O discurso contra-epopeico em "Non ou a Vã Glória de Mandar": contributos para uma leitura lourenciana

 “Terrível palavra é um Non. Não tem direito nem avesso. Por qualquer lado que a tomeis, sempre soa e diz o mesmo. Lede-o do princípio para o fim, ou do fim para o princípio, sempre é Non”

Pd. António Vieira, Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma

 

- Ó glória de mandar, ó vã cobiça

Desta vaidade a quem chamamos Fama,

Ó fraudulento gosto, que se atiça

C’ua aura popular, que honra se chama,

Que castigo tamanho e que justiça

Fazes no peito vão que muito te ama!

Que mortes, que perigos, que tormentas,

Que crueldades neles esprimentas!

Luís de Camões, Os Lusíadas (IV, 95)

 

“A fatalidade é universal, e tem a ver com o destino. Os acontecimentos derivam da realidade, que pode tornar-se agressiva, por vezes dolorosa…”

Manoel de Oliveira, Entrevista a José de Matos-Cruz

 

As nações todas são mistérios

Fernando Pessoa, Mensagem


Nenhum povo, e mais a mais um povo de tantos séculos de vida comum e tão prodigioso destino, pode viver sem uma imagem ideal de si mesmo

Eduardo Lourenço, O Labirinto da Saudade

 

Do início ao fim, como dialéctica universal e ininterrupta, a História percorre o seu próprio tempo à procura da partícula do sentido, sem medo de se repetir. As nações formam-se, desenvolvem-se, mitificam-se, oferecendo o seu contributo ao progresso da civilização. Non é a palavra maldita e monossilábica que encerra o apogeu e declínio do destino português. A verdade é a suprema essência que transcende a realidade dos homens, o plano mitológico onde se cumprem os seus actos heróicos e funestos. O que fica para a humanidade é, de facto, não o que se tira, mas o que se dá.

Toda a obra cinematográfica de Manoel de Oliveira estaria eventualmente incompleta sem a realização de Non, segundo as próprias palavras do autor. Com efeito, o filme começou a ser pensado ainda no final da década de 70, na ressaca da Revolução de Abril, sendo efectivamente concretizado apenas no início dos anos 90[1]. Este primeiro projecto, não muito distante da versão final, visava directamente uma reflexão sobre Portugal e a sua história, desenvolver-se-ia num teatro de província e estruturava-se em quatro actos: a traição/morte de Viriato; as vicissitudes da Batalha de Toro; a Batalha de Alcácer-Quibir; e o internamento de um jovem oficial português num Hospital africano, ferido num dos inúmeros focos de luta da guerra colonial. Acusado de didactismo e de simplificação histórica, o certo é que Non ou a Vã Glória de Mandar se constitui como uma narrativa crítica e disfórica relativamente à noção apologética da História portuguesa, não obviamente a partir da exaltação das suas conquistas militares, mas principalmente através da (re)encenação das traumáticas derrotas nos campos de batalha. “No princípio é a vontade de desenterrar a História oficial para escovar a mitologia pátria a contra-pêlo. Da epopeia à tragédia, o programa de NON mais não é do que um virar de Os Lusíadas ao contrário” (PRETO, 2010). A desconstrução da roupagem epopeica, a contestação de uma concepção camoniana da mitologia lusitana delimita-se entre a derrota das hostes lideradas por Viriato contra a hegemonia romana até ao trauma secular resultado de Alcácer-Quibir, passando pelas guerras contra Castela e a consequente falência da ideia de uma monarquia ibérica universal sob o signo da cruz de Cristo, situando-se a acção fílmica no malfadado palco africano da Guerra Colonial (a gigantesca árvore, impossível de filmar, sugere a visualização desse trágico e nostálgico espaço geográfico). João Bénard da Costa refere em termos esclarecedores o papel simbólico do continente africano na afirmação do imaginário mítico português:

“A África, palco da nossa derradeira aventura trágica, como o fora da nossa primeira aventura épica, seria o verdadeiro teatro das operações, lugar do papel que o lusíada por si próprio se tinha inventado e donde finalmente se bania, cumprindo um ciclo de derrotas, um ciclo em que o destino sempre disse não a Portugal ou aos seus sonhos mais grandiloquentes. Fruste, a história narrada, imensos o espaço e o tempo que a rodeiam” (VV.AA, 2008:122).

