À procura da nova arte africana nos anos 1960. Patrocínio e formação na década da euforia – Ulli Beier, Pancho Guedes e Julian Beinart

À procura da nova arte africana nos anos 1960. Patrocínio e formação na década da euforia – Ulli Beier, Pancho Guedes e Julian Beinart Ao contrário do contexto da África francófona, onde dominou o interesse pela criação literária e uma concepção de negritude que passava pela apropriação mais ou menos conflitual da modernidade europeia, alguns mediadores situados mais a sul interrogavam a evolução possível das culturas locais e das grandes tradições artísticas próprias, com independência da subordinação aos modelos europeus de modernidade, que quanto à situação das artes visuais e não só eram vistos de modo crítico. No quadro da morte inevitável da arte tribal própria da sociedade tradicional - mesmo na via da sua cópia turística -, procuravam-se sem qualquer essencialismo nativista (nos casos de Beier, Guedes e Beinart) novas formas populares e espontâneas de produção artística, e também sofisticadas formas sincréticas, no caso da "síntese natural" proposta na Escola de Zaria por Uche Okeke.

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17.12.2010 | por Alexandre Pomar

Pensar a pobreza entre o discurso e a acção

Pensar a pobreza entre o discurso e a acção Para sustentar a acção na perspectiva do desenvolvimento, é preciso alimentar o debate e criar pensamento em torno do modelo vigente e estratégias alternativas para o crescimento socioeconómico. É essa a função do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), que lança este ano três publicações subordinadas ao tema “Padrões de Acumulação Económica e Dinâmicas da Pobreza em Moçambique” na sequência de conferência homónima realizada em Maputo, em Abril de 2010.

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17.11.2010 | por Cristiana Pereira

O may be man

O may be man O May be man descobriu uma área mais rentável que a especulação financeira: a área do não deixar fazer. Ou numa parábola mais recen­te: o não deixar. Há investimento à vista? Ele complica até deixar de haver. Há projecto no fundo do túnel? Ele escurece o final do túnel. Um pedido de uso de terra, ele argumenta que se perdeu a papelada.

Mukanda

03.11.2010 | por Mia Couto

Moçambique, o despertar da fome

Moçambique, o despertar da fome Ao lado da cidade-ostra que alberga a «Pérola do Índico», ergue-se uma outra de chapa onde o descontentamento reverbera no zinco que a cobre. Bairros de areia, muros de caniço, telhados de metal e fogo de carvão. Crianças muitas e um prato de feijão. Entre o tecto de chapa e o chapa do transporte, há um enlatado de pobreza e cansaço que não mais se quer conter. Porque quando a fome aperta, a consciência desperta.

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02.11.2010 | por Cristiana Pereira

Mauro Pinto fotografa os restos do mundo em Maputo

Mauro Pinto fotografa os restos do mundo em Maputo Em Maputo, um homem penteia-se como Batman e vários homens vagueiam nus. Arminda acabou nas ruas da Baixa, com todo o seu enxoval. No caniço, Bitula vende feitiços debaixo de uma árvore. Além do fotógrafo Mauro Pinto, sucessor do mítico Ricardo Rangel, ninguém parece vê-los. Um percurso pela capital de Moçambique, onde hoje há eleições autárquicas.

Cara a cara

21.10.2010 | por Alexandra Lucas Coelho

"Deixem-me ao menos subir às palmeiras…": um filme da 'frente de guerrilha'

"Deixem-me ao menos subir às palmeiras…": um filme da 'frente de guerrilha' Entrevista ao realizador Joaquim Lopes Barbosa, autor de "Deixem-me ao menos subir às palmeiras…", filme rodado em Moçambique, proibido antes do 25 de Abril de 1974, que nunca teve estreia comercial, só raramente foi projectado, permanecendo quase desconhecido e pouco referenciado em termos de história do cinema. Um cineasta para quem “o cinema deve ser uma frente de guerrilha, actuando o mais positivamente possível, contra os tabus, as morais duvidosas e os lugares-comuns bafientos e anacrónicos”.

Afroscreen

03.10.2010 | por Maria do Carmo Piçarra

A outra face do jornalismo moçambicano - Guerra Manuel

A outra face do jornalismo moçambicano - Guerra Manuel Guerra Manuel foi um dos primeiros jornalistas negros em Moçambique. Entrevistou Malagantana, Ricardo Chibanga e Lindo Lhongo na década de 60. Todos eles jovens no início das carreiras. Ao entrevistar estes jovens pretendia dar a conhecer ao mundo o talento e a capacidade artística dos moçambicanos, numa época em que estes não eram valorizados e nem havia espaço na imprensa colonial.

