Encontros de mulheres nas descolonizações - Modos de Ver e Saber

No âmbito do internacionalismo que suportou as lutas de libertação em todo o mundo, as mulheres usaram a imagem – através da câmara fotográfica ou de filmar – como arma. De certo modo, essa prática política, engajada, foi uma resposta ao uso feito pela propaganda política, científica, económica, que sustentou a ordem e ideologia colonialistas.

Foto © Augusta Conchiglia (Angola, 1968)Foto © Augusta Conchiglia (Angola, 1968)

Nos países de língua portuguesa, entre as mulheres que fotografaram ou fizeram filmes com propósitos políticos, destacaram-se Augusta Conchiglia, Margaret Dickinson, Ingela Romare, Sarah Maldoror e Suzanne Lipinska. Aos materiais filmados – e não apenas por mulheres – foi dado sentido pelas montadoras Jacqueline Meppiel, Cristiana Tullio-Altan ou Josefina Crato, esta última a única mulher dos quatro jovens guineenses enviados por Amílcar Cabral para estudar cinema em Cuba.

Margarida Cardoso, Pocas Pascoal, Maria João Ganga, Isabel Noronha, com as suas ficções cinematográficas; Kamy Lara, Ana Tica, Diana Andringa e Catarina Laranjeiro, através de obras documentais; Eurídice Kala, Vanessa Fernandes, Filipa César, Mónica de Miranda, Ângela Ferreira, Luciana Fina, Jota Mombaça e Grada Kilomba com os projectos, instalações, performances e criações na área das artes visuais dão hoje contributos determinantes para reflectir sobre as memórias e vivências (pós-)coloniais, modos de descolonizar o arquivo e de re-imaginar o colonialismo português e a luta contra o mesmo.

Como é que as mulheres olharam as lutas de libertação nas ex-colónias portuguesas? Como é que os seus olhares foram integrados ou não na imaginação do colonialismo? Houve um olhar específico das mulheres sobre a libertação do colonialismo português? Que saber e consciência temos de/sobre esses olhares? E como é que esses olhares se cruzam com os das realizadoras, artistas, curadoras e académicas que hoje questionam os arquivos, públicos e privados, interrogam e recriam visualmente as suas memórias e re-imaginam o colonialismo? Que acção é que a investigação académica, as políticas de conservação de arquivos, os gestos de programação e curadoria podem ter no questionamento ou, pelo contrário, no prolongamento das “políticas (oficiais) da memória”? 

O(s) Encontro(s) Mulheres nas Descolonizações. Modos de Ver e Saber pretende(m) contribuir para o debate.

Cartaz de Vanessa Fernandes sobre fotografia de Augusta Conchiglia (Angola, 1968)Cartaz de Vanessa Fernandes sobre fotografia de Augusta Conchiglia (Angola, 1968)

27 -29 de Maio I Organização: Maria do Carmo Piçarra, Ana Cristina Pereira, Inês Beleza Barreiros 

Dia 27 de Maio – Local: Hangar

10h00 – Leitura do Manifesto “Encontro(s)” 

10h10/11h10 Primeiro Círculo: Imagem Decolonial e Movimento I

De Submisso a Político: o Lugar do Corpo Negro na Cultura Visual - conferência-performance (vídeo, 2021, 44’05) de Melissa Rodrigues, seguida de conversa com a autora, moderada por Ana Cristina Pereira

11h15/11h45 – Inês Cordeiro Dias, “O Olhar e a Subjetividade Femininos em A Costa dos Murmúrios

11h45/12h15 –Ana Cristina Pereira, “Margarida Cardoso e as Mulheres da Casa Grande: Fragilidade Branca e Memória (Pós-)Colonial”

12h15/13h15 – Catarina Laranjeiro, Tânia Dinis. Conferência-performance “Álbuns de Guerra”

13h15/14h15 – Almoço

14h15/14h55 Sílvia Roque, “Mulheres-nação: Representações no Cinema Guineense Pós-colonial” 

14h55/15h40 Livia Apa, “Bruna Polimeni, Cabral e a Rede de Apoio à Revolução na Guiné-Bissau”

15h40/16h20 – Giulia Strippoli, “Implicações metodológicas na produção do conhecimento sobre mulheres colonizadas e não colonizadas”

17h00/19hSegundo Círculo*: Imagens e Cantos de Libertação – Augusta Conchiglia nos Trilhos da Frente Leste (Angola) 

Projecção de excerto de A Proposito dell’Angola (1973). 

