Danças africanas em Portugal: contextos artísticos e pedagógicos - parte 1

Este texto expõe sucintamente ideias da dissertação de Mestrado, entretanto publicada em livro, sob o título de “Danças africanas e Interculturalidade em Portugal”. O estudo abrange uma pesquisa de campo acompanhando dois profissionais que trabalham com danças africanas em Portugal, um na cidade de Porto, outro na cidade de Lisboa, sendo estudadas tanto as suas práticas artísticas como as práticas pedagógicas. Não pretende ser um mapeamento da totalidade dos contextos ou profissionais trabalhando com danças africanas em Portugal, mas caminha no sentido de fornecer pistas para uma compreensão mais aprofundada deste fenómeno no contexto social português.

Logo à partida, fez-se presente a necessidade de averiguar o conceito mais apropriado para falar sobre “troca entre culturas”, dentro dos pressupostos que nos interessavam. Depois de uma alargada revisão bibliográfica, optámos pelo conceito de interculturalidade (em detrimento de outros, como multiculturalismo, transculturalismo, ou cruzamento cultural), por identificarmos que o primeiro tem sido um termo mais abrangente, não hegemónico, permitindo assim várias ações e entendimentos diversificados. Ao mesmo tempo, interessou aprofundar a noção de interculturalidade, já que esta tem sido bastante utilizada nos discursos e ações de instâncias governamentais europeias. A partir de alguns autores (Candau, 2000; Fleuri, 2000; André, 2005), ficou claro que a noção que interessava a este trabalho era aquela que tomava a interculturalidade como algo-em-processo, como diálogo, como troca, como comunicação, e a colocava a partir de uma perspectiva relacional, de reciprocidade e de transformação mútua. Uma realidade onde tradução, flexibilidade, conflito e negociação são dinâmicas omnipresentes.

Partindo destes pressupostos, a prática artística revela-se um território de extrema importância no campo das trocas interculturais. No sentido em que contempla a multiplicidade de formas e experiências de cada grupo social, a arte possibilita a expressão pessoal, território no qual se podem reconhecer vivências comuns, afirmando dessa maneira o diálogo entre comunidades como ação transformadora, como “prática de emancipação” (McLaren, 1997) e contribuindo para a formação de cidadãos políticos, conscientes de que as suas escolhas criam repercussões no seio da sociedade. A dança surge assim como um terreno frutífero para trabalhar com culturas diferenciadas, já que tem por base o corpo, instância onde se inscrevem e onde se traduzem todas as experiências de um sistema cultural. Para esse entendimento, é importante reconhecer o trânsito corpo-cultura-sociedade como uma relação de mútua contaminação, em que a possibilidade de experimentar outra cultura, não só por informações e pensamentos, mas também pelo corpo, é uma porta que se abre para aprender novas perspectivas acerca do mundo e de si próprio. Acreditando que cada corpo, cada dança reflete um pensamento, uma mundividência, uma forma de se estar no mundo, a aproximação a outros entendimentos de mundo através do corpo pode ser uma mais-valia da dança nos encontros culturais.

Na realidade em estudo, a prática crescente de danças africanas em Portugal tem indicado experiências interculturais transformadoras do quotidiano, dos corpos e do mundo dos seus praticantes, trocas que passam a ficar inscritas nesses corpos. Torna-se então interessante situar as circunstâncias que criaram condições para o desenvolvimento da prática das danças africanas em Portugal, através de uma breve contextualização das relações culturais entre Portugal e alguns países da África ocidental.

 

Portugal e “Áfricas”: caminhos cruzados

Partindo de alguns recortes historiográficos, é importante destacar dois momentos: um passado, assente na relação colonizador/colonizado e suas consequências, e um momento mais recente, relativo à inserção das danças africanas em Portugal, dos anos 90 em diante.

