No caso de Cabo Verde as remessas constituem um importante suporte financeiro para imensas famílias, e uma das ligações transnacionais mais importantes entre as diásporas e o país de origem, ocorrendo sobretudo no âmbito familiar. São utilizadas sobretudo nas despesas quotidianas, no ensino e na saúde, a sua utilização na estrutura produtiva continua a ser limitada, e o recurso aos canais informais é considerável, ocorrendo por vezes com metade dos migrantes.
A ler
18.04.2016 | por Cláudia Rodrigues
Os tempos estão definitivamente a mudar, apesar do peso – que Conductor diz ser tão “asfixiante” na Cidade da Praia como em Luanda – da tradição musical. É uma história em que ele se vê ao espelho (uma banda de kuduro na Buraca, e a gravar com M.I.A.?), e não gosta lá muito da imagem: “O que eu sinto muito em Cabo Verde, sobretudo sendo um meio tão pequeno, em que é muito difícil não incomodares o teu inimigo, é que há muitos jovens a fazerem coisas incríveis que não encontram aqui plataformas adequadas ao seu percurso musical. Demasiados artistas bons precisam de penar muito”
Palcos
18.04.2016 | por Inês Nadais
Não há ditaduras boas, da mesma forma que não há doenças boas. Há democracias avançadas e vigorosas e há democracias em crise, democracias frágeis, democracias necessitadas de um novo começo. O que não há com toda a certeza é democracias que possam ser substituídas com proveito por uma qualquer ditadura. Nenhuma democracia é tão má que consiga ser pior do que a melhor ditadura. Tempos como aqueles que vivemos são susceptíveis de engendrar monstros. Contudo, também são capazes de gerar sonhos enormes e poderosos. Mais do que nunca é urgente revisitar utopias antigas e projectar novas. É urgente procurar outros caminhos. Sonhar não é loucura. Loucura, hoje, é não sonhar.
Mukanda
15.04.2016 | por José Eduardo Agualusa
As cores e os objetos ganham uma especial importância na videoinstalação, tendo em conta a sua correspondência na mitologia ioruba trazida pelos escravos. Há todo um panteão de deuses através de santos, cores e objetos. Por exemplo, elementos ligados à água, como peixes ou estrelas do mar, correspondem à deusa do mar e da maternidade - Yemayá - sincretizada com a Virgen de Regla (pelo que a sua cor é o azul marinho);
Afroscreen
13.04.2016 | por Rui Mourão
Mas este processo de mobilização é um processo que, na verdade, ninguém sabe ainda onde vai parar, apenas sabemos que vai demorar anos. Não se vai resolver rapidamente, tipo em 2016! É um processo dos brasileiros, é um processo de consciencialização política. Hoje, por exemplo, pela primeira vez eu vou a um bar qualquer e vejo os meus amigos a falar de política. JOGOS SEM FRONTEIRAS #2
Jogos Sem Fronteiras
08.04.2016 | por Ritó aka Rita Natálio
Em finais do século XX, o povo oprimido passou então a utilizar as pinturas como simbologia de identificação entre si, comunicando secretamente uns com os outros através da arte, de modo genialmente impercetível para o inimigo. Além de um símbolo de resistência, este “meio de comunicação” ganhou um novo significado, tornando-se tradição passada de geração em geração.
Vou lá visitar
05.04.2016 | por Cláudia Rodrigues
Ao longo desses anos, a prioridade era o esforço de guerra e, concomitantemente, a educação e a saúde foram ocupando lugares periféricos na distribuição do orçamento, pois precisavam-se de soldados e não de doutores. Preocupante é, no entanto, que 14 anos depois do silenciar/ribombear dos canhões essas rubricas não tenham ainda o posto cimeiro das prioridades de investimento, preteridas consistentemente para a “segurança”(?).
