A Descida do Triunfo

Dia 21 de Janeiro de 1983. Era oficializado o Martin Luther King Day (Dia de Martin Luther King Jr.) Feríado Nacional nos Estados Unidos da América, em homenagem ao Reverendo Martin Luther King Jr, pela luta contra o Sistema Racista e pelo reconhecimento dos seus contributos para implementação de políticas afirmativas para Negros e minorias étnicas nos EUA. 

Martin Luther King Jr ficou celebremente recordado no mundo inteiro, pelo seu discurso “I have a Dream”, proclamado no cimo dos degraus do Memorial Lincoln, em Washington D.C., como parte da marcha de Washington por Empregos e Liberdade.

Trinta e seis anos mais tarde, no dia 21 de Janeiro de 2019, foi marcada uma manifestação em Lisboa, para denunciar a violência policial que uma Família Negra do Bairro da Jamaica sofrera no dia anterior. A convocatória foi feita de forma orgânica, pelos jovens de diversas áreas da cidade de Lisboa e do país, através das redes sociais Facebook e Instagram. 
Sem o envolvimento de nenhum partido político, movimento partidário ou social. As pessoas, maioritariamente jovens, mobilizaram-se pela luta contra os atos de violência da polícia e em solidariedade pela Família Negra do Bairro da Jamaica.

O Terreiro do Paço foi o ponto de encontro estabelecido, as pessoas começaram a chegar por volta das 14hrs. Numa primeira fase da manifestação, ficámos junto da estátua equestre D. José I, onde exprimimos a nossa solidariedade para com a Família do Bairro da Jamaica e também começámos a mostrar a nossa revolta e indignação pelos atos bárbaros cometidos no dia anterior. Utilizamos o degrau da estátua como palco, e as pessoas que pretendiam falar, subiam e falavam perante a multidão de pessoas que começava a ganhar forma.

Cada pessoa partilhava as suas experiências pessoais com a polícia e outros atos violentos racistas, cometidos pelas diversas instituições em Portugal. Uns falavam da questão das condições de trabalho precárias, outros do acesso à cidade, outros como a instituição do ensino em Portugal é muito racista. Também houve muita discussão, não estávamos todos de acordo com o que devíamos fazer naquele dia e muito menos o que era o “Racismo”. Houve pessoas que se exprimiram a dizer que o ato contra a Família Negra não era racismo, mas sim uma questão de Direitos Humanos, outras diziam que devíamos fazer uma manifestação pacífica, sem perturbar o funcionamento da cidade, ficando apenas junto à estátua. Mas também havia muita gente a exigir esclarecimentos e a atenção das autoridades competentes. Visto que o Ministério da Administração Interna ficava logo ao lado, decidimos em conjunto manifestarmo-nos à frente da sua porta. À nossa chegada, fomos logo barrados por um cordão policial. Carina, uma das jovens negras que estava na manifestação, dirigiu-se aos policias para informar que pretendíamos falar com algum representante do estado ou do ministério, o polícia disse: “Não podem falar com ninguém porque a vossa manifestação é ilegal, se quiserem manifestar-se têm de avisar previamente”.

Ficámos cerca de 40 minutos junto do Ministério, onde entoávamos cânticos contra o racismo e contra a brutalidade policial, outras pessoas dançavam, várias pessoas chegaram-se à frente e proclamavam discursos, dizendo aquilo que lhes ia na alma. A comunicação social estava presente, e entrevistou várias pessoas (mas essas imagens não apareceram na televisão).

Decidimos em conjunto, uma vez mais, subir a cidade até ao Marquês de Pombal. Muita gente achou a ideia ousada e perigosa. O nosso receio era que a polícia começasse a agredir-nos de forma desequilibrada e violenta, como é recorrente em situações que envolvam pessoas negras e de bairros periféricos. Mas, rapidamente, ganhámos ânimo quando um dos jovens pegou no megafone e disse: “Hoje viemos para procurar Justiça, nem que tenhamos de levar porrada, é importante não desistir e mostrar a toda gente que estamos aqui na cidade”, assim começou o nosso percurso, rumo ao Marquês de Pombal.

