde. PARTE 2 Embora defensor e advogado convicto do princípio da unidade Guiné/Cabo Verde, a postura de Amílcar Cabral sobre esta candente questão distinguia-se da de muitos líderes africanos e, até, de alguns militantes e responsáveis políticos guineenses, em cuja óptica Cabo Verde quiçá mais não fosse (ou deveria ser) do que, por assim dizer, um prolongamento meso-atlântico, mestiço e árido das verdes e opulentas ilhas negro-africanas dos Bijagós (como se pode constatar numa entrevista do bissau-guineense de origem caboverdiana Gil Fernandes constante do dossier publicado pela revista Afrique-Asie sobre o assassinato de Amílcar Cabral logo depois da ocorrência desse evento histórico por demais trágico).

A ler

30.01.2023 | por José Luís Hopffer Almada

O caso Amílcar Cabral. Apontamentos críticos a propósito do princípio e do projecto da unidade Guiné-Cabo Verde. PARTE 1

O caso Amílcar Cabral. Apontamentos críticos a propósito do princípio e do projecto da unidade Guiné-Cabo Verde. PARTE 1 Segundo opinião expendida por Onésimo Silveira no ensaio “O Nativismo Cabo-Verdiano: O Caso Amílcar Cabral” (inserto no seu livro A Democracia em Cabo Verde, de 2005), à “deriva literária do nativismo”, que foi o movimento claridoso, ter-se-ia seguido uma nova fase do nativismo de conteúdo essencialmente político e encabeçado por Amílcar Cabral. Essa derradeira manifestação do nativismo caboverdiano transportaria, em si, os gérmenes do anti-nativismo, na medida em que seria de natureza nacionalista e projectada num quadro pan-africanista de unidade Guiné-Cabo Verde. Por esta última razão, ela estaria também pejada das ambiguidades advenientes da teoria cabraliana da reafricanização dos espíritos, alegadamente inoperante para o caso de um povo mestiço, como o é o povo cabo-verdiano.

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22.01.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Louca verdade e outros (in)verosímeis desatinos, paradoxos e incongruências do quotidiano

Louca verdade e outros (in)verosímeis desatinos, paradoxos e incongruências do quotidiano O regime caboverdiano de partido único veio a contradizer, e de forma cristalina e notória, uma pretensa imagem impoluta e moderada que o mesmo vinha construindo e propalando junto das comunidades emigradas e dos seus imprescindíveis parceiros internacionais, dos quais depende, aliás e em grande medida, a mera sobrevivência física das populações das ilhas, assim logrando o mesmo regime a estranha e risível façanha, o por demais inaudito e ostensivo desígnio de se desnudar de falsos pudores e mentirosos alardes e ardores democráticos e, assim, de se desmascarar em si mesmo e a si próprio nas suas flagrantes e manifestas pulsões e perversões totalitárias, deste modo também se comprovando como um autêntico logro e uma verdadeira falácia a sua auto-representação e a sua auto-projecção na opinião pública nacional e internacional como sendo um regime respeitador dos direitos humanos universalmente reconhecidos.

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02.01.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Não estamos em Hollywood! Conversa com Licínio Azevedo e Gabriel Mondlane

Não estamos em Hollywood! Conversa com Licínio Azevedo e Gabriel Mondlane O cinema tem um papel político em Moçambique, mesmo que os nossos filmes não sejam políticos. Foi criado como um instrumento político, teve uma influência regional enorme: os nossos documentários tiveram influência na África do Sul pós-apartheid, no Zimbabué, na Namíbia, em Angola, em todos os países da região. Foi uma ideia genial e extraordinária da Frelimo pós-independência, que trouxe para cá [Jean-Luc] Godard, Jean Rouch, Ruy Guerra e dezenas de outros cineastas e gente do cinema: cubanos, italianos, ingleses, franceses.

Afroscreen

11.10.2022 | por Lurdes Macedo

“A amnésia histórica é um dos mais sérios problemas de São Tomé e Princípe” – conversa com Conceição Lima.

“A amnésia histórica é um dos mais sérios problemas de São Tomé e Princípe” – conversa com Conceição Lima. São Tomé e Príncipe, diz Conceição Lima, vive numa tensão entre a impaciência e a paciência. Por um lado, há uma forte insatisfação com o estado de coisas: “temos uma curta esperança de vida e queremos assistir a mudança!” Por outro, quarenta e sete anos é “um lapso de história muito curto, quase insignificante no grande plano.” A solução passa por um equilíbrio entre os dois: “é preciso cultivar a paciência para remendar e semear, mas nunca permitindo que se esvaia a tão importante impaciência.” Parece que estamos perante uma identidade formada a partir e contra um trauma histórico, que teima em resistir, contra todas as probabilidades. A poetisa responde com um poema: Um pássaro ferido./ Um pássaro ainda ferido / e teimoso.

