Mattia Denisse

Blois, França (1967), vive em Lisboa desde 1999. Estrangeiro ou extraterrestre, Mattia Denisse nunca se sentiu de nenhum lado. Por não ter paciência para esperar ser condenado por outros ao exílio, viajou. Pela Europa, África e Brasil, procurando algures o que poderia ter provavelmente achado se ficasse lá onde estava. Como “é preciso traficar alguma coisa enquanto se espera que a noite venha”, escolheu a arte ou a arte escolheu-o, como meio, para sobreviver. Aos 7 anos e meio, instala-se no meio da planície no campo vizinho com um cavalete e uma tela e pinta uma paisagem de montanha que forma uma baía, no horizonte, com o mar. Descobre, espantado, “que a arte é o lugar de todos os possíveis”. Depois da pintura como iniciação, explorará sobretudo a instalação como “espaço trópico”: projeto de reconstrução à escala planetária de uma “paisagem paradigmática”. O conjunto destas obras seria o ressurgir “de um paraíso” do qual se reencontrasse os fragmentos dispersos à superfície do globo. Em 2006, parte para Cabo Verde onde experimenta a insularidade. Nesta vida, onde o tédio é uma condição sine qua non do destino, escreve e desenha, que são, para ele, dois meios de passar, sem intermediários, de um pensamento a “qualquer coisa”. De regresso a Lisboa, Mattia Denisse dedicou-se quase exclusivamente ao desenho e à escrita, trabalho centrípeto em relação ao lado centrífugo das viagens.

Desde sua chegada a Portugal destacam-se as exposições individuais TERCENAS (2001), MIJA VINAGRE (2000) e GROSSO MODO SUBSTANCIA MOLE, IPSO FACTO SUBSTANCIA DURA (2004) na Galeria ZDB, Lisboa. Nos anos seguintes expõe AS ILHAS DESERTAS (Galeria Graça Brandão, Porto, 2008); O CONTRA CÉU – ENSAIO SOBRE O HIATO (Galeria ZDB, 2010); CONFERÊNCIA SOBRE A QUEDA DE DOIS CORPOS (Projeto Galeto, Lisboa, 2012); e HISTÓRIAS ASSÍMPTOTAS DO HOMEM SEM CABEÇA, DA MULHER GEOMÉTRICA, DO MACACO E DA MORTE (Galeria Bessa Pereira, Lisboa, 2014); e DUPLO VÊ (Casa das Histórias Paula Rego, 2016).

No mesmo período mas no estrangeiro, destacam-se as individuais PAISAGEM INACABADA (Mindelo, Cabo Verde, apoio Centre National de Arts Plastiques, 2005-06); O DETALHE IMENSO (Galeria Sala Recife, Brasil, 2012); ISSO – ENSAIO DE GEO-GRAFIA (Galeria EstudioBuck, São Paulo, Brasil, 2012); 24 FRAMES POR SEGUNDO DE SUBSTÂNCIA ABSOLUTAMENTE INFINITA (Espaço Intermeios, São Paulo, Brasil, 2013) e APONTAMENTO INTEMPESTIVO (Dança no andar de cima, Fortaleza, Brasil, 2014).

Das últimas colectivas, nacionais e internacionais, em que participou destacam-se LINHAS INVISÍVEIS (curadoria de Rita Sobreiro, Torres Vedras, 2010); EM DIRETO (Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo, Brasil, 2011, curadoria Paulo Miyada); PARA ALÉM DA HISTÓRIA (CIAJG, Guimarães, 2012, curadoria Nuno Faria); A VERTIGEM DO RELATO SOBRE O TRANSITÓRIO: QUANDO O PROCESSO TAMBÉM ESTÁ NAS PÁGINAS (Museu Lasar Segall, São Paulo, 2012, curadoria Galciani Neves); TEM CALMA, O TEU PAÍS ESTÁ A DESAPARECER (Galeria ZDB, 2012, curadoria Natxo Checa); A NATUREZA RI DA CULTURA (Museu da Luz, Portugal, 2013, curadoria Maria do Mar Fazenda); EM DIRETO (SESC Sorocaba, Brasil, 2013, curadoria Paulo Miyada); SEM QUARTEL (Sismógrafo, Porto, 2014, curadoria Óscar Faria); UNITASKING (Temporary Gallery, Cologne, Alemanha, 2014, curadoria François Piron); SOCIEDADE, UM CADÁVER ESQUISITO PARA O SÉCULO XXI (SNBA, Lisboa, 2014, curadoria Nuno Faria); ORACULAR SPECTACULAR, DESENHO E ANIMISMO (CIAJG, 2015, Guimarães, curadoria Nuno Faria); ISSO IN ONE WAY OR ANOTHER (Plataforma Revólver, Lisboa, 2015, curadoria Eduardo Matos).

Colaborou com João Maria Gusmão e Pedro Paiva como editor do catálogo da Bienal de Veneza (2009) e autor de textos para os livros ABISSOLOGIA: PARA UMA CIÊNCIA TRANSITÓRIA DO INDISCERNÍVEL, DGartes, 2012) e TEORIA EXTRATERRESTRE, Mousse Publishing, 2015). Escreveu e publicou os livros CÂMARA DE DESCOMPRESSÃO (Dois Dias edições, 2011); LOGO DEPOIS DA VÍRGULA (Ed. do autor e Barbara Says), 2011; COMPÊNDIO DE GEOMETRIA CLITORIDIANA - CONVERSA ACERCA DE UMA NOVA GEOMETRIA (Galeria Bessa Pereira, 2014); QUEM PROCURA ACHA (Mov Palavras, Brasil, 2015); e HISTÓRIA FANTÁSTICA DO MERGULHO (Inland jornal, ed. Eduardo Matos e André Cepeda, 2015).

Das várias residências que realizou destacam-se as de criação artística e literária (ZDB, 2007; 2011); Hangar (Barcelona, 1999); e FAAP (São Paulo, 2013). Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian (2011).

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