Ação de Graças, o luto do povo da Primeira Luz

Ação de Graças, o luto do povo da Primeira Luz Os perus, pão de milho, abóboras, amoras e bolos são a cara feliz do dia de Ação de Graças. Nesta celebração fofa que Hollywood nos impinge, as famílias unem-se e abraçam-se; os bons cidadãos ajudam os pobrezinhos que não têm que comer; milhares desfilam pelas ruas das cidades. A festa celebra o amor ao próximo e prepara os estômagos e ânimos para o Black Friday na virada das 24 horas. Oficialmente, a comezaina e arrebate de caridade têm origem lá no início da fundação dos EUA em terra indígena, quando o primeiro grupo de colonizadores europeus com intenções claras de assentar arraiais aportou às praias do que hoje é Massachusetts. Eram 102 e passaram para a História como os “pais peregrinos”. Era o ano de 1620.

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01.12.2021 | por Pedro Cardoso

Caros amigos brasileiros

Caros amigos brasileiros Repito, amigo, A NOSSA EXISTÊNCIA NÃO É MERA RESISTÊNCIA, NÃO É MERA SOBREVIVÊNCIA. É vida e alegria e confusão e harmonia e choros e risos e festas e amigos e bestas e esgares e pesares e desaires. Portanto, pelamordideus, amigo, para de fazer os teus artigos… científicos… a chamar de resistência à nossa forma de existência

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05.11.2021 | por Marinho de Pina

A memória na moldura

A memória na moldura Os álbuns que, apesar de nem sempre terem uma curadoria pensada, acabam também por refletir a natureza do colonialismo que coloca um forte investimento no nível afetivo. Naqueles álbuns, o racismo acaba por ser exposto com afeto, carinho, amor até. E parece ser tratado como um membro da família que não se quer esquecer, tal como uma “mulher da Guiné” na moldura.

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02.11.2021 | por Carla Fernandes

As Pinturas Murais do Salão Nobre da Assembleia da República: Documento do colonialismo ou o colonialismo (ainda hoje) em acção?

As Pinturas Murais do Salão Nobre da Assembleia da República: Documento do colonialismo ou o colonialismo (ainda hoje) em acção? As imagens não ilustram argumentos, elas são o argumento colonial; não são um documento do colonialismo, mas o colonialismo (ainda hoje) em acção.

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31.10.2021 | por Inês Beleza Barreiros

Europa, je t'aime moi non plus

Europa, je t'aime moi non plus Passou para as gerações seguintes através das figuras do ex-colonizador e do ex-colonizado. Estas “personagens” reencenam uma complexa fantasmagoria profundamente relacionada com o espectro mais íntimo do subconsciente europeu: o seu fantasma colonial que se manifesta inter alia sob a forma de "transferências de memória" colonial — como racismo, segregação, exclusão, subalternidade – ou sob a forma de "erupções de memória", e assim questiona a essência das sociedades multiculturais europeias, desenhadas pelas heranças coloniais e alimentadas por vagas migratórias.

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31.10.2021 | por Margarida Calafate Ribeiro

Que lugar para África na cena artística portuguesa? (2015)

Que lugar para África na cena artística portuguesa? (2015) Para começar não me parece que haja propriamente uma cena artística africana em Portugal. Há algumas intervenções, promovidas sobretudo por agentes culturais portugueses (e alguns africanos, sobretudo angolanos), na música, cinema, artes plástica, teatro, mas não consistiu nenhuma « cena artística ». Mas é uma aparição bastante recente e com um grande atraso em relação a outros países. Na década de 80 houve uma grande amnésia, não se falava muito sobre África, ainda na ressaca de descolonização.

Cara a cara

25.10.2021 | por Maud de la Chapelle e Marta Lança

O labor da memória como “intervenção radical” e “reparação”: entrevista com Marita Sturken

O labor da memória como “intervenção radical” e “reparação”: entrevista com Marita Sturken O campo dos estudos da memória é desafiado mais do que nunca pela crescente volatilidade dos debates sobre o que as nações lembram e, consequentemente, o que esquecem. Monumentos e memoriais estão a ser vandalizados, demolidos e oficialmente removidos. Estes já não podem mais ser simplesmente vistos como parte de uma paisagem histórica. Em grande medida, muito do que se passa hoje pode ser entendido como um combate pelas narrativas históricas dos monumentos e do seu poder, mas também se trata de tensões em torno de quem a nação lamenta e quem esta vê ou não vê como tendo uma "vida digna de luto" para usar o conceito de Judith Butler. Portanto, vejo o activismo da memória como um lugar chave para a produção de investigação sobre a memória.

