Antes do Fim

Encontrei um livro escrito em inglês num canto esquecido do riad. Tinha as folhas secas, inchadas. Dizia, mais ao menos, assim:

Saïd, sentado num cadeirão instalado no quarto andar da sua mansão em Imlil, recordava os seus dias iniciais na cidade que o atraíra, afastara e enriquecera, Marraquexe. Quando chegou à cidade com cara de improviso descobriu a descontração louca com que os motards adolescentes desfiavam as ruas labirínticas que fizeram desaparecer a sua infância, num rasto com cheiro a todo o tipo de insuficiências e também a menta. Essa erva que acalma, desperta, serena e excita o povo num cerimonial que invade a cidade rouge. O jovem que partira das montanhas do Atlas para um bairro de lata de Marraquexe lembrava-se da forma como os homens maltratavam os burros e isso impressionou-o. Mais um homem, mais um burro, mais uma pequena injustiça a somar no mundo, pensava.

Nas montanhas, que serviam de saia para esconder os problemas das cidades e dos campos dos olhares vizinhos, vindos da Argélia, vivia a família Benachour, perto de cactos e camelos. A longa cordilheira do Atlas era o esqueleto do país que acolhera a pobreza de Saïd. Aí crescera com invernos de cinco graus negativos, que pintavam de branco toda uma região, que depois da neve derretida distribuía água para refrescar verões e abastecer a agricultura do país. O rapaz nascido em Imlil percorria as ruas de Marraquexe, transformadas em forno, com claros objectivos financeiros. Começara por aprender a soletrar a palavra sobrevivência em pequeno. Quando chegou à cidade falava apenas árabe, não sabia nenhum dos três idiomas que os marroquinos usavam para chegar ao outro. Espanhol, francês, inglês. Zero. Falava apenas árabe, através daqueles sons arrastados desde a garganta, com os erres carregados. Mais tarde, licenciou-se na universidade das necessidades e aprendeu todas as outras línguas necessárias para ganhar dinheiro. 

Sentado junto ao corpo lânguido da mãe, que pedia esmola com as mãos escondidas por luvas, os olhos escondidos por desespero, passava semanas com a pele intocada por água. Observava como os estrangeiros ignoravam os miúdos andrajosos, sentados, como ele, na fila de potenciais talentos desperdiçados. Todos os miúdos prontos a dividir com os pombos as migalhas dos bolos de amêndoa e mel que os turistas esqueciam nos pratos. Olhava para esses miúdos, que pulavam e sacodiam a miséria com gargalhadas, e questionava-se onde estariam os seus pais. Depois, olhava para as mães e imaginava os partos daqueles miúdos que não brincavam com ele. Os lenços à volta das cabeças femininas protegiam do sol, mas não da miséria e de toda aquela poeira levantada do chão que insistia em queimar os estômagos áridos. Dentro das casas, um sul oriental entrincheirado nas pequenas conversas com que as mulheres vizinhas ocupavam os seus dias, enquanto amassavam com os nós dos dedos a farinha e a água que resultava em msemmens deliciosos. Salgar as bocas castas, as bocas gastas por tantos quilómetros a rodopiar vidas, maledicências e segredos alheios. Um pão cortado em cima da mesa e cada fatia servida com palavras ácidas: Mãe solteira boa coisa não terá feito. À volta do corpo de todas as mulheres um tecido, que já fora símbolo de resistência ou instrumento para lutas, agora servia para esconder nódoas. As manchas da violência e da violação, numa tentativa pueril para proteger a brutalidade masculina. Marraquexe, cidade dos homens. Construída para os homens decidirem, para os homens trabalharem, para os homens ganharem. E as mães, as mulheres solteiras e sem homens adultos por perto, perdidas. A mãe de Saïd percebeu que tinha de abandonar aquela indigna cidade antes du uma tragédia final anunciada e voltou às montanhas, menos duas mãos para pedir moedas, pensou Saïd que media a qualidade dos seus dias pela quantidade de moedas. Dias curtos para uma infância adulta, lembrava o homem agora velho. No fundo, Marraquexe não pertencia a ninguém. Indomável para pássaros, turistas presos no mito do mundo oriental ou para a gente vinda de outras cidades. Um grande movimento colectivo, uma massa lêveda a fermentar lenta num movimento líquido, tal como se podia vislumbrar desde os terraços dessa massa-mãe chamada praça Jemaa el-fna.