Cara a cara

30.09.2010 | por Rui Guerra Laranjeira

Terra Sonâmbula

Terra Sonâmbula A estória começa quando Menino e Tio, fatigados de andar pelas estradas de terra batida do interior Moçambicano, correndo para uma periferia longe do ruído das minas e das bombas, encontram um machibombo, um autocarro perdido e carbonizado depois de ter sido pilhado por marginais.

Afroscreen

20.09.2010 | por Rui Manuel Vieira

considerações sobre "A Costa dos Murmúrios"

considerações sobre "A Costa dos Murmúrios" Para falar de África é sempre preciso, primeiro, explicar África, o que é uma pena e muito redutor. Quando queremos falar de África, tratar determinados assuntos, temos que lidar sempre com a terrível culpa de não estar a fazer justiça a nada porque estamos a falar de uma coisa que não é verdadeiramente África mas aquilo que nós conseguimos perceber de África, que é muito pouco. A única maneira de lidar com isso é sacudir essa culpa e pensar que se falarmos de sentimentos e emoções universais, as nossas hipóteses de sermos injustos são mais reduzidas...

Afroscreen

10.09.2010 | por Margarida Cardoso

Literaturas emergentes, identidades e cânone

Literaturas emergentes, identidades e cânone O conceito de literaturas emergentes surgiu nas últimas décadas como consequência das chamadas teorias pós-coloniais e alargou-se, por influência da poderosa academia norte-americana, tanto às denominadas literaturas de minorias (étnicas, de género, de orientação sexual), como às literaturas formadas no interior dos processos de colonização e descolonização, independentemente das características destes.

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06.07.2010 | por Fátima Mendonça

Os Monstros, quando a qualidade supera barreiras raciais

Os Monstros, quando a qualidade supera barreiras raciais Os Monstros tiveram um impacto bastante grande entre a juventude negra a nível das mentes. A sua auto-estima e os seus índices de confiança melhoraram bastante, pois, ao cantar Soul Music, música do negro norte-americano, estes passavam a mensagem de luta dado que aqueles eram conhecidos pelo uso da música como instrumento de luta, de denúncia e contestação ao sistema. Isto era feito de uma forma tão subtil e com uso de linguagem metafórica, que o poder colonial não se sentiu em nenhum momento confrontado, daí que o grupo tenha sido largamente aceite pelo establishment.

Palcos

05.07.2010 | por Rui Guerra Laranjeira

Ser curandeiro em Moçambique: uma vocação imposta?

Ser curandeiro em Moçambique: uma vocação imposta? Em Moçambique, como em vários outros países de diferentes continentes, os “médicos tradicionais” ou “curandeiros” assumem um papel central quer na prestação de cuidados de saúde, quer na regulação da incerteza e dos problemas sociais dos seus utentes. Esses terapeutas são normalmente chamados tinyanga (sing. nyanga) no sul do país e, de acordo com as teorias locais, devem os seus poderes curativos, divinatórios e de eficácia ritual ao facto de serem possuídos por espíritos de defuntos, que com eles formam uma simbiose profissional e ontológica (Honwana 2002).

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25.06.2010 | por Paulo Granjo

O sentido comunitário na narrativa africana: o caso de Moçambique

O sentido comunitário na narrativa africana: o caso de Moçambique O sentido comunitário sofreu abalos provocados pela ordem avassaladora da modernidade tecnológica e cultural assimilada, quando não imposta, a partir dos centros difusores do Ocidente, mas é reconhecível - nas práticas do quotidiano, no imaginário e nas criações artísticas - uma ideia de comunhão de origens atracada a formas tradicionais de existência. Na narrativa africana, onde ainda se observa a ressonância de elementos estruturantes de convivência social, de marcas profundas de oralidade, de práticas de partilha de espaços e de bens, e de consciência de pertença a um destino comum, o sentido comunitário da existência impõe-se.

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24.06.2010 | por Francisco Noa

A Canção de Zefanias Sforza - pré-publicação PATRAQUIM

A Canção de Zefanias Sforza - pré-publicação PATRAQUIM A cidade, essa missanga grande, esse vidrilho, esse espelhinho delicado, forrado de seda, com que se tentava entreter e seduzir as mulheres grandes para que estas amaciassem as decisões dos dignitários da terra, tudo isso se diluiu neste traçado, lugar de desembarque e depois de muitos desenhos por onde correm as gentes e as coisas. Penetremos, pois, nesse colar multicolorido, afagando-lhe algumas das contas, as de um certo e improvável Zefanias Plubios Sforza, um moçambicano com qualidades.