 O veículo que transporta os soldados portugueses, atravessando o lugar que assinala o epitáfio do império ultramarino, é um microcosmos que potencia uma auto-reflexão do discurso histórico, uma metonímia de um Portugal específico (os militares revoltados) que pensa a sua própria condição à luz de uma herança colonialista e imperialista de cinco séculos de duração. O discurso dos combatentes portugueses na guerra funda-se entre a persistência da defesa intransigente das colónias africanas (o patriotismo e a máxima salazarista orgulhosamente sós) e a rejeição aberta da perpetuação do conflito, reconhecendo-se a justa autodeterminação dos povos. “O confronto ideológico que o país viveu, face à guerra colonial, corporiza-o Oliveira nos diálogos entre os militares, uns partidários do regime e outros forçados à tropa” (BRITO, 2010). Os soldados lusos, ensombrados pela verdade histórica, recordam as batalhas perdidas antecipando o seu próprio destino trágico. Não é, no entanto, pretensão de Oliveira obedecer a uma representação individual ou personalizada de cada um dos desconhecidos heróis militares portugueses, mas antes elaborar um “(…)retrato transtemporal de um povo(…)” (PRETO, Ibidem). Os personagens que desempenham o papel dos militares na Guerra Colonial do presente são os mesmos que se transfiguram em algumas personalidades das catástrofes do passado. O momento presente a que se reporta a narrativa (a guerra contras as colónias e a posterior dissolução do Império Ultramarino) penetra na memória histórica, travestindo-se de Viriato e seus apaniguados em luta contra a opressão do poder romano, de Vasco da Gama e respectivos marinheiros portugueses que alcançam a recompensa mítico-erótica[2] na Ilha dos Amores, do príncipe D. Afonso que perde a vida numa fatídica corrida de ginetes, ou o impetuoso e delirante D. Sebastião, o desejado, rei que imaginou a fundação universal do Quinto Império e chocou com a desastrosa realidade da derrota em Alcácer-Quibir, que teve como consequência marcante, como se sabe, o fim da autonomia nacional e o início do domínio filipino.

Fotograma do filme Non ou a Vã Glória de Mandar, de Manoel de Oliveira (1990)Fotograma do filme Non ou a Vã Glória de Mandar, de Manoel de Oliveira (1990)

Em Non, a epopeica História de Portugal encontra sempre uma tragicidade oculta e enigmática que a define, como horizonte inelutável. Da resistência heróica de Viriato até ao canto de cisne do projecto colonialista do Estado Novo[3], Portugal e os portugueses observam-se despudoradamente por aquilo que não foram, “(…) sem a envoltura dos ouropéis ideológicos, mirando-se frágeis, menores e diminuídos ao espelho de si próprios e da Europa” (REAL, 2008:59). O povo fragilizado que se não cumpriu no plano da História, elabora sobre si mesmo uma noção hiperidentitária acerca da sua condição gnosiológica. Segundo Eduardo Lourenço, a cultura portuguesa, do ponto de vista do historiável, tem vivido sob a égide de um irrealismo prodigioso, compreendendo-se o adjectivo irreal não no sentido da sua existência material, mas revelando uma qualidade assombrosa e fantasmática, isto porque “(…)se comparado com a realidade concreta e objectiva, vive de uma profunda irrealidade” (Ibidem, 45):

“(…)a mais sumária autópsia da nossa historiografia revela o irrealismo prodigioso da imagem que os Portugueses se fazem de si mesmos” (LOURENÇO, 2013:23)

Este irrealismo afectava directamente a psicologia da sociedade portuguesa, relutante em discernir a realidade cultural e política em que estava enquadrada (país de reduzida dimensão, de parcos recursos, economicamente carente e pouco industrializado), remetendo-se sem reflexão para o domínio do sonho, do imaginado sem fundamentação empírica:

“falta de ‘gravidade de existência’, falta do peso da realidade europeia, falta de embate com as imperfeições do mundo exterior, isolado que estava Portugal, (…) criando e sobrevivendo num mundo mítico e delirante, fantasmaticamente só nosso, povoado de combates ideológicos só nossos, visando inimigos só nossos, heréticos à ‘gravidade física’ da realidade, etéreos navegadores de uma antiga Europa e uma antiga Civilização sucumbidas no século XVI, continuando nós a sonhá-las como actuais e repletas de futuro” (REAL, 2008:52)

