Grandma Cane

Dizem “você faz jus ao seu nome”. O nome de alguém é um fator decisivo para o seu percurso e o seu caráter.

O nome dela é Cennet (Paraíso), mas chamam-lhe  “Cane”. Ao longo dos anos, vovó Cane ajudou muitas pessoas. Órfãos, conhecidos ou não… Alimentando e cuidando deles. “Isto não é o tipo de coisa sobre a qual se fala”, ela começava, não exatamente interessada em partilhar pormenores, mas era possível a qualquer um apontar para a sua porta, fosse um viajante ou um estranho que apareceu na cidade.

“Recebia-os e alimentava-os. Preparava-lhes a cama e ouvia o seu sofrimento. Então, podiam partir”, diz vovó Cane.

“Um deles apareceu nu. Andando por aí descalço. Era conhecido por “Louco Hacı”. Uma criança. Costumávamos dormir em tendas fora de casa. Demos-lhe um espacinho. Ele estava dormindo na tenda e estávamos noutro compartimento. Ouvi um ruído e, assim que abri os olhos, percebi que estava rasgando os lençóis. Acordei o meu marido e ele disse: ‘não se preocupe, deve estar na sua cama’. Então eu disse-lhe: ‘não estou assustada, mas todos os lençóis estão estragados e rasgados.’

Aproximamo-nos dele imediatamente. O meu marido perguntou: ‘Hacı, o que estás a fazer?’. ‘Estou costurando, estou costurando’, respondeu. Acho que isso aconteceu porque não estava muito estável. Os lençóis, a roupa de cama… Tudo estava estragado, reduzido a pedaços. Dei-lhe de comer na manhã seguinte. Foi-se embora depois”.

Eu pergunto: “por que faz isso pelas pessoas que não conhece?”. Ela disse: “sabes…”, timidamente, “a minha mãe era igual, querida. Ela cuidou de muitos órfãos, ajudando-os conforme 

Vovó Cane diz muitas vezes: “Tışt Na”. De acordo com ela, isso significa: “Sem problemas. Soltas isso e isso parte, sem problemas. De um jeito ou de outro, está tudo bem. Tudo passa. Sem problemas”. Levanta as mãos para o alto e repete: “Tışt Na, minha querida, Tışt Na”.     

 

por Sinem Taş
Cara a cara | 14 Agosto 2019 | My Kaaba is HUMAN Stories