"Fora de campo" – sobre o Arquivo de Cinema de Moçambique.

O Arquivo de Cinema de Moçambique existe por conta de um dos períodos de maior inscrição de imagens produzidas por esse país. A seguir à Independência em 1975, o slogan “filmar o povo e devolver a imagem ao povo” conduziu uma parte significativa da sua produção para um cinema de clara acção militante.

O projecto Fora de Campo propõe olhar o Arquivo de Cinema de Moçambique através das práticas materiais e simbólicas da sua própria estrutura de memória. O arquivo é entendido como um corpo autónomo mas simultaneamente dependente de uma cadeia de ideologias associadas à condição tecnológica e política que a máquina moderna do cinema implicou. Foram vários os agentes exteriores (activistas, cooperantes, técnicos, políticos, intelectuais, etc.) que tem vindo a intervir nessa configuração.

De que forma essa cadeia encontra hoje continuidade ou herança nas políticas europeias de apoio feitas à medida para as cinematografias africanas e, em particular, para a recuperação e organização da sua memória política ? Como coexistem as atribuições patrimoniais e discursos valorativos ocidentais com a eventualidade de uma reactivação ideológica dessas imagens? Que ligação intrínseca se estabelece entre a apropriação de uma imagem política e uma consequente actualização ideológica? E como organizar esses aspectos na imaginação artística?

A Bienal Europeia de Arte Contemporânea Manifesta 8 acolhe o projecto Fora de Campo (Off screen project) até 9 de Janeiro 2011, no 1 andar do Pavillón 2 do Cuartel de Artillaria, em Múrcia (Espanha). Off screen project foi seleccionado pela equipa de curadores Tranzit.org.A Bienal Europeia de Arte Contemporânea Manifesta 8 acolhe o projecto Fora de Campo (Off screen project) até 9 de Janeiro 2011, no 1 andar do Pavillón 2 do Cuartel de Artillaria, em Múrcia (Espanha). Off screen project foi seleccionado pela equipa de curadores Tranzit.org.

Informação sobre o Projecto “Fora de Campo”

Manifesta

 

Excerto de Negativo, substantivo, peça audiovisual (17 ‘), que faz parte da instalação do projecto Off screen - on Mozambique Film Archive, produzido para a Bienal Manifesta 8, em Múrcia. Off-screen é um projecto artístico de investigação que propõe um tipo de reconstituição da organização material e simbólica da imagem. Partindo das determinações originais de filmes Moçambicanos de inspiração militante, Off-screen induz ou apenas identifica o desdobramento das transformações relacionais que são criadas, activando simples jogos perceptivos. O projecto sugere que as genealogias de arquivo, ou de qualquer outra organização documental, combinam processos relacionais com actualização do seu sentido político. Este vídeo mostra-me a mim a manusear imagens de filmes Moçambicanos no meu estúdio, em Lisboa. O texto final para o voice-over foi gravado durante uma curta palestra que dei em Maputo em Setembro de 2010. Este clip de 5 minutos fez então parte da minha apresentação ao público local.

A proposta 'Off screen' para a Manifesta 8 reproduz o processo de acumulação, justaposição e associação de documentos videográficos, fotogramas, fotografias, entrevistas e outros materiais documentais relacionados com a genealogia do Arquivo de Maputo. Umas das peças audiovisuais foi produzida especificamente para a bienal Manifesta 8 e mostra o sentido criado através do manuseamento sequencial da documentação, concentrado numa relação particular entre o sujeito (artista), a câmara e o material de investigação (ver vídeo).A proposta 'Off screen' para a Manifesta 8 reproduz o processo de acumulação, justaposição e associação de documentos videográficos, fotogramas, fotografias, entrevistas e outros materiais documentais relacionados com a genealogia do Arquivo de Maputo. Umas das peças audiovisuais foi produzida especificamente para a bienal Manifesta 8 e mostra o sentido criado através do manuseamento sequencial da documentação, concentrado numa relação particular entre o sujeito (artista), a câmara e o material de investigação (ver vídeo).

por Catarina Simão
Afroscreen | 19 Novembro 2010 | arquivo, arte contemporânea, cinema moçambicano