Em primeiro lugar, esse momento passado pressupõe o reconhecer as circunstâncias que motivaram os portugueses para a expansão marítima, ligadas a uma condição “marginal” do país (em termos geográficos e em termos de dimensão do próprio país). Por outro lado, é importante lembrar que, ao contrário do que algumas versões possam trazer, os primeiros encontros entre europeus e nativos, tiveram muito mais de  enfrentamentos e resistências do que de “harmonia”. Desse modo, quando a relação colonizador/ colonizado entra num domínio territorial, com portugueses se fixando em solo africano, e africanos em solo português, a relação entre estas comunidades passa a caracterizar-se por uma forte imbricação. Sobre o caso particular de diversos africanos se estabelecendo em solo português, alguns autores como Oliveira e Costa e Lacerda (2007) falam de uma “penetração silenciosa”, ou seja, de uma adaptação subtil e profunda tornando-se até difícil de apontar as influências recíprocas entre esses povos. Ao mesmo tempo, os autores frisam que ainda hoje é possível encontrar diversas ”marcas da interculturalidade” (op.cit.) como, por exemplo, influências claras ao nível da língua, religião, hábitos, e inclusive “marcas biológicas”. Nesse sentido, podemos dizer que a cultura portuguesa tanto influenciou como foi influenciada (op.cit.), e, como  fruto dessas dinâmicas foram criadas novas culturas, novas identidades. Isso também explica que as danças africanas encontrem ainda hoje em dia campos de reverberação no quotidiano português.

Interessa, no seguimento, contextualizar brevemente qual a situação atual de Portugal e como são vividas as relações entre portugueses e africanos em solo lusitano. Vale a pena ressaltar que este país foi colonizador em África até 1974, o que implica mudanças muito recentes de ambos os lados. Atualmente, Portugal ainda sofre os impactos do fim da ditadura e do processo de descolonização e, por outro lado, da entrada para a União Européia.  Este último acontecimento, aliado à facilidade da língua e devido a algumas vantagens concedidas aos PALOP (ex-colónias), tornou o país numa porta de entrada na Europa. Ao mesmo tempo, surgem novas complexidades e ambiguidades quando o africano escolhe radicar-se em Portugal, situações de racismo e xenofobia, que espelham ainda bastantes resistências à integração destas comunidades e à aceitação da ambivalência identitária entre portugueses e africanos. Estas parecem ser contradições próprias do contexto pós-colonial em que o conflito convive com a curiosidade e a indiferença convive com o fascínio. Obviamente, grande parte as correlações entre Portugal e as “Áfricas”, no passado e na contemporaneidade, vão estar refletidas no corpo que dança.

Neste ponto, antes de mais, é interessante aqui apontar algumas recorrências que identificámos ao longo da pesquisa: observou-se uma tendência para generalizações e estereótipos em torno do conceito de “África” (tratada como uma unidade, como se fosse um país, ou como a terra mítica, selvagem, monolítica e “quente”). Igualmente, o conceito de “danças africanas” aparece muito mais vezes no singular (como se houvesse uma única dança africana), e frequentemente associado a danças de tribo, atléticas, explosivas.

 

Danças africanas em Portugal a partir dos anos 90

A proposta é objetivar as danças deste estudo, não através de “definições universalizantes”, mas sim a partir dos próprios casos acompanhados. Diante da questão de existirem diversas danças africanas presentes em Portugal, sabemos que não seria possível fazer um recorte territorial objetivo, em termos da proveniência dessas danças. Mas, ainda que as diversas proveniências impeçam um recorte espacial mais delimitado, podemos dizer, em traços gerais, que são danças oriundas de diferentes grupos sociais, essencialmente da costa oeste africana (com exceção de Angola, que fica um pouco mais ao sul, mas que também teve uma experiência colonial portuguesa). É conhecida em Portugal como “Dança africana” ou “Dança tribal africana”, e tornou-se mais divulgada na década de 90, com o fim do regime colonial (finais dos anos 70), aquando vários africanos ou portugueses residentes nas ex-colónias se fixaram em Portugal. Tem se desenvolvido assim um interesse crescente por estas culturas, e, com isso, o aparecimento de grupos de músicas e danças africanas. Este fenómeno cresceu na maior parte nas cidades de Lisboa e Porto sendo constituído essencialmente por indivíduos de diferentes idades, sexos, contextos socioeconómicos, na sua maioria, portugueses, existindo também africanos ou luso-africanos, que nasceram e sempre viveram no país, mas que cresceram influenciados por duas ou mais culturas.

