Povo Krahô inaugura primeira sala de cinema em Terra Indígena do Brasil

Aldeia Koprer, Terra Indígena Krahô, 30 de outubro de 2025. Hoje, o nosso povo celebra a abertura do Cinema Comunitário Krahô, a primeira sala de cinema construída dentro de uma Terra Indígena do Brasil. O sonho começou a ganhar forma há mais de uma década, quando a jovem Ilda Patpro Krahô participou das primeiras oficinas de audiovisual do coletivo Mentuwajê Guardiões da Cultura. Nos últimos anos, Patpro foi roteirista e atriz do filme A Flor do Buriti , e viajou com a obra por diversos festivais de cinema. Essa experiência despertou nela o desejo de trazer os filmes - e o público - para dentro de sua própria aldeia. “Hoje temos televisão, celular e internet nas aldeias. Mas as histórias que vemos ainda são as histórias do branco. Quando estive nos festivais de cinema, senti a alegria de ver nossas imagens nas telas.

O cinema é diferente — é um lugar de encontro, onde tem espaço para nossas memórias e nosso olhar. Quero que as crianças Krahô possam lembrar sempre dos mais velhos e que, sentadas no nosso Cinema Comunitário, possam imaginar o futuro a partir da aldeia e de nossas imagens.” — Ilda Patpro Krahô O Cinema Comunitário Krahô está localizado na aldeia Koprer e terá uma programação regular organizada pela comunidade. Está também em construção um acervo audiovisual, reunindo quase um século de registros sobre os Krahô e outros povos indígenas do Brasil. Esse material ficará disponível em uma rede interna da aldeia, podendo ser projetado a qualquer momento na tela do cinema.

A partir de 2026, a aldeia vai receber encontros regulares de cinema, realizados em parceria com festivais e instituições culturais de todo o país. “Queremos receber nossos parentes de outros povos, com seus filmes e suas histórias. Tem lugar para todo mundo no nosso Cinema.” — Ilda Patpro Krahô O cinema foi construído pela própria comunidade, contando também com a participação de trabalhadores do munícipio de Itacajá. O Cinema Comunitário Krahô foi feito em parceria com as cineastas Renée Nader Messora, João Salaviza, Julia Alves e Ricardo Alves Jr. O projeto arquitetônico foi desenvolvido em diálogo com o arquiteto Thiago Benucci, e contou também com Simone Giovine, que acompanhou a construção do espaço. O projeto arquitetônico busca reinventar o que pode ser uma sala de cinema em um contexto de aldeia. Propõe uma arquibancada escavada no próprio solo, coberta por um grande telhado, mantendo as laterais permeáveis à ventilação natural e também à circulação das pessoas e à visão dos arredores. Assim, busca se inserir de maneira respeitosa na paisagem e na comunidade.

“O Cinema Comunitário Krahô, aqui na aldeia Koprer, é mais um instrumento de luta pela autodeterminação, pela preservação da memória coletiva e pela afirmação cultural do povo Krahô.” — Renée Nader Messora e João Salaviza O Cinema Comunitário Krahô está equipado com um projetor digital de alta definição . A sala comporta aproximadamente 150 pessoas , que podem assistir aos filmes sentadas nos bancos corridos de madeira ou deitadas em redes penduradas ao redor — de onde é possível ver a tela, o pátio da aldeia e o céu estrelado do Cerrado. 

fotografias de João Salavisa:


Para mais informações, contactar: Ilda Patpro Krahô +55 63 99102-1804 Renée Nader Messora renee.nader@gmail.com +351 926 342 246 João Salaviza jsalaviza@gmail.com 

por João Salaviza e Renée Nader Messora
Afroscreen | 2 Novembro 2025 | Brasil, cinema, Krahô, povos indígenas