Tourism and Seductions of Difference | Lisbon, Portugal | 9-12 September 2010

Who, or what are tourists seduced by? What constitutes their arousal? How do tourists learn what to be seduced by? How is the tourist experience and the temptation to travel framed? What can these attractions tell us about the moral order of tourism and modern culture? How are forms of local, ethnic, gender and national self being shaped and maintained in the contact zones of tourism? How are tourist attractions assembled to entice tourists? How is seduction in tourism being politically framed? What are the threats and consequences of seducing tourists? What happens when tourists seduce? How can seduction work as a means for resistance? What happens when seduction is rejected?

As tourism research spreads into the social sciences, this Conference will tackle one of the central ontological and phenomenological premises of tourism, the fascination with the idea of ‘Others’. Anthropologists have studied how separations between ‘Self’ and ‘Other’ become part of various public and personal aesthetics of everyday life. They have studied how the idea of differences between people, temporalities and places enable social actors to constitute and maintain selfhood within a wider cosmological scheme of social life. In the field of tourism practice, one of the most basic premises consists in temporarily overcoming difference, be it through the journey to a ‘different’ place, the eating of ‘different’ food, the contact with ‘different’ people. Whatever their ontological underpinning, Self and Other are almost ceremonially brought into contact. Self is deliberately immersed in the realm of an Other. Moreover, in the post-touristic context ‘back home’, the visited Other seems to perpetuate a presence, a sympathetic quality. It has penetrated the touristic body, is invoked in travel stories and embodied in photographs and souvenir objects. While rhetorically and socially separated, ‘Self’ and ‘Other’ hence appear here in fact mutually constitutive, exerting seductive powers upon each other, ‘bewitching’ and ‘colonising’ each other, invoking each other and making each other a fetish of their own existence. The touristic immersion in the Other seems part of an ontological work which enables the maintenance of Selfhood.

This Conference will explore the seductive powers underlying this immersion of Self in the Other and the forms of social life and exchange its shapes at different scales of social life. It will bring together around 200 academics from more than 30 countries presenting 150 papers during four days. The Conference is likely to be the largest anthropological event ever focusing on tourism. Download a draft programme (V2.85 updated 11 August 2010). It also includes a film festival, various study tours, an ‘intergenerational’ networking event and a book fair. The philosophy of this event and of the network of researchers who have been organising it is to be open and accessible. For that reason, the registration fees were fixed at a strict cover-cost basis and include all lunches, coffee breaks and a dinner.

Organisers

Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA)
Tourism Contact Culture Research Network (TOCOCU)
Centre for Tourism and Cultural Change (CTCC)


  

 

contact details to tourismcontactculture@gmail.com
more informations here

 

 

23.08.2010 | por martalanca

uma voz que não morre - rdc

Escrever sobre Ruy Duarte no passado custa-me por ele não poder responder. A expressão das suas considerações - de forma elegante ou, por vezes, irascível (coisa que comigo só aconteceu uma vez e, mesmo assim, foi uma cólera tão bem fundamentada e contextualizada que só pude dar-lhe razão apesar da minha teimosia) - acrescentava sempre. A sua voz ainda está muito presente, viva e intensa - com atribuições sábias para tudo, da paisagem ao livro, passando pela fofoca – cheia de adjectivos precisos e originais, uma voz com o tanto que partilhou connosco nos últimos anos. Por isso me custa muito a ideia de ele já cá não andar, com o seu ar dandy e a eloquência que sabemos. Ruy Duarte de Carvalho, cultivador de um ríspido isolamento, no seu caso necessário para pensar e criar, enredar a fábula com uma pesquisa apurada, ruminar no silêncio e na luz que vai esmorecendo na parede e no mar as suas conspirações privadas, esse Ruy isolado gostava porém de conversar interminavelmente e se rodear de juventude que, como ele, vive a inquietação e insatisfação perpétuas de querer saber, sem se fechar em fundamentalismos, que ousa ideias, produz conhecimento e ironiza com os factos da História.

Conheci-o na rua António Barroso, Maianga, numa Luanda que vivia a excitação da paz, em 2005. O Filipe Calvão e eu, amigos do seu filho Luhuna, fomos lá buscá-lo para o levar a almoçar à ilha, a mesma dos pescadores caluandas que Ruy conhecia a fundo. A partir daí estabeleceu-se aquela cumplicidade indizível: um reconhecimento. As ligações e paixões por Angola vão-se repetindo em ciclos com novas curiosidades que aí nos trazem, e novos dados nos revelam, nos dão trabalho e tanto que pensar. Ele sentiu isso em nós, jovens curiosos, pesquisadores de dinâmicas angolanas, desejosos de compreender as equações dos tempos, poderes, figuras, culturas, dificuldades e desafios do país, pessoas que realmente querem conhecer e viver Angola. Confiou e entregou-se, concedendo o privilégio de nos passar tanto do seu conhecimento e companhia inspiradores.

