Groove's of my soul

Comprometido e Excepcional

Durante alguns anos Emidio Josine (1982) assume que a pintura será o seu meio. No entanto, sente-se cada vez mais limitado nas suas possibilidades de expressão. O tópico escolhido para a tese na Escola Nacional de Artes Visuais, em Maputo, acabará por ser algo completamente diferente: “Kuxa Kanema, Nascimento do Cinema Moçambicano”. Em vários aspectos, isto caracterizará o seu ponto de partida enquanto artista. Em 1975, na independência, Samora Machel, então presidente, de imediato cria uma cinemateca com o intuito de gravar, em imagens em movimento, o progresso do seu país socialista e mostrá-lo ao seu povo. Uma tentativa de manter viva a esperança num futuro melhor. Este comprometimento atrai  Emidio Josine. Além disso, porque se trata de um media baseado no conceito tempo, ele vê no filme uma oportunidade para contar histórias. A sua história.

Nas fotografias, grava o que lhe capta o olhar no ambiente quotidiano. Não é especialmente espectacular, pode pensar-se, mas a forma como ele o faz é excepcional. Primeiro, ele garante que o seu quotidiano está continuamente em mudança. Viaja imenso. Neste sentido, ele é um tradicional nómada Africano. Anteriormente apenas no seu país, mais recentemente, cada vez mais fora de portas. As suas fotografias têm a capacidade de chamar a atenção para os detalhes dos seu meio, fazendo dele mais do que o fotógrafo documentarista. Ele retira fragmentos da realidade que, porque não denunciam de imediato toda a informação, agitam a imaginação do espectador. É como se ele introduzisse um elemento de ficção. Durante um ano, enquanto trabalhava para um jornal Moçambicano, “preenchendo” a última página, deu as imagens por detrás das notícias.

A influência de Ricardo Rangel (1924-2009), grande mestre de fotografia no seu país, pode ser vista no seu trabalho. Partilham o olhar pelo detalhe marcante. Ainda que duvide que ele esteja consciente disto, no seu trabalho, eu também vislumbro semelhanças com elementos de fotógrafos americanos como Robert Frank e W. Eugene Smith, que nos seus trabalhos nos anos cinquenta e sessenta do século passado debruçaram-se em detalhe sobre aspectos incomuns do seu país.

O caminho que  Emidio Josine não é, no entanto, ainda totalmente claro. Penso que continuará a fazer as suas excepcionais fotografias, mas não ficarei surpreendido se daqui a uns anos ele estiver a fazer longas-metragens que estão algures entre o documentário e a ficção (ele escreveu argumentos para filmes no passado). O seu compromisso é a história, ele tem de encontrar forma de a contar. O seu talento multi-facetado significa que isso certamente acontecerá.

Rob Perrée (Amsterdam, December 2011). Tradução de Ana Catarino.