Com apenas quinze anos, Saïd já tinha feito um pouco de tudo nessa praça: vender sumos de fruta , frasquinhos de óleo de argão; atrair clientes para as bancas que vendiam cabeças de cabra cozidas ao vapor; amestrar macacos e serpentes; mestre das rodas de jogos tradicionais marroquinos; vendedor de loiças ou artista de mais um desses espectáculos que enchiam a praça de fumos e rubores com caras vindas dos quatro cantos do mundo. Num CV europeu o rapaz seria o que se designa por colaborador multifacetado. A Jemaa el-fna ronronava num ruído que se espalhava por todos os seus cantos. Um som que hipnotizava os distraídos, ali pela escuridão onde se perdiam horas, minutos, moedas. Os corpos suados a dançar incessantes perante os candeeiros de vidro com tantas cores a alumiar olhares. Nas esplanadas, homens abriam folhas de jornal com tamanho de grandes portadas e desapareciam num mergulho dentro de caracteres árabes. Madrugada adentro, Saïd abandonava a praça, transformada num deserto de pedra, onde já não se avistavam dunas luminosas, e relembrava o seu passado. A metamorfose daquele espaço permitia recordar o silêncio das montanhas onde nascera.

Todos os dias às seis e tal da manhã, saía da barraca, junto às muralhas, onde era impossível ignorar a argamassa de dejectos humanos e animais que se envolviam com uma nuvem cinzenta soprada por milhares de veículos motorizados. A essa hora o seu vizinho, Mustafa, já tinha cumprido a reza matinal. Mustafa fazia a higiene na parte exterior da sua barraca. Com um pequeno balde lavava a boca, a cara, as mãos, o mesmo homem que mascava ervas, beijava moedas e levantava a cabeça para olhar o céu e agradecer a Alá. O mesmo homem que vivia rodeado de cães africanos rafeiros que ninguém passeava, perdidos nas ruelas à cata de um osso o dia inteiro. Quando o sol se recolhia, na rua das barracas de Saïd e Mustafa, e os quarenta e muito graus e zero por cento de humidade davam um descanso, o velho explicava ao jovem as diferenças para os ocidentais. Tal como o camaleão que muda de cor para se adaptar a qualquer espaço mas volta sempre a ser verde, o homem também regressava sempre às suas origens, dizia-lhe. Afinal, como poderiam entender-se duas culturas que acreditavam em deuses diferentes, escreviam em direções opostas e olhavam para a mulher e para o animal com outros olhos, Saïd? O rapaz meneava a cabeça enquanto não adormecia e Mustafa a fumar e a beber ervas, sorrindo com três dentes, costumava ser a última imagem que via antes de adormecer pela escuridão. O som do marroquino de quarenta e tal anos a escarrar para o chão funcionava como despertador para Saïd. Velho observador das andorinhas, passava os dias naquela rua cheia de corpos sem tecto, sem obrigações, sem dinheiro. Por ali, olhos serenos cruzavam-se e acabavam por ser também eles observados. Esses olhos todos sem regras, ao final do dia, alinhavam-se numa concordância: estamos atentos a qualquer movimento estranho dentro destas esquinas e becos cheios de lixo e gente.