A partir daí seguiram-se visitas ao fim da tarde na casa da Maianga e sempre longas conversas que me deixavam num estado de exaltação mental e espiritual, continuadas pelas leituras dos seus livros. Quando vendeu a casa e se mudou para a Namíbia, nas passagens esporádicas por Luanda, ficava hospedado no castiço hotel Globo, Mutamba, próprio para o imaginário de um escritor desprendido do mundo material, apesar de tão ligado à matéria do mundo. Ali ficava a fumar e a pensar, a sentir as vibrações da cidade. Pressentia o que implicam as transformações desta nova Luanda, nem sempre familiar e afável para ele, mas empenhado em perceber os seus comos e porquês.

Tivemos novos encontros em Lisboa até que, na conferência da Gulbenkian, onde apresentou a proposta neo-animista, decidimos pôr mãos à tentativa de criar um movimento, que fizesse convergir várias procuras, de académicos, artistas e viajantes, cada um com os seus contributos para uma linha (do) comum. Mas isso são outros quinhentos, que serão falados a seu tempo.

kalahari, SA 2009kalahari, SA 2009

 

Entretanto o Ruy pediu-me para o ajudar a organizar as suas actividades, livros, filmes, viagens e projectos. Mantivemos acesa comunicação, cuidando-nos. Fui viver para Moçambique em 2009 para preparar, com o Pedro Pimenta, o ciclo “E agora… vamos fazer mais como?” de filmes e debates no Festival Dockanema. Foi o reencontro do Ruy com o mundo do cinema e festivais, além do regresso à cidade de Maputo onde trabalhara, 40 anos antes, na fábrica da cerveja Laurentina. E por ali andava radiante a bater muito papo, fumar cigarros, relembrar os tempos em que palmilhou Angola para filmar e mostrar quem são afinal os angolanos, na sua tão rica diversidade. Dali partimos, o Ruy e quatro jovens marinheiros, na nossa grande viagem pela África do Sul, um país com tantas questões em articulação com a sua obra (leia-se A Terceira Metade). Já viajara com o antropólogo Filipe Calvão (o amigo que nos apresentou) pelos Estados Unidos e Namíbia, e agora preparávamos novas incursões: depois da sua recente estadia na ilha de Santa Helena, a ‘comitiva’ iria à Argentina e a pontos do globo que configuram cartografias de antigos impérios, deslocações, reincidências e utopias. Novas transumâncias o obcecavam.

É claro que nos restam os livros e essa obra magnânime que, plena de perguntas, tanto deixa por descodificar – de uma originalidade e talento que tornam claro que Ruy Duarte de Carvalho é um dos melhores escritores de língua portuguesa e, portanto, permanecerá firme no cânone da literatura angolana e lusófona. É uma obra que aponta caminhos, retira da invisibilidade povos, modos de vida, comunidades, autores, pessoas que se cruzaram com ele algures num percurso exploratório, e até palavras e expressões - erudição e coloquialidade juntas numa expressividade única! Uma obra que impele para determinadas direcções, os tais caminhos que só podiam ser aqueles, como o nosso destino também só poderia ter sido o que nós fizemos dele.

Mas, que raio, sempre que abro um livro seu ouço aquela voz assertiva e questionadora ao mesmo tempo, a mostrar-nos evidências e subtilezas, a fazer ver as imbecilidades do mundo e de como a ambição dos homens, suas aventuras, saques e explorações loucas, acabaram por suscitar tão crueis destinos mas também interessantes desafios à humanidade, e à compreensão da mesma.

E os poemas que a natureza escreve por si, ainda lá estão à espera que o Ruy os descubra para nos revelá-los.

Acredito que esteja já nesse encontro com os mais-velhos a falar disso tudo e muito mais. Fazer mais como?

20.08.2010 | por martalanca | Ruy Duarte de Carvalho

Estação das Chuvas

O segundo romance de José Eduardo Agualusa ganha edição definitiva pela Língua Geral, no Brasil. 

