Mulheres nas descolonizações, modos de ver e saber

II Encontros

“Descolonizar, dizem elas” *
(*a partir de Destruir, diz ela, Duras, 1969)

Hangar, 29-30 de Setembro

Toca Tchoro © Daniel Barroca e Catarina Laranjeiro (Fogo no lodo, 2023)

A segunda edição dos Encontros MULHERES NAS DESCOLONIZAÇÕES. MODOS DE VER E SABER junta criadorxs, curadorxs e investigadorxs para uma reflexão sobre os olhares, saberes e práticas de mulheres nas libertações e nos processos decoloniais, e sobre como, partindo destes, encetando novas práticas artísticas e comunicacionais, e potenciando novas perspectivas identitárias, se (re-)imagina o (pós-)colonialismo
Programa de investigação-acção, parte das práticas artísticas, de novos modelos de comunicação e da reflexão sobre os mesmos para questionar “políticas da memória” e identidade, ensaiando gestos de restituição. A reflexão sobre e a afirmação de modos de ver e fazer no feminino são centrais num processo necessário de cura e restituição.

Curadoria: Maria do Carmo Piçarra

Doutorada em Ciências da Comunicação, Maria do Carmo Piçarra é professora na Universidade Autónoma de Lisboa, investigadora contratada no ICNOVA e programadora de cinema. Tem investigado propaganda cinematográfica e a censura durante o Estado Novo, o cinema militante africano e os modos de ver e conhecer das mulheres durante os processos de descolonização. Entre outros livros e artigos, é autora de Olhar de Maldoror. Singularidade de um cinema político (2022), Projectar a ordem. Cinema do Povo e propaganda salazarista 1935 – 1954 (2020), Azuis ultramarinos. Propaganda colonial e censura no cinema do Estado Novo” (2015). Coordenou, com Jorge António, a trilogia Angola, o nascimento de uma nação (2013, 2014, 2015) e, com Teresa Castro, (Re)Imagining African Independence. Film, Visual Arts and the Fall of the Portuguese Empire (2017). Dinamiza a Aleph – Rede de Acção e Investigação Crítica da Imagem Colonial.

DIA 29

Identidade e memória nas práticas artísticas e da comunicação

10h-11h15: Sobre o colonialismo português tardio: uma breve imersão

Apresentação e conversa com Rita Cássia Silva

Rita Cássia Silva iniciou-se nas artes cénicas aos doze anos. Natural de Salvador-Bahia-Brasil, radicou-se em Portugal, a partir de 2000. Escolheu Lisboa enquanto primeira morada. Lagos e Mértola enquanto recônditos afetivos cruciais. Mãe de Martim. Escreve, interpreta, encena, pratica artivismo, intervém educacionalmente. Licenciada em Antropologia pelo ISCTE-UL. Doutoranda em Ciências da Comunicação – Comunicação e Artes, pela Universidade Nova de Lisboa. Integra o ICNOVA, Projeto Photo Impulse. Bolseira do Programa Aliança EUTOPIA (FCT / NOVA / CY CERGY PARIS). Curadora participativa da exposição “O Impulso Fotográfico (des) Arrumar o Arquivo Colonial”, patente temporariamente até 31 de Dezembro de 2023, no MUHNAC, Lisboa. As suas áreas de interesse situam-se na pesquisa baseada em criação artística, cruzamentos disciplinares, autoetnografia, género, comunicação, pensamento decolonial e cultura visual.

11h15-11h45: As donas da Casa: A presença (in)visível das mulheres na Casa dos Estudantes do Império

Apresentação por Vânia Maia, seguida de debate

Vânia Maia iniciou-se no jornalismo aos microfones de rádios locais. Para a imprensa escrita, fez reportagens na Central Nuclear de Chernobyl, em campos de refugiados no Uganda ou em áreas devastadas por ciclones, em Moçambique. Integra a bolsa de formadores da Associação Literacia para os Media e Jornalismo. Os seus trabalhos receberam mais de uma dúzia de distinções — seis delas relacionadas com a cobertura da pandemia. No 30.º aniversário do Prémio Lorenzo Natali, promovido pela Comissão Europeia, venceu na categoria Europa. Ganhou uma Bolsa de Investigação Jornalística pela Fundação Calouste Gulbenkian, que deu origem a uma grande reportagem sobre a presença feminina na Casa dos Estudantes do Império.

12h-13h30: Análise da iconografia da mulher negra na banda desenhada de Casa Grande & Senzala – em quadrinhos (Livia Sampaio), O feminismo é uma prática (Lorena Travassos) e Afrolis: jornalismo com cor e sotaque (Amina Bawa)

Apresentações por Livia Sampaio, Lorena Travassos e Amina Bawa, seguidas de debate

Livia Sampaio é brasileira, formada em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Veio para Portugal para fazer o mestrado em Estudos Africanos no ISCTE com a dissertação Mulheres negras e o cabelo: Racismo, sexismo e resitência defendida em 2021, e, desde então, vem se dedicado no estudo do reflexo do racismo e misoginia no corpo da mulher negra em Portugal. Co-editora do livro Uma História com mulheres e autora do capítulo “Como o status social colonial é refletido no cotidiano das mulheres negras”. É doutoranda no curso de Media e Sociedade no Contexto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, da Universidade Autónoma de Lisboa.