Os grupos e profissionais selecionados por este estudo foram aqueles que atenderam aos critérios pré-estabelecidos. Existem, porém, outros grupos atualmente em atividade ou por alguma razão entretanto extintos que nos dão uma maior noção do conjunto: Batoto Yetu, Djamboonda, Companhia Kouami, Allatantou Dance Company, Madandza, Djembaladança. Igualmente, no cenário português atual, existem mais professores do que há uma década atrás. Por exemplo, na zona sul temos Petchu (Angola), Mafalda Albuquerque (Portugal), Arantxa Joseph (Portugal/Espanha/Inglaterra), Claudina Correia (Cabo Verde), Marisa Paulo (Angola), entre outros. Já no norte, podemos referir Eva Azevedo (Portugal), Joana Peres (Portugal), Isa Santos (Portugal). É importante dizer que frequentemente o que acontece é que, tanto a nível artístico (na considerada dança cénica), como a nível pedagógico (dança no contexto da sala de aula), mesmo que se denominem de “danças africanas”, muitas vezes, pela própria necessidade de adaptação a um novo contexto cultural e geográfico, já são um género de releitura. Assumindo ou não, o que é certo é que cada profissional ou grupo enunciado têm propostas, lógicas e âmbitos de trabalho particulares.

Vale a pena também destacar que temos conhecimento de outros coreógrafos e projetos que trabalham de um jeito diferenciado com culturas africanas, como António Tavares, Clara Andermatt (no contexto do extinto projeto “Dançar o que é Nosso”), Filipa Francisco e as Wonderfull’s Kova M (jovens no Bairro da Cova da Moura, Lisboa), ou o Projeto Mus-é, que propoêm a interação dos artistas com a escola e, a partir daí, criam ligações a diferentes comunidades culturais. No entanto, não é do âmbito desta investigação cobrir esta realidade.

 

Práticas artísticas e pedagógicas: a pesquisa de campo

Aula de Eva Azevedo. Foto Hugo Lima.Aula de Eva Azevedo. Foto Hugo Lima.

Este estudo aprofundou-se então a partir da pesquisa de campo realizada entre Dezembro de 2009 e Fevereiro de 2010, acompanhando a coreógrafa e professora Eva Azevedo e grupo Semente (Porto), e o coreógrafo e professor Petchu e grupo Kilandukilu (Luanda/ Lisboa). Os sujeitos selecionados teriam que ter uma atividade com mais de três anos no meio das danças africanas em Portugal, bem como uma atuação artística e pedagógica direcionada para adultos, já que tais critérios englobavam um maior número de profissionais desta àrea e estavam mais próximos à experiência profissional da autora do estudo. Inicialmente, existia um universo de três unidades de caso, mas com a extinção da Companhia Kouami, esse número ficou reduzido para duas. Ao nível metodológico, constituiu-se como princípio orientador uma abordagem que não apenas trouxesse o olhar da pesquisadora, mas que abrisse caminho para um discurso polifónico, representativo da diversidade de situações que esta realidade abarca. Recorrendo à metodologia de estudo de caso múltiplo (Yin, 2005) escolhemos assim duas unidades de caso dentro do meio das danças africanas em Portugal, estudando-as nos seus contextos. Nesse âmbito, utilizámos como técnicas de pesquisa a observação participante de aulas, a realização de entrevistas não-estruturadas e a observação de ensaios e espetáculos.

Para além dos profissionais e grupos selecionados serem de diferentes contextos socioeconómicos e geográficos, ressalta-se o fato de serem provenientes de duas cidades bem distintas, Lisboa e Porto. Lisboa é a capital do país, uma cidade que já tem uma história de fluxos migratórios Portugal-África desde o século XV, em que, ainda mais com a crescente globalização, a comunidade africana é maior que em qualquer ponto do país (Gusmão, 2005). Estas populações, muitas delas, já têm os seus espaços físicos, sociais, hábitos inseridos nos ritmos da cidade. Devido à comunidade africana em Lisboa ser significativa, existem certos comportamentos, valores, hábitos sociais que são considerados normais e não são tão novos e estranhos aos olhos do lisboeta, ao ponto de propiciar uma interação e considerá-los até componentes da estrutura e da segmentação da própria cidade. Já o Porto é uma cidade diferente em termos de diversidade cultural, havendo ainda uma convivência não tão acentuada com etnias, línguas, manifestações diferentes (Luvumba, 1997). Isso tem mudado muito recentemente, mas ainda assim a influência cultural africana ainda é referida, inclusive pelos sujeitos desta pesquisa, como algo “novo”. É importante por isso deixar claro que as formas pelas quais as culturas africanas se colocam são diferentes nos contextos e populações das duas cidades estudadas.

