A fantástica história do palacete (com fama de) assombrado em plena Lisboa

Palacete Montero BelardPalacete Montero Belard

Por trás de uma paisagem verdejante esconde-se uma casa em ruínas. Situa-se, precisamente na Quinta das Conchas e dos Lilases, no Lumiar em Lisboa, resultado de recuperação de duas quintas do século XVI, agora espaço público de lazer.

Após ter passado por várias famílias, esta quinta tornou-se propriedade de Francisco Mantero que a adquiriu em 1899 e foi seu proprietário até 1927. Da casa pouco resta, mas consegue-se ver a sua estrutura apalaçada, fazendo lembrar as antigas casas coloniais.

Palacete Montero BelardPalacete Montero Belard

Mantero era um importante roceiro em São Tomé e Príncipe. Viveu em Angola, Moçambique e Timor e foi sócio fundador da sociedade de Geografia em Lisboa.

Acabou por fundar as roças de Santa Margarida, Monte Macaco e Maianço nas ilhas de São Tomé e Príncipe, cuja exploração principal era o cacau ou o café. Apesar de uma vida extraordinária, Francisco Mantero escondia um lado sombrio…

Reza a lenda que Mantero apaixonou-se por uma nativa de São Tomé, de quem teve uma filha. A mulher de rara beleza passou a viver na casa da Quinta das Conchas.

Talvez por um ciúme cego ou por não a querer à vista de outros olhares, aprisionou a pobre nativa numa jaula de espaço claustrofóbico.

Palacete Montero BelardPalacete Montero BelardApós muitos anos de cativeiro a pobre mulher enlouqueceu, acabando por morrer. Mas ainda se ouve pela casa, primeiro um choro e um lamento suave, depois o som aumenta em gritos de desespero…

O casarão antigo está fechado há anos, apresentando risco de eminente ruína, não se conseguindo permanecer no seu interior por mais do que poucos minutos. Certamente em breve será demolido.

A casa oferece todo um imaginário fantasmagórico, e quando recebe visitas, as pessoas relatam ouvir gritos e gemidos da negra endoidecida e mesmo os cães que as acompanham (dizem que os animais são muito sensíveis à actividade paranormal) recusam-se a subir para o segundo andar.

Conta-se, igualmente, que existe um tesouro escondido cheio de relíquias trazidas de África, mas que até hoje ainda ninguém descobriu, talvez por receio do espírito amargurado e amaldiçoado. 

Se se sentem motivados para procurar pelo tesouro, não é possível. Existe um perigo bem mais real anunciado por um sinal da CML avisando o risco de derrocada. Será uma forma de afastar os caçadores de tesouro ou de fantasmas? Mistérios…

Biografia de Francisco Mantero

Já depois de casado com sua prima D. Maria Amélia Muller Belard (1870-1952), em 1895, foi convidado para gerir a grande roça Água-Izé, que tinha sido fundada por João Maria de Sousa e Almeida, precisamente barão de Água-Izé, e era então propriedade do Banco Nacional Ultramarino.

D. Francisco Mantero imprimiu uma estrutura empresarial à exploração das roças de São Tomé, fundando a Companhia da Ilha do Príncipe e a Sociedade Agrícola Colonial, as duas mais importantes sociedades de São Tomé e Príncipe da época, das quais foi administrador e um dos principais accionistas. A Companhia da Ilha do Príncipe veio a comprar a roça Água-Izé em 1898, e a Sociedade Agrícola Colonial integrou entre outras a roça Santa Margarida de seu sogro.

Francisco ManteroFrancisco ManteroEsta visão empresarial da agricultura estendeu-se a outras colónias: D. Francisco Mantero fundou em Angola a Companhia de Cabinda e a Companhia do Cazengo, em Moçambique criou os Prazos de Lugela e fundou a Companhia de Timor.

Em 1889 solicitou ao Governador de São Tomé a concessão de um caminho de ferro na ilha, que não teve na altura qualquer efeito mas foi o ponto de partida para o movimento que levaria à construção das várias linhas de caminho de ferro em São Tomé e Príncipe. Note-se que em 1895 já existiam linhas de caminho de ferro privadas nas roças mais importantes, como por exemplo na roça Santa Margarida.

Depois de regressar definitivamente a Lisboa fundou, em 5/8/1916, a Sociedade Francisco Mantero, Lda., desde 1967 denominada Sociedade Comercial Francisco Mantero, S.A.R.L.

Foi presidente da Câmara de Comércio Espanhola em Lisboa, presidente da direcção do Asilo da Infância Desvalida do Lumiar e da Escola José Estêvão, sócio fundador da Sociedade de Geografia de Lisboa, sócio benemérito da Academia Musical (1883), presidente honorário do Centro Colonial de Lisboa e sócio honorário da Associação de Escritores e Artistas de Madrid.

Condecorações: grã-cruz da Ordem Civil do Mérito Agrícola (24/5/1902), cavaleiro (10/5/1923) e comendador da Ordem de Cristo, cavaleiro de 1ª classe da Ordem do Mérito Naval de Espanha, com distintivo branco, comendador da Ordem de Leopoldo, da Bélgica, e cavaleiro grã-cruz da Ordem de Isabel, a Católica, de Espanha.

Segundo o Dr. Jorge Forjaz, in “Genealogias de São Tomé e Príncipe – Subsídios”, 2011, “Consta que o Rei D. Carlos o quis agraciar «com o título de conde e posteriormente de marquês, inequivocamente recusados por Francisco Mantero»”. 

D. Francisco Mantero comprou a Quinta dos Lilazes, no Lumiar, e dedicou-se intensamente à restauração e ampliação da casa da mesma. Em 1897 comprou a parte rústica da Quinta das Conchas, que lhe ficava anexa. No centro do grande lago artificial da Quinta das Conchas mandou fazer duas pequenas ilhas arborizadas com palmeiras, que evocam as ilhas de São Tomé e do Príncipe.

Artigo originalmente publicado por VortexMag a 17.03.2020

por VxMag
Cidade | 30 Março 2021 | arquitetura, colónias, Lisboa, Lumiar, palacete montero belard, quinta das conchas, São Tomé, século XVI