O kuduro no Fim do Mundo, e na cabeça, corpo, boca de Gio Lourenço

O kuduro no Fim do Mundo, e na cabeça, corpo, boca de Gio Lourenço O corte simboliza a situação do que aconteceu comigo com a minha cicatriz. Foi em Luanda. A festa é já cá em Portugal no bairro Fim do Mundo, as festas que a minha mãe fazia. A amnésia são partes em que busco coisas no subconsciente.

28.11.2022 | por Marta Lança

“Para pôr som é preciso fazer a leitura das pessoas”, entrevista ao artista e Dj Lucky

“Para pôr som é preciso fazer a leitura das pessoas”, entrevista ao artista e Dj Lucky A instalação é o pretexto para falarmos da sua trajetória de vida. Equilibrista entre várias culturas, vive há 31 anos numa Lisboa agora mais aberta e diversa, abertura e diversidade para as quais pessoas como Lucky tanto contribuíram, desde construí-la a pô-la a dançar. Uma cidade de momentos duros, mas de encontros e possibilidades com os quais foi crescendo. Neste texto, são as memórias de Dj Lucky que nos conduzem, entre várias pistas de som, de quisange, semba e afroblues, e várias pistas no chão, de Kinshasa ao bairro da Graça, passando por Luanda, Cova da Moura e Bairro Alto.

15.11.2022 | por Marta Lança

A internet é afropolitana, entrevista com Achille Mbembe

A internet é afropolitana, entrevista com Achille Mbembe Achille Mbembe discute a história e o horizonte da comunicação e identidade digital no continente africano com Bregtje van der Haak. Mbembe sugere que o que alguns consideram a explosão da Internet é, na verdade, apenas a continuação das antigas culturas na nova era do Afropolitanismo.

04.11.2022 | por Bregtje van der Haak

"Uma visita inesperada", entrevista a Carla Fernandes

"Uma visita inesperada", entrevista a Carla Fernandes "A escrita de literatura infantil é uma aventura. É um exercício de regresso a um tempo em que não se tinha certezas, mas em que havia muita ousadia. Um tempo em que se transformava as incertezas em certeza de que não se sabe, mas que tem de se descobrir. E descobria-se e criavam-se mundos e possibilidades. A escrita de literatura infantil é um processo de sobrevivência."

28.10.2022 | por Carla Fernandes

Da luta, da perda, da caboverdianidade: entrevista com Flávia Gusmão

Da luta, da perda, da caboverdianidade: entrevista com Flávia Gusmão #4 MANGIFERA é a quarta de cinco partes de um projeto artístico transdisciplinar sobre a perda e o luto, criado por Flávia Gusmão no seguimento da morte prematura da produtora, gestora e ativista cultural cabo-verdiana Samira Pereira. A criação NA LUT@ organiza-se em torno de cinco partes, a primeira das quais estreada há cerca de um ano, no Festival Internacional de Teatro Mindelact, em Cabo Verde; e que terá o seu último capítulo apresentado no Teatro São Luiz, em Lisboa, em abril de 2023. Concebido como forma de processar a perda, NA LUT@ cria um jogo de palavras que, em crioulo, significa simultaneamente “na luta” e “no luto”, e introduz como temas as fases do luto — negação, raiva, negociação, depressão e aceitação —, assim como noções e questionamentos de identidade e pertença, o sincretismo das comunidades cabo-verdianas, e os seus conceitos históricos, políticos e culturais.

26.09.2022 | por Flávia Gusmão, P.J. Marcellino e Helena Ales Pereira

Another Angelo, o ilustrador português cujos trocadilhos dão que falar (e pensar)

Another Angelo, o ilustrador português cujos trocadilhos dão que falar (e pensar) Separados por uma tela de computador, mas unidos pelo interesse em debater alguns contornos da sua profissão, sentámo-nos frente a frente. Angelo Raimundo, mais conhecido por Another Angelo, faz sucesso na cena artística portuguesa graças às suas ilustrações, quase sempre complementadas por poemas ou frases cuja grafia é também ela única e se tornou a marca do artista, sendo poucos os que ficam indiferentes às mensagens passadas por este. É nas redes sociais que causa furor, quer pelos temas que aborda: ansiedade, amor, felicidade, solidão... quer pelo modo de o fazer. “Afinal de contas, eu também sou um ser humano”, diz enquanto conversamos sobre as interações que tem com os seus seguidores (que intitula de finches) no seu instagram. Será a tranquilidade e humor com que Angelo aborda os temas, que cativa os seus 90 mil seguidores, ou a segurança, vontade de sorrir e paz interior que sentimos ao tomarmos contacto com a sua arte?