Com o intuito de estudar as práticas pedagógicas assistimos, em cada grupo, a quatro aulas (sendo a primeira participada e as restantes observadas) e entrevistamos o professor e dois alunos (selecionamos os alunos mais envolvidos com as aulas). A intenção de acompanhar as práticas pedagógicas, não foi com o objetivo de fazer uma análise da metodologia dos professores, mas sim de observar de que forma este conhecimento está sendo multiplicado, entendendo os professores como formadores de opinião. Para seguir de perto as práticas artísticas, assistimos a dois ensaios do grupo, assim como ao espetáculo ao vivo, o registro da obra e entrevistamos, ainda, dois membros dos grupos. Este caleidoscópio que se tornou o momento de coleta de material tentou captar informações e significados através de diversas técnicas de recolha de informação, gerando, dessa forma, múltiplos dados. Passamos a apresentar brevemente as características e linhas de trabalho de cada professor e seus grupos artísticos.

Eva Azevedo é portuguesa, tem 37 anos, e a sua formação nas danças africanas inicia em 2002, estudando com a maioria dos mestres, professores e companhias que estiveram ou residem em Portugal, realizando também, desde 2006, estágios intensivos em países como Guiné Conacri, Senegal e Burkina Faso.  O seu trabalho pedagógico foca-se em elementos de danças africanas tradicionais provenientes de vários países de África, porém através de uma apropriação e releitura dessas influências. Como forma de se adequar aos corpos, ritmo e perfil do seu público, esta professora desenvolve uma série de adaptações metodológicas, por exemplo, a introdução de técnicas complementares (Pilates, Yoga), a decomposição da informação, ou a utilização de exercícios “educativos”. Igualmente na sua aula está muito forte um cariz terapêutico, de catarse, reforçados pela música ao vivo, por uma vivência de comunidade e por uma “ligação ao divino” (Azevedo, 2010)[1] que esta professora busca reforçar. Observamos que existe uma preocupação de que a sua linha de trabalho seja perceptível e em diálogo com o seu público, o que neste contexto poderia ser visto, recorrendo ao conceito de Bhabha (1998), como uma forma de “tradução cultural”. Ao mesmo tempo, o papel de Eva Azevedo como tradutora parece ser parcial, já que parte de um somatório de diferentes influências tradicionais “remisturadas”. Onde essa tradução parece estar mais presente é na pedagogização e nas adaptações metodológicas que desenvolve para que os corpos ocidentais consigam dançar estas danças de modo mais “orgânico”.

Eva Azevedo foi uma das fundadoras do grupo Semente, que existe na cidade do Porto desde 2005. O trabalho deste grupo parte do cruzamento de elementos tradicionais africanos, caribenhos e brasileiros com o que o próprio grupo define de “influências contemporâneas”. Observamos como características gerais dos Semente uma importância muito grande dada aos elementos visuais (figurino, adereços e luzes), à relação entre música e dança, e à dramaturgia. Simultaneamente, desde o início da sua formação, o grupo tem uma dinâmica de criação coletiva assente em contatos interculturais (através dos mestres africanos que influenciaram na criação do grupo, das viagens a outros países, e de membros do grupo que são estrangeiros).

Espetáculo do grupo Semente. Foto Hugo Lima.Espetáculo do grupo Semente. Foto Hugo Lima.

A sua linha de trabalho se inscreve naquilo que os seus membros definem de “fusão”, onde estruturas e marcas culturais “africanas” surgem re-significadas e misturadas com outras influências. “Fusão” aparece para o grupo no sentido de “mistura”, porém, na verdade, evidencia mais uma lógica de somatório, do que uma mistura em que se deixam de identificar os contornos de cada parte. Surgem assim em realce as dinâmicas interculturais que estas práticas têm vindo a criar, por relacionarem e re-interpretarem diferentes culturas:

Acho que este projeto se relaciona com Portugal (…), um pouco do estilo daquilo que vivemos cá e dos desejos de cada membro de conhecer novas culturas e das viagens para África, Brasil, Índia… Tentamos criar “uns” Semente da globalização que se faz sentir hoje, das coisas estarem todas interligadas… independentemente de viveres na China, se tiveres vontade de fazer fado, acho que ninguém pode te impedir (Bilan, 2010) [2].