Mukanda
05.04.2016 | por Luaty Beirão
Cozinhada num caldeirão onde a utopia neoliberal constitui actualmente o dispositivo mais poderoso na construção da sua narrativa urbana, onde a sociedade indiana (ainda estratificada e dividida), o seu meio amniótico e os traumas pós-coloniais a sua atmosfera favorita, Delhi (como outras grandes metrópoles globais) constitui o espelho mais próximo do que pode ser considerado o fruto anárquico do urbanismo especulativo. Cresce desvairadamente fugindo ao controlo do plano, superando a própria realidade, numa odisseia que parece ter sido imaginada por Homero, Fritz Lang e Calvino em simultâneo.
Cidade
04.04.2016 | por Sebastião Santos
A entrevista com Destourelles oferece um ponto de reflexão sobre as ambiguidades da dialética entre o eu e o outro, o dentro e o fora, o colonizador e o colonizado e sobre a sua atividade artística através de um olhar oscilante que a diáspora lhe proporciona. Neste contexto, Destourelles comenta o modo como os processos de domínio, assentes nos estereótipos dicotómicos, tendem a perpetuar-se assumindo novas matizes e o modo como estes são interrogados através do seu trabalho artístico.
Cara a cara
28.03.2016 | por Ana Nolasco
Portanto, a guerra de posições, diferentemente da guerra de movimento, é uma infiltração, mais do que um assalto. Um deslocamento lento, mais do que uma acumulação de forças. Um movimento colectivo e anónimo, mais do que uma operação minoritária e centralizada. Uma forma de pressão indirecta, quotidiana e difusa, mais do que uma insurreição concentrada e simultânea (mas atenção: Gramsci não exclui em nenhum momento o recurso à insurreição, apenas a subordina à construção da hegemonia). JOGOS SEM FRONTEIRAS #2
Jogos Sem Fronteiras
28.03.2016 | por Amador Fernández-Savater
No caso de Marrocos, o que não falta são ações de protesto, tais como “greves e manifestações do movimento sindical, protestos contra o encarecimento da vida, movimentos de mulheres pelo acesso à terra e direitos específicos, protestos contra os concessionários de transportes públicos” (Hibou 2012), dos serviços de saneamento — que em várias cidades foram privatizados resultando no aumento do preço da água e eletricidade —, sem esquecer os constantes protestos organizados pelos licenciados desempregados e que já haviam começado no início dos anos 90, ou ainda os protestos na pequena cidade oriental Bouarfa exigindo a gratuitidade da água (que será concedida, apesar de só durante alguns meses). JOGOS SEM FRONTEIRAS #2
Jogos Sem Fronteiras
24.03.2016 | por Hugo Maia
O livro de Achille Mbembe impõe-se como uma reflexão sobre o pensamento da diferença e a condenação do seu culto. Ele continua com uma pertinência impressionante, a sua crítica política, cultural e estética do nosso tempo. O malicioso piscar de olhos do título à Crítica da razão pura de Kant não é neutra: Efetivamente, Achille Mbembe debruça-se sobre uma crença, a crença que fundamenta a desigualdade entre os homens: a raça. E fá-lo, citando claramente Césaire quando evoca a violência da conquista colonial no Discurso sobre o colonialismo: «Não nos libertaremos dele com facilidade».
Mukanda
24.03.2016 | por Olivier Barlet
Simone conseguiu evocar glamour, apesar de tudo o que era dito sobre as mulheres negras como ela. E por isso desfrutou de um lugar especial no panteão da resistência. Não se deve apenas às suas letras ou à sua musicalidade, mas à sua aparência. Simone é mais do que um Bob Marley feminino. Não é simplesmente a voz: foi o mundo que fez aquela voz, toda a mágoa e dor da difamação forjou algo de outro mundo.
A ler
23.03.2016 | por Ta-Nehisi Coates
Talvez alguém se questione o que tem toda esta estrutura burocrática abusiva estabelecida por um sistema de controlo migratório a ver com descolonizar o museu. É que a colonialidade é um dos elementos centrais no que há de comum entre a burocracia e o museu. E o museu, assim entendido, é um dos espaços centrais para a construção do eurocentrismo, como o sistema de controlo migratório é a estrutura principal da colonialidade na Europa. É a cultura que permite aprender e assumir o migrante e, por sua vez, são os museus que supostamente estabelecem marcos de legitimação do que é ou não cultura, de como é compreendida e difundida.
