Outros Itinerários: Viagens, Arte e Literatura Antropológica

Local: Escola de Artes Visuais do Parque Lage

Dia, Horário e Periodicidade: Quintas-Feiras, dias 22/01, 29/01, 05/02, 12/02, 19/02 e 26/02, das 19h às 21h.

Modalidade: Híbrido (Presencial e Online)

Investimento (Valor): R$ 496,00 [parcela única] – Bolsa de 50% para estudantes e professores (cota ilimitada)

Preparativos da Viagem:

Wanderlust, desejo de viajar. De sair do seu lugar, se deslocar e ser outros, se abrir e escutar as alteridades do mundo. Se descolonizar. A antropologia não pode ser reduzida de forma maniqueísta ao colonialismo racista branco. Ela fala de um desejo do pensamento à esquerda de ver além do próprio umbigo, de sair da ilha europeia e buscar outros horizontes e mundos possíveis. E de certo modo, é esse desejo de viajar que move a antropologia contra qualquer captura identitária. A antropologia contemporânea é contra o Estado e o transe/transporte/viagem é seu erotismo e pulsão criativa. Ela é cosmopolítica, carrega na mala da viagem todos os entes que a constituem: humanos, não-humanos, ancestrais, espíritos, objetos e a própria natureza. Esse curso aposta no movimento enquanto vida, enquanto antropofagia e desejo de ir além. Iremos acompanhar e problematizar as fantasias e fantasmas de sujeitos que se jogaram em mundos radicalmente distantes e distintos dos seus e tiveram a generosidade de partilhar suas experiências e afetos, e publicizá-las para o pensamento e a vivência de outras gerações.

Como afirma a antropóloga Fernanda Peixoto, a viagem antropológica é um mergulho nas profundezas da alma. Tem algo de aventura do corpo e do espírito, de peregrinação, profissão e vocação. As viagens articulam lazer e estudo, pesquisa e turismo, descoberta e reconhecimento, deslocamento físico e temporal, e transformação subjetiva. A viagem se torna mais que lugar de deleite, mas também de formação e encontro com as alteridades planetárias, tem uma dimensão crítica, narrativa e reflexiva. Viajar é também uma maneira de estar no mundo, construindo um lugar próprio que afirma um modo de ser e fazer, reconfigurando as estratégias e táticas de nossas existências, recalculando rotas e raízes de si na relação com os outros através de uma deambulação tão provisória quanto os afetos e as ideias que as mobilizam.

A proposta do curso é, portanto, e sobretudo, viajar na escrita etnográfica de antropólogos que produziram trabalhos canônicos e recentes no campo antropológico, sem perder de vista suas almas de artistas e literários, no desejo de partilhar e criar em conjunto. Mais do que o consumo de imagens e paisagens, a proposta aqui é pensar a antropologia das viagens com um lugar dos devires e afecções. Iremos acompanhar as aventuras e a letra literária desses autores e problematizar os limites, impasses e paradoxos de suas atuações, para futuros outros itinerários. 

O que você vai aprender:

Histórias da antropologia, suas diferentes tradições, a origem do trabalho de campo. Museus etnográficos, pilhagem e colecionismo de objetos, teorias sobre artes primitivas e primitivismo artístico. Os primeiros trabalhos de campo, as diferentes modalidades da etnografia moderna e as ontografias pós-sociais e pós-plurais atuais. As relações entre a antropologia e a literatura, os cadernos de campo e os diários íntimos da burguesia no romantismo. As relações entre as viagens de artistas modernos e dos primeiros antropólogos. A viagem como ciência, magia, transe, sonho, experiência iniciática, busca filosófica pelo sentido da existência. As relações entre o eu e o outro como poética literária, como política artística e como violência colonialista. As aproximações e tensões entre as viagens, o desterro, o refúgio, a diáspora e o turismo no contexto atual do neoliberalismo multicultural espetacularizado. As práticas artísticas contemporâneas e suas relações com as viagens antropológicas, deambulações, errâncias, desterritorializações e devires at home e no at home, dentro e fora do corpo em trânsito.

The Ghost in Between (2013), de Janaina Tschäpe.The Ghost in Between (2013), de Janaina Tschäpe. 

