O músico moçambicano tem um projecto cultural com as mulheres da Ilha de Moçambique

Trata-se de Gimo Remane Mendes, que tem vindo a desenvolver desde o ano passado um projecto cultural com as mulheres da Ilha de Moçambique, na província de Nampula
O músico moçambicano, Gimo Remane Mendes, radicado na Dinamarca, tem-se empenhado no processo de valorização no desenvolvimento de actividades rentáveis das mulheres. No caso específico, o músico tem vindo a desenvolver um projecto com as mulheres que pertencem a vários grupos culturais da Ilha de Moçambique, na província de Nampula. A reportagem do Notícias Lusófonas encontrou o músico naquela parte insular de Nampula, nos princípios do primeiro semestre do ano passado, onde estava a organizar o grupo constituído pelas mulheres. Volvidos este tempo, convidamo-lo a falar do seu projecto e das reais motivações, pelo que não se fez rogado, tal que a entrevista abaixo relata o essencial da conversa com Gimo.

Por Aunício da Silva
em Moçambique

Notícias Lusófonas (NL): Gimo Remane Mendes, apesar da distância tem-se mostrado preocupado e contribuindo para a preservação da cultura moçambicana, com destaque para a musica. Fale-nos do projecto que tem vindo a desenvolver com as mulheres na Ilha de Moçambique.

Gimo Remane Mendes (GRM) - O projecto que tenho vindo a desenvolver com as mulheres da Ilha de Moçambique surge como um desenvolvimento natural daquilo que sempre fiz em prol da nossa cultura. Desde o primeiro minuto que decidi trabalhar como músico, escolhi interpretar e divulgar os ritmos tradicionais da província de Nampula em geral e da Ilha de Moçambique em particular. Fi-lo porque estava convencido que eram ritmos com uma riqueza única e incomparável. Com a minha guitarra, juntei-me aos grupos de Tufo da Ilha e foi desse trabalhando com os grupos e com as mulheres da Ilha que tudo começou. Mais tarde e com mais outros colegas de Nampula viríamos a fundar o grupo Eyuphuro que, como sabem, levou os ritmos da Ilha aos quatro cantos do mundo (mas essa é outra conversa). Estando actualmente a residir na Dinamarca, continuo a divulgar a nossa cultura neste canto da Europa e continuo ligado à Moçambique através de vários projectos. Este é mais um. Aproveitando as oportunidades que me são oferecidas e combinando com a boa reputação de que cá gozo, achei que este era o momento oportuno de retribuir algo às mulheres da Ilha. Criamos a Associação Cultural das Mulheres da Ilha de Moçambique (ACUMIM).

NL – Qual é a prioridade no trabalho que tem vindo a desenvolver?

GRM - A minha ideia inicial era de criar uma cooperativa cultural gerida por elas, uma cooperativa que ajudasse às mulheres economicamente ao mesmo tempo que trabalhariam e conservariam as danças e tradições da Ilha. A minha ideia foi bem acolhida em vários quadrantes e numa conversa com Sua Excia. Senhor Embaixador da Dinamarca em Moçambique, Johnny Flentø, trocamos ideias e o projecto cresceu. A prioridade neste projecto é a de trazer a mulher ao centro das atenções para desempenhar o papel que ela muito bem sabe desempenhar na família. Como sabe, em muitas comunidades rurais, as mulheres são as responsáveis pela família; são elas que tomam conta da casa, dos filhos e do marido e até da comunidade e o homem só decide.

NL – Para além da música, o grupo das mulheres na Ilha de Moçambique desenvolve-se outras actividades para a sua valorização, ou seja, auto-desenvolvimento socio-económico. De que se trata de concreto?

GRM – Trata-se de criar condições para que haja uma valorização cívica, económica e também política das mulheres. Na Ilha e em muitos cantos de Moçambique, as mulheres são as gestoras da família, mas no dia-a-dia elas dependem do dinheiro dos seus maridos para todas as despesas. Daí o meu envolvimento nesta causa porque acredito que criando condições em que elas possam desenvolver pequenas actividades lucrativas, podem melhorar significativamente a vida da sua família e até da sua comunidade; terão melhores condições para comprar mais alimentos, mais medicamentos, mais material escolar e vencer a pobreza absoluta, por um lado. Por outro lado, isto fará com que a mulher tenha uma participação cada vez mais activa nas decisões da comunidade e uma maior participação no desenvolvimento da democracia em Moçambique. Este projecto é a “cana de pesca” que a mulher da Ilha necessita para pescar.

NL – Quanto é que em valores monetários tem sido o investimento? E conta com apoios de quem?

