Não serei eu uma criança? Racismo na Infância em Portugal

Não serei eu uma criança? Racismo na Infância em Portugal  Exigimos que o Estado português, designadamente, o sistema de justiça, reconheça a motivação racial desta agressão. Exigimos que, de uma vez por todas, abandone um entendimento legal “minimalista” sobre o que se entende por racismo. Exigimos que rompa com o padrão de negação do racismo que tanto prejudica a vida das nossas crianças e jovens e a vida democrática deste país.

04.10.2023 | por vários

O coletivo, as denúncias e as expectativas

O coletivo, as denúncias e as expectativas Os nossos relatos, ainda incompletos, resultam desse esforço enorme para recuperar memórias difíceis, organizá-las e narrá-las no pouco tempo que tivemos, enquanto equilibrávamos as várias dimensões da nossa vida (compromissos profissionais, pessoais e familiares; danos na nossa saúde mental e processos de cura; recomposição das relações quebradas entre nós em resultado do ambiente tóxico vivido; participação no debate público, que precisava ter a nossa voz; gestão do medo).

02.10.2023 | por várias

Comunicado

Comunicado Sem prejuízo do trabalho da Comissão Independente do Centro de Estudos Sociais para o Esclarecimento de Eventuais Situações de Assédio, que se encontra em curso e cujos resultados ainda não são conhecidos, expressamos a nossa solidariedade e apoio a todas as vítimas de violência sexual e moral, bem como o nosso apoio às denúncias destas formas de violência em qualquer lado, incluindo no Centro de Estudos Sociais. Juntamo-nos contra qualquer forma de abuso de poder dentro e fora da universidade.

25.09.2023 | por várias

Censura académica em situações de más condutas sexuais e abuso de poder: na nossa academia, não!

Censura académica em situações de más condutas sexuais e abuso de poder: na nossa academia, não! Poderemos nós, como comunidade académica, permitir que uma editora privada influencie, e até censure, um debate tão importante, urgente e necessário no nosso campo profissional? A escrita académica é a ferramenta central da produção de conhecimento académico em todo o mundo, mas quando nós, pessoas que fazem investigação, não temos margem para refletir criticamente sobre como transformar o nosso campo a partir de dentro, quais são as implicações para a reflexão crítica sobre a academia?

20.09.2023 | por várias

No Centenário de Natália Correia, 9 poemas inéditos

No Centenário de Natália Correia, 9 poemas inéditos Valem estas longas elucubrações, não para questionar se acaso não seria hoje Natália Correia gloriosa e universalmente «cancelada», ou mesmo excomungada, como o foi durante a ditadura salazarista, mas para sublinhar a sua extrema e desassombrada capacidade especulativa e o seu implacável visionarismo libertário, ainda e quando visceralmente utópico, a que os poemas aqui dados a ler são perfeito testemunho, «[n]uma atitude cultural que pugna pela reabilitação do imaginário do regime feminino violentado pela colonização do abstraccionismo masculino surdo e cego para realidades que transcendam as categorias do seu voluntarismo intelectual.»

12.09.2023 | por Zetho Cunha Gonçalves

Caro amigo guineense (da colonialidade)

Caro amigo guineense (da colonialidade) Caro amigo guineense, o povo da Guiné é claramente dominado, doutrinado, manipulado, segregado e explorado pelo próprio estado. Um estado que se diz soberano, entretanto manietado e manipulado pelos colonialistas, que hoje simplesmente se chamam de capitalistas, portanto, ainda servimos os mesmos amos, e carregamos o povo com o fardo de escravo moderno. É mais do que certo que o estado guineense desenvolve a sua colonialidade, o estado também trabalha para bancos privados e interesses económicos bem obscuros, que só mantém o povo no escuro e faz furos nos seus bolsos e nas suas vidas, esvaziando-os até dos direitos mais básicos, como a saúde e a educação.