Conversa com Augusta Conchiglia, José da Costa Ramos e Maria do Carmo Piçarra sobre o álbum fotográfico Guerre du Peuple en Angola

28 de Maio – Locais: Hangar (manhã) / Museu do Aljube (tarde)

Manhã: Hangar

10h – Terceiro Círculo*: Descolonizando os Arquivos. Questões de Identidade, Memória, Ética 

10h – Projecção de Terceiro Andar (versão monocanal, 17’)

10h20/11h – Luciana Fina, “Lisboa, Bairro das Colónias. Mover Lugares”

11h/11h40 – Projecção de Fordlandia Malaise (Susana de Sousa Dias, 2019, 41’)

11h40/12h20 – Susana de Sousa Dias, “Resistir ao Arquivo”

12h20/13h Conversa com Susana de Sousa Dias, Luciana Fina e Maria do Carmo Piçarra 

13h/14h30 – Almoço

Tarde: Museu do Aljube 

14h30/15h10 – Quarto Círculo: Imagem Decolonial e Movimento II 

Projecção de Essencial é a Fome (Raquel Lima, 2020, 20’40’). Conversa sobre processos criativos e métodos com Raquel Lima e Ana Cristina Pereira

15h10/15h50 – Projecção de excerto de Nôs Terra (2013). Ana Tica, “Subjetividades Transgressoras”

16h-18h30Quinto Círculo: Desaprendendo o Colonialismo: Modos de Ver e Saber

16h/16h20 – Inês Beleza Barreiros, apresentação do tema do círculo e autoras

16h20/17h05 – Projecção de excertos de ANTICORPO: a Parody on the Colonial Ambition (Patrícia Lino, 2019-20, 44’); Teko Haxy - Ser Imperfeita (Patrícia Ferreira e Sophia Pinheiro, 2018, 39’) e Recognition (Sara Serpa, 2020, 56’). 

17h05-18h30 – Conversa com Patrícia Ferreira, Sophia Pinheiro, Patrícia Lino e Sara Serpa, moderada por Inês Beleza Barreiros.

29 de Maio – Local: Museu do Aljube

10h/10h40 – Ana Balona de Oliveira “Mulheres Artistas Descolonizando o Arquivo”

10h40/ 13hSexto Círculo*: Arquivos Públicos e Privados. Olhares, Sensibilidades e Práticas 

Projecção de Rorschach for a blindness (Vanessa Fernandes, 2020, 5’) e Tradição e Imaginação (Vanessa Fernandes, 2018, 4’), Hotel Globo (Mónica de Miranda, 2015, 9’), e Adventures in Mozambique and the Portuguese Tendency to Forget (Ângela Ferreira, 2015, 19’) 

11h30/12h – Vanessa Fernandes, “Rizomas: Da Memória à Imaginação” 

12h /12h30 – Ângela Ferreira, “Role Models”

12h30/13h – Conversa com Vanessa Fernandes e Ângela Ferreira, moderada por Ana Balona de Oliveira 

13h/14h30 – Almoço 

14h30/15h10 – Raquel Schefer, “A Função do Reemprego de Arquivos e da Reconstituição Sensível na Elaboração de uma Contra-história do Colonialismo Português Tardio” 

15h15/16h – Kamy Lara, Mulheres de Armas (2012, 12’). Projecção e conversa com a realizadora.

16h/18h30Sétimo Círculo*: O Olhar Decolonial de Maldoror 

16h/16h40 – Maria do Carmo Piçarra, “Consciência Política e Anti-colonialismo Através do Olhar Poético de Sarah Maldoror”

Projecção de Cap-Vert: Un Carnaval Dans Le Sahel (1979, 30’), Um Carnaval em Bissau (1979, 18’) and Fogo, Île du Feu (1980, 34’). Conversa entre Annouchka de Andrade e Maria do Carmo Piçarra 

*Ideia original, desenvolvimento e coordenação de Maria do Carmo Piçarra. Integrado no programa de Investigação do Hangar / Xerem com o apoio Dgartes 

 

por Ana Cristina Pereira (AKA Kitty Furtado), Inês Beleza Barreiros e Maria do Carmo Piçarra
Afroscreen | 22 Maio 2021 | arquivo, cinema, colonialismo, cultura visual, mulheres