21.09.2022 | por Alícia Gaspar

Natália Luiza e Miguel Seabra | Nos 30 anos do Teatro Meridional

Natália Luiza e Miguel Seabra | Nos 30 anos do Teatro Meridional Acho que há um modo de trabalhar e um reconhecimento do espetáculo “Meridional” que passam por aquilo que considero três elementos basilares: o afeto, o rigor e exigência e a vontade do espanto. Isto é, no Meridional o espetáculo tem duas fases: o seu levantamento, até à estreia; e depois, a sua carreira, acompanhada de perto enquanto organismo vivo que é, logo necessariamente mutável. Essa mutabilidade deve corresponder, para nós, a um crescimento no sentido vertical, não a uma engorda, o que é, aliás, muito comum acontecer.

16.08.2022 | por Frederico Bernardino

“A amnésia histórica é um dos mais sérios problemas de São Tomé e Princípe” – conversa com Conceição Lima.

“A amnésia histórica é um dos mais sérios problemas de São Tomé e Princípe” – conversa com Conceição Lima. São Tomé e Príncipe, diz Conceição Lima, vive numa tensão entre a impaciência e a paciência. Por um lado, há uma forte insatisfação com o estado de coisas: “temos uma curta esperança de vida e queremos assistir a mudança!” Por outro, quarenta e sete anos é “um lapso de história muito curto, quase insignificante no grande plano.” A solução passa por um equilíbrio entre os dois: “é preciso cultivar a paciência para remendar e semear, mas nunca permitindo que se esvaia a tão importante impaciência.” Parece que estamos perante uma identidade formada a partir e contra um trauma histórico, que teima em resistir, contra todas as probabilidades. A poetisa responde com um poema: Um pássaro ferido./ Um pássaro ainda ferido / e teimoso.

12.07.2022 | por João Moreira da Silva

"Não há realmente diferença entre poesia e vida", entrevista a Patrícia Lino

"Não há realmente diferença entre poesia e vida", entrevista a Patrícia Lino Se deste lado do mundo, o assunto é debatido há já algum tempo e institucionalmente desde os anos 80, o interesse pelo tema começa, decisivamente, a chegar ao lado de lá. O Kit de Sobrevivência materializa, com recurso ao exercício paródico e interdisciplinar, esse movimento. Uma mulher portuguesa escreve tão cínica quanto criticamente sobre o grande passado português cujos paradoxos e ilusões decorativas, e penso nas audiências que conheci ao longo de 2021 e 2022, são familiares para as leitoras e os leitores de muitas outras línguas e culturas. Afinal, assim como não há mistério algum no riso, não há mistério algum na violência. As suas dinâmicas desdobram-se em vários idiomas e lugares do mapa.

17.06.2022 | por Alícia Gaspar

6ª Edição do "Chá de Beleza Afro" | Entrevista a Neusa Sousa

6ª Edição do "Chá de Beleza Afro" | Entrevista a Neusa Sousa Sabemos que vivemos numa sociedade estruturalmente racista, com escassa representatividade da mulher negra nos vários setores importantes e relevantes da sociedade. Cada vez mais é notória a invisibilidade que a mulher negra sofre na sociedade. A mulher negra é o pilar da sociedade, pois é ela que limpa as cidades, no entanto, são marginalizadas ao nível da empregabilidade, de tratamento em setores públicos, de valorização e ascenção profissional, entre outros. Então, tornar o "Chá de Beleza Afro" um dos maiores eventos de afroempreendedorismo e networking feminino de Portugal, vai não só mostrar às mulheres negras e racializadas, que elas têm um lugar de referência onde podem discutir as suas problemáticas, mas acima de tudo, um ambiente seguro onde podem promover os seus negócios, promover-se a si. Pretendemos que seja uma espécie de Websummit de mulheres negras.

