Topografias Imaginárias: cinema ao ar livre e visionamentos comentados sob o tema Lisboa, cidade do Sul

 

SEXTA, 1 SETEMBRO O Descobrimento do Brasilde Humberto Mauro, Brasil, 1937O Caso J., de José Filipe Costa, Portugal/Brasil, 2017

18h00 Arquivo Municipal de Lisboa – Videoteca (Alcântara) (Largo do Calvário, 2)GPS 38.704565, -9.177261
Visionamento comentado de O Descobrimento do Brasil por:José Filipe Costa (cineasta), Eduardo Victorio Morettin (historiador do cinema brasileiro, professor, investiga as relações entre História e Cinema) e Tiago Baptista (historiador do cinema e diretor do ANIM - Arquivo Nacional de Imagem e Movimento)
21h30 Quinta do Alto (Alvalade)GPS 38.762492, -9.135472
Projeção de cinema ao ar livre O Descobrimento do Brasil [60’] + O Caso J. [20’]

Sinopse Encaramos desde logo e de frente uma das questões fundamentais deste programa: a relação entre centro e periferia e entre o “nós” e os “outros” na base da ideia de “capital ibero-americana” (relações que todo o programa desta Lisboa, Capital Ibero-americana de Cultura procura questionar). Seguimos a visão de um brasileiro sobre os portugueses que lhe “descobriram” o país e a visão de um português sobre um caso do Brasil contemporâneo. A uni-los está uma certa conceção do cinema como teatro documental e da cena cinematográfica como lente de aumentar.
21h00 - Autocarro gratuito ida e volta - Largo do Calvário > local da projeção

O Descobrimento do Brasil, de Humberto MauroO Descobrimento do Brasil, de Humberto Mauro
SÁBADO, 2 SETEMBRO Milagre na Terra Morenade Santiago Álvarez, Cuba/Portugal, 1975Outro País, de Sérgio Tréfaut, Portugal, 1999

18h30 Salão de Festas do Vale Fundão (Marvila) (Azinhaga Vale Fundão, 25)GPS 38.747153, -9.105631
Visionamento comentado por:Olivier Hadouchi (programador e investigador, tem trabalhado sobre o “terceiro cinema”), Maria do Carmo Piçarra (jornalista, professora, tem investigado o cinema de propaganda produzido durante o Estado Novo) e Fernando Rosas (historiador)
21h30 Bairro Vale Fundão (Marvila) (Rua João Graça Barreto)GPS 38.746015, -9.107450
Projeção de cinema ao ar livre de Milagre na Terra Morena [21’] + Outro País [70’]
Sinopse O filme de Sérgio Tréfaut segue as viagens que cineastas e fotógrafos fizeram a Portugal durante o 25 de Abril de 1974. Por entre essas viagens está a de Santiago Alvarez, cujo filme, realizado em Lisboa por essa altura, abre a sessão. A projeção é feita num bairro construído e habitado por emigrantes que viajaram para o Sul vindos do Norte de Portugal. No centro da sessão está então a viagem, aquela que a liberdade provocou e permitiu, e estão também as afinidades que os povos da América do Sul sentiram com Portugal nesse momento de ruptura.

18h00 e às 21h00 - Autocarro gratuito ida e volta - Praça da Figueira > local da projeção
DOMINGO, 3 SETEMBRO Zéfiro, de José Álvaro de Morais, Portugal, 1994

18h30 Arquivo Municipal de Lisboa – Videoteca (Alcântara) (Largo do Calvário, 2) GPS 38.704565, -9.177261
Visionamento comentado por:Anabela Moutinho (professora, programadora de cinema) Raquel Henriques da Silva (historiadora) e António Preto (professor, programador de cinema, ensaísta)
21h30 Miradouro de Santo Amaro (Alcântara) (Calçada de Santo Amaro)GPS 38.702150, -9.182686
Projeção de cinema ao ar livre de Zéfiro [52’]
Sinopse Filme fundamental para a história do cinema português, Zéfiro é também um filme incontornável para a história de Lisboa e introduz neste programa uma outra maneira pela qual esta é uma cidade do Sul. Essa frase, título deste ciclo, é dita pelo narrador e resume o retrato que José Álvaro de Morais constrói: organizando uma viagem por Lisboa que é tanto temporal como espacial, o cineasta conta uma história da cidade, dos seus espaços e arquitetura, mas também dos povos que a habitaram ao longo dos tempos. A este nível, Lisboa aparece como resultado de uma inversão do mecanismo da aculturação: ela resulta, não de uma cristianização do islamismo, como habitualmente se pensa, mas sim de uma islamização do cristianismo, religião que permanece, hoje, na base da sua cultura. No adro da Capela de Santo Amaro, o filme levar-nos-á a olhar para os contornos da cidade que daí se vêem de uma maneira totalmente nova.
18h00 e às 21h00 - Autocarro gratuito ida e volta - Praça da Figueira > local da projeção
SEXTA, 8 SETEMBRO La Illusión viaja em tranvia, de Luís Buñuel, México, 1953