Prontamente, estabelecemos alguns códigos e regras de conduta. Não iríamos utilizar a violência e nenhum tipo de provocação que colocasse em perigo a integridade física das outras pessoas, não iríamos recuar caso a polícia viesse para cima de nós, estaríamos todos juntos e próximos numa eventual tentativa de agressão por parte da polícia, e que iríamos subir em marcha lenta pela estrada.

Começámos pela Rua do Ouro. Assim que entrámos na rua, vimos o olhar surpreendido das pessoas. Apanhámos todo o mundo desprevenido. Algumas pessoas aplaudiam, outras provocavam com insultos racistas, outras juntavam-se a nós e cantavam ao nosso lado. Ia um grupo à frente, que controlava o ritmo da marcha. Por diversas vezes ouvíamos uma voz “pessoal mais calma, devagar, estamos a andar muito rápido” ou “família, nada de violência, hoje viemos em paz. Ninguém responde as provocações…” e foi algo recorrente durante toda a Marcha.

E assim fomos subindo, passámos pela praça do Rossio, pela estação de comboios e pelos Restauradores. Quando subimos a Avenida da Liberdade, percebemos a dimensão da Marcha, se noutro momento eramos apenas uns 50 jovens, junto à Estátua equestre D. José I, naquele momento já eramos à vontade umas 200 pessoas. Toda a gente motivada, sorrisos na cara, de mãos dadas, a fazer o nosso propósito acontecer.

Chegámos ao primeiro cruzamento da Avenida da Liberdade. As pessoas que iam colocando o ritmo da marcha pararam de repente. “Vamos ficar por aqui, se subirmos até ao Marquês, de certeza que policia irá nos bater”, outras pessoas discordavam, dizendo: “vamos até ao fim, viemos com um propósito, temos de cumpri-lo”, “sem medos, estamos todos juntos”. 
Nesse momento de paragem, a polícia aproximou-se com os seus veículos e carripanas. Fizeram um cordão de frente para as pessoas que estavam na parte de trás da marcha. O clima ficou muito tenso, nós não avançámos e muito menos eles. Percebemos que a polícia não sabia como reagir, mesmo com a Avenida parada, nós não tínhamos comportamentos agressivos ou violentos. Apenas estávamos no meio da estrada, a fazer aquilo que estivemos a fazer desde o início, a entoar cânticos contra o racismo institucional do nosso pais, contra a violência policial e o racismo em Portugal. “Pessoal vamos levantar os braços, para eles verem que não temos nada. Vamos levantar os braços para verem que viemos só com a nossa mão, com o nosso corpo, com a nossa vontade de pedir justiça”, “Pessoal, vamos fazer um minuto de silêncio, em homenagem à Mãe do Missanguinhas”. Nessa ocasião, uma das jovens negras da manifestação, aproximou-se do cordão policial para explicar que a nossa intenção era chegar ao Marquês de Pombal, mas foi desprezada. A polícia não tinha tenção de falar connosco, eles já tinham a sua missão bem delineada. Inclusivé, pessoas que se juntaram à marcha mais tarde, que vinham a subir a Avenida disseram que os policias tentaram bloquear a passagem, ameaçando-os com bastonadas e armas.

Continuámos o caminho rumo ao Marquês de Pombal, no último cruzamento da Avenida da Liberdade, parámos para reagrupar novamente. A polícia já estava mais musculada e continuava a não comunicar connosco. Pelo lado esquerdo da Avenida, quem vem do sentido dos Restauradores, subiram vários veículos da polícia. Era a polícia de intervenção, fizeram um cordão à nossa frente e barraram o nosso caminho. Foi a primeira vez, que eu vi e ouvi um policia a dirigir-se a nós de forma calma e serena, “jovens, saíam da estrada. Se quiserem manifestar-se, vão para o passeio”. Nesse momento, voltámos a sentarmo-nos no cruzamento e ficámos algum tempo sem saber o que fazer. Depois de muita articulação resolvemos tentar contornar o cordão policial e seguir o nosso caminho rumo ao Marquês. Foi o que fizemos, tranquilos e sem nenhum stress. A polícia não fez nada para nos impedir. Acredito que não estavam à espera que tivéssemos coragem, os seus habituais métodos de intimidação, naquele dia, não tinham qualquer efeito perante a nossa determinação implacável.

