Relatórios da administração colonial que denunciam "o bafio da escravatura" e uma diplomacia que tenta negar as acusações internacionais e adiar ao máximo a mudança: Portugal e a Questão do Trabalho Forçado, de José Pedro Monteiro, é um testemunho poderoso sobre o ocaso do Império português.
Cara a cara
08.01.2019 | por Fernanda Câncio
A questão colonial será a grande ambiguidade revelada por esta geração de ativistas. A realidade social e política nas “colónias” africanas, as injustiças aí cometidas ou a luta por mais autonomia serão uma constante ao longo dos anos nas páginas desta imprensa. No entanto, nunca haverá uma posição anticolonial total que exija de forma taxativa a independência efectiva dos territórios ocupados; também por isso Mário Pinto de Andrade refere-se a esta geração como Protonacionalistas em oposição ao movimento surgido no pós-II Guerra Mundial, os Nacionalistas Africanos.
Mukanda
08.01.2019 | por Pedro Varela e José Pereira
É indesmentível que o ano de 2018 não só conheceu avanços consideráveis no debate como assistiu a tomadas de posição políticas de uma clareza pouco usual. O caso alemão é, neste particular, um dos mais interessantes.
A ler
05.01.2019 | por António Sousa Ribeiro
Durante dois anos, o artista holandês, qual Conrad, viaja pelo profundo Congo, ferida aberta do xadrez de interesses em mais uma das suas guerras civis. De câmara à mão, foi escarafunchar na indústria da pobreza que beneficia tanta gente à excepção dos pobres: empresas que enriquecem à custa dos recursos que os pobres não podem reivindicar, o ouro e coltan, ong’s que empregam os jovens sem trabalho na Europa, os media que vendem essas imagens e os especialistas em resolução de conflitos. Vimos o filme em tempos diferentes e juntamos aqui os nossos comentários.
Afroscreen
05.01.2019 | por Ricardo Falcão, Marta Lança e Joana Areosa Feio
Apesar do papel social dos museus ter um crescente escrutínio público, muitos museus europeus de arqueologia e etnografia continuam a deter nas suas colecções objectos de outras culturas adquiridos em contextos coloniais e imperiais, em situações de desigualdade entre os coleccionadores, investigadores ou curiosos europeus e as comunidades locais. Esta é uma história com quase dois séculos.
A ler
04.01.2019 | por Filipa Cordeiro e Rui Mourão
O kuduro em Angola é intervenção urbana e social. Além da música e dança tão potentes que não deixam ninguém indiferente, é “forma” de contar uma estória. Se repararmos na questão linguística, a linguagem kudurista reveste-se de grande criatividade, absorve qualquer gesto do quotidiano, ironias e falas de rua, calão, inventando até idiolectos como o "burguês", performatizando a loucura da vida urbana, sobretudo do gueto.
Palcos
02.01.2019 | por Marta Lança
Nas duas últimas décadas têm vindo a irromper no campo artístico obras e discursos que vêm sinalizando a urgência de questionar a presença do património artístico e cultural dos africanos, asiáticos e latino-americanos na Europa, problematizando e apelando para o fim deste “exílio forçado” como o designou um historiador senegalês, que representava o Ministro da Cultura do Senegal, Abdou Latif Coulibaly, no colóquio “Sharing Past and Future – Strengthening African-European Connections”, realizado no passado mês de Setembro, em Bruxelas, e organizado pelo AfricaMuseum e pelo Egmont – Royal Institute for International Relations.
A ler
23.12.2018 | por António Pinto Ribeiro e Margarida Calafate Ribeiro
O que escreve Djaimilia Pereira de Almeida pode entender-se como poderosa ferramenta de transformação da visão da paisagem humana portuguesa, não se rasurando - antes reunindo-os um curativa convivência - os fragmentos dolorosos de uma história feita de frustrações e desilusões , de fracturas e distanciamentos e de ambíguos sentimentos.
A ler
21.12.2018 | por Inocência Mata
uma necessária reflexão sobre os modos de absorção coletiva de fatos históricos traumáticos e de como revisões, inclusive bastante deformantes, podem acontecer através de releituras. Um reuso é uma reinscrição de uma imagem do passado na moldura de uma determinada, provavelmente outra, ideologia que tem interesse em evocar determinado passado para criar a sua contra imagem com pretensões hegemónicas e de impacto na opinião pública.
A ler
19.12.2018 | por Roberto Vecchi
Atravessar fronteiras físicas e disciplinares é uma vocação de Achille Mbembe. A temática da passagem e do movimento é, aliás, uma chave para a sua compreensão da história e da cultura africanas. A sua perspectiva sobre o passado, o presente e o futuro de África implica ao mesmo tempo traçar uma genealogia da modernidade europeia, das categorias do pensamento que ela construiu, da racionalidade e da historicidade da figura do negro.
Cara a cara
19.12.2018 | por António Guerreiro
E porque nenhuma luta, nenhuma descolonização, nenhum processo de libertação, nenhuma catarse será eficaz enquanto teorizarmos, produzirmos e arquivarmos conhecimentos e instrumentos de combate preterindo as nossas línguas-mãe, temos que ler e reler 'Descolonizar o Espírito', de Ngũgĩ wa Thiong'o.
