Mesmo Sol Outro

Com imagens que conectam as culturas negras e a condição pós-colonial do Brasil, de Angola e da África do Sul, o livro digital Mesmo Sol Outro, projeto selecionado pelo programa Rumos 2015-2016, agora está disponível na internet para o acesso do público. Criado pelos artistas visuais e pesquisadores Carolina Cerqueira e Tálisson Melo, o trabalho é resultado da busca empreendida pela dupla por conexões entre os três territórios, procura que teve como norte o questionamento: “Qual é o mesmo que me aproxima do outro?”.

Todo o material reunido foi coletado pelos dois durante viagens que fizeram pelos três países entre 2016 e 2017 – um processo não linear iniciado em Juiz de Fora (MG) e finalizado em Luanda, capital de Angola, envolvendo passagens pelo Rio de Janeiro (RJ); por Salvador, Cachoeira e São Félix (BA); Colônia do Paiol, comunidade quilombola remanescente em Bias Fortes (MG); e Johannesburgo, na África do Sul. São fotografias, montagens, colagens, desenhos e documentos históricos de elementos da cultura visual e do patrimônio de cada lugar, que em conjunto materializam as diversas camadas experimentadas pelos artistas durante o percurso e apontam para a complexidade das relações sociais e raciais com a qual se depararam.

Para Carolina, o livro convida o leitor a se questionar sobre o modo com que as relações raciais entre pessoas negras e brancas são pensadas no Brasil. “Nosso objetivo é contribuir com nossas experiências no debate sobre as desigualdades raciais. É conteúdo que quebra nossa tradição unilateral de entendimento do mundo”, pontua. Tálisson chama a atenção ainda para o fato de eles pretenderem indicar a existência de relações tão complexas, e não de reduzi-las a um livro. “São muitas nuances, muitas dimensões e camadas de leitura da experiência que tivemos”, destaca.

Em entrevista, os dois falam sobre a organização do livro e seu processo de produção, a escolha pelo formato digital e suas expectativas em relação à disponibilização do material na internet.

Em uma matéria publicada em nosso site no ano que passou, li que o livro seria dividido em quatro capítulos. Essa divisão se manteve? Poderiam comentar um pouco como o livro está organizado?
Carolina Cerqueira: Sim, o livro é dividido em quatro capítulos. Iniciamos com a introdução, em que nos apresentamos, indicando o ponto de vista sob o qual o projeto se organiza, os trajetos que fizemos, as formas que utilizamos para registrar esses trajetos e os três principais locais: Luanda, Salvador e Colônia do Paiol. O segundo capítulo trata do patrimônio material e imaterial. O terceiro se refere à desigualdade, e nós finalizamos com o apêndice: notas sobre a “branquitude”, suas narrativas, estratégias e seu legado. Essa divisão que estabelecemos era para nortear a seleção de imagens e alguma narrativa; depois que tudo foi tomando corpo, essas partes se interpenetram, não sei se fica nítida uma divisão. Isso só fizemos questão de marcar para o apêndice.

Como ocorreu o processo de produção do livro em si?
CC: Como Tálisson e eu estávamos geograficamente distantes durante todo o processo de produção do livro, organizamos uma agenda de reuniões semanais para discutir o andamento do projeto e dividir tarefas. A primeira etapa foi criar um storyboard da publicação, e em seguida começamos a produzir as imagens. O processo de criação do livro envolveu edição e montagens digitais, colagens feitas à mão e intervenções em arquivos históricos. Foi tudo muito intenso, produzimos mesmo milhares de imagens, tudo foi testado digital e manualmente, recortamos muito papel e depois fomos aplicando algumas coisas digitalmente, outras ficaram mais bem resolvidas à mão e deixamos. As imagens que selecionamos para o livro correspondem a um quinto de tudo o que fizemos, geramos um arquivo enorme de registros do processo.

Tálisson Melo: Sem falar nos fichamentos de pesquisa, nas entrevistas que fizemos, cadernos de viagem escritos, fotografias, pequenos vídeos, mapas, diagramas conceituais, que não entraram nesse livro. Tanto porque trabalhávamos com um prazo quanto porque o livro precisava ficar pronto um dia e ir para o mundo.

Na matéria que mencionei anteriormente, vemos que houve algumas mudanças ao longo do processo – como o fato de vocês terem trocado a câmera digital pela analógica –, ao passo que a ideia de fazer um livro digital foi mantida. Por que a escolha desse formato?
CC: Nós propusemos uma publicação digital pensando no custo e no alcance. No contato com os quilombolas da Colônia já vimos que isso não era bem assim, porque nesse contexto tão caro ao projeto as pessoas não têm acesso fácil à internet.

TM: Nós vamos trabalhar mais para a frente para fazer uma impressão desse material. Com o financiamento do Rumos nos restringimos ao digital.

Na visão de vocês, o que Mesmo Sol Outro revela sobre relações sociais e raciais no Brasil, em Angola e na África do Sul? Pensando na questão que norteou o trabalho, qual é o mesmoque os aproximou do outro?
CC: Estamos ansiosos por saber que tipo de “leitura” ou experiência as pessoas terão ao passar essas imagens, pois nós mesmos, cada vez que as olhamos, descobrimos novas relações entre elas e seus contextos, os trajetos e os deslocamentos que fizemos; é uma relação mesmo processual que temos com as questões que envolvem esse trabalho, não se Mesmo Sol Outro revela alguma coisa. Eu acredito que o mesmo que me aproxima do outro é o desejo de compreender nossas hierarquias sociais para de alguma maneira desestruturá-las.

TM: Na verdade esse objeto é de esconde-mostra. Acho que há muitos elementos evidentes nas relações com o espaço urbano, com elementos patrimoniais e tradicionais e dinâmicas culturais que são negligenciados, enquanto outros são exaltados. Às vezes acho que a gente propõe alguns ruídos sobre isso, e não se há algo revelado. São muitas linhas narrativas possíveis, e no que podem convergir todas elas é algo que realmente queremos saber, à medida que as pessoas se manifestarem sobre sua relação com essa proposição nossa.

E vale dizer que não é da vivência de negros que tratamos, mas da relação entre as pessoas, negras e brancas. Se você olhar atentamente o livro, vai ver que há um direcionamento do olhar para essas relações, e não para um grupo específico, já que acreditamos que um “eu” ou “nós” só se configura como está porque o outro está ali também, é a relação que constrói.

Por fim, o que vocês esperam com a disponibilização on-line do projeto?
CC: Eu espero sinceramente que o livro alcance muitas pessoas.

