Do lado frio da trincheira

 

As varizes nas colunas das pernas

As varizes nas colunas das minhas pernas
Colunas calcinadas pelo incontrolável tempo
A necrófila hiena, o carnívoro leão,
Morte pelo entupimento das artérias coronárias

O coração é um músculo que bomba sangue; a grande
Maravilha do mundo. O cérebro laguna de átomos,
Genocídio alimento para chacais – Monte de cadáveres
Percorrem a inutilidade dos meus poemas

Sinto as minhas unhas conspurcadas pela terra
Dos coveiros – Saco de podridão lenta,
Soldado morto no ventre putrefacto
De um alazão com ligaduras embebidas em sangue

Carpindo nos olhos de uma gazela inocente,
Meia-noite navega na barca que atravessa o sub-mundo,
Canhões estilhaçando crianças em inocência

O planeta é obsceno, e uma mulher vítima
De sodomia de um batalhão de trogloditas,
Fermenta num laboratório de amarguras

Cérebros em obediência divina
Tirania de abutres encharcados em sangue
Banqueteando a minha poesia em flor

 

 

Como Dervixes sem equilíbrio

Dervixes sem equilíbrio
Bailam na miséria do Mundo,

Saturno louco, come seu filho
Num quadro negro de Góia.

Meninas de batom-rouge,
São putas num paraíso kitsch…

As trinta moedas de Judas
Passando de mão em mão

Liberdade enclausurada
A lua está ferida,
Hienas adornadas com flores,
Crianças morrem de fome em África…

Deus padece de Alzheimer     

 

 

Do lado frio da trincheira

Do lado frio da trincheira contempla a tua obra!
Canta!… Glorifica os teus mortos embrulhados em pús,
Mostra a tua fria cama – cérebros ensopados em silêncio

Átomos em torrentes radioactivas
Crianças deformadas, rostos tingidos em urânio,
Cabeças rapadas num hospital de angústias

Ofídias com unhas de fogo
Gladiadores num alfabeto de mortos…

Bailando no topo da sagrada montanha, um homem
Vomita balas, traja uma capa de vermes – Deus indiferente,
observa a Sua obra-prima – Monos tísicos borrifando sangue,
artérias podres do mundo

África é um tambor encharcado de vírus
Coreografia abominável… tratado de Berlim.
Zebras agonizam nas savanas.

Somos a mesquinha deformação no Universo,
A grande obra do Criador.

 

exposição do arco da velha