Já Petchu, angolano com 47 anos, começa a sua história com as danças africanas desde criança. Em Angola, tem a sua formação com diversos professores cubanos, brasileiros e angolanos, e com 20 anos, assume a direção artística do grupo Kilandukilu. Em 1997, vai morar para Portugal e aí começa dando aulas de danças provenientes de Angola, com informações também danças de Cabo Verde, da África do Sul, do Senegal. É um professor que em sala de aula consegue criar um ambiente de descontração, bem-estar e igualdade. A sua principal estratégia de ensino é o humor, chegando mesmo a afirmar que tem um alter-ego, um animador de dança africana que passa uma mensagem de “carpe diem”.

Aula de Petchu. Foto de divulgação.Aula de Petchu. Foto de divulgação.Sobre a sua linha de trabalho, Petchu afirma que  faz uma “ginástica tipo africano” (Petchu, 2010)[3], trazendo uma abordagem fitness destas danças. Ao mesmo tempo, ele está consciente que as suas aulas funcionam também como uma espécie de terapia, no sentido de uma “libertação espiritual” (Petchu, 2010)[4], de um senso de coletivo ou do restabelecimento de rituais. Este aspecto foi reforçado por alguns filhos de emigrantes africanos ao referirem que estas aulas têm funcionado como uma espécie de redescoberta de África. Poderíamos dizer que o seu trabalho parte também de uma releitura, já que Petchu tira a dança do seu contexto e a recontextualiza, embora algumas vezes a partir de alguns estereótipos daquilo que o português espera do “africano”.

A mesma situação parece passar-se com o grupo de dança e música tradicional Kilandukilu. Este grupo foi fundado em Angola (Luanda) em 1984, e, a partir de 1997 surge outro flanco em Portugal (Lisboa). O grupo afirma que passa uma mensagem de “preservação” das tradições, assumindo-se como “difusores da cultura” que “resgatam” a cultura para trazê-la para o cotidiano português. Igualmente, as representações e experiências de “África” que este grupo veicula têm vindo a aproximar alguns integrantes da sua identidade cultural africana:

Kilandukilu serve para mim enquanto fonte, se eu reparar na pessoa que eu era antes de entrar no Kilandukilu, é uma diferença brutal. Eu assumi muito mais o meu lado afro, que sempre esteve presente, mas nós crescemos cá, ficamos ali naquela corda do “Sou europeu, estou aqui em Portugal, mas também sou negro e isso não se esconde, né?”… Mas pronto, eu acho que é como se fosse aqui uma escola em que nós vamos colher a cultura, muitas coisas que aprendi, de onde é que vim, então é uma fonte de informação Kilandukilu, ajuda-nos a aproximar daquilo que é nosso, e que nós nem tivemos oportunidade às vezes de conhecer (Carvalho, 2010)[5].

No revés da moeda, trabalhando nesse sentido, o trabalho do grupo também parece por vezes multiplicar visões estereotipadas sobre as culturas africanas (de alegria, selvajaria, sensualidade), se aproximando de um olhar etnocêntrico e exotizado dos portugueses sobre os africanos, ou dos africanos sobre os africanos, sob a capa de uma “preservação do original”.

Espetáculo do grupo Kilandukilu. Foto de divulgação.Espetáculo do grupo Kilandukilu. Foto de divulgação.

Através do acompanhamento destes profissionais podemos confirmar que a popularidade crescente das danças africanas no espaço português e inerentes questões sobre colonialismo e pós-colonialismo trazem consigo dinâmicas interculturais que modificam o quotidiano, o corpo e o mundo dos indivíduos envolvidos nessas trocas.

 

No próximo segmento, entramos mais a fundo em alguns dos questionamentos decorrentes desta investigação.

 


[1] Dados coletados na pesquisa de campo no período de 28.01.2010 a 09.02.2010

[2] Dados coletados na pesquisa de campo no período de 28.01.2010 a 09.02.2010

[3] Dados coletados na pesquisa de campo no período de 28.01.2010 a 09.02.2010

[4] Dados coletados na pesquisa de campo no período de 28.01.2010 a 09.02.2010

[5] Dados coletados na pesquisa de campo no período de 28.01.2010 a 09.02.2010

por Teresa Fabião
Palcos | 20 Novembro 2015 | dança, Danças africanas, interculturalidade