03.06.2022 | por Alícia Gaspar

A literatura, uma arte triunfal. Entrevista a Lídia Jorge

A literatura, uma arte triunfal. Entrevista a Lídia Jorge Enquanto escritora sinto-me uma construtora da vida marginal, ou mais propriamente uma espécie de testemunha do tempo que passa. No plano da mudança social, o facto de nos termos integrado na Europa, depois da Revolução, colocou em estado de stress um país que mantinha demasiados traços arcaicos, e o percurso rápido que precisou de fazer pôs em evidência conflitos profundos da sociedade portuguesa. Foi necessário um esforço estoico por parte da população. Em situações desse tipo, as questões ontológicas colocam-se com grande agudeza. Faço parte do grupo dos escritores que tornaram essa mudança social e histórica literariamente visível, mas a partir do palco interior das personagens, a partir de uma olhar individual transfigurado.

20.05.2022 | por Margara Russotto e Patrícia Martinho Ferreira

Entrevista com Miguel Sermão. “A pergunta que faço é: O que é uma cara africana?”

Entrevista com Miguel Sermão. “A pergunta que faço é: O que é uma cara africana?” Acho que existe um preconceito, não só na sociedade, mas no meio artístico também. Não podemos ter em conta que um personagem tenha a cor de quem a representa, a não ser para certos personagens históricos, que impliquem zelar pelo que escreveu o autor. Qualquer personagem é feito por qualquer outra pessoa, só que, infelizmente, quem dirige ou coordena as companhias, ao pensar num espectáculo não pensam nos actores negros, sejam africanos ou afrodescendentes. Não existe esse pensar de que há no meio artístico português actores negros. Quando se pensa tendencialmente, os pápeis são característicos digamos.

27.04.2022 | por Sílvia Milonga

Ângelo Varela – “As minhas curta-metragens são reflexões de problemas que me rodeiam e sobre os quais acho que se deve falar”

Ângelo Varela – “As minhas curta-metragens são reflexões de problemas que me rodeiam e sobre os quais acho que se deve falar” As pessoas têm de perceber que a arte não tem de ser adaptada. Ela é uma forma de expressão. Estou muito curioso para ver como serão os próximos tempos e como é que os artistas visuais vão lidar com a nova criação de vídeos na vertical. A adaptação não é algo necessariamente negativo, mas acima de tudo não deveria ser algo que inibisse o artista de ser ele próprio. Uma coisa é certa, apesar de tudo, a sociedade tem aberto mais olhos para as pessoas com menos representação nas esferas sociais e tem havido criações mais diversificadas, com perspetivas mais originais e críticas.

26.04.2022 | por Arimilde Soares

As histórias da história de África, entrevista a Isabel Castro Henriques

As histórias da história de África, entrevista a Isabel Castro Henriques A história dos muitos Outros é uma história autónoma, longa no tempo, muito para além da história colonial e dos períodos do colonialismo, que permite compreender todo o seu percurso e todo o seu passado histórico. Já em meados do século XIX, uma das figuras fundadoras da historiografia africana panafricanista e do pensamento africano anticolonial, o afro-antilhês, depois liberiano, Edward Blyden, afirmava que na muito longa história multimilenar africana, a colonização e a dominação colonial europeias, corolário lógico e previsível da escravatura e do tráfico negreiro, não representavam mais do que um momento a ser rapidamente ultrapassado.

20.04.2022 | por Elisa Lopes da Silva, Bárbara Direito e Isabel Castro Henriques

Entrevista a Virgílio Varela. Afinal, o que nos faz sentir realmente vivos?

