Cafuca de Danae Estrela & os Novos Crioulos

O álbum da cantora caboverdiana nasceu “após a redacção quotidiana de pequenas histórias escritas e vividas”, diz a autora cuja voz encanta qualquer ouvinte, de tão doce e melodiosa.
Danae Estrela é um dos nomes emergentes da música lusófona. Nasceu em Cuba, viveu em Cabo Verde (onde está a sua família) mas a Lisboa intercultural é a sua base. Cantando em crioulo e em português com sabor a Brasil, Danae lançou o primeiro álbum, “Condição de Louco”, em 2005. “Cafuca” é o seu segundo trabalho e não vai deixar ninguém indiferente pela originalidade dos instrumentos envolvidos, pela riqueza e diversidade de sons e influências musicais. Danae, ao longo dos últimos anos, foi à procura de sons, imagens, palavras, histórias que conseguiu modular em melodias próprias com as referências mais variadas, desde a bossa-nova à morna à folk song. E um calor muito especial, tendo um tom confessional. Faz da música uma prática aberta que encontra na troca de experiências uma mais-valia para a produção de um trabalho difícil de rotular.
Os músicos ou os «novos crioulos» que a acompanham: Anilo Lopes (guitarra/coros), Raimund Engelhardt (tablas/cimbal/percussão) e Johannes Krieger (trompete), além da própria que toca guitarra além de cantar. Juntos compõem um encontro de músicos de diferentes nacionalidades e com percursos artísticos multifacetados. ouvir aqui

“Apesar de poder ser encaixado dentro da ´world music´, este é mais um disco de fusão e de autor já que, sendo baseado na guitarra e na voz e partindo das raízes tradicionais da música cabo-verdiana, incorpora a herança individual de cada músico - sons, estilos e compassos - e daí o nome de novos crioulos, entrecruzando influências de várias sonoridades”, sublinha.

Como exemplos deste entrecruzar de ritmos, Danae Estrela aponta os músicos que a acompanham neste trabalho – todos a morar e a trabalhar em Portugal - e as influências patentes no resultado final do trabalho.

A este propósito cita o guitarrista cabo-verdiano Danilo Silva (guitarra e coros), o trompetista alemão Johannes Krieger, que costuma acompanhar Tito Paris, e Raimund Engelhardt, músico alemão que viveu 15 anos na Índia para completar estudos de música clássica indiana e aprender tablas com um maestro.

De regresso à Europa, Engelhardt colaborou em projectos de vários estilos musicais (jazz, música contemporânea, renascentista, medieval e new age, entre outros).
Segundo Danae, as vivências e o saber deste músico - que neste disco toca tablas, cimbal e percussão - imprimiram marcas fortes de contemporaneidade a este trabalho.
Todo cantado em crioulo, “Cafuca” – lâmpada que os pescadores acendem em Cabo Verde quando vão ao mar à noite, metáfora para “ponto de luz” - integra oito canções com letras de Danae que contam outras tantas histórias, na maioria relacionadas com situações do quotidiano. As músicas são assinadas em parceria com os outros músicos da banda.
“Mais um dia noite Ângela”, “Cafuca”, “Tchuba cai na mi” - que fala do problema da seca em Cabo Verde numa metáfora da discriminação com que a cantora se deparou em Portugal, são algumas das histórias / canções do disco.
Asa restantes canções são “Bu rosto”, “Ventu”, “Carta Verde”, “Na mínimo na” e “Geada” – na qual Danae recupera o compasso do batuque cabo-verdiano “tocado por mulheres com panos envoltos em sacos plásticos colocados no meio das pernas e que aqui é misturado com sonoridades diferentes”.
Gravado em Portugal e na Alemanha e misturado e masterizado na Alemanha, “Cafuca” é colocado no mercado para a próxima semana através do site da cantora no myspace.

 

13.10.2010 | par martalanca | Danae Estrela