GRM – Por uma questão de princípio, acho que não me fica bem estar aqui a falar de valores, mas posso dizer que todos os interessados podem contactar a ACUMIM e obter todas as informações que acharem necessárias. Este projecto conta com o apoio da DANIDA através da Embaixada da Dinamarca em Moçambique. O Embaixador Johnny Flentø tem sido um lutador incansável não só neste projecto, mas também em todas as causas relativas ao desenvolvimento da democracia e o bem-estar do povo moçambicano.

NL – Para uma realidade como a da Ilha de Moçambique em particular, acredita numa prosperidade e num futuro glamouroso construído através da música?

GRM – Claro que acredito e se não acreditasse, não estaria a dedicar o meu esforço num projecto sem futuro. Reconheço também que as adversidades particulares da Ilha podem fazer com que este projecto saia diferente do que foi inicialmente programado e é por isso que com o apoio da DANIDA estamos a fazer tudo de modo a que o projecto seja premiado com sucessos. Para garantir esses sucessos, estamos a formar o pessoal desde a base; está-se a formar não só para as áreas do projecto, mas também a educar para que ela possa assumir o seu papel na sociedade. A música é aqui uma ferramenta que elas usam ou usarão para marcar a sua posição, mas não será só da música que elas viverão. A ilha é também um Património Cultural da Humanidade, um destino turístico e uma fonte inesgotável de recursos e tudo isto pode servir para proporcionar esse futuro glamouroso.

NL – E para terminar, que mais gostaria de retratar sobre o projecto?

GRM – Este é um projecto de mulheres, gerido por mulheres e para o bem das mulheres. Espero que este seja um projecto de referência e que sirva de fonte de inspiração às mulheres moçambicanas. Sei que estão a ser desenvolvidos outros projectos de micro-créditos onde as mulheres são o núcleo privilegiado, mas pela forma como este foi desenhado, o projecto das mulheres da Ilha tem a particularidade de trabalhar e potenciar a mulher, a música e a cultura da Ilha de Moçambique ao mesmo tempo que irá, de uma forma directa, incentiva-las a participar no combate à pobreza absoluta e no desenvolvimento da democracia. Espero que os órgãos da comunicação social continuem a interessar-se pelo projecto da ACUMIM e que ajudem a divulgá-lo de modo a chegar às mulheres de Moçambique todo. A formação que elas estão a receber hoje tem como o fim último o sucesso da mulher moçambicana no geral. Outros actores tais como: a Câmara Municipal, a Administração do Distrito e o Governo da Província devem continuar a abraçar este projecto que só assim será um sucesso de todos. Trata-se de Gimo Remane Mendes, que tem vindo a desenvolver desde o ano passado um projecto cultural com as mulheres da Ilha de Moçambique, na província de Nampula

O músico moçambicano, Gimo Remane Mendes, radicado na Dinamarca, tem-se empenhado no processo de valorização no desenvolvimento de actividades rentáveis das mulheres. No caso específico, o músico tem vindo a desenvolver um projecto com as mulheres que pertencem a vários grupos culturais da Ilha de Moçambique, na província de Nampula. A reportagem do Notícias Lusófonas encontrou o músico naquela parte insular de Nampula, nos princípios do primeiro semestre do ano passado, onde estava a organizar o grupo constituído pelas mulheres. Volvidos este tempo, convidamo-lo a falar do seu projecto e das reais motivações, pelo que não se fez rogado, tal que a entrevista abaixo relata o essencial da conversa com Gimo.

Por Aunício da Silva
em Moçambique

Notícias Lusófonas (NL): Gimo Remane Mendes, apesar da distância tem-se mostrado preocupado e contribuindo para a preservação da cultura moçambicana, com destaque para a musica. Fale-nos do projecto que tem vindo a desenvolver com as mulheres na Ilha de Moçambique.

Gimo Remane Mendes (GRM) - O projecto que tenho vindo a desenvolver com as mulheres da Ilha de Moçambique surge como um desenvolvimento natural daquilo que sempre fiz em prol da nossa cultura. Desde o primeiro minuto que decidi trabalhar como músico, escolhi interpretar e divulgar os ritmos tradicionais da província de Nampula em geral e da Ilha de Moçambique em particular. Fi-lo porque estava convencido que eram ritmos com uma riqueza única e incomparável. Com a minha guitarra, juntei-me aos grupos de Tufo da Ilha e foi desse trabalhando com os grupos e com as mulheres da Ilha que tudo começou. Mais tarde e com mais outros colegas de Nampula viríamos a fundar o grupo Eyuphuro que, como sabem, levou os ritmos da Ilha aos quatro cantos do mundo (mas essa é outra conversa). Estando actualmente a residir na Dinamarca, continuo a divulgar a nossa cultura neste canto da Europa e continuo ligado à Moçambique através de vários projectos. Este é mais um. Aproveitando as oportunidades que me são oferecidas e combinando com a boa reputação de que cá gozo, achei que este era o momento oportuno de retribuir algo às mulheres da Ilha. Criamos a Associação Cultural das Mulheres da Ilha de Moçambique (ACUMIM).