 

Sobre o livro
Luanda, 1992, recomeço da guerra civil angolana. Historiadora e poeta, Lídia do Carmo Ferreira desaparece misteriosamente. É mais um fato que atesta o presságio de Vavó Fina (“A vida vai-te comer”) sobre o destino de Lídia. Em busca de esclarecimentos, um jornalista investiga o passado dessa poeta e, assim, chega ao registro da história moderna de Angola.
Neste livro de José Eduardo Agualusa, os limites entre ficção e história são dissolvidos por meio de uma técnica sofisticada, de hábil enxadrista do gênero romanesco, em que se agrupam citações de periódicos, depoimentos, entrevistas, de modo a confundir os leitores quanto à autoria dos diversos textos: ficção ou realidade?
Estação das chuvas é um dos romances mais aclamados de José Eduardo Agualusa, escritor que recebeu, em 2007, o Prêmio de Ficção Estrangeira do jornal britânico The Independent e que vai se afirmando como um dos principais nomes da literatura do continente africano.

 

(a sair em breve!)

20.08.2010 | por martalanca | Agualusa, literatura angolana

CALL FOR PAPERS Pen-insularities: writing east and west in Portuguese

AN INTERNATIONAL COLLOQUIUM

University of Bristol, 15-16 April 2011

 

It is a unique feature of the lusophone world that no Portuguese-speaking country borders on another. The lusophone world is therefore a pattern of islands divided from each other by oceans - whether maritime, territorial, or linguistic ones. Nowhere is this more the case than in the territories, countries, and regions of the Indian Ocean and South China Sea, where the Portuguese left their language and culture, an area bounded by Mozambique in the West and Macau in the East, and taking in Goa, Sri Lanka, Malacca, and East Timor, - islands, peninsulas, old trading emporia, local communities whose identities have somehow been shaped by Portuguese. Within the broad field of postcolonial studies, and within what might be termed the discrete discipline of lusophone postcolonialism, the colloquium will look at the history, literature and culture of these former territories of Portugal in order to determine to what extent their association with Portuguese feeds into any notion of postcolonial identity, and to draw, where appropriate, comparisons and contrasts with other parts of the world, notably the lusophone Atlantic.

 

We welcome proposals for papers in English or in Portuguese or panels incorporating any of the following topics and themes:

 

* Literature from Goa, Macau and East Timor in Portuguese or other languages.

* The History and Literature of Mozambique in the context of the country’s links with societies and cultures across the Indian Ocean.

* Literature or other cultural manifestations from Malacca, Sri Lanka, or other parts of South East Asia, which speak of an association with Portuguese.

* The social and cultural histories of the Portuguese in the Indian Ocean and South China Sea.

* Creolization, creole languages, creole cultures.

* Portuguese Orientalism.

* Comparative literary or historical themes relating to the above.

 

Please send a title and short abstract to either D.R.Brookshaw@bris.ac.uk, or Gustavo.Infante@bris.ac.uk by 20 September 2010.

 

 

COLÓQUIO INTERNACIONAL

Pena-Insularidade: escrever o Oriente e o Ocidente em Português

Universidade de Bristol, 15 e 16 de Abril 2011

 

 

Uma das características distintivas do mundo lusófono é o facto de nenhum dos seus países fazer directamente fronteira com outro. Deste modo, podemos considerar que o mundo lusófono é um conjunto de ilhas com oceanos de permeio, sejam eles feitos de mar, de terra ou de língua. Em mais nenhum lado acontece tal fenómeno, com territórios, países, regiões, espalhados pelo Oceano Índico e pelo Mar da China, locais onde os portugueses deixaram a sua língua e cultura. Vestígios de vária ordem espalhados num elo que se estende de Moçambique, a Oeste, a Macau, a Oriente, incluindo Goa, Sri Lanka, Malaca, e Timor-Leste - ilhas, penínsulas, antigos entrepostos comerciais, comunidades cujas identidades foram de algum modo moldadas pelos portugueses. No âmbito do extenso campo dos Estudos Pós-Coloniais, e mais concretamente no que concerne o Pós-Colonialismo Lusófono, este colóquio irá debruçar-se sobre a História, a Literatura e a Cultura desses antigos territórios portugueses, de modo não só a determinar até que ponto a associação desses com a Língua Portuguesa vai beber a qualquer noção de identidade pós-colonial, mas também de modo a comparar e contrastar com outras partes do mundo, nomeadamente com a lusofonia de vertente atlântica.

 

Aceitam-se propostas de comunicação em inglês ou português, ou painéis que debatam qualquer um dos seguintes tópicos ou temas:

 

* Literatura de Goa, Macau e Timor-Leste em português ou em outra língua.

* História e Literatura de Moçambique no contexto das suas ligações com outras sociedades e culturas do Oceano Índico.

* Literatura ou qualquer outra manifestação cultural de Malaca, Sri Lanka, ou outro território do Sudoeste Asiático, que esteja associado com a Língua Portuguesa.

* Histórias sociais e culturais dos portugueses no Oceano Índico e no Mar da China.

