Não obstante a origem colonial-escravocrata da sociedade crioula sedimentada nas ilhas, escassos são os traços de africanidade e de negritude na poesia caboverdiana da época anterior à Nova Largada. A que se deve o (aparente) paradoxo? Será porque a Negritude, tanto nas suas dimensões teóricas césaireana e senghoriana de resgate dos valores das civilizações negro-africanas e/ou de matriz afro-negra, e da dignidade do homem negro (negro-africano e afrodescendente), como na sua feição de obra literária e cultural, foi um fenómeno sobretudo francófono (tal como a teoria da African Personality foi sobretudo afro-anglófona), ainda que dinamizadas na Europa e nas diásporas crioulas e negro-africanas por intelectuais originários da África Negra e das Antilhas?
A ler
27.03.2013 | por José Luís Hopffer Almada
A gestão de saudade que esta onda literária e testemunhal tem marcado no panorama literário português traz contudo uma novidade – denuncia também, mal ou bem, que para se perceber o Portugal actual se tem de fazer a viagem de retorno a África, mas não no sentido com que Isabela Figueiredo o faz, ou seja, no sentido de lidar de frente com os seus fantasmas, mas de habilmente os transformar em fantasias, ora escrevendo a busca do paraíso perdido que não poderá lá estar porque nunca existiu a não ser na imaginação, ora na efabulação de uma África Minha que nunca tivemos.
A ler
26.03.2013 | por Margarida Calafate Ribeiro
O design de moda sustentável é o veículo facilitador de mudanças sociais e do fortalecimento do conhecimento intercultural. Aqui os alfaiates africanos são considerados agentes para a operacionalidade da criatividade da moda local feita a partir das capulanas (ou tecidos sui generis) e por isso agentes para o desenvolvimento de mecanismos entre a tradição e a modernidade.
Cidade
25.03.2013 | por Sofia Vilarinho
J. P. de Lima-Reis é mais preciso quanto à questão do legado culinário de origem árabe em Portugal; destaca os avanços técnicos dos Mouros (presentes em terras portuguesas de 711 a 1249) na cultura da oliveira e em outros domínios tais como a moagem do milho ou a dissecação de frutas (principalmente o figo), mostra a introdução de novas combinações de ingredientes no forma como os nativos cozinhavam à época, tal como a açorda, a perenidade de alguns pratos que se tornaram emblemáticos de uma região (almôndegas ou xarém no Algarve, almorretas no Trás-os-Montes) (p. 37) ou ainda a evolução das maneiras à mesa em direcção a um refinamento cada vez mais evidente entre as pessoas da Corte ou da alta nobreza.
A ler
22.03.2013 | por Gérard Chalendar e Pierrette Chalendar
A expressão “nacionalismo militante” confunde-se, em conceito, com o termo “resistência” - já pensado e formulado entre os anos 1930 e 50, quando vários intelectuais se engajaram na luta contra o fascismo, nazismo, franquismo, salazarismo e, sobretudo contra o colonialismo. Ao longo desses anos firma-se uma frente de carácter libertador que, nas lutas de guerrilha, procura a libertação do jugo colonial.
A ler
19.03.2013 | por Francisco Kulikolelwa Edmundo
Dois anos antes da Exposição de Mundo Português, realizou-se em Luanda uma muito grande Exposição-Feira que não ficou para a história colonial. Teve por objectivo exibir o desenvolvimento económico de Angola num “documentário expressivo e completo”, em lugar de encarecer o programa historicista e a mística imperial do regime, como era norma das exposições coloniais e ocorrera por exemplo em 1937 na Exposição Histórica da Ocupação, em Lisboa no Parque Eduardo VII.
Vou lá visitar
18.03.2013 | por Alexandre Pomar
Uma história que começa no início do século XV11 de um angolano capturado por traficantes de escravos que o terão vendido na cidade São Paulo de Luanda. Depois de liberto, António de seu nome, tornou-se um grande proprietário de terras de cultivo trabalhadas pelos escravos que foi comprando.
A ler
13.03.2013 | por Joaquim Arena
Na preparação do debate de 16 de Março no Museu da Música, com o tema Viver a Música a Partir da ”Periferia (?)”, lembrei que vários estudos e abordagens sobre a vida cultural das favelas, assim como a crítica acerca da escassa representação
dominante de que elas têm sido alvo, são de há quase um século, embora esta fosse uma perspectiva quase nula do cenário mediático, cujo foco permanecia no tráfico de drogas e violência.
Cara a cara
10.03.2013 | por Soraia Simões de Andrade
No álbum de estreia "Grito de Liberdade" (interpretado 80% em inglês), apresentam uma espécie de manifesto contra as correntes neoliberais - com inclinação para a extrema-esquerda -, contra a gestão política sul-africana e a gestão política africana em geral, contra a influencia ocidental nas decisões políticas dos países africanos, contra a xenofobia e contra o racismo.
Palcos
08.03.2013 | por Tribo Sul
A condição das Mulheres guineenses num contexto mais abrangente que é o das lutas levadas a cabo pelas mulheres dentro e fora do continente africano, em busca da própria emancipação e da construção de sociedades mais justas e dignas. Este discurso terá necessariamente que partir da celebração do Dia Internacional da Mulher organizada pelas Nações Unidas em 1977, apenas dois anos após a proclamação do Ano Internacional das Mulheres e três anos após a proclamação da independência da Guiné-Bissau.