Cara a cara

25.10.2021 | por Inês Beleza Barreiros

Uma noite do tamanho de um país

Uma noite do tamanho de um país Trabalhar sobre este momento traumático para história da cidade implica focar vítimas e agressores, mas implica também falar da estrutura social. Num breve retrato: um país com o mais longo império colonial, saído há duas décadas de uma guerra de grandes proporções pela manutenção das suas colónias e com acentuados fluxos migratórios vindos dessas ex-colónias, num momento marcado pela assinatura dos acordos de Schengen e por uma série de políticas nacionais de criminalização das migrações, vê, num dia de revisitação solar do seu passado colonial, um linchamento racial de largas proporções ser motivado pelas comemorações da efeméride.

Cara a cara

11.10.2021 | por Filipe Nunes

Vasco da Gama: o massacre dos peregrinos e outras atrocidades

Vasco da Gama: o massacre dos peregrinos e outras atrocidades A vinte e nove de setembro de 1502, naus portuguesas avistaram na costa indiana um barco com centenas de pessoas que regressavam de Meca para Calecute. Vasco da Gama procurava há dias atacar peregrinos muçulmanos que ali passavam e tinha um plano sanguinário para os que se encontravam a bordo desta embarcação: «andando algumas das nossas naus em procura das que vinham de Meca, a S. Gabriel se encontrou com uma de Calecute que dali voltava com duzentos e quarenta homens, sem falar nas mulheres e crianças, que eram bastantes, e que todos voltavam daquela peregrinação: deu-lhes logo caça, e tendo disparado alguns tiros de bombarda, para logo se renderem»

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29.09.2021 | por Pedro Varela

Como Amílcar Cabral inspirou a pedagogia de Paulo Freire

Como Amílcar Cabral inspirou a pedagogia de Paulo Freire O trabalho e a prática de Freire inspiraram o que se tornou um movimento pedagógico crítico mundial. Cabral é uma influência centralmente importante, embora em grande parte não reconhecida, desse movimento. No último livro escrito antes de sua morte, intitulado Cartas a quem ousa ensinar, a influência de Cabral sobre Freire parece ter permanecido central, pois ele insistiu que o livro era “importante para lutar contra as tradições coloniais que trazemos conosco”.

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22.09.2021 | por Curry Malott

Álbuns de Guerra: instantâneos trocados a partir de uma criação

Álbuns de Guerra: instantâneos trocados a partir de uma criação O ponto de vista sobre a guerra não é portanto aqui o mais habitual – por ser o de mulheres do campo em Portugal, não protagonistas do palco da guerra. É o ponto de vista do impacto do acontecimento nas vidas (banais) daquelas que permaneceram em contextos rurais ou semi-urbanos em Portugal, e de como as suas vivências e sociabilidades (também) se constituíram pela guerra e pela influência, por vezes quase espectral, daqueles que para ela foram mobilizados: noivos, maridos, ou quase desconhecidos.

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31.08.2021 | por Ana Gandum

Sarah Maldoror, a poesia da imagem resistente

Sarah Maldoror, a poesia da imagem resistente Esta é uma retrospetiva praticamente integral da obra de Sarah Maldoror (1929-2020), realizadora conhecida sobretudo pela dimensão mais militante do seu cinema associada às lutas contra o colonialismo, e autora de uma obra multifacetada determinante para a afirmação de uma cultura negra, que, permanecendo em grande parte invisível, assume particular relevância no contexto português pela sua ligação ao nosso passado colonial.

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18.08.2021 | por Joana Ascensão

Hugo Vieira da Silva adapta Conrad para o século XIX angolano

Hugo Vieira da Silva adapta Conrad para o século XIX angolano A compreensão da cosmologia bantú é algo a que os portugueses não podiam aceder. O filme reflecte muito sobre a impossibilidade de tradução das culturas. Diria que a loucura das minhas personagens é gerada pela impossibilidade de compreensão do outro. Esses delírios são também os delírios provocados pela amnésia portuguesa auto-infligida, amnésia da inquisição nos trópicos, da escravatura, da violência sobre o outro.

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10.08.2021 | por Amarílis Borges

“O cinema para uma luta anti-racista”, entrevista a Joseph da Silva

“O cinema para uma luta anti-racista”, entrevista a Joseph da Silva O cinema militante tem precisamente o objetivo de, através da força das imagens, mostrar a realidade sem a suavizar para que se tenha em conta a real dimensão dos problemas e a partir daí suscitar o espírito crítico, em última instância para procurar soluções, mas em primeira instância para possibilitar abrir portas à consciencialização da existência desse problema. O cinema tem esse papel e tem essa importância de, através da força das suas imagens, da força da sua linguagem, retratar realidades, retratar personagens que dão a dimensão que nos falta no nosso dia a dia para entendermos o real problema que as comunidades marginalizadas enfrentam diariamente.