* Crioulização, línguas crioulas, culturas crioulas.

* Orientalismo Português.

* Temas de História ou Literatura Comparadas relacionados com qualquer dos temas acima mencionados.

 

Pedimos-lhe que nos envie o título da sua comunicação e um pequeno abstract para D.R.Brookshaw@bris.ac.uk ou para Gustavo.Infante@bris.ac.uk até 20 de Setembro de 2010.

20.08.2010 | por martalanca

Exposição da Bienal de Bamako no Franco-Moçambicano

Exposição da Bienal africana da fotografia de Bamako (Mali) 2009 pela primeira vez em Moçambique entre 18 de Agosto a 11 de Setembro 2010.

O CCFM, a Culturesfrance, o Centro de Formação Fotográfica de Bamako e o Festival Tunduro apresentam no Centro Cultural Franco-Moçambicano várias exposições que integram no programa do Festival Tunduru 2010.

Os 8 encontros fotográficos de Bamako em Maputo terão 4 exposições, 110 fotografias e 2 vídeos.

 

EXPOSIÇÃO :

BIBIANA
Seydou CAMARA, fotográfo – Bamako – Mali

FRONTEIRA E ILEGALIDADE
L’ORPAILLAGE
Aboubacar Traoré

GOSTO DOS MEUS VIZINHOS
Mario Macilau

18.08.2010 | por martalanca | encontros de fotografia de Bamako

Projecto Reunir

A Zoológico Produsons(Medina) apresenta: 

O Projecto Reunir visa homenagear aquela que em vida foi uma das figuras mais emblemáticas e incontornáveis da música Angolana.Estamos sem sombra para qualquer dúvida a  falar de Alberto Teta Lando.Um artista que influenciou gerações,ajudou a construir e desenvolver o modo de fazer,encarar e se estar  dentro da música.

Este exímio músico e compositor,nascido em 1948,em Nbanza Congo, alcançou o sucesso com apenas 15 anos de idade com a canção “Ki ngui Mbanza”,interpretada por Anita Garcia. Alberto Teta Lando não ficou por aí  e em 1969 lança o single “Um assobio meu” que veio a se tornar  um verdadeiro sucesso em todo País.Este grande músico de intervenção,produziu ainda grandes sucessos tais como “Eu vou voltar”, ”Samba de Angola”, ”Reunir” e “Esperanças idosas”, trabalhos que tornaram-no num dos artistas mais queridos e ouvidos por uma legião de seguidores.

Os seus poemas em português, kimbundo, kikongo e outros dialectos, retratam de uma forma bastante nostálgica a vida quotidiana,tendo como pano de fundo a tradição oral.Estes poemas, exprimem as dores,lamentações e acima de tudo as esperanças que envelheceram,mas sem nunca deixar para depois a alegria de viver que se manifesta na dança. 

A sua morte em Julho de 2008, trouxe um enorme vasio e tristeza no cenário musical de angola e não só.E é com a intenção de se eternizar a sua obra que a Zoológiko Produções reuniu um conjunto de artistas para a gravação de um projecto denominado “REUNIR”,onde o uso de estratos dos seus maiores sucessos seriam a pedra basilar para o referenciado projecto que conta com participações de grandes artistas do cenário rap underground de angola,tais como Brigadeiro Matafrakuxz, Flagelo Urbano, Denexl,Spike,Tião Mc,Kota Sebba,Cláudo Escobbar,Cosmopolita Cmt,Moona, Kita Mc, Khormiko  Mc, San Caleia, Arséniko, Afro Kid entre outros que com os seus versos vão cantar,interpretar e mostrar a influência  que Alberto Tata Lando  exerceu sobre  a forma de pensar e ver a música.
 

O projecto está a ser gravado,misturado e masterizado nos estúdios da Zoológiko produsons (Medina),pelo mano  Flagelo Urbano  e ainda não se sabe quando há-de ver a luz do dia,mas disponibilizou-se já alguns sons promocionais para que o pessoal tenha alguma ideia daquilo  que vem por ai.
 

1.Mono-Sintonisa (Música)
Letra:Mono
Prod:Flagelo Urbano
Pianos e Sons adicionais:Flagelo Urbano
Contém estratos da música “Tia Chica” de “Alberto Teta Lando”
 Voz  incidental“Flagelo Urbano”

 

2.Brigadeiro Matafrakuxz-Segue em frente (Angolano)
Letra:Brigadeiro Matafrakuxz
Prod:Flagelo Urbano
Pianos e Sons adicionais:Flagelo Urbano
Contém estratos da música:Angolano segue em frente de “Alberto Teta Lando”

 

3.San Caleia-Unidos pela mesma Luta
Letra:San Caleia
Prod:Flagelo Urbano
Pianos e Sons adicionais:Flagelo Urbano
Contém estratos da música:Wembo Wembo de”Alberto Teta Lando”

aqui o link para baixar.