Saïd, em cima do seu burro em direcção à medina, deixava para trás os odores a legumes e carne de frango cozidos. Durante o percurso, ouvia as canções dos pássaros e das galinhas, era bafejado por carros fumarentos, sentia flores macias a perfumar o seu nariz escuro e via as casas pintadas de laranja com sardinheiras penduradas nas janelas de ferro. Atravessava Menara, os jardins e o grande lago, os campos castanhos que se espalhavam até chegar a tocar a carapaça nervosa da cidade. Ovos, mel, amêndoas e o cheiro a pão vindo da fábrica entalada entre a loja de telemóveis e uma farmácia. Depois de umas fatias de batbout dentro do estômago, Saïd encostava-se à esquina daqueles odores farinhentos e, a contar sementes de sêmola com a ponta dos dedos, traçava cenários com a cabeça para fugir ao destino, conseguir retirar o prefixo sobre da palavra viver talvez fosse a sua maior ambição. Para o conseguir não podia travar, nem haver tropeços, qualquer criança no seu lugar, ao mínimo desvio, encontraria um beco para sonhos futuros.

Mais tarde, como adolescente imitando adultos ignorava as mulheres parecidas com a sua mãe, fechadas em sacos de pano escuro dos pés à cabeca, apenas com os pequenos olhos muito escuros e potentes à vista, e aprendera a olhar as mulheres estrangeiras com calções e decotes, caminhos para descobrir carnes ocultas aos olhos muçulmanos. Aprendera a adivinhar a geografia daqueles corpos e depois gritava as suas capitais, pratos típicos ou nomes de famosos. 

Turistas, gente despreparada para o calor, demasiado vermelha e cerebral, treinada para o medo de encontrar-se entre cheiros, animais, humanos e imprevistos numa curva veloz. Saïd anotava os seus modos exóticos. O pudor com que se moviam pelas estradas salpicadas por poças de escarros, como tropeçavam pelos gatos e garrafas de plástico que se acumulavam no chão da cidade. Mais habituados a estar à frente de um ecrã, em Marraquexe pediam água engarrafada, criticavam a falta de higiene, esforçavam-se por ignorar a fome e miséria e financiavam com moeda estrangeira a vida simples de Saïd e de outros comerciantes que insistiam em permanecer longas horas nos souks.  

Para Saïd os souks eram locais estreitos, que começavam a bocejar a meio da manhã, onde testava a resiliência, onde negociava até ao limite e onde os tectos de farripas de madeira serviam para desnortear estrangeiros que não usassem google maps. Por aí não havia preços afixados, nem era necessária tal burocracia desconfiada, bastavam sorrisos e conversas. Chá e afectos. Repetiam-se os produtos, as vozes e os cheiros. A repetição também dos dias e a eficiência turístico-económica até tinha feito desaparecer os contadores de estórias e os dactilógrafos desses mercados. Já não eram necessários. Agora servia-se café em cápsulas e chá em saquetas industriais. O progresso tinha chegado até ali e os turistas sentiam-se bem com isso, mais perto de casa. Sem paciência para negociar, cansados do jogo do gato e do rato, do comprador e do vendedor, dessa táctica que molda a cultura de um país, a esses turistas vendia-lhes o pior, mas sempre com a cordialidade mentirosa, conveniente para perpetuar o mito da simpatia marroquina. Uma batalha em forma de diálogo: especulação, silêncios, (des)confiança. Os turistas até achavam pitoresca toda aquela forma arcaica de funcionar de uma economia artesanal com gestos largos e encenados. Talvez a fantasia da simpatia fosse o único souvenir que os turistas pudessem levar consigo para norte e depois expor em casa, para prolongar os dias com pouca luz.

Saïd mapeava o centro da cidade, transformado num embrulho postal para os turistas, e encaminhava-os até aos jardins de pedra azul índigo. Ficava horas a olhar para esse azul escolhido por Yves Saint Laurent para esticar os dias de Marraquexe. O jovem marroquino não conseguia entender como aquela cidade, de onde ele queria fugir, como o sortudo abandona o casino depois de uma rodada de sorte, podia ter seduzido o criador francês. Também tinha dificuldades em entender os turistas que ali chegavam por engano. Afinal não queriam os tajines, os cheiros, não queriam conhecer as pessoas de pele mais escura, nem compreender o seu passado ou costumes; os ocidentais traziam dinheiro e surpreendiam-se quando Saïd lhes devolvia o que tinham deixado esquecido. Por vezes, perdiam nos passeios: um chapéu de criança, uma nota de cem dirhams, um abraço, uma palavra. Sem entenderem muito bem aquele povo de origem berbere, agradeciam e preferiam ignorar o ponto de partida que desnivelou tudo isto: o colonialismo, as ocupações, as humilhações. Saïd e os colegas costumavam referir-se a eles em árabe como estrangeirada.