Mukanda

22.06.2010 | por Luís Carlos Patraquim

O divertimento do ‘Unce’

O divertimento do ‘Unce’ O "Unce" é um ritmo musical urbano de influência árabe e contemporâneo da Marrabenta. Produto da mestiçagem cultural africana e muçulmana, a sua origem está associada a indivíduos muçulmanos provenientes das Ilhas Comores. Cantado e tocado em ocasiões festivas como aniversários e casamentos de pessoas que professam o Islamismo.

Palcos

15.06.2010 | por Rui Guerra Laranjeira

Marrabenta: evolução e estilização 1950-2002

Marrabenta: evolução e estilização 1950-2002 A Marrabenta é o principal ritmo musical de Moçambique, bem no coração da sua identidade. Ritmo urbano, a sua estilização deve-se a pessoas urbanizadas que, distantes do seu meio social e cultural e sujeitos à influência da cultura ocidental, criaram este ritmo, pegando noutros já existentes como a Magika, Xingombela e Zukuta. Começou no final dos anos 30, mas será na década 50 que se tornaria popular com conjuntos como Djambu, Hulla-Hoope Harmonia.

Palcos

31.05.2010 | por Rui Guerra Laranjeira

Condição humana - o fotógrafo José Cabral

Condição humana - o fotógrafo José Cabral José Cabral chegou por uma via original a essa história colectiva, praticando com um pai amador de fotografia e cinema – e, por sinal, também teve um homónimo avô paterno que foi governador (1910-1938) e um parque com o seu nome na velha capital (hoje Parque dos Continuadores). Começou pela fotografia de cinema e aliou a prática de foto-repórter a programas documentais menos determinados pela urgência. A seguir, terá sido o primeiro a distanciar-se da dinâmica jornalística, e tornou muito claro esse desafio com a escolha das obras para a exposição "Iluminando Vidas"

Cara a cara

28.05.2010 | por Alexandre Pomar

Nós matámos o cão tinhoso!

Nós matámos o cão tinhoso! Quantos destinos nos abandonam ao entrarmos no caminho dos homens? Quantos caminhos abandonamos no destino que seguimos? Invocamos o coro e a estrutura das tragédias para traçar o conflito que a todos nos percorre. O conflito que se ergue entre aquilo a que aspiramos e aquilo que fazemos, entre o que lembramos e o que crescemos, entre o que amamos e o que tememos. Pois ao olharmos o cão tinhoso vemos também o cão que somos, o cão do medo, o cão da guerra, o cão colonizado, o cão colonizador, o cão coragem, o cão da decadência, o cão de fantasia, o cão da ingenuidade, o cão criança adulta, o cão fatalidade. Porque todos os gestos que desenhamos no exterior já aconteceram antes disso dentro de nós. E aquilo que ao mundo damos, seja morte ou seja amor, só a nós oferecemos em silêncio. Mas quando o destino nos escolhe, qual é o destino que escolhemos?

Palcos

23.05.2010 | por teatro o Bando

“Catembe” ou queixa da alma jovem censurada

“Catembe” ou queixa da alma jovem censurada Filmado em 1965, “Catembe”, é um documentário de ficção realizado por Manuel Faria de Almeida sobre o quotidiano de Lourenço Marques. O transgressor da obra foi ter sido a primeira interpretação crítica da realidade colonial portuguesa. Após a censura da obra original – com 103 cortes e destruição da parte censurada - a segunda versão foi proibida. Dos seus 2400 metros originais restou metade pelo que figurou no Guinness Book of Records como o filme alvo de mais cortes por parte da censura na história do cinema.

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16.05.2010 | por Maria do Carmo Piçarra

Nós, os do Grande Hotel da Beira

Nós, os do Grande Hotel da Beira Como qualquer casa ocupada tem as suas regras de convivência e de organização. Ali a ordem tem os seguintes representantes: o secretário de unidade, o de corredor, quarteirão e bloco (andar), os quais se reúnem para resolver problemas dos inquilinos, e dirigem o tribunal de moradores numa ex-suíte do hotel, onde se discute quem tem mais direito à casa (uma mulher com crianças leva vantagem) ou que fulano anda a atirar água suja para a varanda de sicrano. Duas regras são fundamentais: “manter a limpeza e o respeito”.

Cidade

14.05.2010 | por Marta Lança