África – Portugal – Brasil: trajetórias, memórias e identidades

As culturas humanas são, por natureza, mestiças e miscigenadas. Toda a configuração atual de toda cultura ou construto identitário é, essencialmente, o resultado de fluxos e refluxos populacionais, trocas, empréstimos, apropriações e traduções de outras culturas. O próprio da cultura e identidade humanas é, de fato, a sua natureza diversa e múltipla. Assim, para uma melhor compreensão de nós mesmos, temos de entender o mundo ao nosso redor, as culturas componentes de nossa identidade, as regiões e épocas que foram mais propícias e que mais contribuíram para a nossa formação.

Ainda que essa dinâmica de trocas, formações e transformações seja uma regra universal, algumas partes do planeta carregam um significado especial para o mundo tal como o conhecemos. As profundas mutações que a Europa e o Mediterrâneo experimentaram no século XVI, assim como a mudança de percepção do mundo que resultou do movimento de expansão atlântica (rumo às Américas e África), deram início ao singular processo de globalização responsável pela aceleração e intensificação da mobilidade populacional e contato entre diferentes culturas, línguas e religiões.

Bab Septa, Frederico Lobo e Pedro Pinho, Portugal, 2008, 110 min.Bab Septa, Frederico Lobo e Pedro Pinho, Portugal, 2008, 110 min.

 

África (incluindo Marrocos) – Portugal – Brasil é uma dessas trilhas que marcaram a História recente do hemisfério ocidental, constituíram um atalho civilizacional privilegiado e continuam interpelando estudiosos e pesquisadores de todos os campos para que sejam revelados todo seu potencial e sua riqueza. O presente projeto de publicação é, justamente, um convite a revisitar essas trilhas de sentido, no afã de explorar seus planos reais e imaginários e desvelar suas coordenadas concretas e simbólicas.
A chamada do Instituto Marroquino de Estudos Hispano-Lusófonos, aqui tornada pública, para a composição da obra África – Portugal – Brasil: Trajetória, memória e identidade, parte de uma profunda convicção humanista e um verdadeiro desejo intercultural de lembrar que a nossa história e nossas estórias comuns (atuais, passadas e futuras) são um hino ao diálogo e uma promessa de compreensão mútua. Um convite à reflexão plural e multidisciplinar sobre a convergência dos espaços civilizacionais mediterrâneo e atlântico, e a confluência das culturas africanas, lusas e brasileiras no curso da História do Homem moderno e no percurso geográficos de seus planos e desenhos simbólicos e imaginários.
Os eixos de reflexão, sugeridos, incluem: a percepção do Outro (através das narrativas de viajantes, diplomatas, missionários, administrações coloniais, escritos literários e traduções); o Outro e Nós e em Nós (percepção do Outro com quem convivemos, grupos minoritários e diferenças culturais); o Islã entre África, Portugal e Brasil; o Judaísmo marroquino no Brasil; e as migrações contemporâneas entre África, Portugal e Brasil. Também serão bem vindas outras propostas que compartilham a mesma perspectiva filosófica da arte de ir ao encontro do Outro para melhor compreender a si mesmo. São convidados a participar do projeto os estudiosos, acadêmicos e pesquisadores de todas as áreas de conhecimento sociais e humanas.

Identidades em trânsito, Daniele Ellery e Márcio Câmara, Brasil, 2007, 19 min.Identidades em trânsito, Daniele Ellery e Márcio Câmara, Brasil, 2007, 19 min.

Comitê Científico: Fatiha Benlabbah – Instituto de Estudos Hispano-Lusófonos (Marrocos) Maria Filomena Barros – Universidade de Évora (Portugal) Mohammed ElHajji – Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil)

Instituto de Estudios Hispano-Lusos/Instituto de Estudos Hispano-Lusófonos/Institut des Etudes Hispano-Lusophones. Av. Allal El Fassi, B.P. 6633 Madinat Al Irfane, Rabat-Maroc. Tél. : (212) 537 27 85 90 / GSM. (212) 661 44 20 14 Fax : (212) 537 68 20 14/ Université Mohammed V-Agdal

Contato e Informações: mohahajji@gmail.com

por Mohammed ElHajji
A ler | 5 Agosto 2011 | estudos mediterrânicos e atlânticos, identidade, Instituto Marroquino de Estudos Hispano-Lusófonos, memória