Historicamente, o português tem habitado um espaço conflitual que se fenda como um abismo entre “(…)o modo como somos e o modo como imaginamos ser ou deveríamos ser” (Ibid., 59). Verifica-se, portanto, uma desproporção entre a esfera do ontológico (o que é) e a do imagético (o que se imagina ser), diagnosticando-se uma insondável clivagem do real relativamente ao ficcional. Para Eduardo Lourenço, é urgente proceder-se a uma “(…)autêntica psicanálise do nosso comportamento global, um exame sem complacências que nos devolva ao nosso ser profundo ou para ele nos encaminhe ao arrancar-nos as máscaras que nós confundimos com o rosto verdadeiro” (LOURENÇO, 2013:24). De uma fundação traumática[4] da nacionalidade, os portugueses jamais puderam recuperar a lucidez suficiente para enfrentar o devir incessante da História:

“O nosso surgimento como estado foi do tipo traumático e desse traumatismo nunca na verdade nos levantámos até à plena assumpção da maturidade histórica prometida pelos céus e pelos séculos a esse rebento incrivelmente frágil para ter podido aparecer misteriosamente forte para ousa subsistir” (Ibidem)

A relação irrealista que mantemos connosco mesmos serve para compensar a situação da nossa intrínseca fragilidade, a de uma pequena e marginal nação que interpretou a sua existência mitificante a partir de uma origem providencial, destinada a desempenhar uma missão civilizadora e ecuménica no mundo por descobrir. Sobre essa grandeza a cumprir-se, a hora solar da nossa afirmação histórica, Os Lusíadas são a derradeira ficção, sinfonia e requiem de um desejado tempo de apoteose nacional:

“Da nossa intrínseca e gloriosa ficção Os Lusíadas são a ficção. Da nossa sonâmbula e trágica grandeza de um dia de cinquenta anos, ferida e corroída pela morte próxima, o poema é eco sumptuoso e triste” (Ibid., 26)

Abdicando da acção e acreditando devotamente na essência do milagre, a consolação do povo português residia não num presente demasiadamente redutor (diminuída realidade presente), mas num passado épico e grandioso (era o termos sido). O soldado moribundo que se ergue das trevas de Alcácer-Quibir e começa a proclamar o Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma, transfigurado de António Vieira que a história cultural portuguesa ainda não desvelara, estabelece o seu discurso perante o ténue limiar do sonho e do real. Como afirma E. Lourenço:

“É difícil conceber que a confusão entre o real e sonho possa ir mais longe do que o foi na cabeça do António Vieira das alegações diante do Santo Ofício, mistura única entre de lucidez delirante e delírio divino” (Ibid., 29)

             Em Non, o sangue do heroísmo e do delírio trágico escorre abundantemente pelos episódios que formam o mosaico da História lusitana. D. Sebastião liga umbilicalmente, através da fatal batalha de Alcácer-Quibir, nosso maior desastre militar, o seu legado maldito à figura agonizante do alferes Cabrita, personagem-símbolo que representa o epílogo espectral de “(…)quinhentos anos de imperialismo sem império que foram também quinhentos anos de império sem autêntico imperialismo” (Ibidem, 46). Esta é a “(…)transfusão de sangue que liga a aparição de D. Sebastião numa manhã de nevoeiro, que outra não é que a manhã do dia 25 de Abril de 1974 (…) à febre agonizante do alferes-narrador moribundo: é este o sentido final de todas as histórias” (PRETO, Ibid.). O rei louco, porque quis grandeza, sonhando ser o portador secreto de uma mensagem ou possuidor virtual de um Graal futuro, acaba tombando com Portugal inteiro e os seus projectos imaginários de natureza messiânica no fatídico areal de uma memorável tarde marroquina. “Quem desaparecera no areal”, enuncia Eduardo Lourenço, “não era um adolescente imaturo, vítima de sonhos mal sonhados. Era um rei frágil de um reino frágil que a sua morte punha à beira da inexistência” (LOURENÇO, 2001:133/134). A vontade irreal de derrotar os mouros e conquistar Jerusalém, capital espiritual de toda a cristandade ocidental, para aí fundar um Quinto Império liderado pelo Santo-Portugal salvador e divinizado demonstra a substância mesma do messianismo sebástico:

“(…)o nosso messianismo se mostrou sempre mais universalizante: muito mais do que um rei ou um salvador para um Portugal empírico, o nosso sebastianismo é sonho de rei universal, ou, melhor ainda, de realeza universal” (Ibid., 139)

Esse mesmo sebastianismo ou messianismo luso entendia a nação portuguesa como eleita a realizar uma missão civilizadora, um desígnio providencial e universalizante que redime e ultrapassa os limites materiais do processo histórico (a vitória nos espera, anuncia D. Sebastião em Non). O discurso sebastianista apresenta-se “como um exemplo notável da força operativa e da persistente tenacidade da aberração mental numa colectividade”, o “(…)avatar delirante, mas expressão lídima ‘desse amor (…) que foi em todos os tempos um sentimento intenso do povo português’”, em suma, a “(…)vida imaginária portuguesa quando o abismo entre a realidade do seu ser histórico e o seu destino ideal e moral nos aparece como intolerável” (Ibid., 137).