Finalmente, chegámos ao Marquês de Pombal. As pessoas abraçavam-se, íamo-nos cumprimentando uns aos outros. Sorrisos, lágrimas, era a concretização de um objetivo, que estabelecemos quando ainda era de dia. Era uma multidão com mais de 200 pessoas.
A cidade já sabia que nós estávamos ali, agora restava saber se a mensagem tinha sido transmitida para casa. Pairava um certo ceticismo no ar, porque todos nós desconfiávamos da atuação da comunicação social que acompanhou a marcha o tempo todo. Muitas pessoas diziam que eles não iam transmitir nada daquilo que fizemos, que estavam ali à espera da confusão prontos para fazer a transmissão de um espetáculo televisivo, para alimentar as suas audiências e sabiam muito bem onde deveriam estar e o que gravar (aliás, é importante reforçar que a comunicação social portuguesa não mostrou nada do que se passou durante a marcha, não mostrou o momento em que fizemos um minuto de silêncio, não mostrou as tentativas de comunicação com a polícia por parte das mulheres que estavam na marcha, não mostraram as imagens das jovens com megafone na mão a dizer “hoje não vai haver confusão”, “não respondam a provocações”, não mostraram quando nós cantávamos, não mostraram as pessoas a sorrir).

A policia estava muito musculada, tensa e pronta para nos varrer. No cordão que fizeram à frente do Marquês de Pombal, alguns dos polícias iam rindo, com sorrisos enormes na cara. Riam como alguém ri quando vê um programa de comédia. Sorrisos maliciosos aguardavam pela grande hora, pelo Show Time. Felizmente, ainda estava um pouco claro e não podiam avançar. Nós estávamos próximos deles, a um metro do cordão policial, várias provocações iam sendo trocadas, tanto por parte da polícia, como dos manifestantes. Alguns, questionavam o motivo pelo qual aqueles polícias estavam a rir, outros questionavam se eles não sentiam remorsos pelo sucedido com a família negra e com a violência policial que as comunidades negras sofriam em Portugal. Eles riam e sorriam, não estavam nem aí para as nossas perguntas, apenas esperavam pela ordem do “grande chefe”. Estavam sedentos de partir-nos ao meio.

Eu estava furioso, sentia-me impotente ali no meio, sentia-me numa jaula. Sabia, exatamente, qual seria o desfecho logo que escurecesse. Tirei os meus livros da mala e distribuí pelo pessoal ao meu redor, tinha o Código penal português, a Constituição da República, um livro da Angela Davis e do Achille Mbembe. Peguei na mão da Mónica, uma jovem negra que abdicou de trabalhar nesse dia para ir à manifestação e disse: “ Vamos para casa, porque daqui a bocado eles vão começar a bater-nos”. Eu e a Mónica combinámos não largar a mão um do outro, independentemente do que acontecesse. Passámos a mensagem a algumas pessoas que estavam à nossa volta e um grupo significativo de manifestantes veio connosco.

Contornámos o cordão policial esperando que o sinal ficasse verde para os peões e passámos no preciso momento em que um policial mais velho, que tinha apenas uma camisa azul vestida(acredito que fosse um dos chefes), tentou impedir a nossa saída do Marquês ao que uma das raparigas que estava ao nosso lado respondeu: “nós estamos a ir embora, não podemos?”. O policia ficou calado, sem reação. Afastou-se e deixou-nos passar. Na minha mão tinha a Constituição da República e a Mónica o código Penal. Uma jornalista correu rapidamente para a nossa frente e começou a tirar fotos ao que avisei que não queria fotos. Nós só queríamos ir embora o mais rápido possível.

Para nosso espanto, muita gente decidiu o mesmo e as pessoas começaram a descer novamente, em direção ao Rossio. Iam cantando “Não ao Racismo!” sem parar, os carros parados na Avenida da Liberdade iam apitando em solidariedade para com a nossa marcha. Aquele momento foi a descida do triunfo. Olhei para a Mónica e os dois sorríamos que nem os Polícias do cerco do Marquês. Pensava para comigo “Porra que dia foda, só quero chegar a casa, ligar a Tv e ver o que a comunicação social vai dizer desta vez.”