TM: É isso, queremos que muita gente veja, porque nossa vontade é contribuir com uma perspectiva sobre como as pessoas se relacionam. Para quem quiser conversar com a gente sobre isso, é só entrar em contato, queremos ouvir o que essas pessoas vão sentir e pensar a partir do que propusemos.

26.09.2018 | por martalanca | Bias Fortes, Cachoeira e São Félix, capital de Angola, Colônia do Paiol, envolvendo passagens pelo Rio de Janeiro (RJ); por Salvador, Joanesburgo, Juiz de Fora (MG) e finalizado em Luanda, Mesmo Sol Outro, projeto

15ª edição do OUT.FEST - festival internacional de música exploratória do Barreiro

 

PROGRAMA  

 5 OUTUBRO   EDIFÍCIO A4. 16H30                                 UNEARTHING THE MUSIC apresenta:

O projecto UNEARTHING THE MUSIC desenvolve uma investigação que se propõe dar visibilidade às músicas experimentais criadas nos regimes não-democráticos europeus na segunda metade do séc. XX, com particular ênfase nos países situados para além da chamada ‘Cortina de Ferro’ no Leste Europeu. O projecto tem a autoria da OUT.RA – Associação Cultural, conta com parceiros formais na Letónia, Hungria, Roménia e Sérvia, e é financiado pelo Programa Europa Criativa da União Europeia. 

No ano em que se celebra o Ano Europeu do Património Cultural, o OUT.FEST apresenta esta secção especial composta por performances de dois artistas intimamente ligados às músicas de vanguarda no leste Europeu, antes e imediatamente após a queda do Muro de Berlim e o desmoronamento do ‘Bloco de Leste’.

Mais informações sobre o projecto em www.unearthingthemusic.eu  

instalação multimédia / concerto

ANTON NIKKILÄ (Finlândia)

Anton Nikkilä é um músico e compositor finlandês cujo trabalho desenvolvido desde o início da década de 1990 tem tido os mais vários pontos de contacto com as músicas underground da Europa de Leste, e em particular com o período pós-soviético: colaborou durante mais de 10 anos com o russo Alexei Borisov, uma das figuras fundamentais da comunidade experimental de Moscovo, especializando-se enquanto investigador e promotor da música industrial desenvolvida entre 1980 e 2000 na cidade-coração da URSS.

‘Literal Translations’, a nova obra audiovisual que apresentará no Barreiro, é um filme-sem-filme, montada num sistema quadrafónico ‘vertical’ e ‘anti-imersivo’, cuja matéria-prima conceptual é a sua interpretação histórica do vanguardismo artístico soviético.

VLADIMIR TARASOV (Rússia/Lituânia)

Nascido em Archangelsk (Rússia), mas de nacionalidade lituana, Vladimir Tarasov é uma das figuras-maiores do jazz para além da ‘Cortina de Ferro’; percussionista extraordinário, fez parte durante década e meia do superlativo GTC / The Ganelin Trio, com o qual, juntamente com Viatcheslav Ganelin e Vladimir Chekasin, ajudou a fazer a história do free jazz europeu construíndo pontes fundamentais entre regimes, geografias e políticas.

Editou, em cerca de quatro décadas, mais de 100 discos, divididos entre o trio, orquestras, álbuns a solo e colaborações com figuras míticas ocidentais como Andrew Cyrille, Anthony Braxton ou o Rova Saxophone Quartet, bem como pares incontornáveis do leste europeu como Gyorgy Szabados ou o recentemente falecido Thomas Stanko. 

‘Thinking of Khlebnikov’, a peça para percussão solo que apresentará no Barreiro, é um diálogo imaginado entre Tarasov e o icónico poeta e dramaturgo Velimir Khlebnikov, actor central no movimento Futurista russo do início do séc. XX.

 5 OUTUBRO   ADAO – ASSOCIAÇÃO DESENVOLVIMENTO ARTES OFÍCIOS. 21H30                   concertos

TODA MATÉRIA (Portugal)

Joana da Conceição (artista plástica e sonora que faz parte da história do OUT.FEST desde a sua 1ª edição e através das subsequentes actuações enquanto parte do duo Tropa Macaca) convidou, no início deste ano e como forma de celebrar a sua exposição individual ‘Cores em Silêncio’ na Galeria Lehman + Silva, no Porto, várias cúmplices de diferentes disciplinas artísticas para um momento performativo singular, experiência que adaptou aos palcos, subsequentemente, para uma actuação na Galeria ZDB a propósito de um especial da Resident Advisor em Lisboa. 

Para o OUT.FEST 2018, Joana da Conceição, Maria Reis, Mariana Pita, Sara Graça, e Sara Zita Correia voltam a formar TODA MATÉRIA. Esta roda de cinco promete avaliar os contornos de energia, examinar a influência dos elementos e descobrir vazios, bem como áreas de energia acelerada, em colisão ou estagnada, afim de curvarem o tempo e abrir o espaço no que será um espectáculo multidisciplinar que cruza dança, música, luz e pintura.

JOÃO PAIS FILIPE (Portugal)

Baterista, percussionista e escultor sonoro do Porto. O seu percurso enquanto músico tem sido caracterizado pela imersão numa amplitude de estilos e linguagens, em bandas como os Sektor 304, HHY & The Macumbas,  Montanha Magnética, entre outros, ao mesmo tempo que mantém uma actividade regular no universo da música improvisada, tocando com nomes como os de Evan Parker, Carlos “Zíngaro” ou Rafael Toral. João Pais Filipe tem desenvolvido também um trabalho de construção de gongos, pratos e outros instrumentos percussivos de metal, através do qual explora tanto as propriedades acústicas destes objectos como a sua potencial dimensão escultórica e imagética. Irá editar o seu primeiro album de percussão solo em Setembro e o OUT.FEST será uma das datas de apresentação do mesmo.

TELECTU (Portugal)

Um dos tomos dos saudosos Telectu de Jorge Lima Barreto e Vítor Rua, que agora é repescado pela recentíssima Holuzam, selo nacional com sede nos soldados por detrás da Flur, que decidiram - para já - pegar em relíquias da música electrónica nacional da década de 1980. ‘Belzebu’ foi o segundo disco dos Telectu, um projecto realmente valente na história das vanguardas (no sentido “antigo” da coisa) nacionais ligadas à música, cruzando vários campos relativos à composição contemporânea, à transição da modernidade para a pós, à utilização de sintetizadores, escalas não-ocidentais, à improvisação, a formas ligadas ao jazz, ao rock, a uma pop depois de Warhol. 

