Álbum da guerra colonial: José Rodrigues de Almeida (Angola, 1963-65)

Álbum da guerra colonial: José Rodrigues de Almeida (Angola, 1963-65) As fotografias dispersas no álbum sugerem uma organização peculiar: as imagens da infância e da juventude aparecem em páginas paralelas às da guerra colonial, não obedecendo a uma linearidade espacial ou temporal, criando uma narrativa simultânea e particular das diferentes geografias e afetos. Dentro da mesma página as imagens estão organizadas segundo dois critérios: por temáticas oriundas de atividades e por locais, pessoas e vivências.

04.04.2020 | por Lana Almeida

Política do abandono e desobediência radical

Política do abandono e desobediência radical O trabalho das feministas negras tem sido essencial para desvelar a fundação racial da reprodução social da limpeza e dos cuidados. Na era actual, que vê uma nova política racial da limpeza produzida pela ansiedade gerada em torno daquilo a que os meios de comunicação chamam crise climática, as sociedades humanas não poderão sobreviver sem esse trabalho de limpeza e de cuidado.

19.03.2020 | por Françoise Vergès

Os saltos altos de Zapata

Os saltos altos de Zapata Do dia para a noite, o caudilho virou um desses heróis disputado por duas bandeiras. Hasteiam-no os que defendem a masculinidade como força vital, símbolo da tradição, moralidade e poder; e os que vêem nele um revolucionário que não saiu do armário. Cem anos depois de traição que o matou, Zapata vive.

07.01.2020 | por Pedro Cardoso

Rodrigo é despojado dos seus uniformes

Rodrigo é despojado dos seus uniformes A figura quer conhecer-se ou receia fazê-lo? Resistência e tensão palpáveis. Mais um paralelismo com uma versão adulta mas que resume bem os anos de opressão capilar: Rodrigo ao espelho, máquina de cortar cabelo em riste, domando e inibindo, uma vez mais, o cabelo que não se permite conhecer. Ao ver o seu portfólio, encontro uma figura feminina de costas voltadas para um espelho.

10.12.2019 | por Gisela Casimiro

O corpo e os seus percalços

O corpo e os seus percalços apesar de hoje tantos de nós escreverem ao computador, anestesiados em relação à sujidade, logo esquecidos das emendas, escrever é mais parecido com andar, nadar, dançar e carregar sacos de compras do que com as coisas que não envolvem o corpo e os seus percalços: e é uma pena que corramos o risco de o esquecer, nos nossos escritórios arrumados, diante de ecrãs em branco, sem sombra do nosso rasto de papéis.

25.11.2019 | por Djaimilia Pereira de Almeida

O feminismo é um projecto de transformação radical da sociedade no seu conjunto

O feminismo é um projecto de transformação radical da sociedade no seu conjunto O que peço ao feminismo é simplesmente radicalidade nas suas propostas: abolição da determinação da diferença sexual no nascimento e despatriarquização radical de todas as instituições e administrações. Se começarmos por aí, veremos o que resta da estrutura social patriarcal que conhecemos.

16.10.2019 | por Paul B. Preciado

Maternidade, Mãe, e o Monstro do Lago Mess

Maternidade, Mãe, e o Monstro do Lago Mess Estas neuroses tornaram-se um pouco a imagem de marca das mães recentemente: mães que são mães mas que, mais ou menos abertamente, sentem ou podem sentir, como a Júlia, que não querem ser mães o tempo todo. Ao tornarem-se marcas, as mães, ou uma ideia de mães, também se torna mercadoria, e há uma certa ideia de quotidiano – e de mãe - que é vendida.

20.09.2019 | por Patrícia Azevedo da Silva

Fogo e Vida

Fogo e Vida A formulação crítica que aqui proponho nasce em francês porque provem do jogo do termo de Didi-Huberman (soulevement) e do entendimento de Butler do por vir (la venir) derridiano e do acontecimento (evénement) de Alain Badiou.

21.08.2019 | por Allende Renck

Piraeus Atenas

Piraeus Atenas Estamos no mês em que todas as gaivotas que erram pelo mundo e seus marinheiros voltam para arrumar, cultivar o sonho de um retorno digno e justo a um país que só existe nos seus sonhos, agosto e Portugal, mas que importantes são precisamente por o imaginarem em tão graça e idílica visão. Os da babilónia têm em si mais amor pelo céu que seus habitantes.

16.08.2019 | por Adin Manuel

O corpo contra o Capital: uma breve estória da Itália de hoje

O corpo contra o Capital: uma breve estória da Itália de hoje Cattelan questiona, a partir da inserção do corpo na política de elisão corporal do capitalismo financeiro, justamente a possibilidade de democracia frente ao sistema que vive bem ali na Piazza Affari em Milão: A sociedade de controle por si. Um questionamento da possibilidade de concretização da concepção agambeniana de que o nomos de nossa sociedade contemporânea é o campo de concentração.

14.08.2019 | por Allende Renck

Ser homem não é só fazer xixi de pé

Ser homem não é só fazer xixi de pé Somos todos o mesmo, afinal ser humano é um exercício de paciência com os outros e nada nos pode salvar deste exercício a não ser a ermitagem que começo a considerar seriamente. Temos regras de limpeza que me parecem mais exercícios militares do que a alegre manutenção de um espaço de surrogate home, mas quem sou eu para explicar seja o que for aos doutores do espaço? Os modos de controlo deixam os inmates meio malucos e os doutores também, mas como o mundo está assim também não destoa.

