Festival Cultural Cacheu, Caminho de Escravos

De 18 a 25 de Novembro deste ano, vai-se realizar este Festival no quadro do projecto “O Percurso dos Quilombos: da África para o Brasil e o Regresso às Origens”, patrocinado pela Comissão Europeia e pelo Instituto Marquês de Valle Flor de Portugal.

imagem de Thó Simõesimagem de Thó Simões

O tráfico negreiro

Com a descoberta do caminho marítimo da Europa para África, materializada pelo traficante de escravos Nuno Tristão por volta de 1445, a costa da Guiné abriu-se à exploração desenfreada de portugueses, franceses, ingleses, espanhóis e holandeses, baseada no comércio das riquezas e produtos naturais como o ouro, marfim, tecidos e cera, para logo de seguida se iniciar uma das maiores sangrias a que o continente africano foi sujeito: o Tráfico Negreiro transatlântico.

A partir de toda a costa ocidental africana, do Senegal até Angola, milhares de escravos foram levados para a Europa, América do Sul, Central e do Norte, em particular a partir de Cacheu para o Brasil, onde foram servir de mão-de-obra escrava nas grandes explorações agrícolas de cana-de-açúcar, café e algodão, suprindo assim a sua falta de mão-de-obra local.

Muitos deles eram levados para Cabo Verde, enquanto grande entreposto de comércio negreiro, onde voltavam a ser vendidos e enviados nos porões apertados dos navios negreiros de 300 a 600 pessoas, em condições infra-humanas, apenas chegando ao destino, cerca de metade.

A cidade de Cacheu desempenhou um papel determinante nesse tráfico, acolhendo numa primeira fase os “lançados”, portugueses fora da lei e que se instalaram nestas paragens como comerciantes de escravos e aqui enriqueceram, chegando a ter poderes superiores aos dos dignitários mandados pelos reis de Portugal para chefiar a feitoria de Cacheu. Caracterizavam-se por ter espaços próprios onde prendiam e guardavam os negros capturados nas diferentes tabancas, antes de os venderem ao comerciante que melhor preço oferecesse, fosse ele francês, espanhol, inglês, francês ou português, para os barcos os levarem para fora do continente. Contaram para isso com a colaboração de agentes e chefes locais que os ajudavam na captura dos seus próprios irmãos. Tal colaboração, viria a acontecer noutras fases da nossa História até aos dias de hoje. Assim como com a resistência dos que recusam sempre a servidão.

No Brasil, voltavam a ser comprados pelos grandes patrões das Senzalas, que deles faziam escravos nas suas plantações agrícolas, sendo que muitos deles recusavam a escravatura e fugiam para os Quilombos, onde estabeleciam as suas zonas libertadas e se defendiam dos escravocratas que sempre os perseguiram.

Há pouco mais de 100 anos, em 1850, foi abolido oficialmente o tráfico negreiro a nível mundial e, hoje, 500 anos depois, os descendentes dos resistentes dos Quilombos, os quilombolas, regressam à sua terra de origem, ao seu ponto de partida, para testemunharem as suas raízes culturais e conviverem com aqueles que, tendo também feito o seu próprio percurso, são agora, desde há 37 anos, donos do seu destino, pensam pelas suas próprias cabeças e vivem a sua própria vida.

 

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por AD - Acção para o Desenvolvimento
Vou lá visitar | 13 Novembro 2010 | Brasil, escravatura, Guiné Bissau, quilombolas, quilombos