sobre as sessões Re-imaginar o arquivo (pós)colonial. Reflexões/refrações

O ciclo de filmes Re-imaginar o arquivo (pós)colonial. Reflexões/refrações foi concebido para potenciar a consciência crítica e o debate sobre ética e práticas da imagem-arquivo relativa à situação (pós)colonial. Por imagem-arquivo entendo tanto filmes de montagem com imagens de arquivo trabalhadas de modo memorialista como obras que (re)perspetivam e propõem resinificações do arquivo criando imagens novas, como Gianikian/Ricci-Lucchi fazem com a sua “câmara analítica”. Integrando propostas dos convidados, o ciclo desdobra-se em sessões para investigadores, arquivistas, curadores, ativistas e artistas participantes do workshop e noutras para o público.

Deixem-me ao menos subir às palmeiras, Lopes Barbosa, 1972Deixem-me ao menos subir às palmeiras, Lopes Barbosa, 1972
No workshop, o programa dispõe, em campo/contracampo, filmes dos arquivos criados em situação colonial e obras militantes ou de autor – e busca, através da apresentação de exemplos de aproximações artísticas contemporâneas aos arquivos, criadoras de imagens novas, potenciar um vislumbre do fora-de-campo que o cinema deixou por projetar.
As sessões públicas com filmes, na Culturgest, de fecho de cada jornada abrir-se-ão ao debate alargado. Nesta vertente, parte-se da resinificação pela “câmara analítica” para discutir possibilidades de reutilização de imagem (pós)colonial, desvelando-se abordagens contemporâneas e obras “apagadas” por políticas da memória, para pensar sobre uma genealogia das imagens-arquivo, tomando-as, também, como práxis, quando se afirmam “projeções de uma luta que ainda não acabou”.
Através deste dispositivo dispõem-se, pois, imagens geradoras de diálogo, a partir do qual possamos pensar e ensaiar práticas questionadoras, potenciando novas perspetivas artísticas, arquivísticas, de programação e investigação, mas também de cidadania. O que se busca é uma consciência crítica das representações calcificadas ou ausentes dos arquivos, fomentando o debate sobre modos de reimaginação e abordagens éticas não só às imagens que se fazem imagem-arquivo mas também aos arquivos de imagens na sua materialidade.

por Maria do Carmo Piçarra
Afroscreen | 18 Setembro 2019 | arquivo, pós-colonial