24.07.2019 | por Adin Manuel

Haverá um nós «mulheres»?

Haverá um nós «mulheres»? O racismo e sexismo, de que foram alvo desde a escravatura, contribuíram para as deploráveis condições e estatuto das mulheres negras: «nenhum outro grupo na América teve a sua identidade tão rasurada da sociedade quanto as negras. Raramente nos reconhecem como grupo autónomo e distinto dos negros, ou como parte integrante, nesta cultura, do grupo alargado de mulheres.»

07.07.2019 | por Marta Lança

We don't just tell the story we live it

We don't just tell the story we live it Depois de ouvir o leão rugir vezes sem conta, preciso de integrar este animal. Revejo a minha emergência e subsequente início do processo de diagnóstico de disforia de género e tratamento ou transição. O processo está em curso como uma maré que por vezes me deixa tranquilo e noutras se agita, sem de facto pedir muita licença para me solicitar atenção. Eu, apesar de tudo, ainda e cada vez mais lúcido, vou retirando do seu percurso os obstáculos que me impediram de integrar a minha identidade negada.

01.06.2019 | por Adin Manuel

O Obituário- “Todas as mulheres querem fazer sexo comigo!"

O Obituário- “Todas as mulheres querem fazer sexo comigo!" Já visitei os quatro cantos e as entranhas dos subúrbios. NADA. Já velejei no limite dos oceanos no cabo das agulhas, já corri que nem um leopardo pelas savanas e terreiros. Andei em baixo de pântanos que nem um hipopótamo, cortejei as anacondas serpenteei o seu veneno para avistar a geografia da mulher violentada…e, nada!

29.05.2019 | por Indira Grandê

Corpos Dissidentes |Cidades Rebeldes

Corpos Dissidentes |Cidades Rebeldes Acreditamos que é sobretudo através das corporalidades que se manifestam potências criativas e que são os corpos dissidentes e os gestos rebeldes que se tornam capazes de resistir aos diversos tipos de intolerância e discriminação. Acreditamos também que este conflito se expressa muitas vezes nas ruas, nas tensões e nas disputas em espaço público, mas também no modo como as cidades contemporâneas são construídas sem atender às diversidades. Explorar e discutir as dimensões intersecionais (racialidade, classe, género, mobilidade) que se exprimem nestes fenómenos são fortemente acolhidas neste encontro, assim como a sua contextualização em territórios urbanos periféricos ou “periferizados”.

17.05.2019 | por vários

A mulher e a prepotência masculina

A mulher e a prepotência masculina A luta continua. A liberdade e a equidade social, desprovidas de opressões egocêntricas, serão as derradeiras vitórias humanitárias. A violência generalizada contra as mulheres é sinal de que, afinal, a liberdade e a segurança só são aceites quando se respeita a prepotência masculina; por outras palavras, na prática, o atual direito humano é lamentavelmente concedido como recompensa aos que consentem com a supremacia.

24.04.2019 | por Ricardo Cabral

O obituário

O obituário Ficávamos todos surdos por umas horas! - comentavam internamente. Enquanto a esmagava, o homem enfurecido dizia em sua santa consciência que agia para o bem de todos. São tempos de sufrágio e as prostitutas cantam no meu leito: o meu corpo é um veículo em emergência. A ambulância atrasa novamente. Morreu de quê? Morte matada. Com um sémen presente no gene e dois ventrículos castrados. Fomos parar à Mutamba e lá estava a frase legitimando: "A interrupção voluntária é máscula". Chamamos a ambulância, a menina durante o congestionamento pediu-nos, em agonia: "Chamem o obituário! Eu e o nato não queremos mais respirar...".

13.02.2019 | por Indira Grandê

Apresentação do livro “Mulheres em Cabo Verde. Experiências e perspectivas”

Apresentação do livro “Mulheres em Cabo Verde. Experiências e perspectivas” Entendemos como as mulheres se tornam agentes da sua emancipação e confirma-se a necessidade de tratarmos da reconfiguração das relações no espaço privado, nas relações amorosas e, em particular, a reconfiguração das relações sob o ponto de vista masculino. Quais as controvérsias que o processo de emancipação feminina engendra em Cabo Verde? Que transformações radicais foram operadas? Que efeitos concretos foram trazidos pela entrada maciça das mulheres na vida pública?

29.01.2019 | por Iolanda Évora

Um lugar à mesa, por favor!

Um lugar à mesa, por favor! Proponho-vos um feminismo onde a palavra solidariedade não seja um ponto de comunhão das nossas semelhanças, mas sim um ponto de entendimento das nossas diferenças. Tal como nos propõe Awino Oktech no livro Queer African Reader, quando discute solidariedade como substituto de irmandade.

11.12.2018 | por Paula Sebastião

Veio o tempo em que por todos os lados as luzes desta época foram acendidas

Veio o tempo em que por todos os lados as luzes desta época foram acendidas A luz negra, que havia encarnado em tudo com toda intensidade, foi aos poucos escorregando por entre os cantos do labirinto, banhando nosso corpo e se cravando outra vez no profundo. Estivemos ali por muito tempo, cozinhando junto com a terra. Pouco a pouco, à medida que nossos corpos foram recuperando o acesso às pernas, decidimos nos separar e mover pelo labirinto de túneis, a tentar captar as repercussões do nosso ataque, e estudar as implicações do que havíamos feito.

26.11.2018 | por Jota Mombaça