A ler
17.12.2018 | por Apolo de Carvalho
A discussão sobre a devolução de obras etnográficas, de valor artístico ou documental e até de despojos humanos aos países de origem não é nova, mas ganhou força redobrada há duas semanas com o anúncio da decisão de Emmanuel Macron de devolver ao Benim uma coleção de bronzes, retirados do país no final do século XIX no âmbito de uma expedição militar punitiva contra os reinos da África Ocidental.
A ler
13.12.2018 | por vários
Um projeto da Afrolis - Associação Cultural que olha para afrodescendentes na tela e discute as representações disponíveis das nossas comunidades. Para a temporada de 2019 , a Afrolis convida o ator e realizador Welket Bungué a retomar o projeto fazendo a curadoria das sessões cinematográficas que serão feitas em ambiente intimista com uma regularidade mensal na Casa Mocambo.
Afroscreen
13.12.2018 | por vários
As histórias contam-se na primeira pessoa. Fala-se de agressões gratuitas, da falta de respeito, de não se sentirem cidadãos de direito: “antes de se identificar já foi vítima”, “queremos ser tratados como cidadãos”; polícias à paisana com conversas ordinárias, insultos repetidos “pretos de me***”, “volta para a tua terra”; saídas à noite que acabam em tragédia, rusgas quando se está calmamente no café a ver a bola e se acaba deitado no chão à chuva, a ouvir insultos, festas de aniversário ou modestos convívios que de repente se misturam com balas, e ops, danos colaterais...
Cidade
13.12.2018 | por Marta Lança
Marchas, grupos, associações, festas, hortas, ocupações, ações e criações mil constituem a irrupção singular de novas subjetividades preta, LGBTQ+, trabalhadora, periférica, feminista, indígena, múltiplas que desperta medo (todos os levantes brasileiros foram seguidos de uma brutal repressão – a revolta do malês de 1835 como um dos inúmeros exemplos). O golpe (que segue) como uma peculiar contra-revolução, desencadeada pelo temor da exuberância vital dos corpos livres, insubmissos, descolonizados, não domesticados. Daí as reações identitárias (branca, masculina, heteronormativa) que pululam e os ataques constantes às principais esferas de atuação (cultura e educação) dessas emergências.
A ler
12.12.2018 | por Jean Tible
Excerto de 'Lampreia Alerta', livro de contos da autoria de Ermelinda Freitas, com textos e desenhos baseados em notícias provenientes de vários media, mais ou menos recentes e insólitas, que envolvem animais ou falam da sua presença no espaço ocupado (também) por humanos. Inspirado no género fábula, Ermelinda traz-nos uma prosa diversa, concisa, leve e irónica, acompanhada por ilustrações fulgorosas.
Mukanda
12.12.2018 | por Ermelinda Freitas
Proponho-vos um feminismo onde a palavra solidariedade não seja um ponto de comunhão das nossas semelhanças, mas sim um ponto de entendimento das nossas diferenças. Tal como nos propõe Awino Oktech no livro Queer African Reader, quando discute solidariedade como substituto de irmandade.
Corpo
11.12.2018 | por Paula Sebastião
A memória é uma espécie de consciência seletiva do tempo, não se opondo ao esquecimento. A memória é uma interação entre a supressão e a conservação, sendo que restituição integral do passado é impossível uma vez que memória implica sempre uma seleção. O historiador Fernando Bouza cita mesmo um ditado africano que sintetiza o que foi referido sobre o modus operandi da memória: A memória vai ao bosque e trás de lá a lenha que quer.
Cidade
10.12.2018 | por Vítor de Sousa
Salvo exceções de pioneirismo, só nos últimos anos se começa a ouvir e ler o prefixo “afro” nos diferentes fóruns europeus, com uma conotação positiva: das artes à academia, do associativismo e ativismo aos média e às redes sociais, das associações locais comunitárias às políticas europeias.
A ler
10.12.2018 | por Mónica V. Silva
Chamar-lhe Vénus era já uma das muitas distorções que o mundo do espetáculo e a ciência da época tinham aplicado a Sarah. E acrescentar hotentote mostrava também como o europeu via o resto da Humanidade em função de si próprio: aquela palavra é uma onomatopeia que designa uma espécie de gaguez, porque os nativos africanos assim designados pareceram, aos primeiros colonizadores, ser gagos; ou talvez seja a fixação de alguns sons comuns da sua língua, que soavam como “hot on tot”. Desde que a Europa fez por se desalojar da posição que tinha concedido a si própria, a de centro do mundo, chamamos khoikhoi ao grupo étnico de que Sarah Baartman fazia parte, porque este próprio assim se designa, e khoisan à sua língua, porque é esse o nome que os khoikhoi lhe dão. Já não são gagos, ou melhor, nunca o foram. Numa era pós-colonial, dizer khoikhoi implica começar a ver os elementos desta população como eles se veem a si próprios.
A ler
10.12.2018 | por Vasco Luís Curado