Teatro do Vestido aborda memórias sensíveis sobre retorno das ex-colónias portuguesas

“Está tudo gravado em mim, eu não sou muito boa nisto do documental, mas é em mim que está tudo gravado”. Ouvimos isto vezes sem conta, nas inúmeras entrevistas que fazemos a pessoas comuns, com histórias maravilhosas para nos contar. “Mas eu não tenho nada de especial para vos dizer, olhe que isto não tem interesse nenhum!”, e falam durante horas… E são precisamente essas histórias “sem interesse nenhum” que nos apaixonam. E foi por isso mesmo que, em 2014, decidimos ir à procura das memórias sensíveis daqueles que viveram nas ex-colónias portuguesas em África. Retornos, Exílios e Alguns Que Ficaram,  é o resultado dessa busca, espectáculo que vai ser apresentado agora em Lisboa (Palácio Sinel de Cordes, de 7 a 10 de Junho). Mais informações aqui.

Três anos mais tarde, voltamos ao tema, desta vez às pós-memórias do retorno das ex-colónias portuguesas. Com ‘pós-memória’, queremos dizer a memória daqueles que não viveram os eventos directamente, antes os receberam mais tarde, por via da transmissão familiar. Partindo da história pessoal e familiar dos cinco actores desta criação - Cláudia Andrade, Daniel Moutinho, Lavínia Moreira, Marina Albuquerque e Rafael Rodrigues -, ramificada entretanto para outros testemunhos que fomos recolhendo ao longo do processo, Filhos do Retorno é uma criação autobiográfica, documental, por vezes ficcional, e que, sobretudo, questiona dados adquiridos, preconceitos, certezas, afirmações peremptórias sobre tudo isto, aceitações e recusas. Era nosso desejo fazer um objecto transformador para os que o criaram. Acreditamos tê-lo conseguido.
Filhos do Retorno vai estar em cena no Teatro Nacional D. Maria II (Lisboa), de 21 de Junho a 01 de Julho. Mais informações aqui.

 

07.06.2018 | par martalanca | filhos do retorno, memória, oós-memória, retornados, Teatro do Vestido