Depois de alguns anos a trabalhar, Saïd conseguira comprar uma mota para transportar vegetais e sardinhas até às mulheres que improvisavam bancas de mercado dentro do bairro judeu. Com a motorizada acelerava até ao cruzamento entre Mellah e a praça de Ferblantiers e descarregava mercadorias nas traseiras dos restaurantes onde não se encontrava um único judeu. Os turistas, dispostos a pagar por uma refeição o valor que um marroquino recebia no último dia do mês, procuravam até ao fundo da ementa por porco e álcool sem sucesso. Saïd fazia estas entregas nas zonas dos homens, das mulheres, dos cristãos, das mesquitas e das sinagogas, dos supermercados na cidade nova. Com a mota ganhou dinheiro e tempo suficientes para aprender a gramática da agressividade que desenhava o trânsito na cidade. Uma fúria pelo alcatrão hostil. Homens dentro de máquinas como loucos, olhos revirados por pequenas explosões: primeiro a buzina, depois os palavrões, a seguir os gestos, por fim saíam dos veículos e concretizavam a disputa corpo a corpo. Perseguições, cabeçadas e, por vezes, sangue no asfalto. Nesse trânsito labiríntico que quase mata, aprendeu a olhar a autoridade. Como a polícia em cada esquina ignorava os traços contínuos, as passadeiras, as motas em sentido proibido e como a polícia abandonava a sombra logo que surgia um autocarro turístico. Uma oportunidade gorda, uma portagem aceite entre todos a bem do funcionamento social. 

Saïd, ao contrário de outros homens, não se quisera ocidentalizar, nem sequer pretendia o dinheiro necessário para contar garrafas castanhas de Casablanca, líquido proibido para a moral e para a carteira local. Ao invés, aproveitava os finais de tarde para caminhar ao lado de Amina, mulher de boas famílias islâmicas. Um corpo jovem, uma mentalidade de quarenta anos. Ela sabia qual o lugar da mulher. Não era nas ruas, nas esplanadas, o seu lugar não era a liberdade. Livre de se mover, de decidir, livre para falar. Não, não, não. A mulher como um vulto negro preso a um silêncio, a uma invisibilidade anónima que obedecia às palavras: Eu sou homem, marido e mando. Tu obedeces! Amina era solteira mas já compreendia tudo isso. Não podia trabalhar em certos sítios, mas poderia tatuar mãos femininas; não podia mostrar o corpo, mas poderia receber turistas nos riads e também outros cargos como as funções que desempenhava no hammam da família. Sem recursos suficientes para apenas sobrevoar os terraços dos riads e contemplar as cabeças verdes e espessas dos jardins orientais da cidade trabalhava num desses templos da. Amina não tinha poder em casa, na rua ou no seu próprio corpo, mas recuperava poder na forma como administrava o prazer e a dor nos corpos masculinos e das turistas femininas. Dentro das salas escuras do hammam ela podia dizer, Aqui sou eu que dito as regras e te torno bebé. 

A sociedade organizava-se assim e Saïd e Amina aceitavam. Papéis definidos, gavetas bem arrumadas. Enquanto ela raspava e amassava os corpos com as mãos em forma de malga ficcionava sobre a vida dos seus clientes. Se tivessem nós nas omoplatas eram comerciantes, dos que atropelam frases com números até encontrarem a quantia necessária para os inquietar; se tivessem os pés desgastados como a casca de uma laranja seca eram guias, dos que percorrem a almedina com turistas largando-os nos sítios certos, lugares onde havia direito a comissão; se fizessem um esgar de dor ao massajar a barriga eram chefes de algum tipo de empresas. Amina sabia como os patrões eram a figura respeitada da cidade. Davam ordens, cuspiam ameaças, bradavam despedimentos e explodiam na cara dos mais fracos. 

