“Uma geração – Várias Linguagens"

A exposição “Uma geração – Várias Linguagens” de quatro jovens promissores com formações, percursos de vida, estéticas e produções artísticas diferentes, nomeadamente os artistas plásticos Benjamim Sabby, Don Sebas Cassule, Marco Kabenda e Paulo Kussy, proporciona uma dupla visão, abrindo novas possibilidades para o entendimento de questões do espaço global de trocas simbólicas. A mesma, induz-nos à necessidade de novos referenciais para se pensar o país e o mundo contemporâneo, cada vez mais interdependente devido às transformações produtivas, financeiras, demográficas e tecnológicas que caracterizam a globalização. Assim, as manifestações artísticas e culturais, aí incluídas, não podem ser compreendidas em função de demarcações territoriais, cabendo buscar paradigmas explicativos que dão conta das múltiplas formas através das quais distintas práticas culturais entram em contacto, dialogam e se interconectam.

No mundo contemporâneo, as distâncias entre as culturas, têm sido reduzidas substancialmente, rompendo-se, cada vez mais, as barreiras da dificuldade de comunicação - contacto entre elas. Por outro lado, o entrelaçamento de culturas, numa época em que o tempo e espaço se diluem frente às novas possibilidades tecnológicas e as intensas migrações, possibilita o contacto com o diverso de uma forma até então desconhecida, acarretando transformações individuais.

O mundo contemporâneo abriu portas à importância de entender a arte como representação de significados cuja interpretação depende mais da compreensão de códigos simbólicos e convenções culturais que circulam nos contextos de origem da obra do que de aproximações formalistas, segundo Fernando Hernandez (2000), permite-nos a que hoje estejamos mais atentos à relação entre arte e cultura.

Estes problemas tão importantes para a compreensão do mundo e da arte contemporânea, na perspectiva que esta reflexão segue, podem ser a motivação para estes quatro jovens artistas angolanos, resultantes dum espaço periférico, de reacção e adaptação cultural às forças homogeneizantes da globalização, na medida em que revelam processos de disputa pela legitimação de determinada produção artística dos cânones e padrões estéticos hegemónicos. Os quatro artistas, servem-se de elementos tidos como paradigmáticos da cultura visual do seu país ou contexto, dando prioridade às suas preocupações políticas e estéticas, e às suas capacidades de transcenderem os constrangimentos do lugar e da história, pois a arte é uma actividade de fusão e de inter-relação com reportórios estéticos diversos.

Os fenómenos culturais como hoje se apresentam, para serem compreendidos necessitam de análises que superem os estudos centrados nas culturas meramente locais e tradicionais, necessitam ter em conta os processos translocais e o papel profundamente activo que a imaginação social tem nesse contexto. Pois, Sabby, Don Sebas Cassule, Marco Kabenda e Kussy, fascinados pela diferença e pela possibilidade de dialogar com outras realidades, complexas e diversificadas, e conscientes da riqueza cultural do seu país, Angola, presentes nas festividades tradicionais e populares, na dança, na música, na literatura e no artesanato, esses jovens, trazem novas propostas para o movimento artístico contemporâneo angolano, visando colocar a produção local a circular, enviando ao país e ao mundo os seus sinais de vida e de criação.

Sabby, dado o interesse pela Sociologia e em especial pela Sociologia Urbana, apresenta nesta exposição, obras enquadradas dentro das temáticas abordadas na sua última exposição individual (Luanda’s Dreams, o sonho da cidade e das suas gentes). A interacção social entre os habitantes de todas as áreas de Luanda, em particular os da periferia, interagindo intensamente com habitantes de outras áreas de Luanda e de diversos extractos sociais.

Marco Kabenda, apresenta obras que são o resultado de pesquisa sobre a arte patrimonial africana e do modernismo americano e europeu. As suas obras possuem uma grande carga poética que resulta da justaposição de diversos elementos contrastantes.

Don Sebas, retrata simbolicamente figuras humanas, animais, plantas e diversas simbologias. Pretende reflectir os momentos, os factos e as situações socioculturais contemporâneas de Angola, de África e do Mundo, a partir da sua vivência e experiências do ponto de vista pessoal.

Kussy, apresenta um conjunto de obras onde o homem tem destaque e a relação com a arquitectura através de formas geométricas onde as formas obtidas enfatizam as ligações entre arte e vida, entre arte e natureza, e transmitem a ideia de que o gesto do pintor desintegra a realidade e se traduz numa postura crítica em relação à sociedade.

Uma das marcas destes jovens artistas contemporâneos é resgatar a cultura do seu país, dialogar com outras culturas, rompendo os limites geográficos, possibilitando a negociação e o diálogo criativos.

Jorge Gumbe

Artista Plástico e Investigador

“Uma Geração – Várias Linguagens” é um projecto que nasceu da necessidade de se criar um espaço expositivo de diálogo entre obras de arte de criadores angolanos da mesma geração, mas com percursos de vida e experiências artísticas díspares, o que garantia a partida linguagens plásticas diferentes. A ideia que hoje se torna um projecto real consiste em apresentar quatro amostras diferentes numa única exposição, criando um diálogo profícuo entres os artistas, suas criações e os espectadores.

O Instituto Camões – Centro Cultural Português de Luanda organiza e coordena este projecto oferecendo desta forma aos artistas e ao público em geral um lugar privilegiado de interacção cultural.  

 Benjamim Sabby

 Curador da Exposição

por Benjamim Sabby
Vou lá visitar | 18 Outubro 2011 | arte, artistas angolanos, cultura, exposição, mundo contemporâneo