18.08.2010 | por martalanca | rap, Teta Lando

um preto, aos 80

Ornette Coleman, na Wire de Junho. Na capa e a ilustrar a entrevista, fotos admiráveis de Mark Mahaney. Agora que o ícone global, Michael Jackson, morreu, estas imagens, com antecedência de um mês, dão-nos a versão recalcitrante do preto não reciclável. São, de um estranho modo, uma pedagogia da memória – a memória de algo como The Souls of Black Folk -, num momento em que a ascensão de Obama poderia sugerir a inutilidade, ou pelo menos a dispensabilidade, desta. A Wire, sempre esperta, chamou a este Ornette aos 80, Empire State Human. Lamento, mas não confere com as fotos. Nelas, desde a extraordinária foto da capa, em que o transcendente parece ser objecto de um olhar suspeitoso (por efeito de um chapéu que obriga a contemplá-lo de soslaio), Ornette parece antes distantemente encenar a longa teoria de máscaras do negro americano, desde o Louis Armstrong de rasgado sorriso alvo e lenço na mão ao interminável processo de recodificação de Jackson e, por fim, à «normalidade» de Obama, a mais difícil das recodificações. Ornette repropõe uma figura clownesca, alguém que joga com um chapéu de cabedal amolgado o difícil jogo céptico de quem não esquece a máscara que a ideologia sempre colou ao «preto americano»: o da sua irrelevância, apenas redimível por um efeito de simpatia, qual o que se sente por um velhote frágil posando com (ou por meio de) um chapéu. Um discreto, mas poderoso, efeito Tati, digamos. Quando irrompeu na cena jazz, sobretudo após Free Jazz, Ornette foi convidado para tocar em pelo menos um congresso como representante do «feio» (o saxofone de plástico ajudava…). Ornete não fazia grandes proclamações: tocava, sim, a sua música «feia», rodeado dos grandes músicos que o acompanhavam. Muitas décadas depois, e após ter operado o seu peculiar revisionismo sobre o «jazz», e mesmo sobre o «free», com o seu sistema «harmolódico», este Ornette parece desconfiar: do progresso, da redenção, da recodificação ou reciclagem do passado. A forma como opera é, algo paradoxalmente, por reciclagem: de uma iconografia do passado, de uma alma que perdura (a do preto americano) para lá de todas as recodificações. Mostrando – com uma muito especial autoridade, é caso para dizer – que as revoluções demoram muito tempo a chegar – e mais ainda a ter efeitos.

 

Osvaldo Silvestre em Os Livros Ardem Mal

18.08.2010 | por martalanca | jazz, Ornette Coleman

Dockanema 2010

18.08.2010 | por martalanca

IDENTIDADE E DIVERSIDADE NA ARTE CONTEMPORÂNEA DA BAHIA E ANGOLA

Individual do artista Kiluanji Kia Henda, selecionado para a 29ª Bienal de SP, é aberta junto com coletiva de artistas contemporâneos da Bahia, como Marepe e Caetano Dias. Curadoria: Daniel Rangel

17.08.2010 | por martalanca | Galeria soso, kiluanji kia henda

une autre histoire de l'Afrique - entretien avec Boris Boubacar Diop

voir ici le video

 

et des autres entretiens.

17.08.2010 | por martalanca | Boris Boubacar Diop

Dia Internacional da Comemoração do Trafico Negreiro e da sua Abolição- 23 de agosto

Triangulo Turístico e Histórico-Cultural Kanawa Mussulo

União dos Escritores Angolanos,  Luanda,   19 de Agosto de 2010

a partir das 18h

Conferência   « Este es el Rey de los Congos ou a presença angolana no Peru »

Resumo Uma das consequências da aterradora queda demográfica dos ameríndios logo o inicio da colonização europeia do Novo Mundo foi a introdução massiva, aí, de uma mão-de-obra, escrava.

O repovoamento das regiões do Alto e Baixo Peru, será feita, maioritariamente, por escravos “bozales” vindos do actual litoral angolano, embarcados na Baia de Cabinda e nos portos de Mpinda, São Paulo de Loanda, Benguela-a-Velha e São Felipe de Benguela.

Esses “mondongos”, cambundas, cangaes e misangas que chegarão a constituir, no inicio do século XVII, um terço da população das terras dos Tupac Amaru, deixarão traços linguísticos e antropológicos, indeléveis, na sociedade do Vice-Reinado, acostado ao Pacifico.

