Peixe-coragem e o Narciso engoliu o oceano

Boémia obtusa, eis um paralelepípedo citadino e subaquático. Nas paredes do aquário, o peixe inundado de bactérias, retorquia-se, as guelras o atravessavam. De baixo da barbatana, um impasse (preso) de cima rodopiava, afundado pelos vários (variadíssimos) Diplococos, Stretococcus lactis, Vibrio Cholerae, Estreptococos e Bacilos com Flagelos compridos. OXIGÉNIO! – gritava o peixe Coragem, olhando para todos os parasitas circundantes. Era quase que afogado pelos germes e microorganismos «muitos». O dono observava-o, aguardando… espectador! -AFOGA-TE PEIXE! O peixe, sentido, diz: — Não me afogarei nas tuas águas sujas! Corajoso pôs em voga o seu nome: PUAAAHXX…, deu um salto «intenso» no chão. PUAAAHXX… e salpicou o peixe – CORAGEM, peixe PUAAHXX…!! Uma poça de coragem Osteichthyes. A medula espinhal partida 

— Oh peixe-coragem que foste fazer? – dizia o seu subconsciente.  

O homem sem coração e coragem olhou para os últimos segundos de respiração do peixe (estendido, desprotegido). Quanto demorará um peixe fora de água a morrer? (…) Gargalhava. Gargalhava que nem um animal. Gargalhava tanto que da janela da Loandropolê os vizinhos ficaram alertados sem saber o porquê de tanta gargalhada. Encostaram-se curiosos à janela, «a curiosidade não matou o gato mas podia matar o peixe». Gargalhava muito


Então vizinho, de que tanto ris que nós também queremos gargalhar? - Espreitaram bem na janela. Era o peixe-coragem quase sem Oxigénio, estendido no chão. 

– Então, não estão a ver que tenho um peixe corajoso? Vejam! - gargalha sem parar. 

Os vizinhos congelaram, zarparam a correr da dita situação. Não queriam fazer parte daquela gargalhada sem graça. Coragem peixe! Armaste-te em corajoso? Só porque não quis lavar o teu aquário. 

– Pelo menos não sou Eu o Preguiçoso - falava o peixe todo dorido. Morrerei sem Oxigénio mas sempre corajoso! Nunca sabereis o que é ter coragem – retorquia quase sem saúde. Por fim o peixe ficou sem vida… e morreu estendido no chão. Coragem peixe! Foi tanta tanta coragem que te afogaste no teu próprio oxigénio. gargalhava! gargalhava! Até de madrugada (ainda ouço o som). Os vizinhos já incomodados encostaram-se à janela. — Então, ainda gargalhas do Peixe Coragem, vizinho? E agora quem vai limpar o cadáver e o aquário, visto que o vizinho não tem coragem. E é preguiçoso. Eu, hã? Preguiçoso e sem Coragem? Não vos admito. Já vos mostro, hm… O dono do peixe ficou envergonhado. Os vizinhos zarparam de novo mas desta vez gargalhavam, como eles gargalhavam: — Como é que o peixe tem mais coragem que o dono? – Gargalhavam. Aí é? Acham mesmo que não tenho coragem? Já vos mostro. O dono do peixe armou-se ele próprio em corajoso, arregaçou as mangas e… PUAAAHXX!!!! Atirou-se para o aquário cheio de germes e microorganismos «muitos» e vários (variadíssimos) Diplococos, Stretococcus lactis, Vibrio Cholerae, Estreptococos e Bacilos com Flagelos compridos. Os vizinhos espantadíssimos abanaram a cabeça: coragem vizinho! vizinho! vizinho-coragem! 

Aqui jaz a coragem dos ofendidos e dos que se ofendem, onde o peixe e o dono descansam em paz e cheios de coragem! No céu vigiai, porque não sabeis a que horas há de vir o Senhor. Quem semeia ambições e riqueza, ficará oculto, mas para ser descoberto. «Para que, vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo, ouçam, e não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados (Marcos 4 «12»). Os vizinhos espreitaram uma última vez da janela da Loandropolê, ainda se ouvia o gargalhar do dono do peixe, hoje apelidado por toda a redondeza de Corajoso, o dono do peixe Coragem.

 ***

O Narciso engoliu o Oceano. Sob linha recta catapultou o peixe no escuro da queimada. Sob linha recta o barco deixou o marinheiro. Uma pedra atirada. O homem que caminha além mar (em coma) foi levado pela poligamia da areia. Está em coma profundo. É morte profunda também, tão funda como o céu enegrecido da noite. Acorda porra! Lá no fundo das águas frias a mulher atira a segunda pedra. Pálido, o homem fica sem o olho direito. Arquivista da memória mantém-se em coma. A mulher enraivecida atira a terceira pedra. Acorda porra! Porque me atiras pedras mulher? Necessidade? Acorda porra! O homem mantém-se em coma profundo. Foi levado pela poligamia da areia. Necessidade?Anualidade. A mulher quase em desespero agarra em todo o oceano e atira em sua direcção. O homem acorda mas mantém-se em coma. Necessidade? Foi levada pelo Oceano. 

Não me perguntem onde desova a maresia - afirmou o Insular. Meu amor é Oceanário! (uma ventania de remoinho). Ilhéu de Ilha, ou Ilhéu Insular? – Candengué o mar nunca é perguntado. Admirado. Sim! A água nos olhou na reflexão. O mar nunca é perguntado, ouviste bem Candengué? Ouve bem, mesmo, hum…Sou mais velho, não sou caduco! Me respeita, ouviste? O mar. É exaustivamente admirado!

— Aprende, ouviste? O mar e a pergunta são coisas de adulto marinheiro. Tu ainda nem és Xata (embarcação Mirim). O navio serve, vocemessé que nada sabe (peixe cachopa, navalheira, bússola de mau pagador). Fica calmo! – Mez, mezzz…, mais velho, empregaste a ilha? Tou. Tá a ligar precisado de trabalho. E me assaltaste porquê? Porquê? Um dia marinho. Há noite salgo. Amanhã peixo. Domingo xato. Sozinho e descalço. E o salário? SAL. – Já te disse candengue, o mar nunca é perguntado. Admirado, perguntado não. 

O Narciso engoliu o Oceano! Sob linha recta catapultou o peixe no escuro da queimada. Não havia nada. Não sabia nada. Necessidade? Sob linha recta o barco deixou o marinheiro. Não sabia nada. Não havia nada. E o Narciso? Engoliu o Oceano. Necessidade? Não havia nada. Não sabia nada. O Narciso engoliu o Oceano.

 

por Indira Grandê
A ler | 12 Setembro 2019 | crónicas