Estes Telectu são Rua e António Duarte, amigo do duo icónico, e crucial arquivista do material artístico do conjunto, que estreou esta celebração do 35º aniversário de ‘Belzebu’ no Teatro Maria Matos há uns quantos meses, já em 2018. Material quase bíblico na cronologia da exploração sonora e musical em Portugal a reactualizar-se ao vivo, para que a fonte não pare de jorrar.

GROUP A (Japão)

Duo feminino japonês transgressor de ortodoxias estilísticas, logísticas e económicas, condutoras de um minimalismo não-onda, caravana da imaginação, denotando lições e inspirações do Dada, arte performativa e demais campos de fronteira, confronto e síntese quer a nível visual, quer musical dos que aprendem por si atirando-se no informe. Formadas em 2012, estão há dois anos baseadas em Berlim onde são peça nuclear na Mannequin Records, e encontram-se actualmente a trabalhar no seu próximo disco e numa peça de teatro com o encenador e coreógrafo de Montréal, Dana Gingras.

NÍDIA (Portugal)

Psicadélica, pioneira, confiançuda, multicolor, impiedosa, ‘Nídia é Má, Nídia é Fudida’. Produtora de música electrónica completamente fora do baralho e a dar mais cartas que quase quem quer que seja no mundo hoje em dia, nasceu na Margem Sul e prosseguiu no fim da adolescência para Bordéus. Já gracejou as páginas de algumas das publicações mais importantes do mundo, que se curvaram perante o poderio em questão, mas no fundo o que fica é a música - e que maravilha ela é. 

O seu tempo em França deu-lhe maior familiaridade com o zouk e o decalé, que, acrescidos à familiaridade que já tinha com batida, kuduro, tarraxo e demais vocábulos da grande Lisboa negra, e à sua imaginação tão fantasiosa quanto construtiva, deu um caminho daqueles bons. Súmula riquíssima e depurada de pop e de várias formas de música de dança comunitária, destiladas num novo e individualizado vocabulário pessoal, que, no fundo, é de todos. Sem medo. Ponto adicional de interesse é o facto de a sua actuação no OUT.FEST ser preparada ao longo de um mês em residência artística no Centro de Experimentação Artística do Vale da Amoreira – um espectáculo que será, portanto, uma estreia absoluta.

6 OUTUBRO   SEDE DO F.C. BARREIRENSE. 16h00          concertos

OPUS PISTORUM (Portugal)

Heterónimo da jovem promessa barreirense Hélder Menor aka Tiny Montgomery, que sendo roceiro e adorando os Felt (dizemos nós), fez um raio de uma construção pop dançável, cancionetista, de feira popular metafísica, onde todos os tipos de confronto, fontes e vocabulários estilísticos têm que se degladiar pela oportunidade de fazer parte destes objectos sonoros. Fontes bem simples e frugais mas com brio e acabamento. A pica aqui é feita de sonho e das insondáveis capacidades analíticas dos artesãos da Margem Sul. Parte do colectivo Linha Amarela, que começa, ao seu jeito pioneirista, a encontrar o seu tipo de lugar no estranho e anímico “panorama” da música independente nacional actual.

IMPÉRIO PACÍFICO (Portugal)

Duo de Luan Bellussi e Pedro Tavares, ligado essencialmente à música electrónica mas permanentemente aberto a todas as formas e meios cativantes de experimentação. Fazem no OUT.FEST uma das suas primeiras datas fora de Setúbal e Lisboa, num dos arranques mais interessantes da música independente portuguesa dos últimos anos. Depois de uma série de EPs digitais e físicos pela Alienação e Rotten \ Fresh, dois expoentes pertinentes da actividade da Grande Lisboa e subúrbios dos últimos anos, lançaram recentemente ‘Racing Team’, jogada representativa do seu movimento cada vez mais numa direcção inovadora das novas músicas de dança. Têm noções de estrutura, acabamento, narrativa, composição, pertinência pop, estranheza dialéctica, cruzando várias referências dos últimos 20 anos (Boards of Canada, Oneohtrix Point Never, James Ferraro, Mouse On Mars, mas tantas outras coisas). Gente com a cabeça a funcionar bem e rápido, mas com claras noções éticas e filosóficas do domínio da macronarrativa. Enfim, conversa cara para dizer que valem a pena.

ODETE (Portugal)

Odete é uma Dj, produtora e artista plástica lisboeta numa missão de criação catártica e libertadora; igualmente à vontade nos meandros do techno industrial ou do noise, mas também do reggaeton e do dancefloor em geral, todo o seu trabalho se conecta intimamente com a sua história pessoal e a sua jornada enquanto mulher trans, deixando sonicamente patentes o contacto com fronteiras, emoções, equívocos e processos de empowerment. É uma das vozes mais activas e fortes da cada vez mais celebrada e saudavelmente heterogénea cena da música electrónica na capital.

KEROX (Portugal)

Kerox é António Queiroz, um dos produtores do portefólio da editora Xita Records, um entusiasmante selo lisboeta que tem dado cartas nos últimos anos com novos valores dos mais diversos campos estéticos.

‘Sarna’, disco editado no início deste ano, é uma longa viagem em dois actos por uma electrónica transviada e cheia de ângulos inesperados, dançável de igual modo pelo corpo e pela cabeça.

 6 OUTUBRO   BIBLIOTECA MUNICIPAL DO BARREIRO. 16h30                             

concertos
CÂNDIDO LIMA apresenta ‘Oceanos’ (Portugal)

Compositor nascido em 1939 em Viana do Castelo, completamente fora do baralho mediaticamente digerível nas últimas décadas, que estudou com Xenakis no pico. ‘Oceanos’ é uma peça realizada em 1979, concebida para produzir um efeito como se de “uma hecatombe numa sala” se tratasse. Com trabalho lumínico, de projecções, e da especialização de som afecta à “sua” electroacústica para a tornar na experiência total da não só saudosa, como cada vez mais necessária experiência do final do modernismo.

É pioneiro de inúmeras formas técnicas e tecnológicas na música portuguesa no campo da composição contemporânea, tendo tido todo o tipo de oportunidades e conquistas académicas - entrevistas a Boulez e Ligeti; estágio na Sorbonne; bolseiro da Secretaria de Estado da Cultura.

No meio destas poeiras, a música é bonita e tem uma raiva interior que vem… da água. ‘Oceanos’ fica então no panteão desta fase mais abstraccionista, nas suas várias facetas, do PREC, que agora é revisitada em tempo útil, para que melhor se entendam as tramas da história do vanguardismo musical português do último meio século.