Notar-se-a que o trabalho de investigação que será apresentado na sede da União dos Escritores Angolanos e dos numerosos resultados da missão multidisciplinar que ordenou, em Outubro de 2006, o Presidente da Republica, José Eduardo dos Santos, naquele pais da América do sul.

Simão SOUINDOULA

Vice-presidente do Comité Cientifico  Internacional do Projecto da UNESCO « A Rota do Escravo »

 

17.08.2010 | por martalanca

umas ideias minhas que ando ainda cá com elas

Acho que entretanto sosseguei bastante, na vida, quando, já faz algum tempo, dei conta que afinal não só jamais viria a ser o melhor do mundo, quanto mais cá na banda. E que também não tinha obrigação nenhuma de o ser. Mas uma das questões pessoais que se me anda agora, com a idade, a por com mais frequência, é a de saber se será possível continuar a envelhecer sem sucumbir de todo a uma senilidade insuportavelmente azeda ou sem incorrer também numa dessas beatitudes patetas e patéticas que pretendem fundamentar-se numa sabedoria qualquer que a idade acumulada por si só garantiria. 
É verdade que um percurso biográfico se faz de tempos, de lugares, modos, percepções, ocorrências, experiências, resultados, aquisições, perplexidades, digestões e ressacas. Mas também é verdade que eu não vou nunca deixar de permanecer muito irremediavelmente ingénuo, embora não de todo burro, e de lidar muito mal com toda a ordem de leviandade, de irresponsabilidade, de arbitrariedade, de mentira, de prepotência, chantagem, esperteza, insolência e soberba, e de achar que o que mais envenena as relações entre as pessoas, quaisquer relações, é o uso e o abuso da boa-fé dos outros. E é disso que o mundo está cheio e a bem dizer se faz. E há de fazer-se sempre, talvez, porque afinal, parece, é assim mesmo que ele é. Temo não chegar nunca a ser capaz, mesmo senil, de vir a conformar-me com isso. E o resto são umas ideias minhas que ando ainda cá com elas.

Ruy Duarte de Carvalho (1941-2010), Biobliografia

15.08.2010 | por martalanca

Comfusões 1 - From Angola To Brasil

In what feels like a labour of love, Rio producer Mauricio Pacheco took a hand-picked collection of Angolan tracks to a select crew of Brazilian remixers. The results are soulful and dreamy.

Sourcing songs from the archives of the Angolan National Radio, Pacheco unearthed some gems from the 60s and 70s, a golden age in Angolan pop music which spanned the bitter fight towards independence in 1975. Bonga, Teta Lando, Artur Nunes and Carlos Lamartine were part of the generation of popular songwriters who took a pro-independence stand and became legendary touch-stones as their country headed into a civil war which would not end until 2002. Plugging retro African tracks into shimmering studios on the other side of the Atlantic takes a sure hand, and Pacheco has gathered together some of the most sought-after left-field Brazilian producers to carry it off. In a call for a united Angola on Angolé, Teta Lando’s mournful and heartfelt vocals get a gentle lift from Pacheco’s drifting electronica and his reverb rework of Avozinho’s Mama Divva Diame is another highlight.

Kassin operates at the epicentre of the Rio avant-garde. Here, with Berna Ceppas, he puts a breezy, spacey spin on Bonga’s gorgeous lament Kapakiao. Celebrated Pernambucan innovator DJ Dolores tips breaks and metallic upbeats into the liquid guitar loops of Merengue Rebita. While on Kappopola Makongo, Moreno Veloso traces the sweet spot where Angolan semba meets samba. In this exchange, Comfusões celebrates and reroutes Angola’s rich musical past. With new kuduro king Dog Murras guesting on Chofer de Praça this album is clearly forward facing. But with all their experimental takes, Pacheco and Co have cut up the beats but not severed the links - the album is shot through with a tender mood and the sense of sad longing so at the core of Angolan song remains intact. There are deep cultural connections between Angola and Brazil, and this album explores that fractured story with the balanced flow of a capoeirista.

 

Comfusões 1 – From Angola To Brasil is out 1 June 2009 on Out Here Records

Buy MP3 here    From MONDOMIX

15.08.2010 | por martalanca | angolan and brazilian music

Sifinja The Iron Bride

A film by Valerie Haensch

Sudan/Germany, 2009, 70 Min.