“EIIIIIIIIIIII… DISPERSAR PRETO DA MERDA”! “ANDOR CARALHO”… “NÃO OUVIRAM PRETOS DA MERDA”…

Olhei para trás, era um homem branco, com pé de cabelo, ténis, calças de ganga e uma sweat preta, o mesmo homem que passou o dia connosco na marcha de repente, começou a dizer aquelas barbaridades! Surgiram mais uns 5, que começaram a provocar e agredir os jovens. Alguém gritou “esses gajos são dos narcóticos”, “Eles são policias à paisana”! Foi aí que a confusão começou, eu estava a 1 metro de distância do jovem que foi bofeteado pelo polícia à paisana. Ele tirou a arma e apontou sobre nós, corremos para o passeio e começámos a gritar: “Malucos!”, “Policias da merda, só sabem bater”… De súbito, chegou uma carga policial, vinda do topo da Avenida, o grupo foi dividido em 2: uns ficaram na parte da cima da Avenida da Liberdade, junto ao Marquês e outros já estavam a descer a caminho dos Restauradores. Os polícias de intervenção começaram a varrer tudo à bastonada, a bater em pessoas que estavam paradas, em mulheres e jovens de forma violenta e bruta.

O nosso grupo que estava no passeio começou a tirar os telemóveis para gravar, ao nosso lado estava um bacano branco com a sua câmara e estabilizador, a tentar arranjar um ângulo para gravar. Não recuámos, batemos de frente com a polícia. Questionei a necessidade das agressões a um polícia de intervenção que era “mulato” (designação racista para identificar uma pessoa negra de pele mais clara) respondeu-me de forma serena, em contraste com a sua expressão corporal, “meu irmão, sai agora daqui, senão isto vai correr muito mal para ti”.

Foi aí que ouvi o primeiro disparo, e depois mais dois… “BUUUMMM, BUUUMMM…” Comecei a correr, não sabia da Mónica, só via as pessoas a correr em direção ao Restauradores. Foi quando parámos perto da embaixada de Espanha que alguns jovens da manifestação começaram a atirar pedras e garrafas de vidro, em resposta aos tiros. Veio uma nova carga de polícias à paisana e alguns com farda. Encostei-me à parede de um edifício quando um polícia passou por mim e deu-me uma bastonada, outro à paisana vinha a correr com a arma na mão e apontou-a a mim. Ele era muito mais baixo que eu, tentou puxar a minha mala, gritei: “Deixa-me em paz. Na mala só tenho livros e um tablet, deixa-me em paz.”, uma Sra. branca que estava do outro lado da rua, veio acudir-me. O polícia largou-me e continuou a correr em direção aos Restauradores.

Ainda a descer a Avenida, comecei a correr em direção ao Rossio, ia tentado comunicar com os meus amigos que vieram à manifestação para saber se algo lhes tinha acontecido. Os telemóveis chamavam, mas ninguém atendia. Estava muito preocupado, já tinha chegado à estação do Rossio, não tinha tenção de subir novamente. Comecei a comunicar com as pessoas através do whatsapp, liguei à minha mãe a dizer onde estava…

Passados uns 20min, as pessoas iam chegando, algumas iam partilhando vídeos, onde mostravam os polícias a agredir as pessoas, outras gravaram o momento da detenção de um dos jovens, que tinha mais de 4 policias em cima do seu corpo, também haviam vídeos a mostrar a detenção de outro jovem, apenas por dizer “não há necessidade de fazerem isso” sendo que essa detenção passou na televisão.

Um pequeno grupo de jovens que estava na manifestação, reuniu perto da estação do Rossio. O Lucas, um jovem brasileiro, que veio para Portugal ainda quando era pequeno, disse que um dos jovens que foi detido era seu amigo. Perguntámos aos polícias para onde seriam encaminhados os detidos ao qual nos responderam a esquadra do Martin Moniz. Encontramos novamente o policial “Mulato” que nos disse “estou muito triste com vocês meus irmãos, podem manifestar, mas não deviam andar pela estrada e muito menos arranjar confusão”, nós íamos respondendo e explicando que os seus colegas é que começaram, mas a conversa não passou disso.

