ANATOMILIAS de Paulo Kussy

Sublime combinação entre o clássico e o contemporâneo na arte em Angola

Contactei com Paulo kussy nos corredores do edifício da Direcção Nacional de Formação Artistica (DINFA), ali na marginal de Luanda, sendo que a nossa relação profissional de nenhum modo fazia antever uma futura colaboração artística. Rapidamente criou-se uma empatia entre nós, pois temos em comum o interesse pelo hip hop e por outras expressões da arte e da cultura urbana. Muito antes de ser o comissário desta exposição, tive o grande privilégio de ser o primeiro artista plástico em Angola a ter contacto directo com a obra de Kussy: fiquei fascinado por quatro telas de grandes dimensões, produzidas no seu apartamento, no sul de Luanda. O atrevimento e a forma de pintar do Kussy impressionaram-me.

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Em “Anatomilias”, Paulo Kussy vai buscar inspiração à perfeição anatómica das obras dos grandes mestres, da Vinci, Rafael e, sobretudo, Michelangelo, transportando-nos para a Itália dos tempos áureos do Renascimento. Kussy coloca o homem no centro do seu trabalho, tudo começa e termina num antropocentrismo declarado. Porém, este homem já não é o simples homem perfeito daquele período da história da humanidade: o homem das telas de Kussy é o homem do nosso tempo, tempo do automóvel, do avião, da internet, dos ecrãs digitais, o tempo das grandes máquinas e das novas tecnologias e da comunicação.

A necessidade ou dependência do homem do nosso tempo em relação à máquina e a frieza constatada na ausência de sensibilidade face a situações de doença, miséria, desemprego, guerra e outros problemas sociais actuais são o centro da produção artística do jovem criador angolano Paulo Kussy. Nas suas telas habitam seres híbridos, intrigantes, fundidos numa só figura, homem, mulher e máquina fazem num casamento inusitado, esteticamente conseguido. A transfiguração: homens que são mulheres e que também são máquinas, um retrato interessante da vida contemporânea, que podemos encontrar em qualquer cidade do mundo, em Luanda ou Joanesburgo, Lisboa ou Paris, Nova Iorque ou Rio de Janeiro, Tóquio ou Pequim. Estes homens híbridos que Kussy apresenta de forma artística.

É importante referir que, neste conjunto de obras, Paulo Kussy apresenta ousadamente o homem como fruto do trabalho de operários em uma linha de montagem. Mas justifica inteligentemente esta proposta, quando nos mostra com as suas obras que o homem e a máquina estão cada vez mais próximos, o homem quer cada vez mais aproximar o seu desempenho físico ao de uma máquina e por outro lado pretende-se que a máquina adquira algumas faculdades cognitivas.

Por outro lado, nota-se também em Anatomilias de Kussy a influência da sua relação com a arquitectura através de formas geométricas, que o artista desenha e desfigura na tela de uma forma singular. Interessa referir que Kussy é professor, colaborador a nível universitário na área de desenho no curso de arquitetura e o seu trabalho é, sem lugar a dúvidas, uma lufada de ar fresco no panorama artistico angolano.

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ANATOMILIAS:
Exposição esteve no SIEXPO - Salão Internacional de Exposições de Arte, no edificio do Museu Nacional de História Natural, Luanda, entre 12 a 30 de Março

Trabalho de Paulo Kussy

por Benjamim Sabby
Cara a cara | 31 Maio 2010 | homem, Paulo Kussy. máquina