18h30 Museu da Carris (Alcântara)(Rua Primeiro de Maio 101)GPS 38.702264, -9.180605
Visionamento comentado por:Luísa Veloso (investigadora, coordena o projeto “o trabalho no ecrã”), Ana Alcântara (historiadora, trabalha sobre Lisboa, o operariado e os transportes) e António Roma Torres (psiquiatra, crítico de cinema)
21h30 Museu da Carris (Alcântara) (Rua Primeiro de Maio 101)GPS 38.702264, -9.180605
Projeção de cinema ao ar livre de La Illusión viaja em tranvia [90’]
Sinopse Clássico do cinema mexicano, o filme segue a evasão de um grupo de trabalhadores da companhia de elétricos da Cidade do México. A sua viagem dura uma noite, desde que roubam um elétrico até que o devolvem, na manhã seguinte. Ao longo dessa noite, entram e saem do elétrico roubado personagens do quotidiano mais escondido da cidade. Numa sessão que decorrerá junto às oficinas da Carris, a magia da projeção transformará a Cidade do México em Lisboa (ou vice-versa).
18h00 e às 21h00 - Autocarro gratuito ida e volta - Praça da Figueira > local da projeção
SÁBADO, 9 SETEMBRO Los barcosde Dominga Sotomayor, Chile/Portugal, 2016Fuera de cuadro, de Márcio Laranjeira, Portugal/Argentina, 2010Mauro em Caiena, de Leonardo Mouramateus, Brasil, 2012Où esta la jungle?, de Iván Castiñeiras Gallego, França/Portugal/Brasil, 2015
17h30 Teatro de Carnide (Azinhaga das Freiras)GPS 38.762321, -9.187023
Visionamento comentado pelos realizadores e Álvaro Domingues (geógrafo, professor, o seu trabalho centra-se na Geografia Humana) e Teresa Castro (professora, tem investigado as relações entre cartografia e cinema).
21h00 Azinhaga do Serrado (Carnide)GPS 38.763144,-9.185550
Projeção de cinema ao ar livre de Los barcos [24’], Fuera de cuadro [10’], Mauro em Caiena [18’] e Où esta la jungle [33’]
Sinopse No centro da sessão está o encontro entre questões de território e representação. Em Los barcos, a visão de uma turista (atriz argentina que vem a Lisboa apresentar um filme, num festival de cinema) sobre Lisboa, à procura do cliché em espaços imprevistos e periféricos. Em Fuera de cuadro, a relação entre mãe e filho é descrita através dos quadros que ela pinta e dos quais ele está fora, naquilo que acaba por ser um exercício que confunde o fora do quadro com o fora de campo cinematográfico. Mauro em Caienasegue a transformação do espaço pelos olhos e jogos de uma criança e Où est la jungle?, filme-deriva, age pela força da deslocação, problematizando o lugar contemporâneo dos índios amazónicos. Em todos eles o olhar (incluindo o cinematográfico) é operador de transformação.
17h00 e às 20h30 - Autocarro gratuito ida e volta - Praça da Figueira > local da projeção
DOMINGO, 10 SETEMBRO Eldorado_XXIde Salomé Lamas, Portugal/França/Perú, 2016
18h00 Arquivo Municipal de Lisboa – Videoteca (Alcântara) (Largo do Calvário, 2)GPS 38.704565, -9.177261
Visionamento comentado por: Salomé Lamas (cineasta), Raquel da Silva (diretora de produção), António Pinto Ribeiro (programador cultural, coordenador da programação da Lisboa, Capital Ibero-americana de Cultura) e André Cepeda (fotógrafo)
21h30 Parque Tejo - Pista de Skaters (Parque das Nações) (Passeio do Tejo)GPS 38.786998, -9.092008
Projeção de cinema ao ar livre de Eldorado_XXI [125’]
Sinopse Apesar de acompanhar a comunidade que vive na mais alta localidade do mundo, em La Rinconada y Cerro Lunar, nos Andes peruanos, Eldorado_XXI é um filme subterrâneo. É uma espécie de ensaio sobre o mais profundamente escondido e esquecido do mundo contemporâneo e que, contudo, sustém aquilo que decorre na superfície – é por isso mesmo o último filme deste programa, resume bem os movimentos deste Sul que temos vindo a explorar. Homens e mulheres que procuram ouro nas encostas descrevem aquela como uma “terra de ninguém” – impossível não ver este em continuidade com o filme anterior de Salomé Lamas, precisamente com esse título. As suas vozes descrevem o medo e a iminência da morte, morte e medo que vão ganhando forma e imagem, e vão assim afirmando-se numa presença simultaneamente terrível e fantástica que se vai instalando sobre todo o filme para no fim aparecer violentamente trancada naquela montanha, e não ser mais do que um sopro lançado por uma abertura escura na encosta nevada.
21h00 - Autocarro gratuito ida e volta - Largo do Calvário > local da projeção
+ INFO Telefone: 213 807 150/54 | E-mail: arquivomunicipal@cm-lisboa.pt

