Mostrar ou não mostrar, eis a questão - Censura e Sexualidade no Cinema. Curso de Verão

Mostrar ou não mostrar, eis a questão - Censura e Sexualidade no Cinema Início: 8 de julho

Datas: 8 a 12 de julho | dias úteis das 18h00 às 21h00

Docente Responsável: Bruno Marques

Docentes: Ana Bela Morais, Bruno Marques e Érica Faleiro Rodrigues

Áreas: História da Arte e Estudos Artísticos

 

As recentes polémicas em torno da censura – em museus, na imprensa, etc. – têm-se estendido também ao cinema. Pela sua reverberação histórica, estas têm gerado acesos debates na praça pública. Posições dividem-se entre a defesa da liberdade de expressão e os chamados “valores de decência”. O nexo Sexualidade e Censura surge assim como oportuno ponto de partida para repensar, retrospetiva e prospetivamente, muitas das tensões e dos paradoxos que caracterizam esta temática. Ao longo deste curso, pretendemos mostrar como a censura ao erotismo e à sexualidade influenciou a criação, circulação, exibição e interpretação de obras cinematográficas desde o seu nascimento até à década de setenta, influência esta que deixou marcas até à atualidade.

Programa Apresentando uma visão que passa por unidades abertas a uma panorâmica alargada do plano internacional, e unidades com um foco mais particular e específico no contexto Português, este curso propõe uma análise da censura ao cinema desde o cinema mudo até aos anos setenta:

(1) do início da história do cinema ao Código Hayes, na sua estrita relação com as profundas mudanças ao nível da revolução dos costumes na cultura popular;

(2) sobre o papel que o cinema experimental assume enquanto força transgressiva e de contracultura;

(3) sobre a forma como no Portugal marcelista estas mudanças foram sentidas, filtradas e cerceadas, nomeadamente através da existência de uma Comissão de Censura, que revia todos os filmes, nacionais e estrangeiros, antes de serem exibidos em território nacional;

(4) sobre a revolução de 1974 e o fim da censura estatal ao cinema em Portugal.

Neste contexto, procurar-se-á compreender de que forma, e por que razões, excertos, e até filmes inteiros, terão sido, em diferentes contextos e momentos, objecto de interdições. Para tal, abordar-se-ão os seguintes temas: as persistências vindas das antigas ortodoxias dominantes (a moral religiosa, o primado da procriação, o modelo social patriarcal, o controlo da comunidade); as conceções em torno da plasticidade ou maleabilidade das identidades sexuais; as contestações dos padrões de normalidade; os incentivos sociais a um experimentalismo sexual mais igualitário e liberto de preconceitos; a “revolução sexual”, a emancipação da mulher e os movimentos queer no cinema; as representações de práticas sexuais interditas, previamente marginalizadas e de carácter panfletário anti-homofóbico, como posição política em defesa da identidade queer; a objetificação da mulher dentro das estruturas capitalistas.
As aulas serão constituídas por apresentações expositivas, pela projecção de imagens e filmes e pelo debate com os alunos.

Aula 1: Cinema, Censura e Revolução dos Costumes
• O que é censurar?
• Censura institucional, censura social e auto-censura
• Liberdade de expressão: o direito de ofender e seus limites
• Cinema e arte, erotismo e pornografia, quais as fronteiras?
• “O pessoal é o político”

Objetivos: Enquadrar histórica e conceptualmente o tema em estudo
Duração: 3 horas

Aula 2: Da Censura no Cinema Primitivo ao Hayes Code
• O cinetoscópio e os primeiros beijos
• Transgressão e censura no cinema mudo
• Sexualidade e violência nas décadas que precedem o código Hayes
• O que foi e o porquê do código Hayes? Qual o seu impacto?

Objetivos: Compreender etapas importantes da história da censura ao cinema, num contexto internacional.
Duração: 3 horas

Aula 3: Art (core): A Vanguarda e o Corpo Fílmico.
• A cena nova-iorquina da década de 1960
• Os clássicos do Underground
• Os cineastas do Cinema of Transgression
• A Cultura Alternativa Queer.