RAFAEL TORAL SPACE COLLECTIVE 3 plays ‘Moon Field’ (Portugal / Itália)

Pioneiro da música exploratória em Portugal, do final dos anos 80 até hoje, e reiteradamente - e com o maior orgulho –  repetente no OUT.FEST, Rafael Toral apresenta-se num trio lançado pela Room 40, etiqueta do tropa Lawrence English, que tem mantido a batalha acesa pelos cromos mais raros nos últimos anos largos.

Toral apresenta-se nesta formação num território entre um jazz modal atomizado, e as suas pesquisas acerca de como a electricidade pura pode frasear num novo vernáculo, livre e solto como os passarinhos, entre acordes, silêncios e pausas. Um transporte para uma nova realidade onde tudo o que de natural, analógico e digital se funde, livremente.

Cada vez mais uma figura essencial das grandes evoluções da música electrónica mundial no último quarto de século, que neste ano viu a reedição do seu maravilhoso ‘Wavefield’, é com o maior orgulho que vemos as novas vistas que tem para nos mostrar – literalmente, uma vez que o concerto será acompanhado pela projecção dos maravilhosos desenhos de Rui Toscano que ilustram o disco ‘Moon Field’ -, agora que virou o eremita mais produtivo da comunidade experimental portuguesa.

RICARDO ROCHA (Portugal)

Nome incontornável do repertório da guitarra portuguesa e da composição contemporânea nacional. Agraciado já por duas vezes com o Prémio Carlos Paredes, assim como recipiente do Prémio Revelação Ribeiro da Fonte para Jovens Compositores e Troféu Amália Rodrigues para Melhor Guitarra Portuguesa, diz sempre ter distinguido e vivido “com muita disciplina os dois mundos: a guitarra e o mundo do fado, e depois poderia criar-se outro mundo paralelo ao do fado”. Ou como a editora Mbari propunha em 2010 pelo lançamento do seu segundo álbum “Luminismo”, apelando a entendê-lo para além da técnica fenomenal evidenciada, Ricardo Rocha “assemelha-se mais a um cirurgião, extraíndo o tumor ‘Fado’ de um instrumento que raramente conheceu vida própria, para além da inscrita nessa tradição de Lisboa”.

6 OUTUBRO   ESCOLA DE JAZZ DO BARREIRO / LADO B. 16h30

concertos
LEA BERTUCCI (Estados Unidos)

Compositora e performer norte-americana emergente cujo trabalho se debruça sobre as relações entre os fenómenos de acústica e a ressonância biológica. Para além da sua técnica e prática instrumental em alto saxofone e clarinete baixo, as suas apresentações tendem a integrar difusão multi-canal nos sistemas de som, feedback electro-acústico, trabalho de colagem em fita, entre outros processos de experimentação em música e som, sem pruridos pelas expectativas musicais com que o público e a crítica a ela têm chegado.

KAJA DRAKSLER (Eslovénia)

Nascida nos subúrbios de Ljubljana, Eslovénia, em 1987, Kaja Draksler tem formação superior em piano jazz (foi aluna de Vijay Iyer e Jason Moran) e em composição clássica, em Amesterdão, onde fixou residência e tem vindo a contribuir firmemente para a cena do jazz criativo e da música improvisada na Holanda.

Tem tocado regularmente um pouco por toda a Europa, em duo com a trompetista lusa Susana Santos Silva, com o seu próprio octeto (uma das formações mais notáveis e originais do actual panorama do jazz europeu) ou a solo, formato em que se apresenta no OUT.FEST 2018.

CLOTHILDE (Portugal)

Álias de Sofia Mestre, colorista, fotógrafa, desenhadora e não só, que se encontrou enquanto música na viragem para os 40. Trabalha a partir da herança de pós-minimalistas, improvisadoras e compositoras de mente aberta, como Pauline Oliveros, Maryanne Amacher, Daphne Oram, Eliane Radigue ou Delia Derbyshire, para criar a partir de bases electrónicas modulares - tecnologia feita pelo seu companheiro Zé, aka HOBO -, novas paisagens e realidades emocionais e estéticas.

Pelo facto de ter chegado relativamente tarde à criação musical, tem qualidades frontais punk que cruza com uma experiência de vida já assinalável, e é essa intersecção, entre a clareza e fluidez do seu raciocínio e estruturação musicais, que a destaca da/os demais. Tudo o que está no seu disco de estreia ‘Twitcher’, lançado pela Labareda, tem o pulso vivo daqueles que querem sentir. Álbum que vale a pena ouvir, das mais entusiasmantes artistas lisboetas a desenvolver trabalho neste 2018.

6 OUTUBRO   LARGO DO MERCADO 1º MAIO. 17h30  

concertos

JIMI TENOR (Finlândia)

Espírito realmente curioso e arrojado, Jimi Tenor é cidadão finlandês faz agora 53 anos. Está no nascimento da crucial Säkhö, que com amigos como Mika Vainio redesenhou o que seria o underground neo-futurista de Helsínquia. Anda nisto há muito, entre esse seu selo, a Kitty-Yo ou a Warp, e ajudou a derreter fronteiras de vocabulário musical e social.

Trabalha em canção ocidental pop, ritmos africanos, electrónica e acústica, canção e paisagem abstracta, mas no fundo fica a ideia que ele é um frontman de olhos postos no que pode ser. Trabalhou com Tony Allen (esse mesmo, o baterista de Fela Kuti) e variadíssimos outros, e já este ano edita um disco completamente pirata, ‘Order of Nothingness’, em que mistura sopros transcontinentais com polirritmias vindas de todos os cantos do globo. Um passarinho existencialista, com muitas faces, mas que dá a cara pelo que der e vier sempre em procura de uma coisa nova que lhe dê pica.

HHY & THE MACUMBAS (Portugal)

Unidade sediada no Porto, reunida e liderada por Jonathan Uliel Saldanha (HHY), membro co-fundador do colectivo Soopa e músico que o Barreiro tem ainda fresco na memória após a sua inesquecível apresentação com o Coral TAB e Be Voice na Igreja de Santa Maria na edição de 2017. São das mais consistentes, fascinantes e únicas propostas na música nacional ao longo da última década. Música ritualista com o seu próprio conjunto de hábitos e referências, cruzando variadíssimas culturas ritmistas, fontes acústicas, eléctricas e electrónicas, onde basicamente vale tudo o que beneficie a hipnose colectiva - dos músicos e do público, que invariavelmente vira dançarino; seja em corpo ou em mente. A cada show vêm com uma ideia nova, seja um objecto, roupas, luzes, imagem, novas dicas de instrumentação. No seu elenco está um verdadeiro conjunto all-star de guerrilheiros nortenhos, que têm feito do Porto uma cidade com trincheiras artísticas e cívicas onde se pode ter fé. Gente que trabalha no campo a nível de composição, actuação, edição, promoção de eventos, desde o início deste século, e que se mantém, sempre a progredir. Para a frente, que é para onde interessa. Das grandes bandas de festa metafísica deste nosso país.

