Lily na praia

Lily vai à igreja, reza o mais que pode, depois pergunta a si própria quando é que, finalmente, este filho da p*** de Jesus se vai decidir a bater à sua porta: truz, truz, truz…

Lily sonha que voa para Urano…acende a televisão e põe-se a chorar… Ariana V acaba de explodir!

Lily gostava muito de ser como o Outono – perder as folhas, ganhar tonalidades laranja e amarelo, murchar, depois voltar a florir na Primavera.

Lily gosta de apanhar moscas, arrancar uma primeira pata, uma segunda, uma terceira, finalmente uma quarta, antes de esmagar a mosca com uma martelada.

Lily não gosta de ir à discoteca… cheira a cocó de carneiro, as pessoas têm todas um ar de mosquitos eléctricos.

Lily gosta de se sentar nos bancos públicos para respirar a poluição… Caramba, como é bela a nossa natureza!

Lily gosta de fazer safari, matar crocodilos à catanada e fazer com eles sapatos da última moda.

Barthélémy Toguo, 'Das Bett', 1995 série, 21x30 cmBarthélémy Toguo, 'Das Bett', 1995 série, 21x30 cm

Lily detesta a arte contemporânea, não compreende porque é que este peixe vermelho que lava os dentes, exposto exactamente no centro de uma sala branca, tem de ser uma obra-prima!

Lily gosta de ficar na praia estirada ao sol, besuntar-se com creme solar e fritar como uma batata.

Lily adora foder, foder com todas as suas forças, foder, foder, foder, mas detesta apaixonar-se.

Lily pergunta muitas vezes a si própria como é que a terra gira, gira sem que ela nunca ter tido vertigens. E diz para si própria que muito gostaria de poder girar, girar com a terra.

Lily gosta do sol da Flórida e de molhar o seu milho transgénico – aquele que faz explodir os seus seios – na sua chávena de café. Lily gosta de aumentar o volume da TV quando estão a falar de bombas do exército americano que explodem no Japão, no Vietname, no Afeganistão… no Iraque?

Barthélémy Toguo, 'Das Bett', 1995 série, 21x30 cmBarthélémy Toguo, 'Das Bett', 1995 série, 21x30 cm

Lily gosta muito da pele vermelha do Texas e pergunta a si própria porque é que os estilistas nova-iorquinos ainda não pensaram em mudar a pele da cadeira eléctrica.

Lily gosta de fazer amor nos pântanos do Congo porque as picadas dos mosquitos lhe provocam orgasmos.

Lily adora viajar. Com o seu boubou africano, gosta de dançar o sabar senegalês, comer o ndolé  camaronês, ouvir contos masaï, mas detesta a poligamia ocidental.

Lily gosta dos microscópios e dos tubos de ensaio, e apoia os cientistas que querem legalizar a clonagem – o seu sonho é clonar “Lala”, o seu urso de peluche cor-de-rosa.

Lily pensa que tem fé. Traz uma cruz de ouro ao pescoço, mas todos os dias, diante do espelho, pergunta a si própria: Mas por que diabo não o crucificaram sobre um coração? Combinava muito melhor com o meu vestido!

Em Paris, Lily adora escorregar numa caca de cão quando sai de manhã, para comprar a sua baguette e os seus croissants.

Lily está apaixonada por esse belo homem que mora naquela enorme Casa Branca. O seu chapéu de cow-boy é tão sexy… e pergunta a si própria: em que filme poderá ser visto? Ah sim, uma nova versão do mais poderoso do mundo!

Lily está muito feliz: encontrou o creme miraculoso, à base de testículos de touro mexicano, que provoca um lifting permanente.

Lily não compreende como é que os asiáticos fazem para verem alguma coisa, os Negros para se bronzearem e escovarem os cabelos. Olhem para mim, vejam esta linda pele branca e estes grandes olhos azuis!

Barthélémy Toguo, 'Das Bett', 1995 série, 21x30 cmBarthélémy Toguo, 'Das Bett', 1995 série, 21x30 cm

 

Barthélémy Toguo

por Barthélémy Toguo
Mukanda | 12 Abril 2010 | Barthélémy Toguo