Objetivos: Compreender a forma como, através do corpo explícito no género do filme experimental, alguns cineastas quebraram tabus e a censura da cultura popular nos Estados Unidos
Duração: 3 horas

Aula 4: Censura ao Erotismo no Cinema Durante o Período Marcelista
• “Primavera marcelista”: abertura dos critérios da Comissão de Censura aos filmes? A censura ao corpo nu e as cenas eróticas.
• Qual o tema mais censurado: o erotismo ou a violência?
• Censurados e proibidos: alguns exemplos concretos de filmes nacionais e estrangeiros
• Análise da evolução do sistema censório aos filmes no período do governo de Marcello Caetano (1968-1974)

Objetivos: Compreender o modo como os filmes eram censurados pela Comissão de Censura na época de Marcello Caetano (1968-1974), incidindo nos cortes respeitantes ao erotismo
Duração: 3 horas

Aula 5: Portugal Revolucionário, da Censura à Legislação
• Como acabou a censura em Portugal
• 74-76: anos de transgressão e cinema pornográfico?
• Produção e Exibição: comparação entre a transição democrática Portuguesa e a Espanhola.
• Os principais debates à volta da lei do cinema: censurar e legislar, que diferenças?
• O cinema dos anos 70 que reflecte sobre a censura

Objetivos: Mapear e analisar o período desde o fim da censura, com a revolução de 1974, até ao aparecimento da legislação para a exibição de cinema em Portugal em 1976.
Duração: 3 horas

 

 

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Bibliografia

DURAND, Pascal. La censure invisible. Paris : Actes Sud, 2016. // LEWIS, Jon, Hollywood V. Hard Core: How the Struggle Over Censorship Created the Modern Film Industry, NYU Press, 2000

BUSTARRET, Claire ; VIOLLET, Catherine. Génèse, censure, autocensure. Paris : CNRS, 2005

BILTEREYEST, Daniel and WINKEL, Roel Vande (eds.), Silencing Cinema_ Film Censorship around the World, Palgrave Macmillan US, 2013

CABRERA, Ana (Coordenação), Censura Nunca Mais - A Censura ao Teatro e ao Cinema no Estado Novo, Aletheia, 2013

MORAIS, Ana Bela, Censura ao Erotismo e Violência - Cinema no Portugal Marcelista (1968-1974), Húmus, 2017

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Ana Bela Morais é investigadora contratada de pós-doutoramento, com o projeto Cinema e Censura: amor e violência em Portugal e Espanha (1968-1974), no cluster DIIA (Diálogos Ibéricos e Ibero-americanos), do Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Tem o doutoramento em Teoria da Cultura subordinado ao tema: Processos de cicatrização: qual a profundidade das feridas? Uma leitura de sete filmes contemporâneos. Entre outras publicações, nacionais e internacionais, publicou um livro pelos Livros Horizonte (2008) que resultou da sua dissertação de Mestrado: Virgílio Ferreira. Amor e Violência e outro, pelas Edições Húmus (2017), que corresponde à sua investigação de Pós-doutoramento: Censura ao Erotismo e Violência. Cinema no Portugal Marcelista (1968-1974). Leciona a disciplina Cinema e Literatura na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Bruno Marques é investigador contratado de pós-doutoramento no Instituto de História da Arte da NOVA FCSH, onde coordena o cluster Photography and Film Studies. Foi Professor Auxiliar Convidado na FSCH (2016-2017), no ISCE (2010-2015) e na ESAD.CR (2014). Autor do livro Mulheres do Século XVIII. Os Retratos. Coordenou os livros Sobre Julião Sarmento e Arte & Erotismo. Entre outros projetos editoriais, co-editor do número especabial SEX AND CENSORSHIP IN ART da Revista de História da Arte. Co-coordenou as conferências internacionais Arte e Erotismo (NOVA FCSH, 2012), Tempos e Movimentos da Imagem (FCSH e ESAD.CR, 2018) e Whats love got to do with it? Performance, Affectivity, Intimacy (Culturgest, 2019). Autor de vários capítulos de livros e artigos científicos em revistas académicas nacionais (Revista de História de Arte, Aniki, Cultura, Convocarte) e internacionais (Photographies, Philosophy of Photography, RIHA Journal, Quintana e MODOS).

Érica Faleiro Rodrigues é licenciada em Realização para Cinema pela University of the Arts, London. Mestre na área das Ciências da Comunicação por Goldsmiths College e doutoranda em Cinema Português por Birkbeck College, com o projeto de tese Women in Portuguese Cinema Before and After the Revolution: Representation and Reality. É investigadora associada do Instituto de História Contemporânea da Universidade NOVA de Lisboa. O impacto social do seu trabalho como realizadora granjeou-lhe uma Skillset Millennium Fellowship do governo britânico pela realização de documentários sobre o papel da arte na vida de refugiados. Lecionou, como Associate Tutor da University of London, na cadeira de Desenvolvimento de Pensamento Crítico Académico e como professora convidada da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa na cadeira de Práticas Cinematográficas. É co-editora do futuro número temático da Revista de História da Arte do IHA da FCSH, número este dedicado ao tema Censura e Arte.

 

19.05.2019 | por martalanca | cinema, sexualidade