 6 OUTUBRO   SIRB “OS PENICHEIROS”. 21h30           concertos

YEK: BURNT FRIEDMAN & MOHAMMAD REZA MORTAZAVI (Alemanha / Irão)

Burnt Friedman é um nome histórico da música electrónica alemã e europeia; a sua carreira, que se aproxima já das quatro décadas, inclui colaborações com gente como David Sylvian, AtomTM 

ou o saudoso Jaki Liebezeit (baterista dos Can que tivemos oportunidade de apresentar no OUT.FEST 2016, poucos meses antes do seu sentido falecimento), com o qual e durante 17 anos desenvolveu o projecto ‘Secret Rythms’, ainda hoje uma preciosidade absoluta, com o seu cruzamento da música electrónica e da percussão orgânica num material sonoro alheio às fórmulas e referências de composição do Ocidente e de todo o Hemisfério Norte.

É precisamente essa longa colaboração com Jaki Liebezeit que primeiro é evocada no disco lançado no final de 2017 em duo com Mohammad Reza Mortazavi, mago iraniano da percussão que através do seu tombak (instrumento tradicional do Irão) desenvolve técnicas e trilhos que vão muito para além da tradição musical persa.YEK (nome dado ao projecto que une estes idiossincráticos criadores) é uma maravilha percussiva e simultaneamente ambient, na qual as fontes sonoras electrónicas e acústicas se completam e dissimulam em temas circulares e pequenas narrativas sónicas. Um trabalho de dois singulares mestres.

LOTIC (Estados Unidos)

Dj e produtor J’Kerian Morgan de seu nome, crescido em Houston, Texas, onde fez estudos superiores em composição eletrónica e saxofone até se mudar para Berlim em 2012. Aí ajudou a nascer o influente colectivo Janus e afirmou-se como uma das vozes mais assertivas da frente avançada da club music europeia. O seu disco “Hererocetera” de 2015 na Tri Angle Records é um compêndio de electrónica experimental vertendo melodias sintéticas espectrais em soluções de batidas niilistas mileniais. O seu longa duração de estreia “Power” foi editado em Julho, conceptualmente alicerçado na paixão do autor pelas marching bands do Texas e o livro “Between The World And Me” de Ta-Nehisi Coates.

LINN DA QUEBRADA (Brasil)

Linna Pereira, mais conhecida como Linn da Quebrada, é uma actriz, cantora, compositora e ativista transexual, artista fundamental do Brasil e de São Paulo para o avanço artístico, humano e civilizacional na música brasileira no geral, e no funk em particular. Atravessa todas as barreiras cruciais a nível de género, classe, história, para que todos nós tenhamos menos medo e mais confiança naquilo que devemos fazer quando confrontamos. Em disco, fez o fantástico ‘Pajubá’, tudo pura produção e execução independente. Em palco, é absolutamente possuída pela fúria da verdade, pontuada com a classe e a serenidade natural de quem sabe absolutamente que o que está a fazer é precioso e deve ser bem tratado. Vem com toda a sua turma - Jup do Bairro na segunda voz, uma DJ, outro DJ, Domi na percussão, para show completo que tem feito explodir palcos por todo o Brasil e Europa. Um funk paulista não só sem medo do mundo, como absolutamente certo que vai na direcção que vale a pena. “Bicha, trans, preta e periférica. Nem ator, nem atriz, atroz. Performer e terrorista de género”. Puro fogo, totalmente necessário, de uma das artistas mais importantes a sair do Brasil este século, para um dos picos da nossa noite de sábado.

FRET aka MICK HARRIS (Reino Unido)

Lorde original dos blast beats como baterista nos Napalm Death, Extreme Noise Terror e Godflesh, com uma participação mítica também no trio Painkiller (junto a John Zorn e Bill Laswell), é porventura o seu trabalho com o pseudónimo Scorn que mais influenciou uma diversidade de criativos musicais a operar sob a égide transgressora do encontro entre a linhagem Industrial e a cultura Dub. Depois de um hiato de vários anos, está de regresso como Fret, proposta vencedora do escuro tecnóide como só ele aprimorou realizar, com o seu característico peso colossal de graves e insigne densidade textural.

6 OUTUBRO   EDIFÍCIO A4. 02h30                      

 concertos / dj sets

JOHN T. GAST (Reino Unido)

Figura britânica vagamente misteriosa, inicialmente a surgir no horizonte como parte da milícia abstracta ligada aos Hype Williams e a Dean Blunt. Entretanto consta que tem estado por zonas litorais do sul nacional, entre ondas e terra, onde continua o seu trabalho de encriptação, iconografia de despiste e outras técnicas de desreferencialização (inventámos agora). Trabalha com várias fontes de gravação, músicos ao vivo que aparecem assim meio impromptu consoante os aliados que estão no terreno no tempo da actuação, e tornou-se importante também por fazer questão de ser tão vaporoso numa época obsessiva com vários tipos de processo de sobreposição. A cada vez que surge em gravações ou em palco, oferece visões onde o tempo e o local parecem sumir-se enquanto realidades claras, para tentar criar mundos e sensações paralelas. Cromo total, claro, e é por isso que faz parte do cardápio.

DJ LYCOX (Portugal)

Prodígio do Portugal negro, actualmente a viver em Paris, é das figuras mais proeminentes da revolucionária movida da editora Príncipe. De todas as figuras provenientes da vida, cultura e expressão dessa recente portugalidade pancontinental, é dos mais talentosos do ponto de vista da pertinência e sensibilidade de ouro para uma grande melodia e para o poder pop que uma boa canção, mesmo que - quase sempre - instrumental pode ter. Por cima disso, é absolutamente diabólico a trabalhar as quebras rítmicas dos vários vocabulários em que manobra (estar em França deu-lhe informação disponível mais correntemente do que nos bairros de Lisboa e Margem Sul a nível de cultura globalista), rematando tudo com a sua própria visão de como calibrar as nossas tendências de compressão sonora da pop black norte-americana, mesmo que as raízes venham “do Congo”. Na sua última aparição nacional, na Galeria Zé dos Bois, mostrou o quão profícuo e magnético virou enquanto DJ, com sequências imparáveis de cores, ritmos e pura energia, que só não levou a um novo 25 de Abril porque não havia nem cravos nem AK’s na mão. Craque que encerra o OUT.FEST 2018 na mais alta das notas.