Entrevista a Virgílio Varela. Afinal, o que nos faz sentir realmente vivos? Isto demonstra o quanto a sociedade em que vivemos nos convida a ser apáticos. A não sentir. É exatamente por não sentir que nós permitimos atrocidades perto de nós. É por não sentir que passamos por um mendigo na rua e continuamos com o nosso caminho, como se essa pessoa não estivesse ali. É por não sentir que vemos acontecer alguma injustiça e ignoramos por não ser nada connosco. É por não sentir que vemos o nosso planeta ser destruído, mas não ligamos por não se passar no nosso país, mas num outro. Não é aqui, mas ali e por isso, não tem nada que ver comigo. Então, uma sociedade que sustenta a vida e isso de se sentir vivo é a possibilidade de ativar toda as minhas potências, sejam elas todas as minhas emoções, os meus sonhos, a minha imaginação e colocar tudo isto em serviço de algo maior, de modo a trazer saúde para todo um sistema vivo.

25.02.2022 | por Arimilde Soares

Vandrea Monteiro. Atriz nas horas vagas.

Vandrea Monteiro. Atriz nas horas vagas. Pisar palcos internacionais não só era um sonho como uma oportunidade para evoluir enquanto atriz e profissional, até porque ela nunca conseguiu separar os dois mundos. Entre organizar eventos, escrever textos, briefings e sem esquecer as inúmeras viagens, mal teve tempo para os ensaios. Nas poucas vezes que acontecem têm de ser aos fins de semanas, à noite ou online. Vê-se muitas vezes entre um gole de café e uma fala. Dormir? Só depois de tudo estar na ponta da língua.

14.02.2022 | por Denise Fernandes

O que é o Sistema?, entrevista a Cristiano Mangovo

O que é o Sistema?, entrevista a Cristiano Mangovo “O Sistema”, sob curadoria de Katherine Sirois, é a mais recente exposição de Cristiano Mangovo, um artista contemporâneo natural de Cabinda, Angola. De entrada livre, na galeria .insofar, a mostra de obras do artista no estilo de expressionismo figurativo, retrata questões sociopolíticas intrincadas através da liberdade das suas pinceladas e escolha de cores fortes. É assim que decide retratar e endereçar a problemática das hierarquias e o exercício de poder. Sentados frente a frente conversámos sobre o seu passado, as inquietações que o movem a pintar e a reflexão sobre o que é “O Sistema”, as injustiças causadas pelo mesmo e como o podemos combater. A realidade, ou melhor, os resultados finais são merecedores de serem observados com todo o tempo e minúcia.

07.02.2022 | por Alícia Gaspar

"Moçambique nunca conheceu momentos de paz”, entrevista a Paulina Chiziane

"Moçambique nunca conheceu momentos de paz”, entrevista a Paulina Chiziane Foi a primeira mulher a publicar um romance no seu país. E a primeira africana a ganhar o Prémio Camões, em 2021. Ser tudo isto levou-a a perguntar: “Porquê agora?” A resposta ocupa a conversa com o Expresso. Nela recua-se aos inícios, fala-se do rumo do continente africano, da autocolonização e da colonização da língua

19.01.2022 | por Luciana Leiderfarb

Keyezua

Keyezua Pensei em ser embaixadora, diplomata, coordenadora, não, vou mesmo é ser presidente do meu país… Ainda tenho fé. Eu falo sobre essas coisas porque acho que existe essa necessidade, não só da minha parte mas também porque o povo quer ver retratada a sua vida. E também porque eu gosto de investigar o relacionamento que temos com o resto do mundo – somos vistos como dependentes mas esta geração é independente.

18.01.2022 | por Miguel Gomes

O canto do cisne: a monumentalidade enquanto indício do colapso civilizacional

O canto do cisne: a monumentalidade enquanto indício do colapso civilizacional Na arqueologia dos anos 40 e 50, o difusionismo era a interpretação dominante. O difusionismo considerava que as comunidades do mediterrâneo oriental, mais evoluídas, vinham para o mediterrâneo ocidental numa perspectiva de procura de recursos, de colonização. As gerações do pós-25 de abril vão assumir um combate a estas explicações difusionistas e, dentro do materialismo histórico, vão à procura de respostas relacionados com evolução local. O seu objectivo é a construção de um discurso onde a emergência da desigualdade social, a emergência da exploração do homem pelo homem, esteja presente.

27.12.2021 | por Lana Almeida, Beatriz Barros e António Valera