As andanças do Andanças

O Andanças mudou-se, distando agora quase tanto do minho como ao algarve. Pousou na Barragem de Póvoa e Meadas, primeira hidroelétrica do país que começou a funcionar em 1927. Está-se no concelho de Castelo de Vide, distrito de Portalegre, a um passo de Espanha. Apesar das coordenadas,  há festivaleiros chegando sem porem os olhos em mapas, sem conhecerem linhas de fronteiras. Mas a proximidade do país vizinho traz um público novo, desejado pela organização, cujo sotaque ecoa.

Nos preparativos do festival, as gentes destas terras ouviam: “O andanças vem aí..”. Desconhecendo, perguntavam-se, entreolhavam-se, mas que malta é que para aí vem? Será só drogados e guedelhudos? Aos primeiros dias do festival é que perceberam. Isto aqui é muito mais do que eu pensava, eu não tinha imaginação para isto. Inadivinhavelmente contentes,  assentam que era tudo boa gente, tranquila e simpática. Venham mais, venham mais vezes. 

A cena africana mantém-se. As aulas intensas e arrebatadoras de multidões do angolano Petchú, as diversas aulas de danças caboverdeanas, o palco de DJ’s onde as noites aquecem com os corpos que se rebolam e encostam, para o ano haverá mais com cinema de danças da áfrica imensa.  

O público andanças sai à espera de mais infraestruturas e condições básicas como casas de banho, sombras, espaços apropriados para acampamentos, formas de contornar as securas deste clima… Para muitos há uma aceitação dos problemas por ser este o primeiro festival neste local, que em parte estava entregue à natureza. Uns meses antes do andanças acontecer havia casas e caminhos  escondidos no mato, tudo abandonado há um par de décadas. Perante a falta de estruturas locais até a lua cheia foi aproveitada para iluminar caminhos e espaços! Espera-se que o festival melhore e beneficie a população da zona. Aceita-se o quebrar de um ciclo, a migração e o novo ninho. Das caraterísticas novas destaca-se ainda os bailes durante o dia e as oficinas de dança dadas à noite.

Mantenha-se pontos de contato com São Pedro do Sul, Carvalhais, lembrando que foi lá que o andanças e tanta das suas gentes e música cresceram!  

E para quem segue os bailes, está chegando mais música e dança ao Alentejo, o Festival Tempo d’Aldeia, Planície Mediterrânica, de 13 a 15 de Setembro em Castro Verde.Todos os Setembros a PédeXumbo se alia à CM Castro Verde para promover o Festival Planície Mediterrânica, uma produção que integra a rede cultural do Festival Sete Sóis Sete Luas.

Andanças poéticas

Agora sento-me, 

a música chega-me dos 4 pontos cardeais, 

o corpo sossega do baile e contempla. 

Acabo dormindo com os pés no regato, sono de floresta que era mato.

 

Aqui as noites viram dias, 

tudo é preenchido e intenso mas não nos perdemos em programações e grelhas.

 

O nosso corpo, os nossos corpos, 

unidos no baile de ritmos uníssonos, músicas branduras e ternuras dos pés. 

 

O andanças de cada um é o seu ponto de vista do círculo, 

é a cor da  pulseira,  tarefa de voluntário, 

o amor e o desamor em baile, 

a criança que pede colo. 

 

Foi aqui que aprendi a dançar, 

todas e nenhumas danças. 

Corpo com corpo, 

uma espiral de gente encadeada pelo dedos mindinhos, 

uma amálgama de gente dançando olhos nos olhos. 

Andanças é conhecer outros pelo baile, 

viver para o baile, 

trocar danças, trocar de vida.

 

Foi aqui que aprendi a dançar, 

repete e repete. 

A experimental liberdade do espaço, 

o corpo imóvel e o universo a rodar.

 

Definir regras para depois as transgredir. 

Contar os passos e nem sequer dançar. 

Não contar os passos mas cantar.  

 

Às tantas, agora são as árvores que entoam cânticos. 

As crianças que pintaram as mãos umas das outras não se esquecerão. 

Para o ano há mais…

 

 

 

por Maria Prata
Vou lá visitar | 10 Setembro 2013 | danças, festival, Festival Andanças