07.09.2023 | por Marinho de Pina

Cara equipe editorial da Routledge

Cara equipe editorial da Routledge Exigimos que a editora republique imediatamente o livro completo, incluindo o artigo. Exigimos que os académicos referidos no artigo cessem toda perseguição às autoras e às outras vítimas que se manifestaram. Exigimos que esses académicos comecem a agir de acordo com as suas próprias palavras, e se disponibilizem para um processo real de justiça reparativa. Exigimos que as instituições académicas, incluindo as editoras científicas, constituam grupos de trabalho diversificados e idóneos para promover reparações pelas práticas de abuso fomentadas pelo sistema racista, capitalista e patriarcal do qual fazem parte, seja no sentido histórico ou no imediato. Todas sabemos.

07.09.2023 | por várias

AGNÈS AGBOTON: O exílio feito poema irradiante - PRÉ-PUBLICAÇÃO

AGNÈS AGBOTON: O exílio feito poema irradiante - PRÉ-PUBLICAÇÃO     Agnès Agboton nasceu em Porto-Novo, no Benim, em 1960. Fez os estudos primários e secundários no seu país natal e na Costa do Marfim, e vive desde 1978 em Barcelona, em cuja Universidade se licenciou em filologia hispânica. O seu interesse, desde muito jovem, pelas culturas de tradição oral e pela gastronomia da África Ocidental em particular, matérias da sua investigação e estudo, levou-a à publicação do primeiro livro, La Cuina Africana [A Cozinha Africana], em 1989, ao qual se seguiram África des dels Fogons [África a Partir dos Fogões], em 2001, e Las Cocinas del Mundo [As Cozinhas do Mundo], em 2002. Desde 1990, tem percorrido escolas e bibliotecas em Espanha, narrando lendas e histórias da tradição oral do seu povo, tendo, nesse domínio, publicado Contes D’Arreu del Món [Contos de Todos os Lugares do Mundo], em 1995, Abenyonhú, em 2003, Na Miton: La Mujer en los Cuentos y Leyendas Africanas [Na Miton: A Mulher nos Contos e nas Lendas Africanas], em 2004, Eté Utú: De Por Qué en África las Cosas Son lo que Son [Eté Utú: O Por Quê em África de as Coisas Serem Como São], em 2009, e Zemi Kede: Eros en las Narraciones Africanas de Tradición Oral [Zemi Kede: Contos Eróticos da Tradição Oral do Golfo da Guiné], em 2011.

30.08.2023 | por Zetho Cunha Gonçalves

Canções comerciais

Canções comerciais Há cerca de um mês, num supermercado de uma ilha portuguesa encontrei música de origem caribenha. Ao som do congo e do piano, as vozes masculinas e femininas bailavam. Salsa? Rumba? Merengue? Cumbia? Associei os sons às origens das raparigas que trabalhavam na loja. Simpáticas e gentis, esclarecem-nos as dúvidas num português cheio de espanhol. Apontaram num mapa a localização de uma praia e indicaram-nos num folheto o nº do autocarro para o Funchal. No fim, satisfizeram-me a curiosidade. “Sim, nascemos na Venezuela, e agora vivemos aqui”. Já no dia seguinte, a música que envolvia as prateleiras era outra: metálico, acelerada, electrónica. Reggaeton?, perguntei-me algo surpreendido. Ali, aquela mutação do reggae parecia-me ganhar um sentido que antes não apreendera. Voltei às perguntas, com renovada curiosidade: “São vocês que fazem a selecção destas canções, que escolhem esta música?”. Com a simpatia do dia anterior, uma das raparigas abanou a cabeça. “Não, não. A música é da própria da loja. Não é nossa”.

29.08.2023 | por José Marmeleira

Para ler Giz

Para ler Giz Você já viu uma onça? Já insistiu no cruzamento entre o seu e o olhar de um jaguar? Já acariciou o fim e o começo quando um felino, unhas grandes, dorso em contorção, pêlo arrepiado, pára perto de si e decide que é aqui o acontecimento que fará tudo começar: tornar-se ao mesmo tempo aquele que mata, aquele que manda matar e aquele que morre. Caso a sua resposta seja “não”, recomendo que evite este livro. Recomendo que dê meia volta, que não se arrisque. Se você tem medo de tudo aquilo que não está no seu controle, talvez seja melhor evitar Gisela Casimiro.