25.09.2018 | por martalanca | Barreiro, festival de música, OUT.FEST

MÓNICA DE MIRANDA | TOMORROW IS ANOTHER DAY

Exposição individual comissariada por Solo show curated by Cristiana Tejo

Inauguração Qua 26/09 17h - 20h  Opening Wed 09/26 5-8pm Galeria Carlos Carvalho  


Tomorrow is another day é uma expressão que indica um lugar presente que se posiciona com um olhar expectante para o futuro sobre as memórias do passado. No contexto africano, traz para o discurso as falhas e as ausências da história e da política e reivindica a independência de pensamento e acção na construção de espaços e territórios pós-coloniais pela via da apropriação de dogmas de formas de poder, de cânones de beleza e da estética helenística.
Tomorrow is another day é composta de séries de fotografias e de um vídeo desenvolvidos recentemente em alguns países da África, como o Congo e Moçambique, pela artista Mónica de Miranda. 

 SEM TÍTULO, (DA SÉRIE SEM TÍTULO, (DA SÉRIE

Tomorrow is another day is an expression that indicates a present consciousness on the memory of the past looking to an expectant future. In the African context, it brings to the discourse the failures and absences of history and politics and claims for an independence of thought and action in the construction of postcolonial spaces and territories by appropriating the dogmas of forms of power, canons of beauty and Hellenistic aesthetics.Tomorrow is another day is composed by a series of photographs and a video captured very recently by the artist Mónica de Miranda. 

 

Portfólio do artist | Artist portfolio

24.09.2018 | por martalanca | Monica de Miranda

OS NEGROS, de Jean Genet, com encenação de Rogério de Carvalho, Teatro GRIOT

Co-produzido por Teatro GRIOTSão Luiz Teatro Municipal, estreado em Lisboa em Outubro de 2017 na Sala Luís Miguel Cintra do São Luiz, OS NEGROS apresenta-se agora no Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, dia 4 de Outubro pelas 21h30.

fotografia de Sofia Berberan e Mário Césarfotografia de Sofia Berberan e Mário César

OS NEGROS 

O espectáculo delineia uma configuração topológica, constituída por três patamares, dispostos verticalmente: o espaço onde se situa a corte e a Rainha, que representa o espelho do domínio do colonizador; o espaço onde se situa a Felicidade, uma negra imponente; e a plataforma de base, que representa os colonizados, ocupada pelas restantes personagens. Esta estrutura topológica define as relações de poder entre as personagens e é nela que se constrói o espaço do drama, onde as vozes, os coros e os risos orquestrados dos negros, conferem ao espectáculo o grotesco, atingindo as fronteiras da paródia. 

Uma urdidura complexa, que se compõe numa atmosfera de ritual, de cerimónia. Uma espécie de liturgia paródica.  

ficha artística 

texto Jean Genet - tradução Armando Silva Carvalho - encenação Rogério de Carvalho - actores Angelo Torres, Binete Undonque, Daniel Martinho, Gio Lourenço, Júlio Mesquita, Laurinda Chiungue, Matamba Joaquim, Miguel Sermão, Odete Mosso, Orlando Sérgio, Renée Vidal, Sandra Hung, Zia Soares - cenografia José Manuel Castanheira; assistente de cenografia: Pedro Silva; assistentes estagiários de cenografia: Ana Sofia Lacerda, Inês Carrilho, Filipe Alexandre Fernandes - luz Jorge Ribeiro - figurinos Catarina Graça com execução de Aldina Jesus - adereços Mónica de Miranda - desenho de som Chullage - voz e elocução Luis Madureira - coreografia Rose Mara da Silva - fotografia Sofia Berberan e Mário César – vídeo teaser David Cardoso - produção executiva Urshi Cardoso - co-produção Teatro GRIOT e São Luiz Teatro Municipal

M/14

Duração (aprox.): 2h30 c/intervalo

Local: Teatro Constantino Nery

Morada: Av. Serpa Pinto 242, 4450-263 Matosinhos

Data: 4 de Outubro (apresentação única) 

Horário: 21h30 

Reservas: 229392320 (10h - 18h) 

Bilhetes: normal, 7,50€; c/desconto, 5€

Jean Genet, autor 

Volto a repetir: esta peça, escrita por um Branco, destina-se a um público de Brancos. Mas se por um acaso muito estranho for representada para um público de Negros, será necessário, em cada sessão, convidar um Branco - homem ou mulher. O produtor do espectáculo deverá recebê-lo com a maior solenidade, fazer com que se vista de cerimónia e conduzi-lo ao seu lugar, de preferência na primeira fila da plateia. Os actores irão representar só para ele. E durante todo o espectáculo um projector incidirá sobre este Branco simbólico.

E se nenhum Branco estiver disposto a isso? Então distribuam à entrada máscaras de Brancos ao público negro. Se os Negros recusarem as máscaras dos Brancos, usem um manequim.

Rogério de Carvalho, encenador 

Uma situação de choque, turbulência através de uma representação alegórica, a ironia de um ritual que termina em massacre. O espectáculo abre, para os negros, ao nível da consciência, a busca de uma identidade que não seja a imagem que o branco tem do negro. O negro quer libertar-se dessa mácula, o que lhe daria liberdade. É nessa ilusão que a peça encontra o tema da negritude. O horror do espectáculo está em tratá-lo de uma forma irónica, atingindo as fronteiras da paródia. 

Nunca se deixa de ter a percepção de que a verdade do palco significa jogo por parte dos actores. Vive-se o ritual. Trata-se de um espectáculo cerimonioso, de momentos ritualísticos. Basta dizer que a representação é ritual? Que fronteira entre a representação teatral e a ritualização? Que papel conferimos aos espectadores sejam eles brancos ou negros? É necessário que a cena seja legível, em que termos para cada uma das cores? O que é ser negro quando não se vive num país negro?

 

24.09.2018 | por martalanca | Jean Genet, os Negros, teatro griot

Gaye Su Akyol (Turquia) I LISBOA

Numa época em que é difícil - e raro - apresentar em Lisboa músicos e autores pouco conhecidos e que “não tenham deuses nem donos”, a vinda ao Teatro da Trindade de Gaye Su Akyol é um acontecimento! Além do mais é uma mulher que luta sem medo pela liberdade, numa Turquia onde por exemplo os direitos dos curdos, os direitos das mulheres e a liberdade de imprensa são constantemente violados e se faz uso da tortura.