31.08.2017 | by martalanca | lisboa, sul, Topografias Imaginárias

É possível descolonizar as metodologias ocidentais? O Sul como motor.

Μεσόγειος Θάλασσα, Σούνιο, Ελλάδα 2017 Mar Mediterráneo, Sunión, Grécia 2017 foto de Alejandro Simón.Μεσόγειος Θάλασσα, Σούνιο, Ελλάδα 2017 Mar Mediterráneo, Sunión, Grécia 2017 foto de Alejandro Simón.A perspectiva poscolonial anglo-saxónica e os seus textos inaugurados com O lugar da cultura (Bhabha) foi criticada por concentrar-se na análise do fenómeno da imigração nos centros hegemónicos, em vez de tentar resolver os problemas das antigas colónias. Uns anos depois começou-se a falar da Europa pós-colonial na era das migrações, o que se reforçou com a crise económica e a evidência das suas fronteiras internas que dividiam  o norte dos PIGS. Não será por casualidade que a actual edição da Documenta seja organizada em torno do conceito de Sul e se celebre entre Kassel e Atenas. Pelo potencial desta relocalização do Sul na Europa, e de reaprender novas estratégias políticas a partir de uma posição identitária em reconstrução, e ligado à obsolescência dos seus antigos discursos  de hegemonia (colonial). Será esta condição/sul migrante de Espanha, Grécia, Portugal ou Itália capaz de gerar novas estratégias de pensamento ou de interlocução com outras cidadanias do sul? Que problemas acarreta o sul como lugar onde ir a partir de uma posição de privilégio ou ao qual regresar? Qual o potencial transformador destes suis em conjunto? 

Ainda que nos últimos anos a proliferação do termo “descolonizar” explique uma urgência em procurar estratégias para superar a falência dos legados coloniais, a pergunta “é possível descolonizar?”, precisamente, vem sintetizar a dúvida fundamental dos seus teóricos. Como gerar novas propostas descoloniais se tanto as instituições como as metodologias que enquadram o nosso pensamento são intrínsecas à sua condição colonial: Silvia Rivera Cusicanqui pergunta se é possível descolonizar a mestiçagem, ou a nação (cuja base ocidentalizante é a branquitude); Boaventura de Sousa Santos se é possível descolonizar o marxismo; Sharon MacDonald ou Clementine Deliss, os Museus; Viveiros de Castro ou Vanessa Watts a natureza; os estudantes da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, a própria Academia, questionando a presença de pensadores ocidentais nos programas curriculares; ou a Universidade Federal do Sul da Bahia que inclui indígenas na aposta pela epistemodiversidade. Em 1999, um pouco antes deste boom descolonial, a teórica maõri Linda Ruhiwai Smith, no seu livro Descolonizar Metodologías, pressagiava o papel que as cosmovisões indígenas têm adquirido no sentido de superar as nossas relações coloniais com a natureza e com as formas extra-ocidentais de cidadania e cultura. Que tipo de relação pode o ocidente gerar com estas categorias-Sul? É possível descolonizar as metodologias ocidentais cuja complicidade com a colonialidade não está suficientemente analisada? Como construir epistemodiversidade se as nossas referências académicas justamente se diferenciam das não-ocidentais uma vez que estão baseadas na “acumulação de conhecimento” e na sua exploração? Será agora o Sul um lugar onde se vai “saquear”, para acumular formas de pensamento? Ou, pelo contrário, qual é o potencial desta interlocução para modificar a natureza colonial das metodologias ocidentais e gerar novos modelos?

CONVOCATÓRIA
Re-visiones
 
2017:
Recepción de originales 1 de Junio de 2017 (editora do número: María Iñigo) 

 

27.03.2017 | by martalanca | descolonial, pensamento, revista, sul