Exposição: … É como trazer à luz a claridade
Inauguração: 29 de abril de 2023 Patente até: 2 de junho de 2023 Local: Galeria Quattro, LeiriaLino Damião nasceu em Luanda em 1977. Encorajado pelo seu pai, começou muito cedo a desenhar e pintar, tendo recebido o seu primeiro prémio em 1989 - Prémio de Pintura na União Nacional de Artistas Plásticos. Tem participado em várias exposições individuais e coletivas: “1a Paragem: Lisboa” 2012, I Festival Literário “Rota das Letras” de Macau 2012, Feira de Arte Contemporânea de Lisboa 2010, I Trienal de Luanda 2007, entre outras. As suas obras estão em coleções públicas e privadas em África, na Europa, Ásia, América do Sul e EUA. Colaborou, desde 1992, com a produtora j.j.jazz em Luanda, na organização de concertos de jazz e exposições de pintura e fotografia subordinadas à mesma temática
Será um expressionismo abstracto de cariz lírico. Ou um vocabulário visual enraizado na abstracção vagamente gestual. Será isso ou não será exactamente isso porque prevalece uma certa ambiguidade na dinâmica das implicações visuais incorporadas na pintura. Luz, textura, transições do fluxo da cor nas superfícies lisas definem o critério estético. Há uma articulação de carácter intimista entre a tinta e a tela com uma certa abertura à narrativa, permitindo assim o improviso. A narrativa ainda que elusiva está lá. Projecta basicamente sentimentos conflituantes do artista numa determinada situação. Talvez na captura da história pessoal incorporada num contexto onde aflora a sua identidade que permanece imersiva. Um sentimento forte e abrangente que se intromete no caos estrutural oculto que sustenta a obra. Contraste O nosso olhar atento tropeça nas teias cromáticas da pintura onde descortinamos coisas reais ou imaginárias. Descobrimos ciclos de vida já extintos, sugestões de mudança sem mudança no contexto temporal, anímico e vivencial. Linhas e manchas indicam a leveza de um esboço mais complexo que transparece na exuberância das cores em contraste. Na verdade oferecem uma atmosfera que proporciona uma legibilidade possível, penetrando nas ideias que o artista tinha em mente quando arquitectou a composição aleatória. Um abstracto atraente pode ser como a realidade. E até transmitir uma sensação tangível de optimismo nas sombras luminosas. A finalidade da arte é produzir uma emoção, seja de que ordem for. Mutação Música, poema, natureza densa e memórias conjugam-se na linguagem contaminada por diferentes nuances. Ar, terra e água. Ou, melhor dito, a sensação de um rumor da água imaginado. Vestígios deixados pela passagem do tempo. É o que vejo ali. Pinceladas estratégicas evocando por vezes folhagens no emaranhado da superfície da tela onde se desenrolam os gestos hábeis que controlam o caos. Verificase uma continuidade no movimento exercido na tela. A acção que se desenvolve de uma forma rápida é como se fosse uma voz de timbre poético que se quer fazer ouvir. Sugere mutações inesperadas, luz e sombra, e uma certa instabilidade que se vai atenuando. No enredo imagético ressaltam pinceladas de amarelo, verde-escuro e as tonalidades de azul que, por vezes, são dominantes na paleta convocada. Sempre vislumbres de tons quentes. Traços ou gestos que divergem e convergem. No espaço pictórico onde acontece a dinâmica da composição do quadro. Atmosfera Estas pinturas reflectem um padrão visual onde se projecta com alguma subtileza a temática supostamente abordada. A sinfonia das cores que se torna ressonante domina as representações abstractas. A visão sensorial do artista desliza obviamente para um assunto que envolve aspectos de ordem biográfica. Existe uma identidade que se vai construindo numa lógica consistente. Sensações atmosféricas, percepções do mundo geográfico onde o artista se insere. Recordações muito físicas de um universo marcante que está sempre presente, ainda que invisível. É essa energia que se insinua na linguagem respiratória da pintura deste artista africano. Já agora gostaria de lembrar que a convocação destas metáforas não é inocente. Permitem tornar visível o invisível.