Churrascão Tupinambá

“Aqui nessa tribo

Ninguém quer a sua catequização

Falamos a sua língua

Mas não entendemos o seu sermão

Nós rimos alto, bebemos e falamos palavrão

Mas não sorrimos à toa

Não sorrimos à toa.”

Volte para o seu lar, Arnaldo Antunes

No século XVI, na chamada França Antártica, habitavam na costa brasileira uma população de cerca de cem mil indivíduos1. No período, os Tupinambás aliaram-se aos franceses, e os seus inimigos, os Tupiniquins, aos portugueses. O ciclo da vingança geradora2 era o hit de verão: caçar como o jaguar, rachar cabeças para ganhar nome e digerir a perda dos seus. Não engolimos sapos, somos vingativos como o jabuti! Os meus irão me vingar, e virão os outros (que são também nossotros) para devorarem-se a si mesmos num banquete ritual. O aquecimento do caldeirão global está em marcha, sangue não falta, comunguemos o fervor do borbulhar do grande caldo3.

Ômega três faz bem à saúde cardiovascular e cerebral, dizem. Devorem Sardinhas, comam brioches! Nunca fomos catequizados. Oswald de Andrade foi ensopado no mingau da maniçoba4. Vamos comer Caetano!5  Tupi or not to be!6

Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil  tinha descoberto a felicidade.7

Ahhhhhh, como era gostoso o meu francês… 8 

Do avesso do avesso do matriarcado de Pindorama. Ano 474 da deglutição do Bispo Sardinha.

 

publicado originalmente na revista pentângulo #1 da Chili com Carne.

  • 1. Segundo relatos imprecisos de uma História mal contada. Simão de Vasconcellos, Chronica da Companhia de Jesus de Estado do Brasil (1663), Livro II, 17, p.186 Nobrega, Manuel da, S.J. 1517-1570, Cartas do Brasil e mais escritos do Pe. Manuel da Nóbrega / anot. e pref. Serafim Leite. - Coimbra : Universidade, 1955. - 570 p.: il. ; 23 cm. - (Opera omnia)
  • 2. Manuela Carneiro da Cunha e Eduardo Viveiros de Castro, Vingança e temporalidade: os Tupinambás, 1984.http://www.dan.unb.br/images/pdf/anuario_antropologico/Separatas1985/anu...
  • 3. HERKENHOFF, Paulo. Glória! O grande caldo In: Adriana Varejão. São Paulo: Takano Editora Gráfica, 2001.
  • 4. Não consta no Pantagruel a receita da maniçoba. Temos pena!
  • 5. Vamos comer Caetano, Adriana Calcanhoto no álbum Marítimo de 1998.
  • 6. Eliane Brum, Tupi or not to be: Em nome de Deus e do New York Times, a disputa do impeachment e dos Brasis, El país, 2016.
  • 7. Manifesto Antropófago em Oswald Andrade. Revista de Antropofagia, Ano 1, N. 1, maio de 1928.
  • 8. Como era gostoso o meu francês, Nelson Pereira dos Santos, 1971. A partir do relato de Hans Staden em Duas viagens ao Brasil. https://m.youtube.com/watch?v=ZmTPHXeCDUg