Mukanda
08.03.2013 | por Patrícia Godinho Gomes
‘Migrações externas', as experiências transatlânticas, sempre presentes em Portugal (trazidas por países diversos que permaneceram ou permanecem cá há um tempo vital, enriquecendo-o com as suas ligações às músicas, aos instrumentos, à literatura e oralidade) sem, porém, um trabalho de campo intensivo que se disponibilizasse a entendê-las, através dos seus personagens vivos mais expressivos, e as encadeasse nesse plano de pesquisa, relacionamento e interculturalidade. E tambem faltava arquivar.
A ler
06.03.2013 | por Soraia Simões de Andrade
Esta "inconsciência", este impensar do passado, não num sentido automortificador mas sim com uma veia prospectiva, continua a ser sublinhada por discursos dominantes. O actual pico da literatura "leve" que evoca a "boa África colonial" ajudará, a continuidade da ideia da "lusofonia" como espaço comum (e com a sua excrescência mal-cheirosa Acordo Ortográfico) é disso motor. A ideia de que as realidades históricas eram brutais desvanece-se. E quase inexiste a ideia que essa brutalidade era sistémica, como lhe chamou Sartre. Estas coisas estão escritas, e há muito.
A ler
06.03.2013 | por José Pimentel Teixeira
Analisa-se a relação do Estado Novo português com o luso-tropicalismo no período do colonialismo tardio, com base na leitura crítica de documentos políticos. A visita de Gilberto Freyre a Portugal e às suas colónias, em 1951-1952, marca um ponto de viragem entre a rejeição e à apropriação das máximas lusotropicais para legitimar a soberania portuguesa no ultramar. Depois do início da luta de libertação em Angola, esse processo é ‘radicalizado’: paradoxalmente, o regime português esforça-se por inculcar a norma anti-racista nos portugueses e conformar o comportamento dos funcionários administrativos e dos colonos ao ideário luso-tropicalista.
A ler
05.03.2013 | por Cláudia Castelo
É essa filiação num movimento cultural, político e social com raízes profundas em sectores fundamentais da sociedade angolana que darão ao MPLA a capacidade de sobreviver, nos anos futuros, às duras provas que encontrará para se afirmar enquanto movimento de libertação nacional com legítimas aspirações a representante do povo angolano.
A ler
22.02.2013 | por Ricardo Noronha
A história das cidades conta-nos sobre seu povo e sua cultura. Entender fenômenos complexos do espaço urbano contemporâneo passa, necessariamente, por uma compreensão alargada do seu contexto histórico-político.
Cidade
15.02.2013 | por Andréia Moassab
As ambições «coloniais» francesas - fazer do Mali um Estado cliente à imagem de alguns outros na região - talvez não estejam ausentes de certos responsáveis pela política maliana de Paris. A Françáfrica encontra sempre os seus porta-vozes, mas não constituem um perigo real, ainda menos maior. Um Mali reconstruído saberá também afirmar - ou reafirmar - rapidamente a sua independência. Em contrapartida, um Mali saqueado pelo Islão político reacionário seria incapaz, antes que passasse muito tempo, de conseguir um lugar honroso no tabuleiro regional e mundial. Como a Somália, arriscar-se-ia a ser riscado da lista dos estados soberanos dignos desse nome.
A ler
15.02.2013 | por Samir Amin
O lugar, no cruzamento de dois uádis, é conhecido pelos pastores nómadas de Laas Geel como “os poços dos camelos”. Foi ali que arqueólogos estupefactos descobriram uma constelação de pinturas, em cerca de vinte grutas. Dezenas de vacas, homens, cães e até mesmo uma girafa.
Vou lá visitar
15.02.2013 | por Marie Wolfrom
Tarantino quer aproveitar o lado fantasioso sério do cinema para exorcizar a culpa ocidental, para matar racistas e pôr negros a chicotear brancos. Porque pensa que merecem. Porque sabe que nós sempre teremos Paris, mas também sempre teremos Candyland. É isto, ou pouco mais do que isto. E como no filme sobre os nazis, esse flashback regenerador em relação ao passado não poder ser feito a não ser no cinema. Mais uma vez estamos no centro da relação história/cinema pois não há género tão racista quanto o western. Há assim também que reabilitar a história do cinema.
Afroscreen
13.02.2013 | por Carlos Natálio
Mais do que o comprazimento no pathos da definição, importa, sim, que os estudos sobre a violência se mostrem capazes explorar o alcance do conceito através de uma abordagem específica dos contextos diferenciados em que determinadas práticas ou comportamento, determinados actos ou discursos, certas acções e omissões, são percebidos como violentos. Só este trabalho de contextualização permite captar o carácter multidimensional do problema e, nomeadamente, evitar lugares comuns e chavões persistentes, como, por exemplo, os que localizam em certas camadas jovens ou em certos grupos étnicos ou sociais uma particular tendência ou potencial de violência, muitas vezes vistos como inatos ou como imanentemente constitutivos de uma identidade.
A ler
08.02.2013 | por António Sousa Ribeiro
A delinquência juvenil trata-se de um dos temas de maior atenção em Cabo Verde e, em particular, na cidade da Praia, pelos vários motivos que os autores referem nos seus trabalhos. Numa perspectiva mais ampla, a delinquência juvenil é, seguramente, um dos domínios mais escrutinados actualmente, associado à violência urbana e à guerra de gangs ou bandos, conforme o lugar a que se refere a análise. No que se refere aos textos sobre a cidade da Praia, considero que cumprem aquilo a que academia deve se dedicar, ou seja, propõem quadros outros de leitura da realidade e apontam os limites das leituras hegemónicas feitas até ao momento sobre a realidade cabo-verdiana.
A ler
08.02.2013 | por Iolanda Évora