A Materialidade das Migrações
(fotografias de Yassmin do Rosario Forte)
Esta exposição dos artistas visuais Su-Ran Sichling (Alemanha) e Jorge Dias (Moçambique) apresentada no Museu Nacional de Arte em Maputo integra-se no processo de enriquecimento cultural de todos nós, como criadores e/ou apropriadores, e é uma contribuição para a interculturalidade das sociedades contemporâneas de que a sociedade moçambicana é parte.
As migrações, pelas mais diversas razões, levaram, ao longo dos séculos, a humanidade a todos os cantos do planeta e estão presentes em todas as sociedades. Hoje, mais do que nunca, são objecto de estudo, de reflexão e de interpretação sobre o seu impacto cultural, social, económico e educacional. À música e às migrações, em particular, tem sido prestada considerável atenção. A publicação Music and Migration, editada por Maria de São José Côrte-Real (2010), é apenas um exemplo. Esta exposição, A Materialidade das Migrações, abre espaço para esse caminho entre nós, lembra-nos as migrações, desafia os conceitos de identidade, cidadania, arte visual, promove a criatividade, o diálogo e a troca de ideias, aborda a complexidade dos processos criativos dos artistas e o papel das histórias pessoais e familiares na produção artística.
Su-Ran Sichling, à conversa com Christiane Mennicke-Schwarz diz que faz arte “a partir do que observa diariamente e a partir do que pode trocar com as outras pessoas através do seu trabalho”, que se “interessa por fenómenos transculturais que desde sempre estiveram presentes na sociedade e chama a atenção para eles”, considera “que todas as coisas influenciam cada um de nós através das fronteiras culturais. Rodeamo-nos de diferentes tipos de coisas oriundas de todo o mundo, trocamos coisas, comunicamos com todo o mundo”. Ao artista Jorge Dias interessam também “as vozes do mundo que lhe chegam em vários idiomas e formatos”, como disse Mia Couto, a sua arte, como escrevi já, explora a relação entre o local e o global, observa a complexidade da sociedade em que vive, selecciona objectos representativos das diversas culturas de Moçambique, experimenta, desconstrói os suportes tradicionais, reinventa os modos de representação da pintura e da escultura. O diálogo entre os dois artistas só pode ser culturalmente enriquecedor.
O Museu Nacional de Arte, o único museu de arte do país, aberto ao público em 1989, ao aceitar receber esta exposição dá visibilidade à arte visual contemporânea, envolvendo artistas nacionais e internacionais conforme a sua área de especialidade. O Museu dá, assim, continuidade ao seu apoio a iniciativas da mesma natureza como foi, por exemplo, a colaboração com o Movimento de Arte Contemporânea de Moçambique (MUVART) desde a sua apresentação pública em 2004, à realização da exposição Campo Experimental da artista Ângela Ferreira em 2024, à colaboração com diversos parceiros locais em várias exposições, uma delas, A Estética dos Anos 90, ainda a decorrer. Esta exposição, A Materialidade das Migrações, é mais um passo nessa direcção, mais um passo no conhecimento do mundo contemporâneo, onde se inclui Moçambique, como um lugar de relações complexas e onde intervêm artistas de múltiplas origens, produto da diáspora e de múltiplos fluxos migratórios.
Alda Costa Curadora da exposição
Maputo, Outubro de 2025