Lorena Travassos é fotógrafa, livreira e investigadora do ICNOVA. Actualmente é docente convidada no ICNOVA e investiga o arquivo a partir das questões decoloniais e de género. É fundadora da livraria feminista Greta em Lisboa.

Amina Bawa é jornalista, produtora cultural e mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade de Lisboa. No Brasil, trabalhou em áreas diversas como comunicação sindical e na produção de museus e espaços de cultura. Em Portugal, trabalha como Gestora de Conteúdo, Marketing e Comunidade na Associação Afrolis e como professora de Tecnologia da Informação e Comunicação na escola de circo do Chapitô. É Produtora Editorial no Gerador, além de ser co-fundadora do observatório de tendências brasileiras, Brasil Mood.

Modos de ser e fazer. Práticas artísticas

15h-16h15: Museu Pessoal

Performance e conversa com Gisela Casimiro

Gisela Casimiro é escritora, artista, performer e activista. Formou-se em Estudos Portugueses e Ingleses pela NOVA/FCSH. Trabalha sobre identidade, corpo, memória, trauma, racismo, pós-colonialismo e quotidiano. A sua prática envolve escrita, fotografia, instalação, colagem e som. É autora de Erosão e Giz (poesia), Estendais (crónicas) e Casa com Árvores Dentro (dramaturgia, encenado por Cláudia Semedo/Companhia de Actores). Em teatro foi co-criadora e actriz de SET THE TABLE, de Raquel André e Cristina Carvalhal. Participou em exposições no Armário, Galerias Municipais do Porto e de Lisboa, entre outros. Integra a Coleção António Cachola. Coordena, com Teresa Coutinho, o Clube de Leitura do Batalha Centro de Cinema. É membro fundador da UNA – União Negra das Artes. De momento faz o apoio à dramaturgia de BLACKFACE!, de Marco Mendonça, a estrear em 2023.

Toca Tchoro © Daniel Barroca e Catarina Laranjeiro (Fogo no lodo, 2023)Toca Tchoro © Daniel Barroca e Catarina Laranjeiro (Fogo no lodo, 2023)

DIA 30

Modos de ser e fazer. Práticas artísticas

10h-11h15: Mankaka Kadi Konda Ko

Performance e conversa com Filipa Bossuet

Filipa Bossuet (1998) Licenciada em Ciências da Comunicação e aluna do mestrado em Migrações, Inter-Etnicidades e Transnacionalismo, na NOVA FCSH. Utiliza a performance, a pintura, a fotografia e o vídeo experimental para retratar processos de identidade, negritude, memória e cura.

Luta e luto. Entre passado e presente

11h30-12h45: Mulheres de fogo, no lodo

Apresentação e conversa com Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca

Catarina Laranjeiro (1983) estudou Psicologia Social na FPCE-UL (Lisboa), Cinema/Imagem em Movimento no Ar.Co (Lisboa), Antropologia Visual na FU (Berlim) e doutorou-se em Pós-Colonialismo e Cidadania Global no CES-UC. É investigadora no Instituto de História Contemporânea da NOVA-FCSH. Tem autoria e colaboração em diversos projetos que aliam a investigação à criação artística, cruzando a antropologia, o teatro e o cinema. Realizou o filme PABIA DI AOS (2013).

Daniel Barroca estudou Artes Plásticas na Escola de Arte e Design das Caldas da Rainha e no Ar.Co. Foi artista residente na Künstlerhaus Bethanien em Berlim, na Rijksakademie em Amesterdão, no Ashkal Alwan em Beirute, e no Drawing Center em Nova Iorque. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, da Fundação Botin e da Comissão Fulbright, entre outras. Neste momento, desenvolve uma pesquisa doutoral sobre imagem antropológica e guerra colonial. Ao longo do seu percurso artístico, tem desenvolvido projetos de cinema expandido e experimental, que têm sido apresentados em festivais de cinema e espaços de arte contemporânea em diversas partes do mundo.

14h30-15h30: “Eu sou a rixa”: traçando a evolução da identidade da segunda geração no Reino Unido através dos arquivos audiovisuais

Apresentação e conversa com Ana Naomi de Sousa

Ana Naomi De Sousa é uma realizadora e jornalista independente. Realizou os documentários The Architecture of Violence, Angola – Birth of a Movement; Guerrilla Architect; e Hacking Madrid – todos exibidos na Al Jazeera em inglês. Colaborou com Forensic Architecture e Amnesty International, no documentário interativo Saydnaya sobre uma prisão militar síria, tendo vencido um prémio Peabody em 2017. Escreve sobre a política pós-colonial, espacial e cultural para diversas plataformas, incluindo The Funambulist, The Guardian, e Al Jazeera. Colabora como realizadora na rede de ‘Decolonizing Architecture’, e como tradutora no projeto ‘Traduzindo Ferro, Transformando Conhecimentos’, entre outros. Actualmente, está a realizar a sua primeira longa-metragem.

16h00-17h30: Projecção de Entre Eu e Deus (Yara Costa Pereira, 2018, 60), seguida de conversa (via zoom) com Yara Costa

Yara Costa (1982) nasceu em Moçambique. Depois de ter terminado o ensino secundário na África do Sul, estudou jornalismo na Universidade Federal Fluminense, no Brasil. Após um mestrado em cinema documental na Universidade de Nova York, frequentou um curso de cinema em Cuba.


29.09.2023 | par martalanca | Descolonização, mulheres