            Da catástrofe traumática de Alcácer-Quibir passamos ao capítulo final do Império Ultramarino português, da pretensa fundação do mítico Quinto Império redundamos numa guerra fratricida, desesperada e anacrónica, cujo núcleo trágico só viria a ser radicalmente questionado pela aura libertadora de Abril. “Treze anos de guerra colonial, derrocada abrupta desse império, pareciam acontecimentos destinados não só a criar na nossa consciência um traumatismo profundo – análogo ao da perda da independência – mas a um repensamento em profundidade da totalidade da nossa imagem perante nós mesmos e no espelho do mundo” (LOURENÇO, 2013:46). A amputação de um Império de quinhentos anos, co-essencial à identidade cultural e histórica portuguesa, exigia uma transformação profunda da auto-imagem nacional, confrontada diante do espelho do mundo e de si própria. O alferes Cabrita é ferido em combate e obrigado a transferir-se para um Hospital de campanha. É nessa alucinante cama que Portugal se vê e é visto, se confessa e é revelado, entre a vida e a morte, o mito e a História, o passado e o presente, a epopeia e a tragédia, a ficção do Império e o vazio do real de um país que regressa a si mesmo, refundando a sua condição de potência colonizadora, separada do camoniano sonho de uma imagem de grandeza e evangelização. A Guerra Colonial pressupõe o acto fúnebre da auto-liquidação de uma nação em estado de letargia, saudosa e nostálgica dos tempos das Descobertas. Portugal descobre-se isolado e morto[5], como cadáver secular esperando uma necessária ressurreição da sua alma nacional. O D. Sebastião volvido numa manhã de nevoeiro entrevisto em transe pelo moribundo alferes encerra a linhagem trágica que atravessa o mitológico destino português. “Em Non, D. Sebastião não ergue a espada mas baixa-a e o que se perfaz é sangue e é morte. A manhã de nevoeiro é a manhã do fim” (VV.AA, 2008:123). O país de Camões e de Salazar, de conquistadores e descolonizadores, extingue-se em plena guerra para em seguida se regenerar no mítico dia 25 de Abril de 1974, que assinala o fim da vida do alferes Cabrita, a morte do Portugal imperial através da implantação de um regime livre, democrático e integrado na Europa comunitária. O cinema de Manoel de Oliveira assina em simultâneo a conclusão e o reinício sacralizante da velha pátria portuguesa.

            Segundo Eduardo Lourenço, “foi a imagem ideológica do povo português como idílico, passivo, amorfo, humilde, e respeitador da ordem estabelecida, que o 25 de Abril impugnou, enfim, em plena luz do dia. A verdade que através dela irrompia era de molde a reajustar finalmente a nossa realidade autêntica de portugueses a si mesma, como reflexo e resposta a uma desfiguração tão sistemática como aquela que caracterizara o idealismo hipócrita e, sob a cor do realismo, o absurdo irrealismo da imagem salazarista de Portugal” (Ibid., 60). Poder-se-ia dizer que a democracia de Abril funda a nova mitologia do Portugal contemporâneo, ou que, pelo menos, atribui um sentido ontológico unânime a um país renascido das cinzas de um modelo político autoritário, nacionalista e torcionário, que soube igualmente formular a sua narrativa mítica com base nos heróis e nas batalhas que arquitectaram a metafísica grandeza do passado: “Salazar perspectivou a História a partir de um mito de origem, a batalha de Ourique, que se liga ao mito de Aljubarrota, os Descobrimentos, e segue até ao presente, sem falhas. (…) É o milagre de Ourique que insufla força a Nuno Álvares Pereira para ganhar Aljubarrota e que vai legitimar metafisicamente o regime salazarista”, declara José Adelino Maltez no suplemento Revista 2 do jornal Público (MOURA, 2014:22). Do início ao fim, a História não se repete, e a fatídica palavra NON continuará a velar pelos destinos do povo lusitano. O sangue que é morte e renovação reflecte um mito que reoriente uma identidade portuguesa marcada pelo trauma e pelo irrealismo da sua própria imagem de nação providencial. “Ó Portugal, hoje és nevoeiro…/É a Hora!” (PESSOA, 2004:91), pensamos em uníssono, já não nos termos místico-messiânicos do poeta da Mensagem, mas sob o crivo de uma leitura crítica dos mitos e fantasmagorias que preencheram a inata ficção do ser português ao longo do seu trajecto histórico. “Num dos momentos de maior transcendência da história nacional, os Portugueses estiveram ausentes de si mesmos, como ausentes estiveram (…) durante as quatro décadas do que uma grande minoria chamava ‘fascismo’” (LOURENÇO, 2013:48). A hora portuguesa, agora amputada do Império, da suprema epopeia e do sonho sebastianista, exige hoje uma delicada análise psicanalítica, uma necessária autognose imparcial, no momento de se pensar como nação real e descolonizadora, arredada definitivamente das míticas fantasias de uma grandiosidade imaginada e apenas fixada por uma História que narra a gesta ultramarina de um povo vocacionado para a expansão e a exemplaridade da sua colonização, e não a sua factual existência enquanto colectivo humano.