Dans un pays difficile comme la Turquie, bordant le Proche-Orient, la Russie et l’Europe, dans une atmosphère de plus en plus conservatrice et un monde qui contribue à sa propre obscurité avec son chaos et ses luttes de pouvoir, je crois qu’il faut défier le mal organisé et la réalité horrible qu’il engendre, et l’option la plus forte reste le « rêve cohérent ». En outre la vision matérialiste du monde attribue des significations et des valeurs suprêmes à ce qu’elle appelle « réel » tout en ignorant l’énorme puissance, la nature incroyable et la valeur des rêves. Comme tous les enfants, petite mon super-pouvoir était de rêver. Je l’ai presque oublié pendant un moment, mais j’ai fini par m’en souvenir. Il n’y a rien de plus beau et spectaculaire qu’un esprit libre. (Les rêves libérateurs de Gaye Su Akyol)

mais info

concerto dia 25/09/2018 no INATEL

As influências de Gaye Su Akyol confundem-se com as da sua cidade de nascimento, a magnifica Istambul. Antropóloga de formação, Gaye afirma essa influência “É um clichê, mas a cidade é uma ponte que combina culturas, e isso é muito verdadeiro na música, especialmente na influência grega”. A música tradicional foi muito importante para o inicio do percurso de Gaye que se foi definindo com o seu crescimento, com a descoberta de rock em especial do grunge de Seattle e mais tarde do rock psicadélico dos anos 70’. De voz envolvente e hipnótica que pode ser muito doce mas muito sombria ao mesmo tempo, leva-nos em viagens onde podemos sentir todas estas tão diferentes fontes e experiências que Gaye viveu.  O seu segundo e último álbum “Hologram Imparatorlugu”, lançado em Novembro de 2016, foi um marco na cena musical underground de Instambul num contexto político cada vez mais difícil e mais severo para com artistas como Gaye.  

 

As influências de Gaye Su Akyol confundem-se com as da sua cidade de nascimento, a magnifica Istambul. Antropóloga de formação, Gaye afirma essa influência “É um clichê, mas a cidade é uma ponte que combina culturas, e isso é muito verdadeiro na música, especialmente na influência grega”. A música tradicional foi muito importante para o inicio do percurso de Gaye que se foi definindo com o seu crescimento, com a descoberta de rock em especial do grunge de Seattle e mais tarde do rock psicadélico dos anos 70’. De voz envolvente e hipnótica que pode ser muito doce mas muito sombria ao mesmo tempo, leva-nos em viagens onde podemos sentir todas estas tão diferentes fontes e experiências que Gaye viveu.  O seu segundo e último álbum “Hologram Imparatorlugu”, lançado em Novembro de 2016, foi um marco na cena musical underground de Instambul num contexto político cada vez mais difícil e mais severo para com artistas como Gaye.  
As influências de Gaye Su Akyol confundem-se com as da sua cidade de nascimento, a magnifica Istambul. Antropóloga de formação, Gaye afirma essa influência “É um clichê, mas a cidade é uma ponte que combina culturas, e isso é muito verdadeiro na música, especialmente na influência grega”. A música tradicional foi muito importante para o inicio do percurso de Gaye que se foi definindo com o seu crescimento, com a descoberta de rock em especial do grunge de Seattle e mais tarde do rock psicadélico dos anos 70’. De voz envolvente e hipnótica que pode ser muito doce mas muito sombria ao mesmo tempo, leva-nos em viagens onde podemos sentir todas estas tão diferentes fontes e experiências que Gaye viveu.  O seu segundo e último álbum “Hologram Imparatorlugu”, lançado em Novembro de 2016, foi um marco na cena musical underground de Instambul num contexto político cada vez mais difícil e mais severo para com artistas como Gaye.  

 

21.09.2018 | por martalanca | Gaye Su Akyol

in progress 3: Seminário Internacional sobre Ciências Sociais e Desenvolvimento em África - Call for papers

In Progress 3 é a terceira edição de um seminário especialmente dirigido a estudantes de mestrado e doutoramento na área dos estudos africanos. O objectivo principal é promover um espaço de reflexão e troca de experiências, proporcionando o encontro de estudantes de diferentes escolas, que têm os estudos sobre a África contemporânea e o seu desenvolvimento como tema de pesquisa. Outro objectivo prende-se com a identificação das áreas temáticas que, no presente, mais interesse suscitam aos investigadores, a fim de se poder reter a real dimensão do saber, nos vários domínios e matérias.

As submissões devem inscrever os seguintes painéis temáticos:

  • O TRABALHO DE CAMPO: QUESTÕES PRÁTICAS, TEÓRICAS E METODOLÓGICAS
  • POLÍTICA, DINÂMICAS DA SOCIEDADE CIVIL, DESENVOLVIMENTO
  • CULTURA, PENSAMENTO E MUDANÇA
  • ESTRATÉGIAS PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
  • POPULAÇÕES, MOBILIDADES E BEM-ESTAR

Os interessados deverão enviar um resumo do trabalho a apresentar, até ao dia 20 de outubro de 2018. Os resumos deverão incluir um pequeno sumário (que não exceda as 500 palavras), três palavras-chave e uma pequena nota biográfica (com a afiliação institucional, grau/s académicos/s e publicações relevantes, se se verificar). O envio dos resumos deverá ser feito para o seguinte endereço electrónico: inprogressseminar2018@gmail.com .
Os autores serão notificados da aceitação de resumos até 30 de outubro de 2018.
Os textos aceites serão propostos para publicação nas Actas do seminário. Para serem considerados devem estar conformes com o Regulamento.

Em caso de dúvida, remeta-nos um email com a sua questão para inprogressseminar2018@gmail.com

Datas importantes:
Submissão: 20 de outubro 2018 
Notificação de aceitação: 30 outubro 2018 
Seminário: 15-16 novembro 2018 

zunga em Luanda, fotografia de Marta Lançazunga em Luanda, fotografia de Marta Lança

Comissão Científica:
Iolanda Évora CEsA/CSG, ISEG, ULisboa
João Estêvão CEsA/CSG, ISEG, ULisboa
Sónia Frias CEsA/CSG, ISEG, ULisboa/ISCSP, ULisboa
Alexandre Abreu CEsA/CSG, ISEG, ULisboa

Comissão Organizadora:
Iolanda Évora CEsA/CSG, ISEG, ULisboa
Sónia Frias CEsA/CSG, ISEG, ULisboa/ ISCSP, ULisboa

20.09.2018 | por martalanca | Estudos Africanos, seminário

Residências em Londres e Cape Town de dois artistas angolanos

É com enorme orgulho e prazer que informamos que nos dias 6 e 11 de Agosto, os artistas angolanos Yonamine e Nelo Teixeira, iniciaram importantes Residências Artísticas de dois meses cada na ́Delfina Foundation ́, em Londres, Reino Unido, e na Galeria ́Association for Visual Arts ́ (AVA), em Cape Town, África do Sul, respectivamente.

