Meridiano Pacífico

Linha abstracta que atravessa o globo de um polo ao outro, canal onde a energia flui através do corpo, o meridiano cria conexões entre pontos longínquos e, ao mesmo tempo, determina divisões entre hemisférios diferentes. Meridiano significa também, em sentido figurado, transparente, luminoso.


O trabalho mais recente de Eugénia Mussa, reunido na exposição «Meridiano Pacífico»,  explora esta irresolução semântica entre as possibilidades da linha e a qualidade da luz, entre imaginários geográficos e mapas da emoção. Através da apresentação de um conjunto de pinturas que joga com as múltiplas possibilidades libertadas pela tensão entre diferença e repetição, entre abstracção e figuração, «Meridiano Pacífico» propõe uma experiência da cor e da materialidade que adopta a própria incerteza como linha de experimentação.

Assim, enquanto as formas materializadas no papel ou na tela parecem formular a hipótese de uma localização, de um lugar que por vezes se torna paisagem, a liquidez das cores, as suas diferentes tonalidades e texturas heterogéneas geram um movimento subtil que marca a sua recusa em se fixar de modo estável. Enquanto o uso da representação parece sinalizar a adesão a uma presença palpável, exterior à própria imagem, um olhar atento reconhece brinquedos e outros objectos do quotidiano que, com humor, esbatem os limites entre realidade e ficção. São “tigres de papel” que assustam só quem se deixa enganar pela sua aparência.

Marcada por trânsitos entre geografias, linguagens e imaginários diferentes, a obra de Eugénia Mussa configura-se como o resultado de uma prática poliglota que se alimenta de histórias múltiplas — a partir e para além dos desdobramentos mais recentes das histórias da arte abstracta em que o seu trabalho se infiltra de maneira excêntrica. Nesta prática, cada palavra tem pelo menos dois sentidos distintos, e apenas podemos prever a probabilidade de cada um deles ser o mais acertado. Assim, “pacífico”…

 

MERIDIANO PACÍFICO/EUGÉNIA MUSSA//20 JANEIRO 18:30//GALERIA QUADRUM

por Giulia Lamoni
Vou lá visitar | 18 Janeiro 2017 | Eugénia Mussa, luz, Meridiano Pacífico, pintura