Cara a cara

12.07.2022 | por João Moreira da Silva

Keyezua

Keyezua Pensei em ser embaixadora, diplomata, coordenadora, não, vou mesmo é ser presidente do meu país… Ainda tenho fé. Eu falo sobre essas coisas porque acho que existe essa necessidade, não só da minha parte mas também porque o povo quer ver retratada a sua vida. E também porque eu gosto de investigar o relacionamento que temos com o resto do mundo – somos vistos como dependentes mas esta geração é independente.

Cara a cara

18.01.2022 | por Miguel Gomes

Mário Lúcio Sousa e o pão feito pelo diabo

Mário Lúcio Sousa e o pão feito pelo diabo O autor usou a voz de vários prisioneiros, todos com o mesmo nome – Pedro –, chegados em alturas diferentes de Portugal, da Guiné, de Angola e de Cabo Verde. Descreveu o terror de dentro com uma fluidez que em nada instrumentaliza acontecimentos para provar alguma coisa.

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28.10.2019 | por Ana Bárbara Pedrosa

Daqui e acolá: poéticas relacionais na produção cinematográfica africana e afrodiaspórica

Daqui e acolá: poéticas relacionais na produção cinematográfica africana e afrodiaspórica O programa coloca a hipótese de estéticas africanas e afrodiaspóricas em contraponto às formas visuais dominantes, apelando mesmo a uma releitura das declinações históricas do par dialético hegemonia/subalternidade. Nestes filmes, o ato de centrar decorre, em larga medida, de um processo de descentramento: descentramento histórico e formal, acompanhado do descentramento das posições enunciativas e cognitivas convencionais através de poéticas relacionais que deslocam a reflexão sobre as categorias de identidade e alteridade rumo a um pensamento da relação nos sistemas de representação.

Afroscreen

30.11.2018 | por Raquel Schefer

"Entrámos noutro século, o paradigma é diferente", entrevista a Marcolino Moco

"Entrámos noutro século, o paradigma é diferente", entrevista a Marcolino Moco Umbuntu, umbundo tem a mesma origem. No Zimbabué, dizem ”uno”, umbuntu quer dizer “uno” em umbundo. “Eu não significo nada sem ti.” Se fico em casa sozinho começo a pensar nisso: em que consiste a minha hombridade? Sozinho não troco ideias, sou pessoa porque existem outras pessoas. A princípio era uma filosofia de carácter étnico, o grande segredo de Mandela e Tuto foi conseguir elevá-la para outra coisa, não é só “eu não sou nada sem o outro umbundo” para torná-la trans-étnica.

Cara a cara

09.07.2018 | por Marta Lança

"Períodos críticos de transição da história de Angola", entrevista a José Luís Mendonça

"Períodos críticos de transição da história de Angola", entrevista a José Luís Mendonça No 'Reino das Casuarinas', de José Luís Mendonça (2014), tenta esclarecer estórias atravessadas na História de Angola, com sabor a desilusão. O estilo literário e o rigor jornalístico tornam a leitura aprazível. Um reino na floresta da Ilha de Luanda, um grupo de aparentes indigentes afinal tão visionários. O autor, director da revista Cultura, tem esperança de se fazer ouvir num país onde diz faltar o diálogo, e onde não se deve deixar de sonhar com uma nova sociedade na qual o cidadão tenha valor. Apresenta propostas concretas para tal.

Cara a cara

19.02.2018 | por Marta Lança

Libertação

Libertação Este trabalho contribui para uma re-escrita da nossa história colonial e ajudar à discussão de problemas actuais que advêm de questões coloniais não debatidas. Faz parte de um movimento atravessa a sociedade portuguesa pelas universidades, as artes, os jornais, associações e que olha para o passado porque quer alterar o presente e a forma como se conta esse passado.

Palcos

26.10.2017 | por André Amálio

Ciclo Vozes do Sul no Festival Silêncio I LISBOA

Ciclo Vozes do Sul no Festival Silêncio I LISBOA Vozes do Sul é um pequeno ciclo que programei para o Festival Silêncio, no qual se pode assistir ao filme "Independência", um olhar angolano sobre a guerra de libertação, e a duas conversas: a 30 de setembro Achille Mbembe discute as ideias de "Políticas da Inimizade" sob moderação de Mamadou Ba; a 1 de outubro Jota Mombaça questiona o Problema de Escuta, Rita Natálio mostra a face oculta do Antropoceno: Misantropoceno e misantropia, juntamente com a investigadora Maria Paula Meneses, co-autora de "Epistemologias do Sul", que aqui faz convergir uma Ecologia de Sabores e Saberes.