NL – Qual é a prioridade no trabalho que tem vindo a desenvolver?

GRM - A minha ideia inicial era de criar uma cooperativa cultural gerida por elas, uma cooperativa que ajudasse às mulheres economicamente ao mesmo tempo que trabalhariam e conservariam as danças e tradições da Ilha. A minha ideia foi bem acolhida em vários quadrantes e numa conversa com Sua Excia. Senhor Embaixador da Dinamarca em Moçambique, Johnny Flentø, trocamos ideias e o projecto cresceu. A prioridade neste projecto é a de trazer a mulher ao centro das atenções para desempenhar o papel que ela muito bem sabe desempenhar na família. Como sabe, em muitas comunidades rurais, as mulheres são as responsáveis pela família; são elas que tomam conta da casa, dos filhos e do marido e até da comunidade e o homem só decide.

NL – Para além da música, o grupo das mulheres na Ilha de Moçambique desenvolve-se outras actividades para a sua valorização, ou seja, auto-desenvolvimento socio-económico. De que se trata de concreto?

GRM – Trata-se de criar condições para que haja uma valorização cívica, económica e também política das mulheres. Na Ilha e em muitos cantos de Moçambique, as mulheres são as gestoras da família, mas no dia-a-dia elas dependem do dinheiro dos seus maridos para todas as despesas. Daí o meu envolvimento nesta causa porque acredito que criando condições em que elas possam desenvolver pequenas actividades lucrativas, podem melhorar significativamente a vida da sua família e até da sua comunidade; terão melhores condições para comprar mais alimentos, mais medicamentos, mais material escolar e vencer a pobreza absoluta, por um lado. Por outro lado, isto fará com que a mulher tenha uma participação cada vez mais activa nas decisões da comunidade e uma maior participação no desenvolvimento da democracia em Moçambique. Este projecto é a “cana de pesca” que a mulher da Ilha necessita para pescar.

NL – Quanto é que em valores monetários tem sido o investimento? E conta com apoios de quem?

GRM – Por uma questão de princípio, acho que não me fica bem estar aqui a falar de valores, mas posso dizer que todos os interessados podem contactar a ACUMIM e obter todas as informações que acharem necessárias. Este projecto conta com o apoio da DANIDA através da Embaixada da Dinamarca em Moçambique. O Embaixador Johnny Flentø tem sido um lutador incansável não só neste projecto, mas também em todas as causas relativas ao desenvolvimento da democracia e o bem-estar do povo moçambicano.

NL – Para uma realidade como a da Ilha de Moçambique em particular, acredita numa prosperidade e num futuro glamouroso construído através da música?

GRM – Claro que acredito e se não acreditasse, não estaria a dedicar o meu esforço num projecto sem futuro. Reconheço também que as adversidades particulares da Ilha podem fazer com que este projecto saia diferente do que foi inicialmente programado e é por isso que com o apoio da DANIDA estamos a fazer tudo de modo a que o projecto seja premiado com sucessos. Para garantir esses sucessos, estamos a formar o pessoal desde a base; está-se a formar não só para as áreas do projecto, mas também a educar para que ela possa assumir o seu papel na sociedade. A música é aqui uma ferramenta que elas usam ou usarão para marcar a sua posição, mas não será só da música que elas viverão. A ilha é também um Património Cultural da Humanidade, um destino turístico e uma fonte inesgotável de recursos e tudo isto pode servir para proporcionar esse futuro glamouroso.

NL – E para terminar, que mais gostaria de retratar sobre o projecto?

GRM – Este é um projecto de mulheres, gerido por mulheres e para o bem das mulheres. Espero que este seja um projecto de referência e que sirva de fonte de inspiração às mulheres moçambicanas. Sei que estão a ser desenvolvidos outros projectos de micro-créditos onde as mulheres são o núcleo privilegiado, mas pela forma como este foi desenhado, o projecto das mulheres da Ilha tem a particularidade de trabalhar e potenciar a mulher, a música e a cultura da Ilha de Moçambique ao mesmo tempo que irá, de uma forma directa, incentiva-las a participar no combate à pobreza absoluta e no desenvolvimento da democracia. Espero que os órgãos da comunicação social continuem a interessar-se pelo projecto da ACUMIM e que ajudem a divulgá-lo de modo a chegar às mulheres de Moçambique todo. A formação que elas estão a receber hoje tem como o fim último o sucesso da mulher moçambicana no geral. Outros actores tais como: a Câmara Municipal, a Administração do Distrito e o Governo da Província devem continuar a abraçar este projecto que só assim será um sucesso de todos.

retirado do Notícias Lusófonas

10.11.2010 | por martalanca | música moçambicana