Mobilizámos um pequeno grupo e fomos para a esquadra do Martin Moniz. À nossa chegada os polícias saíram da esquadra e ficaram na porta, barrando a nossa entrada. Perguntaram o que queríamos, explicámos o sucedido, queríamos saber do jovem que tinha sido detido, disseram que só os familiares é que podiam saber das informações. O Lucas informou que era amigo do jovem que tinha sido detido, disse o nome todo do rapaz, data de nascimento e momento em que foi detido. O Polícia disse que ia ver. Demorou uns 10min e chegou perto de nós a dizer “não sei de nada, ainda não está nenhuma informação no sistema”. Questionámos o que poderíamos fazer, foi-nos informado para ligar para as esquadras da cidade de Lisboa a perguntar pelo detido.

Estávamos cansados, com frio e ainda tínhamos os polícias a gozar com a nossa cara. O Lucas insistia, precisava de saber onde estava o amigo. Os polícias rapidamente o intimidaram, com o clássico dos polícias em Portugal, meteram as luvas, pegaram no bastão e disseram para ele não voltar entrar no pátio da esquadra senão iria levar na boca.

Conseguimos a ajuda de um advogado que ia a passar na rua no momento da detenção e que nos ajudou prontamente. Fomos com o advogado até à esquadra, a linguagem corporal dos polícias mudou assim que o advogado se identificou. Pediram a “carteira” de advogado e a identificação, confirmaram os dados e verificaram novamente se o jovem detido estava nas instalações da polícia. Enquanto esperávamos no pátio da esquadra, veio uma carrinha descaracterizada de onde saíram vários homens (eram policias à paisana) reconheci um deles pois foi o mesmo que me agrediu. Apontei para ele, explicando ao advogado o que ele tinha feito, ele e os colegas riam-se na nossa cara.

Nada batia certo, a polícia não sabia onde estava o jovem detido, o Lucas estava muito agitado e preocupado, os policias ainda desprezavam toda a situação. À falta de melhor solução, resolvemos ir jantar.

Passadas 3 horas “descobrimos” o paradeiro do jovem, disseram-nos que tinha chegado à esquadra do Martin Moniz. Quando chegámos ao pátio da esquadra a situação era bem diferente, tinha alguns polícias bem tranquilos e serenos que sabiam de nada. Era a troca de turnos, receberam-nos muito bem, deixaram-nos entrar nas instalações da esquadra, inclusivé perguntaram se estávamos bem. Uma mudança de 360°. Deram-nos a informação que o jovem estava na esquadra da Penha de França.

Chegámos à esquadra da Penha de França e a mesma situação, polícias bem tranquilos e serenos ajudaram-nos com o que podiam. Disseram-nos que o jovem estava nas instalações e o Lucas, o amigo do rapaz detido, queria vê-lo, no entanto, a única pessoa autorizada a visitar era o advogado. Passámos algumas mensagens de moral e força ao advogado, para dizer ao jovem detido. Passou algum tempo, o advogado saiu, disse-nos que não podia fazer mais nada, que o jovem iria ser presente a uma juíza no dia seguinte.

E assim foi o meu dia.

Fiquei com o Lucas, à frente da esquadra da Penha de França, esperando um táxi para nos levar a casa. Íamos trocando impressões sobre o dia, o que fizemos mal, o que fizemos bem, o que mudaríamos e o que não mudávamos.

Cheguei a casa e a minha mãe perguntou se o que estava a passar na televisão era verdade ao qual respondi “MÃE, ACHAS?”.

Recebi uma mensagem do meu irmão que está a estudar no estrangeiro a relembrar-me que dia 21 era o dia do Reverendo Martin Luther King Jr. Fiquei bastante pensativo. Tenho quase a certeza que o reverendo ficaria muito orgulhoso da nossa determinação e vontade de mudança.

Dia 21 de Janeiro de 2019 foi um marco importante para as pessoas em Portugal, pessoas que não alinham com nenhum tipo de violência e crenças racistas. Pessoas que querem a mudança e um país onde nunca mais alguém irá ser julgado ou prejudicado pela sua cor de pele.

“I Have a dream that my four little children will one day live in nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their characther”

- Reverendo Martin Luther King Jr

 

por Son Ibr Jiobardjan
Mukanda | 30 Janeiro 2019 | 21 janeiro, anti-racismo, Jamaica, Lisboa, manifestação, movimento negro, racismo, violência policial