Vale a pena terminar este ensaio deixando-o em aberto, refazendo uma pergunta que Eduardo Lourenço tem infatigavelmente dirigido ao longo dos anos à Europa e ao seu futuro: Quo Vadis Portugal?   

 

Bibliografia

BRITO, Mariana, Non ou a Vã Glória de Mandar, Buala, 2010.

CRUZ, José de Matos, Manoel de Oliveira e a Montra das Tentações, Lisboa, Dom Quixote, 1ª edição, 1996.

LOURENÇO, Eduardo, Portugal como Destino seguido de Mitologia da Saudade, Lisboa, Gradiva, 3ª edição, 2001.

O Labirinto da Saudade, Lisboa, Gradiva, 9ª edição, 2013.

MOURA, Paulo, À Procura de um Novo Mito Nacional, Público-Revista 2, 18 de Maio de 2014. 

PESSOA, Fernando, Mensagem, Lisboa, Assírio & Alvim, 4ª edição, 2004.

PRETO, António, Non ou a Vã Glória de Mandar, Buala, 2010.

REAL, Miguel, Eduardo Lourenço e a Cultura Portuguesa, Matosinhos, QuidNovi, 1ª edição, 2008.

SOBRAL, José Manuel, Portugal, Portugueses: Uma Identidade Nacional, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos, Relógio d’Água, 2012.

VV.AA, Manoel de Oliveira, Porto, Fundação de Serralves, 2008. 

 

Filmografia

OLIVEIRA, Manoel de, Non ou a Vã Glória de Mandar, Portugal/Espanha/França, ficção, 35 mm, cor, 111’, Madragoa Filmes, 1990.

 


[1] Convém referir que Oliveira analisa criticamente os acontecimentos elegíacos da História de Portugal a partir da perspectiva da última década do século XX, manifestando já uma consciência enformada pelo fim do Estado Novo, o 25 de Abril, o consequente processo de descolonização ou a integração portuguesa na comunidade das democracias europeias. 

[2] “Ele [Vasco da Gama] representa aqui (…) o mito da androginia e da unificação total tão caro a Oliveira. É o único que nos pergunta pelo preço e é o preço a ser recompensado” in (VV.AA, 2008:125).

[3] Provavelmente, o grito lancinante do guerrilheiro negro, que o humaniza enquanto outro, é o exemplo mais acabado, em Non, do carácter absurdo e auto-destruidor da guerra contra as províncias ultramarinas.  

[4] Três foram os momentos-chave de natureza traumática que contribuíram para a definição de uma consciência ferida: o nascimento do reino português associado ao seu espírito guerreiro; a perda da independência em Alcácer-Quibir; e a Guerra Colonial e o subsequente fim do Império.   

[5] “O Império morreu, mas deixou um legado pós-colonial, que se reflectiu na manutenção de relações multidimensionais entre as suas antigas componentes” in (SOBRAL, 2012:44). 

por Joaquim Pedro Marques Pinto
Afroscreen | 12 Dezembro 2015 | Manoel de Oliveira, Non ou a Vã Glória de Mandar