Publicado em "Decolonizing Museums", L’Internationale Online.
Jogos Sem Fronteiras
22.03.2016 | por Daniela Ortiz
É óbvio que os africanos têm de ter instituições que se desenvolvam logicamente a partir do seu passado. Impor um sistema que funciona noutro lugar não funciona. Há todo um raciocínio diferente, as civilizações africanas tinham sistemas políticos e económicos que funcionaram. Teria sido melhor desenvolverem uma modernidade africana sem interferência. Mas houve quatrocentos anos de exportação de africanos. E não eram os mais fracos, os mais estúpidos. Perder tanta gente em tanto tempo foi um problema, e logo a colonização interrompeu todo o processo histórico de todos os países africanos.
Cara a cara
17.03.2016 | por Cláudio Fortuna
"Entre mim e o mundo" é uma reflexão profunda e pessoal, muitas vezes indignada, sobre o racismo. Numa carta ao filho adolescente, Ta-Nehisi Coates recorda a sua infância e juventude num bairro violento de Baltimore, o despertar intelectual por via dos livros, dos discursos de Malcolm X e de mulheres amadas. Dolorosamente, relembra ainda a perda de um colega de faculdade, também ele negro, vítima de uma perseguição policial.
O BUALA publica as primeiras páginas do livro que pôs a América a discutir o racismo.
Mukanda
14.03.2016 | por Ta-Nehisi Coates
Cabo Verde não é África, os cabo-verdianos são “pretos especiais” e os mais próximos de Portugal. É o país da mestiçagem, a “prova” da “harmonia racial” do luso-tropicalismo. Durante anos esta foi a narrativa dominante. Ser ou não ser africano ainda continua como ponto de interrogação.Pertencente à série especial "Racismo em português", Joana Gorjão Henriques vai em busca de como o colonialismo marcou as relações raciais. Os portugueses foram mais brandos e menos racistas? Racismo em português: como foi, como é?
A ler
14.03.2016 | por Joana Gorjão Henriques
Era um abril chuvoso. A estiva agitada no cais de Salvador. Não era um bom dia para partir. Alzira estava lá, pronta. Bagagem bem ajeitada em malas de couro e ferro feitas no Taboão. Resistiriam bem àquela rota mítica tantas vezes navegada. Lagos era a meca dos negros da Bahia. Ao menos para aquela intelligentsia que conhece sua história e sua civilização. Ela envaidecida. Tal como outros distintos, conheceria Lagos, Alzira mesma, com todos os seus sentidos. Também ela desfrutaria daquela aura.
O livro "Alzira está morta" será lançado a 14 de abril no Hangar, Lisboa.
Mukanda
14.03.2016 | por Goli Guerreiro
Desconstruindo de forma sistemática os relatos de viagem e diários dos exploradores, cientistas ou comerciantes europeus que deambulavam pela África tropical no final século XIX, prova-se que os documentos são muitas vezes idealizados ou imprecisos e que na maior parte do tempo estes europeus estariam num estado permanente de êxtase provocado pela doença, altas dosagens de quinino, álcool, opiáceos e outras drogas.
Afroscreen
14.03.2016 | por António Pinto Ribeiro
Grande não seria Portugal romper o ufanismo? De que adianta suturar, unir e rir, se por baixo a coisa continuar preta? Enquanto alguém quiser o pastiche de uma nau ou um museu para “celebrar os Descobrimentos” não teremos avançado. Portugal continuará a repetir os velhos mitos que o confortam e adiam, ora desconfiado, ora ufano, nunca mudando o ponto de vista. Não se trata de celebrar ou largar o passado, mas de o encarar a partir do que investigadores têm feito e, espera-se, continuarão a fazer (...). Incorporar esse refazer da história nas escolas, na política, na diplomacia, sem saudade e sem lamento, seria a coragem que ainda não houve.
Mukanda
13.03.2016 | por Alexandra Lucas Coelho