Queer, impreciso e aqui.

Queer, impreciso e aqui. Precisamos de uma crítica queer, ainda, por nos encontrarmos numa relação de curto-circuito causal com as instituições que governam o conjunto das relações sociais. O ciclo de acomodação e assimilação, pela sua lógica aditiva e integrativa, colocará sempre a racionalidade da instituição primeiro. Eventualmente, esta poderá atualizará a sua retórica, o seu reportório: as fórmulas da sua representação. No limite, talvez seja impactada, a um nível menos percetível, pelos princípios e pautas políticas às quais dedica apenas a mais performativa das atenções.

Corpo

16.07.2023 | por Salomé Honório

New Words for Mindelo's Urban Creole

New Words for Mindelo's Urban Creole epiphron- ser uma namorada ou namorado de curto prazo de um turista ou emigrante em troca de presentes e favores. eris - contratar um perito ocidental para legitimar projetos políticos e económicos contenciosos. eucleia - uma pessoa com uma mentalidade colonial; uma pessoa que acredita que as pessoas pobres e incultas devem ser governadas pela força. eufeme - uma pessoa que acredita que a vida não traz esperança; uma pessoa que é viciada em álcool adulterado.

A ler

04.04.2023 | por Irineu Rocha

Caro amigo racializado (da branquitude)

Caro amigo racializado (da branquitude) o privilégio é branco e o beneficiário da branquitude é maioritariamente branco. Mas a África não está fora dos grilhões da branquitude, porque a branquitude é mais do que a cor branca, a branquitude não é sobre indivíduos nascidos de motivos biológicos não decididos por eles mesmos, mas sobre o sistema que opera na base de uma regra odienta que cega e nega afeto ao mundo preto. Porém, paradoxalmente, há pretos que têm benefício com isso. A branquitude usa o racismo para operar e segregar; e o racismo, apesar de branco (se falarmos só da Europa, porque, caro amigo racializado, temos a China ali ao lado também a racializar-nos), o racismo opera noutro nível, controlando povos e economias, mas concentrando-se mais na cor.

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02.12.2022 | por Marinho de Pina

O rap é misógino?

O rap é misógino? A primeira vez que BLINK se impediu de cantar uma rima, estava num concerto de Regula. Quando a plateia feminina entoou “As duas juntas fazem-me coisas que tu não imaginas / metem as bolas na boca e dizem que estão com anginas”, na música “Casanova”, ela manteve-se em silêncio enquanto tentava digerir o choque. Não era que não tivesse ouvido os versos antes, mas pareceu-lhe errado cantar aquilo sendo mulher. Para a rapper, é possível distinguir o conteúdo da forma. As rimas, a sua métrica e cadência são atrações que por vezes até ofuscam o conteúdo, pelo menos numa primeira audição. Mas as palavras dissecadas deram-lhe a volta ao estômago.

A ler

13.12.2021 | por Rute Correia

E se, para lá das distrações, falarmos do racismo mesmo a sério?

E se, para lá das distrações, falarmos do racismo mesmo a sério? O que verdadeiramente importa é como sair do beco da distração manipulatória que quer condenar os sujeitos racializados a permanecerem no lugar e com o peso da refutação/explicação de uma violência que se abate sobre si, perante a negação do racismo onde se encurralou a maioria da sociedade e das instituições. O que mais mobiliza os sujeitos racializados é a disputa pela conquista da sua capacidade em constituir-se numa instância de proposta política alternativa à ordem cultural racista vigente. Uma proposta de rutura com o status quo que tudo faz para manter o tabu sobre o racismo. Identificar, nomear e combater o racismo estrutural. É isto que irrita todos quantos não se conseguem desfiliar da herança ideológica colonial, racista machista e assassina.

Mukanda

20.12.2020 | por Mamadou Ba

Reflexões sobre discurso e linguagem numa perspectiva decolonial

Reflexões sobre discurso e linguagem numa perspectiva decolonial A voz indígena, nesse sentido, se apropria do imaginário colonial que um dia chamou seus antepassados de selvagens, indolentes e sem alma. Agora é a nossa vez de propagar um diagnóstico sobre esses outros corpos. Maria Pastora/Thinya, ao tomar posse de registros escritos entre o século XVI e XVIII, os quais convergem com uma série de textos produzidos pelos portugueses no mesmo período histórico, é de uma violência simbólica, no mínimo, atraente.

Afroscreen

12.12.2019 | por Lorenna Rocha

Irmãos de língua, a cultura brasileira ganha terreno em África

Irmãos de língua, a cultura brasileira ganha terreno em África No campo das artes procura-se atualizar as relações entre Brasil e África nesse olhar contemporâneo. E os artistas serão sem dúvida o maior veículo, como disruptores de uma mentalidade fechada, pouco descolonializada e preconceituosa, quebrando estereótipos e outra amarras, com a força criativa e resistente que se encontra em várias manifestações da cultura brasileira e africana.

Palcos

01.11.2018 | por Marta Lança

Pronome

Pronome Os dois grupos se assustaram um com o outro, mas perceberam que se tratavam do mesmo grupo encontrado anteriormente. Os Xinaubô estavam com cheiros de plantas impregnados em todo o corpo e pintados dos pés à cabeça, com manchas de todas as cores que conheciam e produziam, enquanto que os Xinaubaté usavam mascaras de madeira pintadas com rostos nunca vistos e galhos e folhas amarrados nas pernas, braços e cabeça. E os Xinaubô disseram aos Xinaubaté: “Nós somos nós e estamos aqui e agora em nós”. E os Xinaubaté rebateram: “Vocês habitam vocês e nós a nós”.

Mukanda

03.07.2016 | por Leonardo Araújo

Entrevista com Irineu Destourelles

Entrevista com Irineu Destourelles A entrevista com Destourelles oferece um ponto de reflexão sobre as ambiguidades da dialética entre o eu e o outro, o dentro e o fora, o colonizador e o colonizado e sobre a sua atividade artística através de um olhar oscilante que a diáspora lhe proporciona. Neste contexto, Destourelles comenta o modo como os processos de domínio, assentes nos estereótipos dicotómicos, tendem a perpetuar-se assumindo novas matizes e o modo como estes são interrogados através do seu trabalho artístico.

Cara a cara

28.03.2016 | por Ana Nolasco

Língua, linguagem e poder: opressões na palavra

Língua, linguagem e poder: opressões na palavra No contexto das sociedades ocidentais, e actualmente no quadro de uma mundialização uniformizadora, o detentor da palavra e do poder é o homem branco, sedentário, escolarizado e heterossexual com privilégios variáveis consoante classe social, país de origem, situação geográfica... A discriminação nasce de uma vontade de poder e vive, actualmente, nesta conjuntura. É na língua, por outro lado, que as identidades se desenham, sendo importante assinalar o risco de se conceber essa identidade como uma clausura excludente e opressora, potencialmente racista porque instalada na ilusão da “superioridade linguística” ou da “pureza idiomática”.

A ler

13.07.2015 | por Hugo Monteiro