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19.07.2021 | por Alícia Gaspar

Justiça racial e colonialismo em Portugal: da negação à reparação

Justiça racial e colonialismo em Portugal: da negação à reparação Nos anos 30, com o slogan “Portugal não é um país pequeno”, o Estado Novo procurou cultivar um orgulho nacional derivado da dimensão do império colonial português. Contudo, nos anos 50, numa altura em que os impérios coloniais se encontravam em colapso pelo mundo inteiro, o regime viu-se obrigado a justificar a sua presença colonial em África. Nesse sentido, amplificou a narrativa do lusotropicalismo – um imaginário de Portugal como uma nação multirracial e pluricontinental, com uma capacidade inata para um tipo de colonização amigável e não-violenta, e uma atitude liberal relativamente a relações sexuais e casamentos interraciais. Silenciando a realidade do racismo e do colonialismo, a propaganda solidificou-se em livros de história, estátuas e monumentos, cimentando uma narrativa histórica profundamente alienada.

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12.07.2021 | por Rui Braga

O primeiro jornal da história do Brasil como testemunha das origens dos escravizados do Rio de Janeiro oitocentista

O primeiro jornal da história do Brasil como testemunha das origens dos escravizados do Rio de Janeiro oitocentista A chegada da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro, em março de 1808, provocou um grande impacto na cidade, capital da então colônia de Portugal. O efeito pode ser notado em diversos aspectos, sobretudo no que se refere ao aumento populacional da região e à expansão da importação de indivíduos escravizados. Impactado pela inédita transferência de uma Corte europeia para um território colonial e pelo decreto de abertura dos portos brasileiros às nações amigas, o Rio sofreu modificações marcantes.

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01.06.2021 | por João Victor Pires

As palestinianas e a luta das despossuídas

As palestinianas e a luta das despossuídas E se a Nakba, a palavra que elucida a despossessão catastrófica por excelência, não é um evento do ano de 1948, mas uma condição constantemente reconstituída da vida palestiniana, então resguardar-se contra ainda outra Nakba passou a ser estrutural nesta história e entrelaçado com a própria vida palestiniana.

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25.05.2021 | por Samera Esmeir

Encontros de mulheres nas descolonizações - Modos de Ver e Saber

Encontros de mulheres nas descolonizações - Modos de Ver e Saber Como é que as mulheres olharam as lutas de libertação nas ex-colónias portuguesas? Como é que os seus olhares foram integrados ou não na imaginação do colonialismo? Houve um olhar específico das mulheres sobre a libertação do colonialismo português? Que saber e consciência temos de/sobre esses olhares? E como é que esses olhares se cruzam com os das realizadoras, artistas, curadoras e académicas que hoje questionam os arquivos, públicos e privados, interrogam e recriam visualmente as suas memórias e re-imaginam o colonialismo? Que acção é que a investigação académica, as políticas de conservação de arquivos, os gestos de programação e curadoria podem ter no questionamento ou, pelo contrário, no prolongamento das “políticas (oficiais) da memória”?

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22.05.2021 | por Ana Cristina Pereira (AKA Kitty Furtado), Inês Beleza Barreiros e Maria do Carmo Piçarra

PING! - Programa de Incursão à Galeria: Debates / Workshops / Percursos / Cinema / Visitas

PING! - Programa de Incursão à Galeria: Debates / Workshops / Percursos / Cinema / Visitas Articula‑se em dois temas: Em Ecopensamento, parte‑se de estudos ecocríticos para promover o debate sobre novas possibilidades de interdependência entre os domínios natural, social e político. Em Especulações Botânicas, introduzem‑se questões que têm sido levantadas por artistas sobre a ciência que se dedica ao estudo das plantas, tais como a nomenclatura científica atribuída às espécies e o reconhecimento do saber empírico e popular do seu poder curativo.

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22.05.2021 | por vários

O jardim da Praça do Império e os fiéis jardineiros do colonialismo

O jardim da Praça do Império e os fiéis jardineiros do colonialismo Para desgosto dos mestres-jardineiros da outrora capital do império, a “inconstância da alma indígena” foi e será a autodeterminação de quem se quer recusar a ser talhado pelo poder colonial-racista. Vale lembrar que os cravos de abril não teriam existido sem essa preciosa determinação.

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22.05.2021 | por Bruno Sena Martins