Saïd admirava Amina. Uma mulher bonita e pura, mas o que ele não podia adivinhar era a forma como a jovem massajava zonas proibidas dos corpos masculinos, como se deitava por cima desses mesmos corpos e depois os encostava à parede oferecendo um prazer de veludo.

Saïd olhava para trás e reconhecia a importância do francês na sua vida. Monsieur Monpassant tinha apostado nele. O único homem da família Benachour a sair das montanhas era filho de uma mãe demasiado atarefada com a sobrevivência para sequer problematizar acerca da ocupação francesa, dos colonos e colonizadores. Ensinara-lhe apenas a sorrir, como aproximação longínqua, e a decorar a palavra Inveja, Vão criticar-te se tiveres dinheiro, mulher e filhos e vão criticar-te se não tiveres dinheiro, mulher e filhos. Ele também não tivera tempo para aprender nada na sala de aulas, e por isso memorizara conselhos aleatórios de pessoas que lhe permitiram acumular uma fortuna, casar-se com Amina e ser pai. Ensinamentos como: o nosso país foi obrigado a empunhar demasiados anos a bandeira francesa por isso agora não devemos ter problema de viver da carteira abastada dos franceses ou será que o sangue e as torturas dos nossos antepassados não serviram para nada?

Conheceu o herdeiro de aristocratas na galeria onde vendia quadros e fotografias da vida na almedina. Imagens estáticas, tentativas falhadas de captar a dança das motas, dos sons e dos cheiros que pairavam borbulhantes dentro da área amuralhada de Marraquexe. Saïd sabia que essas imagens eram uma asneira para a verdade mas vendia-as ao francês. Ele colocara o seu conhecimento sobre a cidade ao dispor do senhor Monpassant, depois tentava aprender os gestos e as palavras do homem vindo do hemisfério norte que o tratava como um ser inferior. Podia, se quisesse, lembrar-se da imagem do francês a cuspir-lhe para os dedos dos pés escuros ou das suas palavras, Isto é tipíco destes escurinhos com alma de bárbaros, e por vezes o francês ainda atirava, Mas o Saïd é sério, não é um desses selvagens que por aí andam. Aprendera a baixar os olhos, a sorrir e a aguardar que as palavras se sentassem para depois desaparecerem da cabeça. São só palavras, habibi, explicara-lhe a desaparecida mãe Fatima. Não são as palavras que nos alimentam como o pão, o tomate e as azeitonas que tombam na sombra das oliveiras, mas deixam a memória a arder longos anos. Saïd acabara por beneficiar dos conselhos maternais e da lealdade devotada ao milionário francês que não conseguia olhar de frente. Um colono que se tornasse invisível, tal como antes um bom soldado, só podia acabar por ser recompensado num país que acreditava já não ser colónia de mais ninguém, pois já não precisava desfraldar a bandeira francesa. Não estamos a falar no tempo dos cavalos, chicotes, das armas, dos trabalhos à jorna, à dúzia de dirhams, ou estamos?

Agora distante da cidade caótica, desejava voltar a ser aquela criança que descobria as ruas sem o peso às costas da família, da propriedade, das responsabilidades. Atingira muito mais do que houvera sonhado, o bom soldado, mas ambicionava a simplicidade dos inícios. Com o rosto envelhecido por milhares de horas de trabalho, Saïd, antes do fim, olhava pela janela um dia tão claro que se poderia ver qualquer pormenor nas montanhas do Atlas, até o gelo que ainda não tinha derretido.

por Francisco Mouta Rúbio
Mukanda | 17 Maio 2023 | conto, Marraquexe