A film about mobility, human creativity, and technology in a Sudanese truck community. The English Bedford-Lorry was introduced to Sudan in the late 1960ies. Since then, local craftsmen technically modify the truck into an ideal vehicle, adequate for traveling off-road and for performing customers’ expectations. The craftsmen and drivers call the lorry “Sifinja” because it is soft and comfortable like the plastic slippers it is named after. In different places in Sudan the carpenters and blacksmiths not only create a shiny iron bride, but they change the whole structure of the lorry through a highly unorthodox performance. Following closely the daily work, art and history of truck-modding on the Nile, a fascinating way of African creativity dealing with global commodities – the automobiles – is opened up. The documentary weaves the original sound of hammering and sawing, drilling and riveting, into a rhythmic, exhilarating audio-visual adventure.

“Sifinja is not merely one of the best ethnographic films I have ever seen. It is one of the best cinematic treatments anywhere of the genius of cultural creativity, of everyday craft, and of the poetic life of objects – all brilliantly evident in the Bedford-Lorries that link communities and enterprise across the Sudan, like comely iron brides. The product of rare anthropological insight and consummate movie-making, Sifinja provides profound comment on the ways in which African imagination and skill refashion global commodities and all they embody, giving them unintended range, beauty, longevity.”

Jean Comaroff

Upcoming presentations:

2010

XIX International Festival of Ethnological Film, Ethnographic Museum in Belgrade, Serbia

AAA/SVA Film, Video and Multimedia Festival, New Orleans, USA

 

 

15.08.2010 | por nadinesiegert

Ecos do Silêncio - documentário sobre João Paulo


Ecos do Silêncio é uma visão sobre o músico moçambicano João Paulo, nas suas variadas nuances, intérprete de Soul & Blues de referencia nacional nos anos 60/70.
O documentário acompanha um período da vida de João Paulo, partindo de entrevistas com o próprio, nas quais ficou registada a sua visão da vida…

Tendo optado por ser um “intelectual à deriva” – ele não tinha espaço para colocar o seu saber.
João Paulo,
músico e intérprete de Blues (1948—2008), é tido como o maior interprete soul em Moçambique de todas as gerações.
Director: Lionel Moulinho.
Produção: JPstudio

13.08.2010 | por martalanca | música moçambicana

Tsikaya - músicos do interior

Tsikaya promove músicos que desenvolvem o seu trabalho musical no meio rural em Angola.
Iniciado em 1997 o projecto Tsikaya tem como objectivos estimular a criação de músicos e compositores no meio rural, promover o seu trabalho e encorajar a disseminação e construção de instrumentos musicais tradicionais.
Tsikaya é uma iniciativa que contribui para a preservação, divulgação e investigação do folclore angolano através da documentação do trabalho destes músicos por meio de gravações de campo realizadas em torno das suas comunidades, a gravação de Cds e a criação de um arquivo e interface digitais do material gravado.

O disco do projecto Tsikaya é o primeiro CD de uma série do projecto Tsikaya em Angola, inclui uma compilação de alguns dos músicos mais representativos do meio rural nas províncias de Benguela, Huíla, Cunene e Cuando-Cubango. Desde músicos tocando a solo a grupos de percussões e danças tradicionais este CD dá-nos uma amostragem da riquesa cultural no meio rural em Angola. Foi top ten best new album na froots, revista britânica de world music.

veja aqui

13.08.2010 | por martalanca | música angolana, Tsikaya

cresci numa Angola em que o Ruy acreditou – e ajudou a construir

Sabemos que perdemos um amigo, um mestre, quando nos é tão difícil falar da sua partida. Sabemos que perdemos um escritor, quando somos invadidos por uma brutal saudade daquilo que ele ainda viria a escrever.
Angola perdeu, na minha opinião, um dos pilares mais sólidos da sua literatura e da sua antropologia. Partiu o homem, o artista e o pensador, num corpo que reunia estas coisas com tal elegância e intensidade, que parecia um ser de ficção.
Quando um homem, como o Ruy Duarte, pode ser lembrado como exemplo de integridade, coerência, honestidade intelectual e elevadíssima qualidade estética em tudo o que fez, esse homem pode partir em paz – e nós podemos entregar-nos, quase a sorrir, à saudade de o querermos reler.
Lembro o poeta. Lembro o amigo. Lembro o mestre. Serenamente, celebro os momentos que passei com ele, em conversa atenta, em diálogos de escutar. Ao homem que escreveu “há coisas que eu diria para entender mais tarde”, eu presto a minha homenagem, não como escritor, mas como jovem angolano. Bem sei que eu cresci numa Angola em que o Ruy acreditou – e ajudou a construir. Bem sei que foi sobretudo para as gerações vindouras que ele andou a escrever, mais ou menos cifrados, os textos que esculpiu para nos dizer o que era “fazer arte”, tendo escolhido a abordagem dos seres discretos, dos corajosos, dos que abdicam na hora certa.
Devagarinho, lá teremos de dar “ordem de esquecimento” à nossa saudade; e aos poucos, no que nos deste, havemos de ler todos os “sinais misteriosos” – que já se vão vendo…
Obrigado, camarada Ruy. Obrigado mesmo!