Mukanda

06.09.2017 | por Marta Lança

“Estávamos em terreno desconhecido, com hábitos particulares. É preciso ter sensibilidade e ter em conta tudo isso”, entrevista a Bruno Moraes Cabral

“Estávamos em terreno desconhecido, com hábitos particulares. É preciso ter sensibilidade e ter em conta tudo isso”, entrevista a Bruno Moraes Cabral Mesmo nas filmagens correu tudo espantosamente bem. Mas houve também muito cuidado da nossa parte. Estávamos em terreno desconhecido, com hábitos particulares. É preciso ter sensibilidade e ter em conta tudo isso. Tivemos sempre essa preocupação: não era chegar a um sítio e filmar tudo o que nos apetecia como se estivéssemos à porta de nossa casa. Não agimos assim. Tento sempre filmar da mesma forma que filmaria aqui numa aldeia: falar com as pessoas primeiro e perceber que espaço tenho para fazer o que gostaria, e adaptando-me sempre a essas sensibilidades. E fazendo assim as coisas acabam por correr bem.

Cara a cara

14.03.2017 | por Mariana Pinho

“As histórias de crimes do colonialismo neste século estão largamente por contar”, entrevista a Fernando Rosas

“As histórias de crimes do colonialismo neste século estão largamente por contar”, entrevista a Fernando Rosas A série foca-se no ciclo africano do império português, e esse é um século marcado por violência. O colonialismo é uma forma de violência, uma forma de domínio de sociedades que eram dominados pela superioridade militar, técnica e económica das civilizações europeias. E esse domínio exerceu-se de forma violenta. Restringindo e esmagando os direitos das populações autóctones e imponde-lhes um modo de produção injusta, de forma a assegurar a acumulação do sistema colonial.

Cara a cara

06.03.2017 | por Mariana Pinho

O Poder em Angola, entrevista a Paulo Inglês

O Poder em Angola, entrevista a Paulo Inglês Acho que a nação é menos conversão política de “partilhas primordiais” do que arranjos políticos. Se um sistema conseguir produzir consensos tácitos a longo prazo pode fundar-se uma nação; é claro que a história comum ajuda. No caso de Angola, já existiam muitos elementos comuns que tornariam possíveis consensos suficientes para o país dar certo; faltou audácia política.

Cara a cara

27.02.2016 | por Marta Lança

"Angola nos Trilhos da Independência"

"Angola nos Trilhos da Independência" 57 meses, 900 horas de material audiovisual recolhido em território angolano e internacional, com cerca de 700 depoimentos de protagonistas da luta anticolonial. Muitas viagens, epopeias, adversidades, poeira e entusiasmo. Tudo isto destinado a preservar a memória de um período na História que diz respeito a Angola e à luta de todos os povos sob ocupação colonial cujas memórias padecem ainda de ser registadas e pensadas. Um projecto de grande fôlego da Geração 80.

Vou lá visitar

26.11.2014 | por Marta Lança

Nos Trilhos da Independência: 90 dias pelo Leste de Angola

Nos Trilhos da Independência: 90 dias pelo Leste de Angola  A partir de 1966, a luta pela independência de Angola teve como um dos principais cenários a região que se estende pela Lunda-Sul, Moxico, Kuando-Kubango e parte do Bié. O MPLA abriu a Frente Leste em 1966, desdobrando-se progressivamente em regiões e zonas várias. A UNITA começou a sua acção no mesmo ano, estabelecendo-se principalmente no Moxico entre os rios Luanguinga e Lungué-Bungo. A FNLA também actuou, em menor escala, no Alto Chicapa.

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30.09.2013 | por Associação Tchiweka de Documentação

Mais um dia de vida - Angola 1975

Mais um dia de vida - Angola 1975 Cheirava mal em toda a parte, um fedor ácido, e uma humidade pegajosa e abafada espalhava‐se pelo edifício. As pessoas transpiravam de calor e de medo. Havia um ambiente apocalíptico, uma expectativa de destruição. Alguém chegou com o boato de que se preparavam para bombardear a cidade durante a noite. Uma outra pessoa ouvira dizer que, nos bairros dos negros, se afiavam facas para cortar a garganta aos portugueses. A insurreição explodiria a qualquer momento. «Que insurreição?», perguntei, para poder informar Varsóvia. Ninguém sabia exactamente. Apenas uma insurreição, e descobriremos de que natureza é quando nos atingir.

Mukanda

27.09.2013 | por Richard Kapuschinski