Itinerários:

1. [Check-in] Viagem como Vocação e Evocação: Aventura, Transe e Sonho

2. “África Fantasma” de Michel Leiris

3. “Tristes Trópicos” de Lévi-Strauss

4. [Conexão] “Lanças do Crepúsculo” de Philipe Descola

5. “Escute as Feras”, de Nastassja Martin

6. [Check-out] Artes, Literatura de Viagens e Decolonialidade: Diáspora, Refúgio e Turismo

Este curso é indicado para:

Quaisquer pessoas interessadas nas relações entre as artes visuais, humanidades e as ciências sociais. Não é necessário nenhum pré-requisito. Estudantes, professores, artistas, curadores e arte-educadores são bem-vindxs. Estudantes de artes visuais, história, ciências sociais, psicologia, literatura e ciências humanas em geral poderão se beneficiar com a proposta. O curso é um convite a todos os poetas e humanistas de quaisquer áreas interessados na multiplicidade de formas viventes, e na fantasia urgente de pensar novos laços através das viagens antropológicas pelo mundo.

Dinâmica:

Aulas expositivas e dialógicas com base nos repertórios sugeridos aos alunos a partir das trocas com o professor. Serão usados recursos audiovisuais e auditivos durante as aulas, com indicação de leituras, filmes e músicas. Pretende-se estimular os alunos a escreverem textos ensaísticos, poesias, roteiros, obras artísticas e performativas a partir dos conteúdos teóricos discutidos em sala de aula.

A Bordo:

BAUDELAIRE, Charles. Spleen de Paris. São Paulo: Iluminuras, 1995.

BARRETTO, Margarita; STEIL, Carlos Alberto; GRABURN, Nelson; SANTOS, Rafael José dos (orgs.). Turismo e Antropologia: Novas Abordagens. Campinas: Papirus Editora, 2019.

BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.

BONA, Dénètem Touam. Cosmopoéticas do Refúgio. São Paulo: Cultura e Barbárie, 2020.

BRUMANA, Fernando G. Sonho Dogon: Nas Origens da Etnologia Francesa. São Paulo: Edusp, 2021.

CAUQUELIN, Anne. A Invenção da Paisagem. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

CLIFFORD, James. Routes: Travel and Translation in the Late Twentieth Century. Cambridge: Harvard University Press, 1997.

CONRAD, Joseph. Coração das Trevas. São Paulo: Penguin Companhia, 2010.

CORBUSIER, Le. Viagem ao Oriente. São Paulo: Cosac Naify, 2005.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Nomadologia: A Máquina de Guerra. In: Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 1996. pp. 11-68.

DESCOLA, Philippe. As Lanças do Crepúsculo: Relações Jivaro na Alta Amazônia. São Paulo: Cosac Naify, 2006.

FERRARI, Florencia. Contos Ciganos. São Paulo: Cosac Naify, 2004.

FREIRE MEDEIROS, Bianca. Gringo na Laje: Produção Cultural e Consumo nas Favelas Cariocas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

FREUD, Sigmund. A Transitoriedade. In: Obras Completas: Volume 12 – Textos Culturais e Sociais (1912–1914). São Paulo: Companhia das Letras, 2010. pp. 295–298.

GAY, Peter. O Coração Desvelado: A Experiência Romântica na Arte e na Vida. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

GAUGUIN, Paul. Noa Noa: The Tahitian Journey. New York: Dover Publications, 1985.

GILROY, Paul. O Atlântico Negro: Modernidade e Dupla Consciência. São Paulo: Editora 34, 2001.

HALL, Stuart. Da Diáspora: Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

KIRSHENBLATT-GIMBLETT, Barbara. Destination Culture: Tourism, Museums, and Heritage. Berkeley: University of California Press, 1998.

LEIRIS, Michel. África Fantasma. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Ubu, 2018.

MARTIN, Nastassja. Escute as Feras. São Paulo: Editora 34, 2021.

NODARI, Alexandre. Literatura como Antropologia Especulativa: Conjunto de Variações. Curitiba: Cultura e Barbárie, 2024.

PEIXOTO, Fernanda Arêas. Viagem como Vocação: Itinerários, Parcerias e Formas de Conhecimento. São Paulo: Edusp, 2015.

PENNA, Fábio Rodrigo. Viagem em Transe Mítico: Mestiçagens, Imaginários e Reencantamento do Mundo. São Paulo: Perspectiva, 2021.

PRATT, Mary Louise. Os Olhos do Império: Relatos de Viagem e Transculturação. Bauru: EDUSC, 1999.

SOMMER, Michelle. Mover-se: Ensaios sobre Mobilidade e Arte Contemporânea. Rio de Janeiro: Circuito, 2019.

TRÓTSKY, Liev. Fuga da Sibéria. São Paulo: Ubu Editora, 2023.