21.08.2023 | por Maria Giulia Pinheiro

Duas biografias de Fernando Pessoa criam confronto de autores e ‘guerra civil literária’ em Portugal

Duas biografias de Fernando Pessoa criam confronto de autores e ‘guerra civil literária’ em Portugal O que tampouco o impedia de ser Fernando em pessoa, e de urdir esquemas quiméricos para ganhar dinheiro, eterno endividado que era. Além de depenar parentes e amigos, concebeu jogos de tabuleiro (incluindo um futebol de mesa), elaborou manuais sobre “como montar uma vitrine” ou formatar cartas comerciais, escreveu um Guia Turístico de Lisboa (publicado só em 1990), fundou editoras efêmeras e considerou criar uma empresa cinematográfica. Com o maior topete e candura, chegou a escrever a Andrew Carnegie, sugerindo que o magnata americano do aço fosse seu mecenas. Os luxos do poeta eram os ternos (cada vez mais puídos, mas sempre elegantes – um dândi chaplinesco), os quatro maços de cigarro por dia e doses gorgolejantes de álcool (embora nunca ninguém o tenha visto de porre). Um dia, consultou o psiquiatra Egas Moniz, Nobel de Medicina em 1949 – que se tornará um constrangimento para os portugueses, devido ao motivo do prêmio: a invenção da lobotomia. O médico prescreveu-lhe exercícios físicos, e FP frequentou uma academia durante três meses – ah, imaginar Pessoa malhando...

20.08.2023 | por Paulo Nogueira

Por ocasião do 48º aniversário da proclamação da República de Cabo Verde livre, independente e soberana

Por ocasião do 48º aniversário da proclamação da República de Cabo Verde livre, independente e soberana      sem a diária interiorização do mal-estar devido à localização geográfica da ilha onde se nasceu, se cresceu e se almeja permaneça envolta exclusivamente em salitre e espuma marítima dos mares incógnitos ondulando navegados pelas naus portuguesas das descobertas, assaz distante da Europa, por demais próxima das terras dos pretos da Guiné e dos demais gentios da restante Costa de África, sem as crenças, a farda, o bivaque, o s de Salazar incrustado aos cinturões dos exercícios para-militares da Mocidade Portuguesa, sem os inspectores, os agentes e os torcionários da PIDE-DGS

23.07.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Declaração do Porto: reparar o irreparável

Declaração do Porto: reparar o irreparável Inscrevendo-se numa constelação histórica por reparações, tão antiga quanto o colonialismo e a escravatura, e tendo nascido de um contexto específico para acomodar distintas vontades e realidades sócio-políticas, a Declaração do Porto: Reparar o Irreparável será sempre um documento inacabado e, por isso mesmo, nele não se encerra.

21.07.2023 | por várias

Eh, pá, no que eu me fui meter, apresentação de "Mulher ao Mar, Corsárias", de Margarida Vale de Gato

Eh, pá, no que eu me fui meter, apresentação de "Mulher ao Mar, Corsárias", de Margarida Vale de Gato Quero dizer, pelo seu contrário, isto é, pela arte de não se guardar de inconveniências, que atravessa todo o livro melhor dizendo, o livro é atravessado tacitamente pelas perguntas: O que fazer de tais tentações e estorvos? Chamar por eles, dar-lhes a volta? Como tecê-los agora, de novo? Tecer-lhes um estojo onde os guardar? Guardar ou não deles a distância?

24.06.2023 | por Miguel Cardoso

A luta anti-racista e o feminismo são luta de classes

A luta anti-racista e o feminismo são luta de classes Não há uma folha num caderno de notas, como diz também Stuart Hall, a dar-nos as respostas ao que fazer. Ramos de Almeida de alguma forma também o diz ao citar Marx quando este escreve que uma coisa é uma ferramenta para analisar e compreender o mundo, outra são as condições concretas ou conjunturais em que ele se nos apresenta. Proponho que se olhe atentamente então para os rios que correm (o movimento LGBTQIA+, o movimento antirracista, o movimento feminista, os movimentos pelo clima, os movimentos de indígenas que impedem a construção de um oleoduto). Eles já materializam a luta. Não se trata, portanto, de olhar para além destas agendas, trata-se de olhar com e através delas.