No caso da Delfina Foundation ́, é o terceiro Angolano a ser convidado para residencia após o Binelde Hyrcan e o Pedro Pires terem lá estado em 2017, e o primeiro a ser escolhido pela via de uma “open call” (chamada aberta), num protocolo estabelecido entre esta instituição britânica e o ́ELA - Espaço Luanda Arte ́, e que em 2019 fará chegar um 4o artista nacional pela mesma via.

No caso da Galeria ́Association for Visual Arts ́ (AVA), é o primeiro Angolano a ser convidado para residência, após o artista ter desenvolvido um projecto de serigrafias em Cape Town em 2017 e este ter chamado a atenção do mundo das artes local. Após esta residencia, o Nelo fará uma exposição das obras criadas durante os dois meses, e irá participar na Feira de Cape Town em 2019.

Como refere Dominick Tanner, Director Geral do ́ELA - Espaço Luanda Arte ́:

“conseguimos obter apoios privados em Angola de forma a garantir estas residencies. Acredito não só na importância enorme que estas plataformas tem no crescimento do Artista e, consequentemente das Artes nacionais, mas no imenso papel diplomático que a Arte Contemporânea Angolana poderá desempenhar na melhoria de relações e actividades entre os três países: Angola, Reino Unido e África do Sul.É importante relevar que o sector de arte contemporânea nacional, pese embora a crise financeira que o país atravessa e o reduzido apoio institucional público, ganha vitalidade como nunca - revelando o enorme potencial caso houvesse de facto esse apoio. Por fim, e no futuro, esperamos que estes exemplos ajudem a garantir não só a atenção, mas eventualmente catalisem o apoio para mais residências de Artistas, e também Curadores e Promotores das artes nacionais em outros países do mundo”.

YonamineYonamine

O Yonamine é representado pelas seguintes galerias: ́Jahmek Contemporary Art ́ (Angola) e ́Cristina Guerra Contemporary Art ́ (Portugal).

O ́ELA - Espaço Luanda Arte ́ encontra-se situada na histórica Baixa de Luanda, no prédio da De Beers, na Rua Rainha Ginga, no87 - 4o piso. Para informações adicionais, por favor contactar:

19.09.2018 | por martalanca | ELA, Nelo Teixeira, yonamine

Conferência 2018: E este património?

Neste Ano Europeu do Património Cultural, a Acesso Cultura pretende reflectir sobre um património muitas vezes não preservado ou então escondido, ignorado, silenciado, inacessível, desconfortável, desvalorizado: o património LGBTQI+ (Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Queer, Intersex).

Que património é este? Porquê destacá-lo?

Não podemos ser o que não podemos ver, não podemos ser se não somos visíveis. Na Acesso Cultura estamos conscientes da importância da representação, da necessidade das pessoas – de cada um de nós – de se sentirem representadas e de serem aceites. De se sentirem reconhecidas, acompanhadas, membros da sua própria comunidade, mas que possam também reconhecer-se como fazendo parte de outras.

A história da comunidade LGBTQI+ é pouco conhecida e ainda menos incluída nas nossas narrativas mainstream. Os desafios que tem enfrentado, a luta pelos seus direitos, o seu contributo neste país são assunto ainda muito condicionado a audiências minoritárias. Quando não vemos alguém, essa pessoa não existe para nós, com todas as consequências que esta ignorância traz para a inclusão social e para a decorrente valorização da nossa sociedade.

A Acesso Cultura, ao escolher este tema para a sua conferência de 2018, Ano Europeu do Património Cultural, pretende colocar no centro da nossa reflexão histórias escondidas ou não reconhecidas; as condições em que estas são investigadas; a sua preservação, divulgação e interpretação; mas também a criação contemporânea, o património gerado hoje. Uma sociedade que se quer inclusiva e respeitadora da diferença necessita de múltiplas narrativas, necessita de ter acesso ao conhecimento, necessita de se encontrar com o outro e de ser capaz de reconhecer a sua humanidade.

Programa
Notas biográficas
Referências bibliográficas e outras

PREÇÁRIO
Normal: €30
Estudante / Desempregado: €25
Associado da Acesso Cultura: €20

Ficha de inscrição
(clique nas palavras “Ficha de inscrição”)
Política de reembolsos: Em caso de desistência de participação, o inscrito terá direito ao reembolso do valor de inscrição, desde que comunique essa desistência, por escrito e com 8 (oito) dias de antecedência. Não se aplica o disposto no parágrafo anterior, caso a desistência comprometa o número mínimo de participantes exigido para a realização do curso, caso em que o valor não será devolvido, ficando o inscrito desistente com crédito em montante igual ao valor da inscrição paga, podendo usufruir deste mesmo crédito em inscrições futuras em cursos da Acesso Cultura.

AGRADECIMENTO
André e. Teodósio

18.09.2018 | por martalanca | LGBTQI, património

Frente, verso, inverso

ARTE CONTEMPORÂNEA DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA NAS COLEÇÕES EM PORTUGAL

Dia 18 de setembro​ | 18h30| Galeria de Exposições, Av. da Índia, n.º  110, Lisboa.

15.09.2018 | por martalanca | arte contemporânea

Vozes ciganas no ensino secundário

(PARTE I)

Este vídeo tem como objetivo ouvir vozes de jovens ciganos/as, neste caso a frequentar o ensino secundário, as suas perceções sobre a escola, as suas expetativas de futuro e perceção da realidade social. Numa perspetiva inédita, a sua voz faz-se ouvir com sentido crítico, com consciência da existência de desigualdades sociais, com o desejo de contribuir para uma mudança social positiva. Jovens que se questionam, partilham receios, mas lutam por uma vida e uma sociedade melhores.

Participantes: Mário Vaz Maia, 19 anos, 11.o ano, Lisboa; Porfírio, 18 anos, 11.o ano, Vila Verde Realização: Observatório das Comunidades Ciganas (ObCig), Alto Comissariado para as Migrações, I.P. Imagem e montagem: Inês Abreu, Associação Cultural Buala
Data e local: julho de 2018, Lisboa e Vila Verde

(PARTE II)

Participantes: Marta de Jesus, 18 anos, 10.o ano, Vila Verde; Tomé Navarro, 18 anos, 11.o ano, Vila Nova de Famalicão

Realização: Observatório das Comunidades Ciganas (ObCig), Alto Comissariado para as Migrações, I.P. Imagem e montagem: Inês Abreu, Associação Cultural Buala
Data e local: Julho de 2018, Vila Verde e Famalicão

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13.09.2018 | por martalanca | ciganos, ensino secundário