Ela

Obrigaram Zehra a casar com um primo que mora na Alemanha. Ela viu o homem com quem se casaria somente uma vez, na noite do casamento… O seu marido partiu para a Alemanha na noite seguinte e nunca mais regressou. Zehra serviu a sua família, que visitava Antakya todos os anos, e tinha esperanças de que a levassem para a Alemanha.

Cinco anos passaram…
Zehra era sobrinha da minha avó. Um dia a minha avó percebeu a situação e disse para os seus filhos que viviam na Alemanha procurarem saber notícias do marido da sobrinha. Vovó soube que o marido de Zehra casou-se novamente e tinha uma família na Alemanha, enquanto ela esperava por ele em Antakya, com esperança de ir para a Alemanha com eles.
Ela vinha de uma família pobre, que não tivera acesso à educação. Não sabia ler nem escrever e nunca tinha deixado Antakya. A minha avó decidiu ajudar Zehra, mandando-a para a Alemanha. É preciso ressaltar que também não sabia ler nem escrever.
Ninguém disse a Zehra que ela poderia tornar-se cidadã alemã devido ao seu casamento. Ela também não estava ciente sobre os seus direitos em relação àquele casamento. A minha avó pediu aos filhos que moravam na Alemanha para cuidarem de todos os documentos e comprarem o bilhete de avião para a sobrinha. Estava tudo pronto.
No dia em que Zehra partiria para a Alemanha em Adana, a minha avó tinha uma consulta médica no hospital e meu tio precisava acompanhá-la (ela era diabética). Vovó disse ao meu tio: “leve Zehra ao aeroporto de Adana primeiro, assegure-se de que ela pegou o voo corretamente. O hospital não é uma emergência. Vamos ter a certeza de que ela terá uma vida para viver”. A consulta médica de vovó foi remarcada para o dia seguinte, pois meu tio levou Zehra ao aeroporto. Na manhã seguinte ao embarque de Zehra, ligaram para minha avó para dizer que a sobrinha tinha feito uma ótima viagem. Após a ligação, vovó deu seu último suspiro, exatamente ali, naquele momento.
Zehra nunca se esqueceu de minha avó e de tudo o que ela fez. Zehra aprendeu a ler e escrever em alemão, tornou-se cidadã alemã, divorciou-se de seu marido, apaixonou-se por outra pessoa e casou-se novamente. Está aposentada e tem dois filhos atualmente.
O nome de minha avó era Hayriye, que significa “ser bondoso, generoso”. Pessoas vivem pelos seus nomes. A avó certamente viveu. Talvez ela possa não ter brilhado na sua própria vida, mas tornou-se a faísca que acende a vela que ilumina a vida de diferentes pessoas.

 

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por Sinem Taş
Cara a cara | 10 Abril 2019 | My Kaaba is human project