2024-04-10 | 14h00 | NOVA FCSH, Colégio Almada Negreiros, Campolide (Lisboa) | Sala 208 - Piso 2 | Sala Zoom Entrada livre, presencial e online.
Neste seminário apresentarei o trabalho realizado no projeto Cesária Évora: documentação de percursos e discursos (CISE) que desenvolvi durante o ano de 2023.
Qual o legado de Cesária Évora numa tradição musical cabo-verdiana predominantemente masculina? De que modo a sua ação abriu caminhos para outras mulheres e para outras cantoras?
Estas foram as questões de partida para um projeto de 12 meses que teve como motivação um trajeto de investigação que iniciei em 2006 sobre música cabo-verdiana. Os conhecimentos que fui acumulando ao longo do meu percurso sobre as dinâmicas sociais e géneros musicais levou-me a compreender que a performance de música na diáspora é crucial para a construção de identidades, para a manutenção de laços afetivos e para o diálogo. Por outro lado, quando participei no projeto Skopeofonia (PTDC/CPCMMU/4500/2012), que tinha como principal objetivo mapear musicalmente um bairro cabo-verdiano em Lisboa (Kova M), testemunhei um ecossistema musical vibrante que incluía estúdios de gravação, mobilidade de músicos e, quase sempre, uma referência a Cesária Évora como símbolo feminino de liberdade, sucesso e independência.
CISE é um projeto exploratório que também contribuiu para a sistematização e análise de dados relativos aos percursos e discursos de e sobre Cesária Évora. Uma vez que a produção académica sobre a artista é residual e, ainda, uma vez que os documentos relativos ao seu percurso se encontram dispersos em diferentes países e lugares estabeleci como objetivo a desfragmentação do arquivo e a construção de uma base de dados em acesso aberto que responda às diretivas da política europeia de ciência aberta. Neste seminário partilharei os principais desafios deste processo de criação de uma base de dados no Repositório de Dados de Investigação da Universidade de Aveiro (DUnAs).
Ana Flávia Miguel | Etnomusicóloga e investigadora auxiliar na Universidade de Aveiro. Fez trabalho de campo em Portugal, Cabo Verde, França, Itália, Brasil, Moçambique e África do Sul. Os seus principais domínios de estudo são música cabo-verdiana, música e migração, música e pós-colonialismo, património cultural imaterial, arquivos digitais em música e práticas de investigação partilhada. Participou em diversos projetos de investigação como os projetos Skopeofonia, SOMA, Atlas, Libersound e CISE. Desde março de 2024 é diretora e editora da Revista Transcultural de Música da Sociedad de Etnomusicología (SIBE). É investigadora integrada no Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança e membro da comissão executiva, com o pelouro da internacionalização e cooperação, do Departamento de Comunicação e Artes da Universidade de Aveiro.