Ondjaki

barragem Gariepdan, África do sul, setembro 2009barragem Gariepdan, África do sul, setembro 2009

12.08.2010 | por martalanca | Ruy Duarte de Carvalho

Ruy Duarte de Carvalho

a tristeza é imensa com a morte do nosso grande amigo. a ele devemos o início do Buala, pensado na viagem que fizemos o ano passado pela Africa do Sul.

 

podem ler aqui uma pequena descrição de alguns momentos.

vinburg, áfrica do sul, setembro 2009vinburg, áfrica do sul, setembro 2009

 

o contador relutente, perfil de Ruy Duarte de Carvalho, escrito por José Vegar em 2001

12.08.2010 | por martalanca | África do Sul, Ruy Duarte de Carvalho

POPUP lisboa - Candidaturas abertas

O Pop Up é um evento cultural anual dedicado à promoção e mostra das múltiplas expressões e agentes da cultura urbana. Intervém em espaços urbanos desocupados ou abandonados dando-lhes nova vida através da arte. Reúne novos talentos e artistas consagrados na dinamização de um cartaz cultural desenvolvido em interacção permanente com a identidade e a população da cidade onde decorre.

 

O Pop Up surgiu em 2009 na cidade de Lisboa, mas tem a ambição de se tornar uma plataforma internacional de intercâmbio de cultura urbana, reunindo artistas e talentos oriundos de todo o mundo na promoção cultural e identitária da cidade, dentro e fora de portas.

 

O Pop Up Lisboa 2010 constitui-se um momento privilegiado de promoção e divulgação de novos talentos artísticos junto do público em geral, dos profissionais da arte e da cultura e dos media. Neste contexto, a organização do projecto promove um concurso internacional que desafia talentos portugueses e estrangeiros a apresentarem os seus trabalhos com o objectivo de seleccionar, até 10 projectos, destinados a integrar o cartaz do evento. O concurso é aberto a todos os criadores e baseia-se na apresentação de projectos de todas as áreas de expressão artística que sigam o tema do evento.

O período de submissão de candidaturas ao Concurso Internacional de Projectos Artísticos Pop Up Lisboa 2010 decorre entre os dias 13 de Agosto e 24 de Setembro de 2010.

 

para mais info: www.popup-city.com

12.08.2010 | por samirapereira

alguns caminhos da memória

No mesmo momento em que Portugal parece estar cada vez mais uniformizado, ao nível das ideias e do imaginário, pedaços marcantes da memória e acção social colectiva das últimas décadas, coincidentes no tempo, parecem estar a percorrer caminhos distintos. Estes pedaços dizem todos respeito ao período 1940 - 1980, um tempo onde a história nacional portuguesa acelerou. Dois dos pedaços que gostava de tratar aqui são a presença portuguesa em África e a importância da esquerda radical nos contextos político e social. A África portuguesa foi, até há muito pouco tempo um imenso território histórico vazio no imaginário e conhecimento dos portugueses nascidos depois de 1980, com excepção da Guerra Colonial, claro. Na verdade, toda a complexa presença portuguesa em terras africanas, exercida ao longo dos séculos, parece ter desaparecido de repente, como se nunca tivesse existido uma ligação. Assim, nos últimos anos, têm acontecido duas coisas distintas. Por um lado, o afastamento entre a sociedade portuguesa maioritária e os países africanos, fazem com que realmente um fosso definitivo tenha sido construído. Não há hoje uma ligação construída todos os dias, por múltiplos laços afectivos e sociais. Mas é no terreno desta separação, que começam a surgir as provas das ligações profundas e antigas. Refiro - me às, finalmente, publicadas investigações históricas, como a de Cláudia Castelo, que, na senda do trabalho singular de Maria Emília Madeira Santos, trazem finalmente à partilha os dados possíveis para a decifração desse enigma polifacetado que é o dos portugueses africanos. Neste campo, o da experiência africana portuguesa, será preciso esperar ainda algumas décadas, para vislumbrar qual será o contributo dos filhos de africanos nascidos em Portugal, e o dos portugueses que agora chegam a África. Por outras palavras, será talvez nas próximas décadas que poderão ser mais claramente definidas a importância de África para os portugueses e, simultaneamente, a quantidade de memória que será partilhada.

José Vegar

continue a ler aqui

12.08.2010 | por martalanca