17.06.2023 | por Josina Almeida

E o céu mudou de cor - excerto

E o céu mudou de cor - excerto Eu tinha medo de que o Mateus descobrisse que eu andava a mexer nas coisas dele. Mas, mesmo assim, não recusei o desafio. Despedimo-nos e fomos cada um para o seu caminho. A caminho de casa, dei por mim, mais do que uma vez, a pensar naquela ligação que o Marley tinha feito. Estava dividido. Parte de mim estava desmoralizada com a ideia de que o castelo do texto “As Belezas da Cidade-Baixa” podia não ser aquilo que eu imaginava. E a outra parte preferia acreditar que o castelo descrito na carta não era o mesmo castelo da Cidade-Baixa. Esta última, defendia que não se tratava de nada mais do que a fértil e sempre conspiradora imaginação do meu primo a armar mais uma das suas. Já na minha rua, curvei-me para amarrar os atadores e deparei-me com o Didi. Ergui a cabeça. Cheirava a cigarro, cerveja e não dizia coisa com coisa. – Tens aí cem kwanza? – chutou, enquanto andava num passo descoordenado.

09.06.2023 | por Israel Campos

Sem assumir a responsabilidade por atos concretos de abusos cometidos, não há autocrítica

Sem assumir a responsabilidade por atos concretos de abusos cometidos, não há autocrítica É difícil aceitar como desculpa a ignorância ou a falta de noção, depois de tanto livro escrito; tanta palestra, tanta aula, tanta oficina, tanto fórum sobre o heteropatriarcado. O texto acaba por provar como Boaventura vem aprendendo seletivamente, e de acordo com seus interesses, as lições das lutas sociais feministas e por direitos humanos. Não aprendeu, por exemplo, o que significa responsabilização. Uma autocrítica vazia de responsabilização é apenas mais um passo de quem tem poder para controlar a narrativa.

08.06.2023 | por várias

O si-mesmo como sujeito imperial Literatura colonial dos anos 1920: o caso de Moçambique - INTRODUÇÃO

O si-mesmo como sujeito imperial Literatura colonial dos anos 1920: o caso de Moçambique - INTRODUÇÃO Os textos em estudo mostram como as noções de «luta de raças» e de seleção das comunidades mais aptas contribuem para a elaboração de uma «estratégia da crueldade» e para o desencadear de fluxos de morte de grande intensidade. O duplo processo de desterritorialização das populações pelas conquistas e da sua reterritorialização com a transformação social do espaço pelo capitalismo colonial tem lugar num contexto político totalitário. A instauração da ditadura racial e a generalização do terror geram a redução dos colonizados a uma condição de servidão económica e sexual. O desejo colonial permite também a emergência de formas de hibridismo social ou cultural e o questionamento da autoridade discursiva, imediatamente contrariados pelo desenvolvimento de uma política de domesticidade colonial.

29.05.2023 | por João Manuel Neves

Exumações das muitas nomeações da dignidade e das muitas execrações da infâmia

Exumações das muitas nomeações da dignidade e das muitas execrações da infâmia Entretecidos /com o afirmativo com o pró-activo black power das celebrizadas estrelas afro-americanas do gospel dos negro spirituals do hambone do jazz do pattin'juba do rythm and blues do funk da soul music do disco do ragtime do rock‘n roll do tape dance do moon walk das suas vozes roucas dos seus timbres estridentes da sua trovejante pujança da sua psicadélica incandescência

21.05.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Antes do Fim

Antes do Fim A repetição também dos dias e a eficiência turístico-económica até tinha feito desaparecer os contadores de estórias e os dactilógrafos desses mercados. Já não eram necessários. Agora servia-se café em cápsulas e chá em saquetas industriais. O progresso tinha chegado até ali e os turistas sentiam-se bem com isso, mais perto de casa. Sem paciência para negociar, cansados do jogo do gato e do rato, do comprador e do vendedor, dessa táctica que molda a cultura de um país, a esses turistas vendia-lhes o pior, mas sempre com a cordialidade mentirosa, conveniente para perpetuar o mito da simpatia marroquina. Uma batalha em forma de diálogo: especulação, silêncios, (des)confiança. Os turistas até achavam pitoresca toda aquela forma arcaica de funcionar de uma economia artesanal com gestos largos e encenados.

17.05.2023 | por Francisco Mouta Rúbio