VALENTINI, Luísa. Um Laboratório de Antropologia: O Encontro entre Mário de Andrade, Dina Dreyfus e Claude Lévi-Strauss. São Paulo: Alameda, 2013.

YÁZIGI, Eduardo; CARLOS, Ana Fani Alessandri; CRUZ, Rita de Cássia Ariza da (orgs.). Turismo: Espaço, Paisagem e Cultura. São Paulo: Hucitec, 1996.

YOUNG, Robert J. C. Desejo Colonial: Hibridismo em Teoria, Cultura e Raça. São Paulo: Perspectiva, 2005.

06.12.2025 | by martalanca | arte, Literatura Antropológica, viagens

OFFLINE - Entre trânsitos e Viagens

Os artistas participantes são: André Avelãs | André Cepeda | Andrea Brandão | Bianca Baldi (África do Sul) | Cristina Ribas (Brasil) | Eugénia Mussa | João Paulo Serafim | Kimathi Donkor (Inglaterra) | Krishna Luchoomun (Ilhas Maurícias) | Mauro Pinto (Moçambique)| Monica Frycova (República Checa / Islândia)  | Nayari Castillo (Alemanha / Venezuela) | Sérgio Afonso (Angola) | Tânia da Fonte | Vasco Costa

ver programa

OFFLINE é uma residência da Triangle Network, organizada pela associação artística e cultural XEREM em parceria com o Largo Residências e o Arquivo Municipal de Lisboa - Fotográfico. Artistas internacionais e nacionais participarão neste projecto, que se realiza na zona do Intendente - Martim Moniz, em Lisboa. A residência tem como objectivo oferecer aos artistas a oportunidade de pesquisar, produzindo fora do seu contexto habitual, criando novos campos de trabalho e possibilidades de explorar as particulariedades em site-specific, processos colaborativos e participativos. Pretende-se incentivar o processo criativo baseado no dia-a-dia e nas vivências partilhadas, promovendo o trabalho em rede entre os artistas. A residência apoia a produção experimental de novos trabalhos e promove a troca cultural com a disseminação de ideias e de conexões criativas com o público, um programa constituído por apresentações dos próprios artistas, eventos e um Open Day.

O âmbito conceptual do workshop dá um enfoque particular à experiência de viagem como um meio de produção pessoal e colectiva, como um lugar entre o sonho, fantasia, ficção e realidade. O termo “off line” refere-se à experiência de “estar fora”, em silêncio, numa procura exterior aos circuitos fixos. Estar “off line” representa também estar “fora de linha”, “desalinhado”, alheio ao sistema. A experiência do turismo, nomadismo, diáspora, alteridade e imigração tem em si estas referências de ausências espaciais. “Off line” é assim o espaço entre as partidas e as chegadas, o silêncio entre as palavras, entre o trânsito e a viagem.

Largo Residências - Largo do Intendente, nº19 Arquivo Municipal Fotográfico - Rua da Palma, nº246 Carpintaria São Lázaro - Rua de São Lázaro, nº72

Coordenação: Mónica de Miranda | Susana Anágua I Andreia Páscoa

21.11.2013 | by martalanca | residências artísticas, viagens, Xerem

INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO Fotógrafos - Viajantes & Viagens de Fotógrafos

INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO Fotógrafos - Viajantes & Viagens de Fotógrafos, dia 29 de Setembro quinta-feira às 22:00

“O viajante, no seu movimento incessante, vê tudo à distância. Silhuetas recortadas contra a paisagem. Imagens arquitecturais se destacando no horizonte. Pessoas e lugares que pretende encontrar depois da próxima curva. A viagem é produção de simulacros, de um mundo puramente espectral erguido à beira da estrada.1

Em registo fotográfico, presentificam-se as imagens de existências, encenações e/ou simulacros com tópicos de genuinidade. Assim se demonstram subjectividades de autores nos territórios estéticos da fotografia.

Numa fotografia, supostamente, congela-se o tempo e o espaço. Congelam-se as figuras individuadas no tempo pois deixam de ser pessoas e talvez sejam, transitoriamente, personagens. Estas localizam-se ou ausentam-se, consoante os casos e as estratégias estéticas dos autores. Inequívoca é a decisória presença do fotógrafo-viajante, aquele que concretiza acto e obra. Não é verdade?

  • 1. Nelson Brissac Peixoto – “Miragens”, Cenários em ruínas – a realidade imaginária contemporânea, Lisboa, Gradiva, 2010, p.137

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27.09.2011 | by joanapires | exposição, fotografia, viagens